A Ascensão e Queda de Arquibaldo escrita por Shelley


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Eu espero que vocês gostem disso aí



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A pesca esportiva consiste em pescar um peixe e, logo depois, jogá-lo de volta no rio para que, assim, ele continue a sua vida, arrume uma esposa, tenha filhos e morra depois de alguns anos. Quem inventou isso devia ser muito ruim das ideias ou, ao menos, muito ingênuo porque o que normalmente acontece é um pouco mais perturbador do que o que foi originalmente planejado. Na verdade, o criador dessa prática nunca soube no que a vida dos pobres peixes se transformava.

Arquibaldo, por exemplo, estava tendo um dia perfeitamente normal, quando foi pescado. Ele viu uma minhoca flutuando à sua frente e, naquele momento, o fato de que minhocas não habitavam ambientes aquáticos nem passou pela sua cabeça. Nosso herói foi puxado para fora da água em uma velocidade insana, sentiu um arrepio como nenhum outro peixe jamais havia sentido e, quando estava à beira da morte, foi devolvido, sendo deixado apenas com a imagem do pescador na cabeça junto de um possível trauma.

Talvez você não saiba, mas os humanos não têm a melhor das reputações com os peixes de água doce: eles acreditam que nós somos seres cruéis, com cordas vocais tão potentes que um grito humano pode estourar a cabeça de qualquer ser vivo que apresente um crânio, dentes tão afiados que podem quebrar cascos de tartarugas e rostos tão feios que o peixe que tiver o azar de sobreviver depois de uma visão tão horrenda carregará uma maldição para o resto da vida. Já os peixes de água salgada acham que somos seres bons demais para esse mundo e devemos ser protegidos a todo custo, mas isso não vem ao caso, até porque, em ambos os casos, não passamos de lendas.

Enfim, voltando ao Arquibaldo, depois do choque inicial por ter sido pescado, o coitado começou a nadar o mais rápido que conseguia enquanto gritava a plenos pulmões sobre abdução e o quão próximo o fim estava. Os outros peixes o encararam como se estivesse louco, mas ele continuou gritando por sete minutos inteiros. Esse foi o tempo necessário para que Arquibaldo percebesse que ninguém estava interessado e que talvez, apenas talvez, ele devesse esquecer aquilo e seguir em frente.

Mas esse peixe é brasileiro, não desiste nunca e os outros mereciam saber a verdade sobre os humanos, então ele dedicou alguns bons minutos da sua vida a escrever sobre o ocorrido na internet, o que, infelizmente, acabou fazendo com que alguns amigos duvidassem da sanidade do nosso herói.

Aos poucos, Arquibaldo foi ficando mais obcecado com o assunto. Seus amigos se afastaram, sua namorada pediu um tempo, sua família não mantinha mais contato e ele mesmo não se importava mais com a própria vida, tudo que ele queria era mostrar aos outros que humanos eram reais sem ter suas condições mentais questionadas.

Os dias se passaram e ninguém tinha notícias do pobre peixe, assim, começaram a surgir as teorias. Os mais otimistas diziam que ele havia pirado de vez e se mudado para o Norte com um frango aquático, os mais pessimistas acreditavam que ele cedera à loucura, cometendo suicídio. Haviam também os outros, eles não faziam ideia do que estava acontecendo, apenas existiam.

No entanto, a verdade era que Arquibaldo não saía de casa há meses porque havia se afundado nas pesquisas sobre os humanos e, depois de um certo tempo, começara a escrever vários textos sobre a sua experiência com eles e, sem ninguém para reprimir seu exagero, ele parou de comer, então definhou até a morte.

O pescador não sabia disso, mas seria melhor ter dado um fim à vida de Arquibaldo no momento em que o pescou.


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Notas finais do capítulo

Por hoje é só, pessoal!