War of Hearts (Scorpius/Rose) - Cap 15 postado escrita por Marls McKinnon


Capítulo 15
Capítulo 15




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O sábado amanheceu nublado, mas nem a ameaça de uma tempestade parecia tirar o ânimo dos alunos. Aquele passeio em Hogsmeade renderia ótimas compras para a festa do dia das Bruxas e ninguém queria perder a oportunidade.

Lily havia acordado mais cedo que suas colegas de quarto e decidiu aproveitar esse tempo para colocar em prática seu pequeno plano de mudança. Durante seu período na enfermaria, refletiu bastante e chegou à conclusão que precisava amadurecer um pouco a própria imagem – mas nada de exagerado, já que queria uma mudança sutil sem que perdesse a própria essência.

Disposta a melhorar o visual, ela se trocou e partiu em busca de uma das pessoas que com certeza lhe ajudaria sem pensar duas vezes: Roxanne Weasley.

Roxanne era, sem dúvidas, uma das pessoas mais cheia de estilo que Lily conhecia. Sua prima era tão linda que parecia uma daquelas atrizes trouxas, com sua pele negra e seus longos cabelos cacheados e volumosos. Lily sabia que ela era a pessoa certa para lhe ajudar, mas esperava que ela não transformasse a situação em um grande evento ou ficaria mais constrangida do que já estava.

Depois de bater algumas vezes na porta do dormitório, Roxanne finalmente apareceu e Lily agradeceu a Merlin por não ter sido outra menina do sexto ano, ou provavelmente seria expulsa dali a pontapés.

— Sério, Lilian? – Roxanne perguntou sonolenta. Usava um creme verde no rosto, um dos seus hobbys cor de rosa e pantufas – Sério que hoje é sábado e você está me chamando antes das 08 da manhã?

— Desculpe, Rox – Lily pediu com sinceridade – Mas você é a única que pode me ajudar.

— Você está passando mal?

— Não!

— Menstruada? Precisa de absorvente?

— Deus, não!

— Deu seu primeiro beijo e quer compartilhar?

— Não! Rox, eu preciso de ajuda para me vestir. – Lily disse rapidamente, antes que a prima tornasse aquelas perguntas ainda mais constrangedoras.

Houve um momento de silêncio, no qual Lily se perguntou se Roxanne tinha escutado o que ela havia acabado de dizer, mas o sorriso iluminado e os pulos de emoção confirmaram que Rox não só tinha escutado como também estava disposta a ajudar.

— Finalmente, Merlin! Eu pensei que esse momento nunca fosse chegar. – Roxanne disse com emoção e saiu empurrando a prima para dentro do quarto. Em silêncio, apontou para que ela se sentasse em sua cama, enquanto ia recolhendo seus utensílios.

Lilian apenas observou os produtos, maquiagens e escovas, e se perguntou se aquela era mesma uma boa ideia. Não tinha muita certeza se Roxanne seria capaz de captar a ideia do básico, já que com ela nada era tão básico assim.

— Rox, eu acho que você está pegando muita coisa – Lily sussurrou e ao ver a cara feia da prima, decidiu se calar.

 Com um sinal, Roxanne pediu que a prima a seguisse até o banheiro que compartilhava com suas amigas e se surpreendeu com o fato de que até lá havia uma ótima organização. As meninas do sexto ano provavelmente eram mais maduras e fashion que as meninas de sua turma.

— Sente-se ali enquanto eu tiro isso do meu rosto – ela disse em voz baixa e Lily rapidamente se sentou em uma das cadeirinhas que ficavam em frente a um espelho. Definitivamente, ela precisava informar as suas amigas que precisavam de uma nova decoração no quarto e no banheiro.

Quando Roxanne terminou e se virou para ela, Lily começou a se perguntar se devia mesmo seguir em frente com a ideia. Nunca havia feito nada além de usar um simples brilho labial, e agora estava prestes a deixar sua prima fazer uma transformação.

— Algum pedido em especial? – Roxanne perguntou com um sorriso animado.

— Pode não me transformar em alguém que não sou? – Lily perguntou meio apavorada.

— Lily, eu conheço você. Jamais faria algo que não tivesse a ver com seu estilo. Relaxa e confia! – Roxanne piscou para a prima e rapidamente iniciou seu trabalho.

Lily esperava mesmo que ela soubesse o que estava fazendo ou acabaria desistindo de ir a Hogsmeade.

~*~

Rose estava se perguntando por que tinha concordado em ser monitora chefe. Se fosse uma simples aluna poderia ficar no castelo, dormir até tarde, ler e relaxar. Mas, com seu cargo de responsabilidade, precisava acompanhar os alunos durante os passeios. Se os alunos precisassem de ajuda, era ela quem estava lá para resolver o problema (ou encaminhar para o professor responsável) e não podia falhar.

Quando se aproximou dos amigos percebeu que não era a única a estar sem um pingo de animação.

— Só queria estar dormindo. Bom dia! – ela disse.

— Bom dia, flor do dia! – Albus cumprimentou a prima com animação e passou o braço por cima do ombro dela – Hoje o dia está lindo, não acha?

— Não – Rose respondeu com sinceridade.

— Pois eu acho que sim – Albus tocou o nariz da prima com o indicador – E sim, eu estou aqui atrapalhando o Scorpius para não te abraçar e beijar porque atualmente não tenho vida amorosa e quero atenção.

— E por que você não vai abraçar a Scarlett? – Rose arqueou a sobrancelha, empurrando o primo.

— Porque ela me bate – ele respondeu e foi para perto de Scorpius, que o encarou com um sorriso.

— Se seguir atrapalhando meu relacionamento feliz e saudável, quem vai te bater sou eu – Scorpius disse tranquilamente.

— Nossa, vocês estão mesmo me rejeitando – Albus comentou e olhou para Sebastian – Eu não vou te abraçar.

— Mesmo? Estou decepcionado. – Sebastian respondeu – Não ‘tá faltando gente aqui?

Albus arqueou a sobrancelha ao ouvir a pergunta do rapaz e encarou Rose, que sorria abertamente. Parte dele sabia que por gente Sebastian querida dizer Lily, mas achou melhor não jogar na roda.

— Considerando que metade da escola é parente deles, tá faltando muita gente – William respondeu – Às vezes sonho que sou um Weasley e me pergunto se meus pais têm algo para me contar.

Rose deu uma risada, enquanto Albus deu um tapa na cabeça do amigo.

— Ignorem meu namorado, ele não deve ter acordado ainda – Scarlett revirou os olhos – Sério, por que as crianças demoram tanto para tomar café? Daqui a pouco começa a chover e eu não quero ficar ensopada por causa de meia dúzia de esfomeados.

— Sempre sutil a minha Scar – William disse e beijou a bochecha de sua namorada – Olha, a cambada começou a chegar.

E era verdade. Aos poucos, os alunos do terceiro ao sexto ano começaram a se aglomerar próximos a saída do castelo, prontos para entrar nas carruagens. Por mais que o tempo estivesse péssimo, eles não queriam perder a chance de ir a um passeio. O baile do dia das bruxas estava chegando e eles queriam garantir ao menos alguma coisa nova para usar.

Enquanto Rose, Scorpius e os amigos conversavam entre si, Roxanne se aproximou super radiante. Dominique estava ao seu lado e não parecia estar com o mesmo humor que a prima.

— Vocês precisam ver como a Lily está – Roxanne disse animada.

— Espero que não tenha desmaiado de novo, porque daí seria um recorde – Albus comentou.

Roxanne revirou os olhos e se virou para Rose e Scarlett. Elas sim entenderiam o motivo de sua animação.

— Lilian Potter passou por uma transformação total! – ela disse e bateu palminhas de animação – Tudo graças a mim, é claro.

— O que você quer dizer com “transformação total”? – Rose perguntou, fazendo aspas com os dedos para enfatizar bem a parte da transformação.

— Que Lily quis testar seu primeiro visual com maquiagem. – Dominique explicou – O que me deixou chocada, porque eu nem sabia que Lily conhecia algo que não fosse brilho labial.

— E não conhecia – Roxanne respondeu levemente desapontada – Mas consegui fazer esse milagre. E olhem como ela ficou linda!!!

Roxanne apontou para Lily, que se aproximava com Harleen e Hugo. Ela havia seguido o pedido da prima sobre não transformá-la em algo que não era, então Lily ostentava uma maquiagem natural, que realçava seus olhos azuis-esverdeados; e seu cabelo estava solto, com algumas ondas nas pontas.  Suas roupas ainda eram as mesmas, mas combinadas de forma mais cool, por isso ela usava um vestido florido, com uma jaqueta jeans e botas sem salto.

— Eu não sou ótima? – Roxanne perguntou sem esconder o próprio orgulho.

Todos haviam concordado que Lily estava muito bonita e expressaram isso abertamente, exceto Sebastian.  Ele ainda estava parado, observando a menina caminhar em direção a eles sem dizer uma palavra.

Albus, é claro, notou isso.

— Uau, minha irmã agora é uma modelo. – Albus comentou – Roxanne, você devia operar esse milagre na família toda.

— Não inventaram uma base para esconder sua cara de pau, Albus – Dominique alfinetou.

— Claro que não. Eles estão ocupados demais inventando um batom que te livre desse veneno todo. – ele rebateu.

— Desculpe, o que você disse? – Dominique perguntou.

Albus revirou os olhos. Não estava a fim de ter aquela briga de novo.

— Dominique, ainda é muito cedo para termos uma discussão que não vai levar a nada, mas você precisa saber que entendi o seu recado. Você não quer nada comigo e ‘tá tudo certo. Estou, literalmente, te tratando da mesma forma que trato todo mundo. Lide com isso ou finja que não existo, por mim tanto faz.

Dominique pensou em revidar, mas Albus estava certo. Ainda era muito cedo para ter uma discussão e não daria o gostinho de mostrar a ele que estava sim incomodada com essa mudança de tratamento.

— Vem, Rox, vamos procurar nossos amigos. – Dominique puxou a prima pelo braço antes mesmo que ela pudesse responder que elas já estavam entre amigos.

Lily, por sua vez, se aproximou do irmão e o encarou com uma expressão de censura.

— Acho que você vai precisar se desculpar.

— Lilica, desde a festa em que Dominique e eu ficamos, a única coisa que tenho feito é me desculpar e demonstrar que gosto mesmo dela. E ela faz o que? Me ignora ou pisa em mim. Eu fiz uma declaração razoavelmente fofa no nosso último passeio em Hogsmeade e ela quis tempo. – ele deu de ombros – Eu me esforço e ela não me quer. Então o melhor que faço é ficar longe.

— Nisso eu preciso concordar – Rose falou – Dominique não sabe lidar com o que sente. No início eu até entendia, mas agora só me parece uma vingança infantil.

— E olha que a criança aqui é a Lilian – Will sorriu – Sem ofensas.

— Não me ofendeu – ela sorriu – Algum de vocês pode passar na DedosDeMel, por favor? O Louis me entregou uma lista meio grande.

Rose esticou a mão e segurou a lista. Havia mesmo muitos itens e ela se perguntava se isso era mesmo só para ele.

— Ué, nós não íamos lá? – Hugo perguntou.

Nós vamos – Harleen apontou para ela e para ele – Lily vai para um encontro.

Sebastian ergueu os olhos para encarar a menina a sua frente.

— Não é bem um encontro. – ela tentou se defender. Estava tão vermelha quanto seus cabelos.

— Espera, encontro com quem? – Hugo perguntou – Por que estou sendo o último a saber?

— Porque eu fui convidada pouco antes de entrar no Salão Principal e não tive muito tempo de te contar – Lily explicou.

— Ok, não quero ser o irmão super protetor, mas de onde saiu essa criatura dos infernos que pretende levar a minha irmã caçula em um encontro?

Lily revirou os olhos. Era impressionante como todos ali não tinham a menor confiança de que ela conseguia ser uma adolescente normal.

— Ele se chama Daniel. E é da Corvinal – Lily deu de ombros – Estamos na mesma turma de Astronomia.

Sebastian ainda observava a conversa sem falar nada. Não tinha direito de se meter na vida de Lily e nem dar palpite sobre quem ela devia ou não sair. Além do mais, ela já tinha muitas pessoas cuidando dela, não precisava de mais um na conta.

— Enfim, já começaram a fazer a chamada dos alunos que vão para Hogsmeade. É melhor nós irmos ou vamos chatear o zelador.

Harleen e Hugo concordaram, e seguiram junto com Lily para onde estava o grupo do quinto ano.

Os demais foram se juntar ao grupo do sétimo ano, enquanto Rose foi observar a movimentação dos alunos nas carruagens. Como monitora chefe, era praticamente uma obrigação fiscalizar os alunos mais novos.

Sebastian estava caminhando ao lado do seu primo quando ouviu Ted Lupin o chamar. Com um sinal, disse para que seu primo seguisse e foi ao encontro do professor.

— Fontaine, a Diretora McGonagall pediu para te entregar isso. – Ted entregou uma pequena caixa de madeira e um envelope.

— E então? – Sebastian perguntou.

— Não há nenhum sinal de magia. Tudo que está aí é verdade. – Ted disse com um leve pesar – Sinto muito, Sebastian.

O jovem ficou em silêncio por alguns instantes, tentando absorver aquela notícia. Respirou fundo uma, duas, três vezes antes de olhar para o professor a sua frente e responder:

— Está tudo bem. Obrigado, professor!

— Você tem certeza que quer seguir com o plano?

— Absoluta. – Sebastian disse em um tom definitivo.

— Ok. – Ted respondeu e pôs a mão no ombro do aluno – Lembre-se, Sebastian, você precisa tomar muito cuidado. Qualquer atitude tomada com sentimentos confusos pode acabar machucando você.

Sebastian deu uma risada seca e balançou a cabeça.

— Não se preocupe com isso, professor. Eu realmente não sinto nada.

~*~

Albus foi o último a entrar na carruagem e não deu nenhuma explicação. Os amigos já estavam impacientes com a sua demora e ficaram ainda mais chateados por ele simplesmente dar de ombros e fingir que a pergunta não era com ele.

— Gente, eu já disse, precisei resolver uma coisa rápida. Me ignorem. – ele deu de ombros – Acabei de notar que, dessa vez, Sebastian e eu somos os únicos que não estão emocionalmente resolvidos.

— Estou começando a achar que você está tentando refazer os laços de amizade comigo – Sebastian arqueou a sobrancelha.

— Mas cê jura que reparou nisso? – Albus comentou e sorriu – Bom, aproveite o momento porque não faço o estilo sentimental, mas me desculpe por quebrar a sua cara, ameaçar você e ficar irritado por contar a verdade para minha irmã.

— Esse é aquele momento em que você me abraça? – Sebastian perguntou.

— Considerando que estamos praticamente amontoados nessa carruagem, acho meio difícil rolar um abraço, mas se você quiser eu posso tentar. Porém pode acontecer da carruagem passar em um buraco, eu me desequilibrar e cair no seu colo em uma posição levemente comprometedora. – Albus sorriu – Mas podemos apertar as mãos.

— Um aperto de mão é o suficiente – Sebastian deu uma risada e estendeu a mão para segurar a de Albus.

— Ok, eu não quero ser a estraga prazeres, mas nós vamos mesmo fingir que não queremos saber o que Sebastian tanto conversava com o professor Lupin? – Scarlett perguntou.

Sebastian riu e balançou a cabeça.

— Semana passada recebi uma encomenda relacionada a meu adorável pai que precisou ser verificada – ele disse vagamente – Não posso dar muitos detalhes agora, mas na volta contarei tudo a vocês.

— Ficaremos a espera – Will concordou em nome de todos.

Eles seguiram o resto da viagem apenas conversando e dando risadas das palhaçadas de Albus e Will, que eram basicamente os reis da comédia da Sonserina.

~*~

O céu parecia que estava ainda mais nublado quando chegaram a Hogsmeade. Estava ventando muito e os alunos começaram a se dispersar rapidamente, a fim de fazerem suas compras antes da tempestade cair.

Lily, Harleen e Hugo seguiram para frente da DedosdeMel. Ela havia combinado de encontrar Daniel ali para irem até à Casa de Chá Madame Puddifoot.

— Ele é legal? – Harleen perguntou.

— Quem? – Lily encarou a amiga.

— O Daniel! Acho que nunca falei com ele.

— Não tenho a menor ideia – Lily deu de ombros – Você o conhece, Hugo?

— Já falei com ele algumas vezes, mas nada de mais. Não tenho intimidade, então não posso opinar. – ele respondeu com sinceridade – Olha, lá vem ele!

E lá vinha Daniel. Um garoto bonito da Corvinal, alto e com cabelos castanhos. Provavelmente as outras meninas diriam que ela era sortuda por sair com um garoto tão bonito quanto ele, mas ela não se importava. Na verdade, ela nem achava ele tão bonito assim, mas como havia decidido manter uma vida social mais ampla, resolveu dar uma chance.

— Hey, Potter! – Daniel cumprimentou Lily – Dursley! Weasley!

— Pode nos chamar pelo nome – Lily sorriu – E então, vamos?

— Sim! – Daniel estendeu a mão e Lily segurou. Era estranho para ela segurar a mão de um garoto que havia acabado de conhecer, mas imaginou que era o correto a se fazer.

Daniel e Lily estavam prestes a se afastar, quando Roxanne surgiu com um largo sorriso.

— Desculpe, mas para onde a senhorita pensa que vai? – ela perguntou e colocou as mãos na cintura, imitando a própria avó Molly.

Lily franziu o cenho, encarando a prima. Harleen e Hugo também estavam confusos com aquela interrupção.

— Ahn... Eu ia à Casa de Chá Madam...

Roxanne estendeu a mão em um sinal de pare e balançou negativamente a cabeça.

— Não vai não! Você vai comigo escolher os acessórios que usará na festa do dia das bruxas. Você e o bonitinho aí podem se encontrar em outro momento. – Roxanne disse em tom definitivo e puxou Lily pela mão, que se viu obrigada a largar a de Daniel ou acabaria arrastando ele também – Harleen, você pode vir com a gente.

— Eu tô de boa. Minha mãe vai mandar tudo o que pedi – Harleen respondeu se segurando para não rir.

Hugo ainda estava chocado com a rapidez que Roxanne apareceu e separou Lily de Daniel, que ainda olhava para as duas se afastando.

— O que foi que aconteceu aqui? – Daniel perguntou finalmente.

— É o jeitinho Weasley de ser. Você vai se acostumar – Harleen sorriu e entrou com Hugo na loja de doces, deixando um rapaz muito inconformado para trás.

~*~

Quando Sebastian chegou ao Três Vassouras encontrou o pai e o tabelião. Estavam sentados em uma mesa afastada das demais, e Sebastian mal conseguia acreditar que mesmo ali, um pub frequentado por alunos e professores, seu pai mantinha o olhar de arrogância.

Respirando fundo, ele caminhou até onde estavam. O tabelião se levantou para cumprimentar Sebastian; seu pai, não.

— Pensei que criaria raízes aqui. – Pierre disse de forma seca – Achei que tivesse lhe ensinado a ser pontual.

— Olá, papai! Estou bem, e o senhor? – Sebastian sorriu – Se o senhor quiser reclamar da pontualidade, sugiro que fale com um dos professores de Hogwarts.

Pierre estreitou os olhos enquanto encarava o filho. Era um homem cruel, bastava ver pela forma que se dirigia as pessoas a sua volta, especialmente ao que supostamente deveria amar.

— Podemos acabar com essa palhaçada e ler de uma vez o testamento? – Pierre perguntou ao tabelião – Meu tempo é precioso demais para perder com um garoto mimado em um bar de quinta categoria.

Sebastian permaneceu em silêncio. Às vezes se perguntava como conseguia ser minimamente decente tendo aquele homem como pai.

O tabelião, que Sebastian sabia que se chamava Alfred, abriu uma caixa e tirou dela um envelope onde estava a carta e o testamento de seu avô, Francis Fontaine.

— Me permitam ler para vocês:

“Eu, Francis Fontaine, estando em pleno juízo e gozo das minhas faculdades intelectuais, faço cumprir através desse documento particular minhas últimas vontades, pela seguinte forma:

As propriedades localizadas em Beynac-et-Cazenac devem ser doadas a Adrien e Charlotte Beaumont, meus fiéis empregados e amigos, que ficaram ao meu lado até a minha morte. Uma quantia, que será revelada apenas a eles, também será doada e transferida para sua conta, garantindo assim uma aposentadoria digna;

As propriedades de Bordeaux ficam para a família Malfoy, que acolheu meu neto no momento em que mais precisou;

O restante de minha fortuna, assim como as fábricas, filiais e todas as outras propriedades ficam para meu único neto, Sebastian Fontaine, que deverá assumir os negócios quando se formar ou nomeará um representante para que administre tudo em seu nome.

Dessa forma, eu...”

— Não precisa ler o resto – Pierre disse entediado – Faça cumprir a última vontade de meu pai e eu assumirei os negócios.

— Não! – Sebastian disse.

— O que você disse? – Pierre perguntou pausadamente e encarou o filho como se ele tivesse acabado de dizer que iria explodir o pub.

Sebastian exibiu seu melhor sorriso cínico para o pai.

— Exatamente o que ouviu: não— ele tornou a repetir – Se tivesse permitido que o nosso amigo, Alfred, continuasse a leitura do testamento, ouviria de forma bem clara a parte em que o vovô o exclui da herança. E, por exclusão, entende-se que o senhor não pode administrar nenhum dos negócios.

Pierre deu uma risada seca e balançou negativamente a cabeça. Aquilo só podia ser uma piada de mau gosto.

— Você enlouqueceu? Eu sou o filho dele! O FILHO! – ele esbravejou, chamando atenção de todos no bar – Ele não pode me excluir do testamento.

— Sim, ele pode. – Sebastian disse com calma – Semana passada, papai, eu recebi uma encomenda interessante do vovô. Havia uma cópia do testamento, uma carta e também dois frascos contendo lembranças dele e do Sr. Beaumont, o mordomo inútil, como gosta de chamá-lo.

“Eu pedi a autorização da Diretora McGonagall para usar a penseira de sua sala para ver do que aquelas memórias se tratavam. E sabe o que descobri, papai? Descobri que o senhor vinha envenenando meu avô há algum tempo. Descobri que...”

— Isso é um ABSURDO – Pierre gritou e deu um soco na mesa, fazendo com que as canecas com bebidas caíssem. Em seguida se levantou e avançou para o filho, que também se pôs de pé – Você é um moleque! Como ousa dizer que matei seu avô?

— Adrien Beaumont, que o senhor pensava estar te ajudando a envenenar o meu avô, na verdade, estava do lado dele. – Sebastian disse devagar – Meu avô sabia que podia confiar nele e juntos eles armaram para você.

Sebastian deu uma risada, balançando a cabeça e tornou a encarar o pai.

— Meu avô contratou os melhores medibruxos, mas já era tarde – ele disse com um ódio contido na voz – O senhor matou meu avô por causa de uma maldita herança e ficou sem nada.

— A sua mãe... A sua mãe está de prova que eu nunca fiz nada para...

— Eu estou de prova que você, Pierre, não passa de um verme ambicioso. – Daphne, que até o presente momento estava sentada próxima à mesa deles, usando uma capa e um chapéu enorme como disfarce, finalmente se aproximou – Se analisar a cópia, verá que eu sou uma das testemunhas que assinou o testamento. Seu pai sabia de tudo, Pierre. Sabia por que escutei sua conversa com um de seus capangas e contei a ele a verdade.

Pierre arregalou os olhos ao mesmo tempo em que sentiu a fúria dominar todo o seu corpo. Não conseguia acreditar que Daphne, a mulher que estava sempre ao seu lado, havia cometido tamanha traição.

— Sua... Sua maldita – ele avançou em direção a esposa, mas Sebastian se pôs entre os dois.

— Não ouse tocar na minha mãe – ele disse entredentes – O único maldito aqui é você!

— E você é um moleque infeliz que não merecia estar vivo – dizendo isso, Pierre deu um soco no próprio filho, fazendo com que ele cambaleasse.

A essa altura, todas as pessoas do bar já estavam prestes a avançar, mas pararam ao ver o sinal negativo do tabelião.

— Vamos! Revide, seu covarde.

Sebastian deu uma risada e encarou o pai. Escorria sangue pela sua boca, mas ele não se importou.

— Eu não vou bater no senhor. – disse com tranquilidade.

— Porque é um covarde.

Sebastian deu mais uma risada e balançou a cabeça.

— Porque o senhor ainda é o meu pai.

— Mas não é o meu! – Scorpius, que estava entrando no Três Vassouras no momento em que Pierre atacou o filho, avançou e acertou o tio em cheio, fazendo com que ele caísse em cima da mesa.

— Scorpius, não! – Rose correu para frente do namorado, antes que ele atacasse o tio mais uma vez. Sebastian, por sua vez, segurou o primo para que não fizesse nenhuma bobagem.

— Me solta! – Scorpius gritou – Ele bateu em você! Ia bater na minha tia.

— E agora ele está preso.

A voz que ecoou pelo pub foi de Harry Potter, que havia entrado no local com Rony. Draco e Astoria estavam logo atrás.

— Eu não posso ser preso aqui. Não estou em meu país. – Pierre argumentou.

— Sr. Fontaine, as pessoas com quem conseguia o veneno que usava em seu pai eram deste país. Eles foram presos aqui, e confessaram que eram seus cúmplices e que receberiam uma grande quantia assim que o seu pai morresse. Isso consuma o crime de tráfico de produtos destinado à magia negra, que sabemos ser proibida. – Harry explicou pacientemente.

— Traduzindo: nós não só podemos, como iremos prendê-lo. – Rony disse com um sorriso – E nem adianta sacar a sua varinha para tentar nos amaldiçoar ou fugir, sua adorável esposa trocou a sua por uma réplica e o senhor nem notou.

Daphne sorriu vitoriosa para o marido, enquanto puxava a varinha verdadeira que estava em sua bolsa.

Rendido, Pierre se deixou apreender pelos aurores. Não havia mais o que fazer; ele havia perdido.

Draco, que até então observava o show, se aproximou do cunhado.

— Apodreça na cadeia.

— Você acha que é alguém para falar, Malfoy? É um ex-comensal; é tão sujo quanto eu.

Draco sorriu e levou as mãos até a gravata do cunhado, ajeitando de um jeito debochado.

— Sim, eu sou um ex-comensal – disse pausadamente – Mas eu paguei por isso. E eu não matei meu pai, acho que isso é uma espécie de bônus.

Draco sorriu em deboche e deu dois tapinhas nos ombros de Pierre. Em seguida olhou para a cunhada e para o sobrinho, e disse:

— Sejam oficialmente bem-vindos à família Malfoy!

~*~

As coisas já estavam mais tranquilas quando Rony se aproximou dos Malfoy e Fontaine. Harry já havia ido para o Ministério juntamente com Pierre, que depois seria transferido para Azkaban.

Com toda aquela confusão, apenas naquele momento ele reparou que Rose estava abraçada a Scorpius, enquanto ouvia Astoria discursar sobre o quão errado foi Scorpius partir para cima do próprio tio. Draco, por sua vez, concordava com a esposa, mas não escondia o orgulho que sentia do próprio filho.

— Rosinha, você está bem? – Rony perguntou, puxando a filha para um abraço. Scorpius quase foi junto e Sebastian não conseguiu evitar uma risada.

— Papai, eu estou ótima. Não aconteceu nada comigo. – ela explicou.

— Mas você se meteu no meio de uma briga. Podiam ter acertado você – Rony disse meio inconformado.

Rose riu e balançou a cabeça. Seu pai, definitivamente, era um exagerado.

— Se o Sr. Fontaine tivesse me acertado, com certeza não estaria vivo. – ela observou.

Rony concordou e, apesar do momento não ser o mais apropriado, achou melhor perguntar de uma vez.

— Por que você estava abraçada ao filho do Malfoy?

Naquele momento, Astoria parou de falar e se virou para encarar Rony. Draco, por sua vez, não conseguiu evitar o sorriso debochado.

— Papai, não era assim que eu pretendia contar, mas já que o senhor perguntou... – Rose fez uma pausa dramática e estendeu a mão para Scorpius, que segurou e sorriu – Scorpius e eu estamos namorando.

Rony piscou algumas vezes, tentando absorver aquela informação. E então, começou a rir.

— Ok, Rose, você quase me pegou. – ele disse em meio as risadas, mas, ao perceber que sua filha não estava rindo, parou imediatamente – Espera, isso é sério?

— Sim, papai! – Rose disse sem esconder a felicidade – Scorpius é o meu novo namorado.

— E aí, sogro! – Scorpius estendeu a mão para cumprimentar Rony, que parecia ter visto uma assombração – Quero que o senhor saiba que amo muito a sua filha e pretendo fazê-la feliz.

— Acho que minha pressão caiu – Rony disse e caiu sentado em uma cadeira – Meu coração, tem algo errado com o meu coração. Estou tendo um infarto.

Rose revirou os olhos e balançou a cabeça.

— Papai, não exagere. O senhor está perfeitamente bem.

— Estou falando sério. Isso é taquicardia ou infarto. É um derrame – ele balbuciou.

Draco se aproximou de Rony e se sentou na cadeira ao lado.

— Sorte que a sua família agora conta comigo, que sou medibruxo – Draco sorriu e passou o braço por cima dos ombros de Rony – E faço as consultas para minha nova família sem cobrar nadinha.

— Me larga, Malfoy – Rony disse e empurrou Draco, que deu uma gargalha – Se magoar a minha filha, Scorpius Malfoy, lembre-se que sou um auror experiente. E, caso só isso não te assuste, lembre-se meu cunhado é o Harry Potter.

— Vou me lembrar, senhor – Scorpius disse com seriedade – Vou me esforçar ao máximo para nunca magoá-la.

Rony concordou e se colocou de pé. Respirando fundo, foi até Scorpius e o abraçou de maneira bem desajeitada.

— Eu sou um auror, não se esqueça – disse em voz baixa.

— Sim, senhor.

— Um auror perigoso.

— Papai! – Rose revirou os olhos mais uma vez.

— Desculpe, Rosinha – Rony abraçou a filha e beijou sua bochecha – Eu preciso ir agora. Tenho que ajudar o Harry com os papéis. – ele respirou fundo e olhou para Sebastian – Entraremos em contato com você para prestar depoimento.

— Ok, Sr. Weasley! – Sebastian sorriu – Obrigado pela ajuda.

— Obrigado você por cooperar conosco e demonstrar tamanha coragem – Rony cumprimentou o menino. – Até breve, Rosinha!

— Até, papai! – Rose abraçou Rony mais uma vez – Obrigada por não ter surtado.

— Eu só quero ver você feliz – ele beijou a bochecha da filha e se virou para Draco – Você não vai me chamar de irmão só porque nossos filhos estão namorando.

— Isso nunca passou pela minha cabeça, cenoura— Draco sorriu.

— Ótimo, doninha saltitante — Rony sorriu de volta e apertou a mão de Draco.

Em seguida, ele se dirigiu para fora do Três Vassouras e aparatou.

Do lado de dentro, todos os presentes começaram a bater palmas. Ele havia denunciado o próprio pai e todos sabiam que era preciso muita coragem para fazer aquilo.

Sebastian sorriu um pouco tímido e então olhou para a mãe:

— Acho que eu sou rico o suficiente para pagar a próxima roada para todos aqui, não é?

Daphne riu e abraçou o filho.

— Você é rico o suficiente para fazer o que quiser.

— Ótimo – ele sorriu e se virou para as pessoas que o encaravam – A comida e a bebida de hoje é por minha conta. Vamos comemorar!

Todos gritaram em comemoração e foram servidos. A festa ali não duraria muito tempo, graças ao fim do horário do passeio, mas Sebastian estava feliz por estar com as pessoas que ele amava e por poder respirar em paz.

~*~

N/A: Olá, pessoal!

Dessa vez eu demorei menos com o capítulo (acho HAUAH) e espero que tenham gostado.

Deixarei vocês um pouco curiosos sobre o que será o próximo, mas adianto que algo muito legal vai acontecer.

Comentem para eu saber o que acharam!!!

Até a próxima!

Beijinhos,

Marls McKinnon.


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