Nem Tão Doce Primevera escrita por inlai


Capítulo 9
Sentimentos que não queremos ver




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*ROSALYA ON*

Fui pega completamente de surpresa com aquele tom de urgência para conversa particular do Lysandre, um sinal de alerta literalmente ecoava em minha cabeça mais a curiosidade para ouvir o que ele tinha a me dizer era relativamente maior do que o meu aparente bom senso e por esse motivo concordei em o acompanhar até a lanchonete próxima ao colégio. E agora estávamos sentados observando cautelosamente um ao outro sem ideia de como iniciar essa tal conversa. Eu realmente não sabia se deveria falar algo ou se apenas devia esperar ele tomar a iniciativa, então brincava inquieta com o canudo dentro da minha bebida. 

Minha cabeça girava entrando em órbita com tantos acontecimentos, me lembrava do Leigh e de como ele dizia que o Lysandre apenas precisava se acostumar com a nossa relação, dos olhares cabisbaixos que ele me dirigia no colégio a distância e o receio direcionados a mim, eu apenas me negará a juntar as peças que a Analu tão abruptamente lançou em minha direção.

Desde de sua chegada ao colégio não sabia ao certo o que se passava em sua cabeça, ele era diferente de nossos colegas em quase todos os aspectos, era atencioso e cordial no trato com as garotas em nossa classe, seu apreço pela moda vitoriana também ajudava a se destacar entre qualquer pessoa daquele lugar, não que ele precisa-se disso para se destacar.

Relembrar esses pequenos detalhes do início de nossa aproximação me lembravam também de como tudo ocorreu rápido com o seu irmão, apesar de tê-lo conhecido pouco antes do Lysandre se mudar. Mesmo com pouco tempo não tive dúvidas de que seria ele e por esse motivo preferi acreditar que todo o distanciamento e olhares lançados a mim pelo Lysandre não passavam da análise de um irmão mais novo inseguro e ciumento sobre a nova paixão de seu irmão mais velho... e de certa forma ainda torcia por isso.

*LYSANDRE ON*

A coragem que me tomou para procura-la me abandonou sumariamente assim que ela sorriu para mim e concordou em me acompanhar. Enquanto nós dirigíamos a lanchonete eu a observava pelo canto de olho sem a força necessária para fazer qualquer coisa e agora que estávamos sentados à mesa era impossível não notar o seu nervosismo, o modo como agitava o canudo em sua bebida ou colocava a longa mecha platinada inutilmente atrás de sua orelha esquerda ou como mordia a parte inferior do lábio toda vez que olhava para mim ansiosa esperando por uma fala.

Eram gestos já a muito tempo conhecidos por mim, afinal os observei durante tempo o suficiente para entender os seus significados e poetiza-los em minhas notas e canções secretas, que aliás ainda repousavam em meu criado mudo, escritos inspirados em uma musa que não ousei nomear e que não poderia jamais ser minha.

— Então... O que queria falar comigo Lysandre. - Ela enfim fez a tão temida pergunta. O que me fez refletir novamente o que realmente gostaria de falar para ela? Como eu seria capaz de falar qualquer coisa sem causar um terrível mal estar entre nos nas atividades do colégio ou entre eu e meu irmão em nossa casa.

— Eu tenho a evitado durante um tempo considerável Rosalya, e por isso eu peço desculpas, devo confessar que apenas não sabia como agir... ou me conter em sua presença.

— Não acho que me deva desculpa alguma Lysandre... Esse é o seu jeito e eu entendo.

— Não a evitei por questões de personalidade minha cara... A evitei porque sentia ciúmes de você e não sabia como me portar diante disso.

— Espera, ciúmes...De mim? Mas, por que? Porque dizer isso agora.

— Porque não posso mais negar, posso?  Alguém me mostrou... Na verdade me jogou uma verdade bem áspera...  E só então percebi que não suportava mais esconder tudo assim, não suporto mais a negação e a aflição que me atingem sempre que a vejo em qualquer lugar.... Essa sensação de derrota por não ter tentado, por não ter sido eu... Então se me permite. - Eu olhava diretamente para seus olhos atônitos. — Eu me apaixonei por você Rosalya, na verdade ainda sou apaixonado por você

Ela me observava atordoada, suas mãos paralisadas segurando firmemente o copo que parará no meio do caminho até os seus lábios. Ela parecia tentar retomar o postura e ao mesmo tempo suas maçãs do rosto tornavam-se gradativamente mais rubras e intensas denunciando que a minha declaração a abalará.

 Eu não sei o porquê, não sei como ou quando, mas vi em você algo que não havia visto antes em nenhuma outra e fui tomado por isso, por esse desejo de você. No entanto fui incapaz de lhe dizer, não soube como lidar com os riscos.

— Lysandre eu.... O seu irmão.... Como.

— Não a como Rosalya... Eu entendo a mutualidade do sentimento entre vocês e fico feliz, mas não posso negar que em parte desejava estar em seu lugar ao seu lado. No entanto não sou imprudente e nunca pensei em interferir ou algo assim. Eu apenas precisava lhe dizer, precisava ser ouvido. - Respirei fundo. — Talvez, precisasse de uma resposta.

Ela então entendeu o que quis dizer, o porquê dessa conversa particular e da cumplicidade que agora era necessária se estabelecer ali. Agora era ela que enchia o peito e enfim repousará o copo a mesa, para então olhar docemente para mim com um sorriso acolhedor e triste.

— Sabe Lysandre, fico feliz por ter sido sua escolhida... Mas não posso corresponder aos seus sentimentos, eu não poderia... porque amo outro alguém  - Ela tocou de leve a minha mão. _ Eu sinto muito. 

Eu correspondi ao gesto, sobrepondo a sua mão com a minha. — Não se sinta culpada por nada. Ninguém é culpado aqui, não posso dizer que me sinto feliz com sua resposta, mas ao menos agora eu tenho uma resposta.... De todo modo, obrigado por me ouvir e por ainda estar aqui, mas se me permite, talvez esse seja o melhor momento para me retirar, definitivamente, afinal as vezes a solidão nos cai bem.

Paguei pelas bebidas antes de sair da lanchonete, deixei-a sentada a mesa sozinha e ainda um tanto atônita com o que ouviu de mim, sabia que não era o único a precisar do um tempo sozinho para pôr tudo no lugar, ao menos agora eu me sentia mais leve, mais livre. Depois de algum tempo sobre a pressão que eu mesmo me impusera, senti que enfim as coisas poderiam voltar ao normal. Respirei fundo, enchendo o peito com a brisa primaveril que até então nunca me pareceu tão revigorante.

O que eu sentia por ela ainda era forte e eu sabia que ficaria marcado para sempre mim, mas agora me sentia livre por lhe contar a verdade que vinha sufocando meus dias e nossa relação, por ter lhe visto oscilar diante de minha confissão, de sua atenção direcionada somente a mim, mesmo que por alguns minutos. Aquilo me fizera feliz e enfim capaz de enxergar o horizonte que antes me parecia inalcançável. Hoje eu poderia sorrir, mesmo que sozinho. 


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