—Você falou que não pode trazer seus livros, por quê?- questionou Percy curioso.

Naquela tarde os dois estavam no escritório de Percy, chovia muito lá fora, já fazia algumas semanas desde o casamento. Annabeth passava seus dedos pelos livros como se não soubesse qual escolher, depois daquela discussão a convivência melhorou muito, e como que para provar isso eles conversavam animadamente, Percy sentado na poltrona, Annabeth sem controlar a vontade de tocar nos livros permanecia de pé dedilhando-os com imenso cuidado.

— Minha avó, ela acha que livros colocam caraminholas na cabeça das moças. - confidenciou.

— Sua avó é maluca.

—Eu também acho isso às vezes, já cheguei a comentar com mamãe uma vez, mas ela garante que minha avó esta mais lúcida do que nunca.

Percy riu deixando uma Annabeth constrangida, mal tinha se dado conta que ao falar ficou com uma expressão tremendamente fofa na opinião do homem.

—Ora, pare com isso, você esta sendo rude.

— Não foi minha intenção, mas se quer saber você fica fofa inflando as bochechas.

Annabeth não respondeu a provocação, apenas revirou os olhos, e resolveu levar na brincadeira, mas então ela se deu conta de algo:

—Você nunca comentou sobre Londres, e já faz algumas semanas que nos casamos, me conta como foi lá, você fez muitos passeios?

— Bom, a maioria do tempo passei estudando, não tive muito tempo. Mas vamos falar sobre você.

Ela notou como ele sucintamente mudou de assunto, mas por hora resolveu não insistir, permaneceu calada.

— Amanhã é sábado, nos poderíamos dar uma volta. - sugeriu Percy.

— Um passeio?- perguntou.

— Não acha uma boa ideia?- perguntou escondendo um sorriso divertido. -Afinal precisamos fazer nossa primeira aparição como casal.

—Claro, acho uma ideia maravilhosa!

Trocaram sorrisos cúmplices antes decaírem na gargalhada, aquele casamento estava indo melhor do que esperavam.

***

Thalia andava tentando evitar que a chuva a molhasse ainda mais, tinha lágrimas nos olhos que se misturavam com a chuva insistente. Ela só precisava chegar urgentemente em um lugar, ao contrario estaria perdida, só voltou a respirar normalmente quando avistou a porta de madeira polida. Bateu algumas vezes, ela tremia, tanto pelo frio quanto pelo medo que rondava seu coração, mas Thalia nunca chorava. Não chorou quando era criança e tinha medo do escuro, nem quando quebrou o braço depois de uma travessura, sempre se manteve forte apesar do medo e da dor. Mas agora, o medo era tão forte que não conseguia pensar, e a dor se misturava ao desespero e angustia. Bateu ainda mais na porta, algumas luzes se acenderem. A revolta do seu coração se acalmou, assim que viu a figura sonolenta, se jogou nos braços do homem desesperadamente, e ele retribuiu o abraço sem se importar com a roupa molhada da mulher.

— Nico, eu preciso de você. - sentenciou.

Mesmo sem entender ele puxou a mulher para dentro, ele só não sabia o que ela fazia ali no meio da noite debaixo de uma chuva tão forte. Mas isso iria descobrir.

***

Percy e Annabeth andavam de braços dados, era só para manter as aparências, nunca admitiriam que a proximidade os agradava. Percy a guiava tão bem que parecia nunca ter saído daquela cidade, o encarou pedindo explicações ao se deparar com a biblioteca central. Para o seu desagrado Percy não respondeu, apenas puxou para que ela entrasse no recinto, ela desconfiou que alguma peça do quebra cabeça não estava se encaixando. Desde a tarde anterior aquele passeio parecia uma ideia estranha, doce engano pensar que era só um passeio comum. Mas no momento que ouviu aquele barulho tão familiar, soube que tinha o melhor marido do mundo, não soube o que aconteceu, mas seu coração de repente se encheu com um misto de emoções que se embaralhavam. Olhou para Percy que retribuiu o olhar como se nada tivesse acontecido. 

— Bem vinda professora Annabeth!- gritaram os alunos ao mesmo tempo.

Ela sentiu seus olhos lacrimejarem ao receber cada abraço apertado dos seus alunos, como sentira falta deles.

— Esses são seus alunos professora!- ouviu Percy sussurrar no seu ouvido.

Annabeth o abraçou e beijou uma de suas bochechas, dessa vez não por causa das aparências e sim por que seu coração mandava. Mandava que ela nunca mais se afastasse de Percy, ela ainda não sabia, mas naquele momento ela se apaixonou.

***

Nico ainda tentava absorver a noticia, tudo parecia estranho demais, observou a mulher dormir profundamente. Dormindo ela nem parecia àquela mulher tempestiva de sempre, encolhida nos seus lençóis ela ainda parecia temer. Estava tão frágil que na noite anterior Nico mal a reconheceu, e mesmo depois de passar a noite em claro, à ideia ainda parecia absurda. O ressonar baixo de Thalia e o peito subindo levemente à medida que ela respirava eram a prova viva de que ela estava ali, e que consequentemente a noticia era real e não maluquice da sua cabeça.

—Você vai ser papai. - relembrou as palavras dela. 

E sentiu o medo que ela sentia, quando Zeus descobrisse eles estariam mortos, não admitiria que a filha ficasse com um jornalista, principalmente com ele. Mas agora, Nico também era pai, e jamais permitiria que encostassem num fio sequer de cabelo  do seu filho. Não se importava com o orgulho no momento, só pensava em proteger Thalia e seu filho se qualquer um que tentasse lhes fazer algum mal.

Viu o momento em que a respiração da mulher perdeu o ritmo, foi só questão de segundo para que os olhos dela se abrissem e procurassem os seus desesperados. Ela buscava a confirmação da noite anterior, era evidente em seus olhos, precisava saber que não era um sonho. Nico a encarou com uma determinação ainda desconhecida por ela.

— Estamos juntos nessa. - reafirmou. - Agora nos somos uma família, e as famílias protegem o seus.

—Eu amo você. - ela disse emocionada.

Ele segurou uma de suas mãos e percebeu que elas estavam trêmulas e geladas, apertou as duas em uma tentativa de esquentá-las.

— Eu também. - confessou. - Eu também amo você.