O Passado Sempre Volta escrita por yElisapl


Capítulo 19
Capítulo 18: A minha escuridão.


Notas iniciais do capítulo

Eu: Bem-vindos ao PSV! Estamos aqui com a convidada, Felicity.
Felicity: Oi. *cumprimentou triste*
E: Por que tão chateada?
F: Porque neste passado, eu irei narrar o que aconteceu com minha mãe. *fãs tristes*
E: Tudo irá ficar bem! Nós iremos cuidar de você.

[fora de tela]

O capítulo não foi revisado, o que é provável que terá erros ortográficos, então me desculpem desde já.



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Mal você sabe
Como eu estou quebrando enquanto você dorme
Mal você sabe
Eu ainda estou assombrado pelas memórias

Sete anos atrás:  

Eu me lembro muito bem do dia em que minha vida se arruinou. 

Me lembro de como minha mãe estava linda, ela vestia uma blusa e uma calça jeans, seus cabelos negros estavam soltos, ela quase nunca o soltava, mas aquela noite não era uma comum. Nós estávamos comemorando o aniversário de minha irmã, a pequena tinha acabado de fazer seus 10 anos. 

Na casa, estávamos apenas nós três (eu, minha mãe e minha irmã), tirando meu pai, nós não tínhamos nenhum outro parente para convidar na pequena comemoração. Nunca conhecemos nossas avós e avôs, pois todos já haviam morrido. Não conhecíamos nenhum tio ou tia, porque ambos os meus pais não tinham irmãs ou irmãos. Então, éramos apenas nós quatro: Pai, mãe e duas filhas. Essa era nossa família. 

Em todos os aniversários, nosso pai passava conosco, nesses dias, ele tentava o máximo para não ficar bravo ou mal-humorado. No entanto, de um ano para ou outro, é como se tudo o que ele soubesse fazer é ficar furioso com qualquer coisa insignificante. Com isso, ele simplesmente deixou de se importar conosco. A única coisa que fazia pela família era trabalhar para conseguir dinheiro e jogar em nossas caras que éramos sustentadas por ele. 

Meu pai ainda estava no trabalho ou em algum bar, eu apenas sei que ele voltou tarde. Se ele não tivesse voltado naquele dia ou em nenhum outro dia, se tivesse caído duro de tanto beber ou simplesmente decidisse abandonar a nossa família, as coisas teriam sido diferentes. Nisso não há dúvidas.  

— Esse é o melhor aniversário de todos! - dizia minha irmãzinha toda empolgada após assoprar suas velas. 

Quando eu recebi o primeiro pedaço do bolo, fiquei muito feliz, porque isso significava que eu era a mais importante para ela, que eu era a pessoa com quem mais contava. Talvez tivesse sido melhor ela entregar para mim mãe, pois minha mãe realmente merecia. 

Depois de comermos o pequeno e delicioso bolo da dona Ellen, meu pai chegou com aquela cara de zangado e uma bebida na mão, ultimamente, sob pressão do trabalho e das dívidas, ele começou a beber muito, ao menos era isso que eu pensava. 

Nunca irei entender o motivo dele mudar, de ter se transformado em alguém irreconhecível, em um monstro que todos sofreram em suas garras. 

—Feliz aniversário, minha filha - declarava ele zombando e, com a mão que não estava segurando a bebida, passava em cima da cabeça de minha irmã. 

—Obrigada, papai - respondeu ela desviando seus olhinhos com medo. 

—Quando se dirigir a mim, me olhe nos olhos, menina! - mandou sem paciência. 

—Claro, papai - seus pequenos olhinhos se direcionaram aos do meu pai, mas dava para ver que ela sentia muito medo, ou melhor, pavor. 

Minha mãe, notando que de nada de bom sairia daquilo, fez como sempre fazia: evitou que suas filhas fossem vítimas da fúria de nosso pai. Então, ela puxou minha irmã para longe de meu pai e falou: 

— Hora de ir dormir, filhota - seu olhar foi para minha direção, com pesar.   - Leve sua irmã para o quarto e cuide dela - falou pedindo a mim.  

— Não se preocupe, mãe. Eu cuidarei de Diana e de você também! - abro um sorriso para tentar animá-la. Naqueles dias, as brigas estavam ficando muito tensas. Sempre acabava com alguma coisa quebrada. Nós não tínhamos vizinhos, então, não tinha como alguém reclamar sobre as gritarias e ninguém para me ajudar quando precisei. Morávamos longe de outras pessoas, o motivo? Também nunca descobri.   

— Eu sei que vai - ela passou a mão em meu rosto. - Agora vá e se tranque no quarto junto com sua irmã - eu apenas concordei. - Felicity, saiba que eu te amo.  

— Eu também te amo, mãe - a abraço.  

Minha mãe beija minha testa e nós se afastamos um pouco. 

— Vai demorar? - perguntou meu pai irritado. Eu tentei manter o meu olhar normal, mas é provável que eu tenha dado a ele um olhar de desdém, pois sempre foi isso que sentia quando o via nesse estado. Lembro-me de quase respondê-lo, mas por sorte minha mãe entrou em nossa frente, de costas para mim, me impedindo de dizer qualquer coisa.  

Apenas peguei na mão de Diana e a levei até o nosso quarto.  Eu não podia desobedecer minha mãe, Ellen. Ela sempre fora tão cuidadosa com nós duas. Sempre tentou nos proteger e morreu tentando nos manter a salvas.   

Para minha infelicidade, a discussão não demorou para começar e nem a gritaria. Eu já tinha colocado minha irmã na cama e ela estava tentando dormir, mas era impossível. Algumas vezes eu tentei cantar para ela, pois minha voz a acalmava, mas naquela noite, nada foi suficiente para ignorar a discussão que acontecia.  

—Eu não entendo. Hoje é meu aniversário, eles não deviam brigar desse jeito, era para nós comemorarmos - algumas lágrimas dos olhos de Diana saíram e não pararam tão cedo.  

—Papai está trabalhando muito, por causa que a nossa situação financeira não está nada boa. Então, ele acaba sobrecarregado e estressado, esqueceu que a mamãe explicou para nós em relação a isso? - peguei na pequena mão dela.  

—Não esqueci - ela funga. - Apenas quero que as discussões parem.   

—Eu também - o rosto de minha irmã chorando sempre me doeu, eu não gostava de vê-la sofrendo por causa das discussões. Pois muitas dessas brigas eram relacionadas a mim. Eles sempre brigavam em relação ao que fazer comigo. - Quer saber de uma coisa? Eu irei fazê-los parar!  

—Você vai? - seus olhos me encaram arregalados. - Tem certeza?  

—Eu prometi a mamãe que cuidaria de você. Mas, eu não estou fazendo o meu trabalho direito, pois se eu estivesse, não haveria lágrimas em seu rostinho - antes de sair do quarto, eu depositei um beijo na cabeça dela apenas por costume. 

—Tome cuidado, Fe - pediu ela e eu apenas sorri.  

—Sempre tomo, Di - fechei a porta para garantir que abafasse a discussão.  

Eu nem sabia o que estava fazendo, eu apenas me lembro de querer acabar com a briga, pois minha pequena e doce irmã queria dormir, queria que os meus dois pais entrassem em um acordo e mostrassem que nada superava o amor que ambos sentiam pela filha.  

Foi um erro meu em pensar que meu pai, Kurt, ainda amasse suas filhas. Mesmo eu vendo o olhar que dava a nós, eu ainda acreditava que aquilo era apenas temporário. Que, no fim, nós seríamos realmente felizes, melhor do que antes.  

Na minha cabeça, se eu colocasse fim naquela briga, não haveria mais nenhuma, eu iria colocar fim ao assunto. Pelo menos em uma parte eu acertei, depois daquela briga, nenhuma mais outra houve. 

Comecei a andar até onde eles estavam, mas eu ainda tinha que subir as escadas, pois ambos estavam no andar de cima. Contudo, parei para ouvir e entender o motivo da discussão. Nas outras vezes, eu não conseguia entender nada da gritaria, a porta conseguia abafar um pouco e eu não queria ouvir. Mas naquele momento, a curiosidade falou mais alto e então decidi ficar escondida ouvindo.   

Um erro, claro.  

—Nós temos que levá-la para lá! - escutei meu pai dizer exasperado. Questionei de quem eles estavam se referindo. - Por que insiste em fazer o contrário? Felicity não pode ficar conosco para sempre! - e novamente percebi que se referia a mim, como na outra vez que discutiram. E na outra. Todas me envolviam. 

—Você sabe muito bem o porquê de eu estar fazendo isso. Eu sou a mãe dela! Felicity é minha filha e não adianta dizer o contrário, ela sempre será. - respondeu minha mãe com tanta veemência que naquela hora um orgulho se preencheu dentro de mim. Mas, logo em seguida um sentimento de confusão se apoderou de mim. Para onde eles queriam me levar? Não é mais fácil falar comigo? 

—Eu não me importo! - meu pai, Kurt, rosna para ela. - Estou farto desta vida, eu nunca quis isso para mim. Eu irei levá-la para lá e você não irá me impedir. Chega dessas discussões. 

—Sabe que não pode fazer isso sem minha permissão! - responde como se fosse uma leoa, protegendo seus filhotes.  

—Sim, eu posso! E irei fazer por bem ou por mal, Ellen.  

—Não. Você não irá tirá-la de mim. Eu não permitirei. - noto desespero na voz de minha mãe, pensei em como ela estava vendo meu pai. Encarar o homem que o amou uma vez se transformar naquela coisa horrível.  

—Então é isso, Ellen. Nossas vidas juntas chegam ao fim de uma vez por todas. Acabou. - e então eu escutei o grito de minha mãe, o terrível grito. Às vezes eu o escuto quando estou sozinha e ele me mostra o quanto fui estúpida, eu pude fazer algo, mas não fiz. 

A única coisa que fiz, foi correr a tempo de ver o corpo de minha mãe caindo no chão, após ela ser empurrada da escada. Quando me aproximei, eu tinha notado outra coisa, um ferimento na barriga dela. Estava sagrando muito e eu não podia fazer nada para diminuir o sangramento. Eu ainda não tinha aprendido a fazer curativos. A única coisa que eu podia fazer e fiz, foi assistir minha mãe morrer em meus braços.  

—Mãe. - eu passo a mão em seus cabelos. - Por favor, não me deixe. - as lágrimas começam a cair de meu rosto descontroladamente.  

—Minha Felicity, minha filha. - ela esticou sua mão para passar em meu rosto. - Cuide de sua irmã. 

—Eu cuidarei e cuidarei de você também - digo pressionando o sangramento de sua barriga. - Continue com os olhos abertos, tudo vai ficar bem.  

—Saiba que sempre será minha filha, mesmo que digam o contrário, minha linda filha - ela declara fraca e força um sorriso. - Minha felicidade. 

—Guarde suas forças, mãe. - implorei e peguei sua mão para fazê-la pressionar enquanto ia ligar para a emergência, mas, quando sua mão caiu no chão novamente, eu tinha percebido. - Não, não, mãe. Por favor, mãe. Não me deixe. - imploro balançando sua cabeça, seus olhos haviam se fechado. - Acorde. - murmuro. - Eu cuidarei de você! - gritei sem me importar e continuei a segurar seu corpo, o sangue dela já tinha sujado toda a minha roupa, mas naquela hora eu não tinha me importado. Eu apenas queria minha mãe de volta. Queria que ela voltasse 

—Uma pena. - declarou meu pai, descendo as escadas e jogando a faca que usou para ferir minha mãe em cima do corpo dela. - Que terrível acidente.  

—Acidente? - o olhei incrédula. - Você a matou!  
—Eu? Que absurdo. - um sorriso muito grande se abriu em seu rosto. - Agora se me dá licença, preciso conversar com sua irmã. 

—Não! Você ficará bem longe dela - soltei o corpo da minha mãe, peguei a faca que foi jogada em cima dela e apontei para ele. - Se for necessário, irei machucar você - cuspo minhas palavras ao dizer. 

—Então, minha filha, será necessário - ele começou a se aproximar e recuei até chegar o quarto de Diana, entro nele e tranco a porta. - Não adianta se esconder, porque a partir de hoje, Felicity, sua vida será um inferno. 

Atualmente:  

No caminho inteiro para casa de Oliver, fiquei em silencio, mesmo com muitas perguntas em minha cabeça. Apesar do que houve com Joseph, a principal pergunta não tinha nada em relação a ele. Eu apenas quero saber desde quando Oliver voltou a morar na própria casa e o porquê de não me contar sobre isso. Mesmo que não seja necessário, eu deveria saber que agora está morando novamente na própria casa e não na arque, pois caso aconteça algo, saberei onde Oliver estará.  

Saio do carro e entro na casa, o silencio só se quebra quando Oliver pede a mim para me trocar, vestir algo mais confortável. Com isso ele pega uma camisa larga dele e uma calça moletom, me troco rapidamente no banheiro e, apesar de me achar totalmente cafona com as roupas, saio do banheiro vestida deste jeito. Não há outra coisa para mim, talvez se eu soubesse que ia acabar parando na casa de Oliver, eu teria trazido algumas peças de roupas comigo. 

Enquanto eu me trocava, ele também fazia o mesmo. Tirou seu terno e decidiu vestir algo mais relaxante, algo que não conseguiu deixá-lo menos charmoso. 

—Felicity, aquele não era seu ex-namorado, era? - começa o assunto. Percebo uma pitada de ciúmes na pergunta dele, mas sua insinuação não me permitiu degustar desse seu ciúmes repentino. 

—Não! - nego rapidamente. Como ele pensou isso de mim? - Eu nunca namorei alguém do meu trabalho. Eu sei diferenciar profissional com pessoal – o olhar que deu a mim do tipo: Sabe mesmo? Me fez reformular minha frase - Quer dizer, sabia até ficar com você.  

—Então, por que ele achou que você queria algo com ele? - indaga com curiosidade.  

—Porque eu dei a entender que queria. 

—Não estou entendendo - sua testa franze. 

—Oliver, se eu dispensasse Joseph, no meio da festa, ele iria fazer um show, iria chamar a atenção para ele, estragar o jantar dos noivos e deixar todos desanimados. Eu não queria isso, então fingi estar interessada nele e falei para nós irmos a um lugar mais particular porque as coisas que eu queria fazer com ele não dava para fazer no meio de tantas pessoas. 

—Como pôde dizer essas coisas? Felicity, isso foi sem noção. Você só precisava me chamar e eu resolveria tudo.  - seu ciúmes fala mais alto.  

—Como iria resolver?  - questiono irritada, colocando minhas mãos na cintura para poder encará-lo melhor. Eu sabia que ele não resolveria de uma maneira correta. 

—Não sei. Apenas fiquei preocupado, pois não me lembro desse Joseph. Não fui eu quem o contratou, talvez tenha sido minha mãe, não sei - ele passa as suas mãos pelas têmporas e suspira pesadamente.  

—Está tudo bem, Oliver. - digo indo até ele, pegando na mão dele. - Nós estamos bem, agora relaxe, já passou. 

—Prometa para mim que não irá fazer mais nenhuma loucura como essa?  

—Eu prometo. 

Encerramos o assunto, ao menos por esta noite. Decidimos dormi, mas não foi nada fácil cair no sono com Oliver dormindo no mesmo quarto que o meu. Eu passei a maior parte da noite escutando sua respiração tranquila. Enquanto ele dormia calmamente, eu estava toda agitada. Eu dormi na cama de Oliver, sim de Oliver Queen. Já ele dormiu no chão com algumas cobertas e travesseiros.  

Antes dele dormir, nós tínhamos discutido - apenas porque tivemos opiniões diferentes. Na opinião dele, nós devíamos dormir juntos. Na minha, nós não precisávamos. E no fim, eu acabei vencendo. Claro que ele ficou irritado, pois não bastava a briga que tinha feito com Joseph, ele teve que discutir comigo.  

Eu devo ter dormido algumas horas antes de acordar e, ao perceber que o sono não ia voltar, decidi sair da cama e me sentar ao lado de Oliver que está dormindo calmamente. 

Faz apenas alguns minutos que estou o admirando. É interessante ver o seu peito subir e descer conforme respira. Vê-lo tão vulnerável e precisando de meu cuidado. 

—Por que está me vendo dormir? - pergunta Oliver abrindo um sorriso no rosto e seus olhos azuis. Sinto minhas bochechas corarem um pouco, ao ser pega no flaga. 

—Eu estava esperando você acordar, para você fazer o café da manhã. - respondo sorrindo. 

—Se quiser, eu posso ser o café da manhã. - responde de maneira maliciosa. 

—Oliver... - desvio os meus olhos do seu. - Sem brincadeiras. - peço me levantando do chão.  

—Está bem, está bem. - ele também se levanta. - Vamos a cozinha para preparar algo. - apenas concordo e o deixo ir na frente. - Conseguiu dormir?  

—Mais ou menos. - me sento na cadeira.  

—Sabe, eu também não dormi nada bem, talvez se você tivesse deixado dormir junto com você... - ele deixa a frase no ar e abre um sorriso sacana. 

—Nós já conversamos sobre isso.  

—Na verdade você falou e eu não consegui convencê-la.  

—Prepare logo o nosso café - o mando apontando para a cozinha e mudando de assunto. 

—Sou o seu cozinheiro particular agora?  

—Sim! - eu dou risada.  

Apenas recebo um longo olhar em cima de mim e ele logo começa a preparar. Enquanto eu apenas o observava cozinhar, comecei a pensar no que a irmã de Thea disse para mim. Ela quer que eu convença Oliver a falar com Moira. Talvez seja agora minha oportunidade.  

No entanto, há um motivo pelo qual Oliver não quer ver sua mãe. Talvez esteja com raiva dela, por tudo que ela fez, talvez ele queira dar a ela uma lição. Não sei. Apesar de ter me desentendido com Moira uma vez, isso não quer dizer que eu a odeie. Ela não é uma vilã, suas intenções eram boas, mas agiu errado.  

Quando começamos a comer, Oliver nota minha inquietação e decide perguntar:  

—Felicity, há algo errado? - vejo que não há como desviar este assunto e essa é minha oportunidade para falar sem parecer forçado. 

—Eu preciso que faça algo por mim, Oliver - digo o encarando.  

—O quê? 

—Preciso que visite sua mãe. - peço cuidadosamente, mas sua expressão já se altera e sinto que uma discussão está para vir.  

—Isso eu não posso fazer. - declara com firmeza. Noto magoa nos seus olhos. Então, Oliver não está bravo com a própria mãe, está apenas decepcionado com ela.  

—Pode sim! - pego em sua mão e aperto. - Eu entendo que sua mãe fez uma coisa horrível. Mas, ela errou, todos nós cometemos erros na vida. 

—É diferente, minha mãe cometeu um erro que custou a vida de muitos e de meu melhor amigo. Você sabe disso, mas mesmo assim está insistindo. - sua cabeça se abaixa e ele começa a olhar para o prato vazio. 

—Acontece que ela continua sendo sua mãe. Isso nunca vai mudar. Mas o que pode mudar é você dar a ela o seu perdão - toco em seu rosto e faço virá-lo em minha direção. Para me olhar. - Você precisa fazer isso, Oliver. Não por ela, nem por mim, apenas por você.  

—Eu não quero discutir sobre isso, Felicity.  

—Eu também não. Olha, eu perdi minha mãe e eu daria de tudo para tê-la de volta. Nós duas sempre fomos unidas e ela me amava muito, o seu amor era tão grande que fazia de tudo para proteger a mim de meu pai. Esse amor a matou, Oliver. A culpa foi minha e eu não pude fazer nada. - uma lágrima escorre de meu rosto e Oliver a limpa com cuidado.  

—A culpa não é sua, Felicity. Em nenhuma hipótese pode se culpar pelo que houve com sua família. Apesar de eu não saber a história e entender que é dolorido para contar a mim, eu sei que não foi culpa sua.  

—O que eu quero dizer, Oliver -  balanço a cabeça para me recompor. Não estamos falando sobre mim e sim dele. - É que uma mãe faz de tudo por um filho, sua mãe pensou que estava fazendo o melhor para você e Thea. Apenas pense por um instante: vale a pena ficar desse jeito com sua mãe? Toda a dor que está causando, não só a ela, mas a você também?  

Eu me levanto da mesa e levo comigo os pratos para lavar. Oliver apenas está sentado, olhando para o nada. Rapidamente lavo a louça e percebo que não há mais nenhum assunto para nós dois conversarmos, bem, pelo menos da parte dele, pois enquanto eu lavava, ele não disse nada. Então, decido que está na hora de eu sair da casa e deixá-lo sozinho com os seus pensamentos que não quer dividir.  

—Oliver, eu preciso ir. - ele apenas concorda e não me olha. 

Saio da casa dele, pego o mesmo carro que me trouxe até aqui e começo dirigir até a casa de Sweet. Enquanto dirijo passo a repensar em nossa conversa. Será que eu não o pressionando demais? Eu não quero ser a errada desta história. Eu quero apenas ajudá-lo. No entanto, não dá para fazer isso quando alguém não quer ser ajudado e este é o caso de Oliver.  

Depois de passar pelos seguranças, entro dentro da casa e avisto Sweet Pea comendo alguns morangos sentada no sofá com um notebook na sua frente. É provável que esteja vendo algo em relação ao seu casamento, pois seus músculos estão tensos, ela anda se esforçando muito para que dê tudo certo.  

—Babydoll? - questiona ao colocar seus olhos em cima de mim. - O que aconteceu? - caminho até ela e me sento ao seu lado.  

—Preciso de uma opinião sua - pego um morango para comer também, mas apenas por nervosismos. Sweet apenas concorda para que eu continue a falar. - Eu estou tentando convencer Oliver a visitar Moira Queen. 

—Para que está o convencendo? - indaga curiosa. Se eu apenas responder que estou fazendo isso a pedido de Thea não é suficiente, pois sei que esse não é o único motivo pelo qual estou fazendo. Estou fazendo por mim também. 

—Eu quero que ele perdoe a mãe dele. 

—Por quê? O que ganhará com isto? - sua pergunta me corta como uma faca. Às vezes me esqueço como Sweet consegue adivinhar algumas coisas em relação a mim.  

—Porque, se ele perdoar, significará que também poderá me perdoar por enganá-lo todo esse tempo. - sinto minha consciência pesar. Como eu posso ser egoísta assim?  

—Você nunca o enganou. Só não quis contar a verdade, pois sabe que ela é dolorida. É complicado contar para outra pessoa as coisas que passamos. Eu mesma quase não contei a Bruce, precisei contar em partes e levou bastante tempo.  

—Me preocupo, pois temo que Oliver nunca mais confie em mim quando souber que não sou quem ele pensar que sou.  

—Se ele realmente sente algo por ti, ele irá perdoá-la. Talvez possa levar um tempo, mas no fim, os dois acabarão juntos e muito mais fortes. - ela pega em minha mão para tentar me tranquilizar. - Além do mais, está fazendo isso por nós. Sabe que se contar sobre você, terá que falar de Bruce e isso não pode acontecer. Espere as coisas se acalmarem e serem resolvidas, pois será melhor para todos. Se Oliver souber agora, irá perder o foco que é prender Blue e Pinguim.  

Apenas assinto.  

—E a outra coisa. - continua ela. - Como irá convencê-lo para ele ver a mãe dele, se nem você voltou a ver a sua? - eu arregalo os olhos. - Sei que sua mãe morreu, mas também sei que nunca foi a visitar no tumulo.  

—Eu não preciso visitá-la.  

—Por que não?  

—Simples. Ela está morta. - respondo com uma dor no peito.  

—Esse não é o único motivo. - afirma me olhando. Eu apenas desvio o olhar. - Você e Oliver possuem muitas coisas em comuns. 

—Não quero mais falar sobre isso. - me levanto do sofá e começo a andar até o meu quarto para poder finalmente trocar de roupa. Vestir algo que é meu.  

—Sabe que não pode evitar isso para sempre, Babydoll. - fecho a porta por de trás de mim para evitar que algo a mais se estendesse. Não quero ouvir mais Sweet Pea, preciso focar nas minhas situações agora. 

Começo a me trocar e pensar no que farei hoje. Eu preciso ir para empresa, mas não quero me encontrar com Joseph e não tenho ideia do que farei em relação a ele. Sua mudança estranha me assustou, ele sempre foi bondoso e nunca agiu assim, mas eu devo me lembrar em nunca pensar que realmente conheço alguém de verdade.  

Acabo de me arrumar e saio do quarto, para o meu alivio, eu não me encontro com Sweet. É provável que ela me queira dar um espaço, para pensar, igual fiz a Oliver. Então, eu vou à empresa e procuro por Joseph, mas infelizmente nenhum dos funcionários o viu. Isso significa que ele não veio trabalhar hoje, provavelmente por causa de ontem. 

Nem mesmo Oliver veio à empresa. Pelo visto, tentar convencê-lo a visitar a própria mãe mexeu realmente com ele, e isso é culpa minha. Eu devia ter parado de insistir quando ele usou o motivo dele não visitar a própria mãe pelo simples fato dela ter matado Tommy. Isso é uma coisa que machucou muito Oliver e eu abri a ferida novamente.  

Ao terminar de almoçar e passar a maior parte do tempo pensando no que fazer, decido-me desculpar com Oliver quando eu for à Arque. Sei que não posso forçá-lo a fazer algo que não deseja, pois ele faz o mesmo comigo. Ele não me força a dizer sobre as coisas que aconteceram com minha família.  

—Felicity. - Estava tão distraída que não escutei o barulho das portas do elevador se abrir. Apenas noto que há alguém nesse andar quando ele me chama de longe.  Desvio os meus olhos do computador e da tabela que estava digitando para encarar a pessoa que sei bem a quem pertence a voz. Quando meus olhos se encontram com o dele, sinto minhas pernas fraquejarem. Ainda bem que estou sentada.  

—Oliver? - franzo o cenho. Me levanto e começo a caminhar na direção dele. Para minha sorte, está apenas nós dois neste andar e torço para ninguém subir.  

—Podemos conversar? - apenas assinto. - Eu quero dizer que está certa. Não posso continuar a fazer isso com minha mãe. 

—Sério? Eu estava agora mesmo pensando em que eu não estava certa. - falo sem conseguir evitar o riso. Caramba, que coincidência.  

—Irei ver minha mãe hoje. - arregalo os olhos com a informação. Eu não acredito que consegui convencê-lo a ir.  

—Isso é fantástico! - digo e pulo sobre ele, suas mãos pegam em minha cintura e, sem pensar, beijo Oliver. Eu quero demonstrar a ele minha felicidade por ter confiado em mim, por ter aceitado minha ideia e por querer ver sua mãe. Antes eu não poderia fazer isso, eu apenas poderia dizer: fico feliz. Mas agora, eu posso beijá-lo, abraçá-lo quando eu bem entender, porque sei que há algo entre nós. Não sei o que, uma atração, uma paixão, um romance, apenas sei que há algo que é especial para nós dois.  

Ao sentirmos a falta de ar, nós se separamos sorrindo.  

—Só que eu agora irei pedir algo para você.  - ele declara e eu o encaro frisando a testa. - Quero que vá comigo visitar minha mãe.  

—Não está falando sério.  

—Sim, eu estou.  

—Oliver... - começo a criar uma desculpa. A última coisa que quero fazer é visitar Moira Queen, além de ser estranho, aquela mulher não é minha fã, imagine a reação dela ao me ver com seu filho a visitando.  

—Por favor, Felicity. Eu preciso de você.  

Caramba. Como pode quatro simples palavras me desarmar? Quase nunca Oliver admite precisar de mim, na realidade, ele nunca admitiu. Houve uma vez que chegou a dizer: Nós precisamos de você. No entanto, desta vez é diferente, a única pessoa que precisa de mim é apenas ele.  

—Está bem. - concordo mesmo possuindo noção do que pode acontecer ao ver Moira Queen novamente. Oliver apenas me abraçou me apertando muito forte.  

Antes de irmos à prisão, nós avisamos para alguns funcionários da empresa e demos suas devidas funções para o dia de hoje. Todos ficaram assustados ao ver Oliver, pois ele quase nunca está junto para dar as ordens. Eu quase ri quando um deles não conseguia olhar para mim porque Oliver estava junto. 

Quando começamos a caminhar em direção a prisão fiquei totalmente ansiosa. Como será a reação de Moira ao ver o filho? Com certeza, de felicidade, pois se Thea quis que eu convencesse a fazer Oliver ir até lá, significa que a mãe está com saudades. 

Meu estomago se revira todo quando um dos policiais abre a porta e sai de lá, nada mais e nada menos que, Moira Queen. Por estranho que pareça, mesmo ela vestindo laranja, seu jeito de mulher poderosa continua nela. Isso é estranho, pois pensei que presa iria fazê-la ficar com o rabo entre as pernas. Mas, vejo que Moira Queen é uma mulher difícil na queda.  

—Filho? - questiona ela com os olhos arregalados. Não demora muito para ela correr e abraçá-lo com toda força que possui. - Você veio, eu não estou acreditando! - diz enquanto seus olhos começam a chorar.  

—Demorei um pouco, mas, antes tarde de que nunca, certo? - tenta amenizar a situação. Eu me esforço para parecer dura em relação a isso, mas confesso que estou quase chorando. Eu nunca terei a oportunidade de abraçar minha mãe novamente.  

—Você também veio? - questiona Moira agora me encarando. Ao menos sua expressão não é de desgosto. Apenas estranho o fato dela vir ao meu caminho e me abraçar, não igual fez com seu filho, mas o suficiente para me sentir desconfortável. 

Como eu não consigo dizer algo eloquente. Oliver fala por mim:  

—Eu pedi para que ela viesse.  

—Não tem problema, fico feliz ao saber que graças a Felicity meu filho decidiu me visitar - diz Moira sorrindo para mim. - Confesso que quando Thea disse que ia pedir a você para tentar convencer Oliver, eu achei que não fosse conseguir, pois ele sempre foi um cabeça dura e quando toma uma decisão, nunca volta atrás.  

—Sim, isso eu sei. Mas nesses últimos tempos ele mudou, agora está mais flexível em algumas questões. - digo calmamente e dando um longo olhar em Oliver.  

Nos fitamos por alguns segundos, mas paramos de nos encarar ao ouvir Moira tossir. 

— Vamos nos sentar, quero saber de tudo. E, por favor, não deixe nenhum detalhe de fora. Então, me contem, desde quando estão namorando? - nós nos sentamos, mas eu quase cai da cadeira ao ouvir sua última pergunta. Da onde ela tirou essa ideia? 

—Nós não estamos namorando! - respondo rapidamente e envergonhada. 

—Sério? Thea tinha dito que vocês estão juntos. - explica calma.  

—Nós estamos apenas saindo juntos. - ela concorda com a cabeça e passa a olhar o filho. Eu nem acredito que ela pensou que nós estamos namorando.  

—Me contem mais, preciso de mais informações. - pede ela. - Sei que são amigos há um bom tempo, mas como isso aconteceu?  

—Já se faz algumas semanas. - diz Oliver pegando em minha mão. - Estou tentando conquistá-la já faz um tempinho, mas ela é difícil.  

—Eu não sou difícil, apenas tenho respeito a mim mesma. - finjo estar ofendida e começo a rir. - Além do mais, eu estranhei as suas cantadas. - ele também começa a rir.  

—Vocês são muito fofos. - Moira comenta me fazendo corar. - Nossa, esse seu colar é lindo. - ela olha para o acessório que ganhei de Oliver.  

—Seu filho que me deu quando nós fomos a praia. - digo tirando o colar de meu pescoço e entrego para ela dar uma olhada.  

—Não me lembro da última vez que fui a uma praia. Acho que faz mais de dez anos. - ela admira o colar, mas que noto sua mente vagueia em alguma memória. - Na realidade, eu me lembro. Oliver tinha seus quinze anos e Thea por volta dos nove. A família inteira foi, até mesmo Robert tinha conseguido arranjar um tempo para nós irmos juntos. - ela sorri fraco.  

—Aquele dia foi incrível, pois finalmente decidiu entrar na água conosco - Oliver comenta com um sorriso no lábio. - Lembro que quase me afoguei, mas você me salvou.  

—Eu sempre cuidei de você. - declara ela me devolvendo o colar. - Quando nós fomos embora da praia, Robert comprou três quadros para não esquecermos desse pequeno momento de felicidade. Ainda devem estar pendurados na casa, todos possuem um desenho de água, mas não são iguais. Qualquer dia de uma olhada. - pede para mim.  

Rapidamente, me recordo dos quadros que vi hoje de manhã. Um está no quarto de Oliver, o outro na sala e outro na cozinha. 

—Eu os vi, são lindos igual ao resto da casa. - falo animada.  

—A casa é bonita, mas não é a mesma coisa quando está vazia. Antes, era cheio de crianças correndo pela casa, pois Oliver e Thea traziam seus amigos. Um dia, irá ver como é ter várias crianças correndo para lá e para cá juntamente com os seus filhos. 

—Ah, eu não planejo ter filhos. - respondo rapidamente.  

—Por que não? É uma coisa tão boa.  

—Acredito que está cedo para mim.  

—Bem, quando chegar a hora, certo? Eu quero ser a vó. E espero que seja Oliver a me dá os primeiros netinhos. - ela pisca para ele.  

—Uma coisa de cada vez, mãe. - pede Oliver um tanto envergonhado. Quase que penso em fazer alguma piada com ele, mas me seguro, não quero estragar este momento prazeroso. 

—Tem razão. - Moira apenas sorri.  

—Mãe, eu preciso perguntar. Por acaso se lembra de algum Joseph Stuart? Ele trabalha na área de TI, olhos azuis e cabelo negro.  

—Sim, não há como me esquecer daquele terrível homem. 

—Por que se refere a ele como terrível? - entro no meio da conversa curiosa.  

—Quando eu o contratei, foi para ajudá-la. Mas recebi reclamações de vários funcionários a respeito dele. Muitos disseram que era injusto, pois você estava fazendo todo o trabalho enquanto Joseph não vazia nada. Além do fato de que, quando fazia, não fazia bem feito. Então, cogitei em demiti-lo, fui até ele e quando comecei a dizer que não dava mais para mantê-lo na empresa, ele me ameaçou. 

—Como? - preocupa-se Oliver. 

—Ameaçou expor sobre o projeto no qual trabalhei com Malcolm Merlyn. Naquela hora, eu não podia deixar a informação sair, não podia arriscar. Então, decidi deixá-lo continuar na empresa, se era apenas aquilo que ele queria e, além do mais, Felicity não estava reclamando comigo sobre ele, isso queria dizer que as coisas não estavam tão ruins assim em relação a Joseph.  

—Você o chama de terrível, por que ele quase te expos? - pergunta Oliver tentando disfarçar sua pequena raiva. Não sei se é direcionada a sua mãe, ou a Joseph.  

—Não. É porque, alguns dias atrás ele veio me visitar e começou a dizer algumas coisas para mim, precisei chamar os policiais para tirá-lo daqui.  

—O que ele disse? - indago decepcionada. Não acredito que nunca reparei nos defeitos de Joseph, como ele pôde me enganar todo esse tempo? 

—Falou que a prisão não é para pessoas como eu. Falou que eu era boa demais para ficar apenas presa, que as minhas habilidades deviam ser usadas novamente e não esquecidas. Até me ofereceu uma proposta, disse que poderia me soltar. Mas, recusei prontamente. Estou cansada de fazer escolhas erradas que pode afetar meus filhos. No entanto, quando recusei, ele ficou surtado, começou a dizer que estou desperdiçando meus dons e  que irei me arrepender em recusar sua ajuda. 

—Pelo visto, ele não gosta de levar um não. - tento uma piada para tirar esse clima de tensão que está entre nós. Mas, nenhum dos dois ri.  

Um policial se aproxima de nós e diz:  

—Desculpe interromper, mas o tempo de visita acabou.  

—Claro, nós vamos nos despedir. - responde Oliver formalmente. O policial concorda e se afasta. Então, resolvemos nos levantar das cadeiras e ficarmos de frente com Moira.  

—Você irá voltar, meu filho? - questiona ela colocando a mão no rosto de Oliver. 

—Sim, quando der. As coisas andam agitadas.  

—Entendo. Venha sempre quando puder. Agora posso conversar com Felicity por um momento? - pede gentilmente. Ele apenas assenti e a abraça. - Até logo meu filho. - quando Oliver finalmente está longe, ela vira-se para mim. - Obrigada por trazê-lo até aqui.  

—Por mais que doesse admitir para Oliver, ele precisava disso. - digo hesitante. Por que ela quer conversar comigo? 

—Entendo. Meu filho parece realmente gostar de você.  

—Eu também gosto dele.  

—Isso eu notei. - ela pega minha mão e a aperta. - Você precisa cuidar dele minha querida e qualquer coisa que esteja escondendo dele, precisa dizê-lo. Não adianta dizer para mim que não há nada, pois sei que há. E, se realmente não pode dizer, tente não machucá-lo, muitas pessoas já o feriram. 

—Não se preocupe, eu não irei feri-lo.  

—Obrigada. - ela me abraça rapidamente. - Pode vir me visitar também se quiser.  

—Quando eu puder, venho. - prometo a ele e solto sua mão.  

Começo a caminhar até chegar ao lado de Oliver e nós dois começamos a andar em silêncio em direção a saída. Só decidimos conversar ao sairmos por completo da prisão.  

—Eu realmente estava precisando disso. - confessa Oliver e eu quase reviro os olhos. Eu sempre soube disso, mas o cabeça dura dizia que não.  

—Foi bom para você. - sorrio ao olhar seu semblante mais calmo e relaxado. - Para mim foi constrangedor. 

—Por quê? Por ela perguntar há quanto tempos estamos namorando, amor? - ele brinca e pega em minha mão.  

—Arg. Não me chame de amor, querido - entro em sua brincadeira. - Além do mais, nós não estamos nem juntos. Estamos apenas curtindo um ao outro, pois nós não tivemos nenhum sequer encontro, meu bem – pisco para ele.  

—Sério? Bem, passamos várias noites juntos, sou seu par no casamento de sua melhor amiga, você conheceu sua sogra... Não sei não, amorzinho. 

—Oliver! - o advirto. - Nós não estamos namorando. - repito e ele concorda com um sorriso sacana no lábio. 

—Por que não marcamos um encontro, então? Se é isso que tanto deseja. - reviro os olhos com o seu comentário.  

—Não quero um encontro. Há coisas mais importantes para se focar. - declaro e entro dentro do carro. Ele faz o mesmo que a mim. E, quando fechamos as portas, o assunto continua. 

—Quer dizer que, enquanto nós não resolvermos essas coisas, eu não poderei pedi-la em namoro, pois nós não teremos nenhum encontro? 

—Não enche, Oliver! - o soco fracamente no ombro.  

—E agora, o que deseja fazer? Para onde quer ir, meu amor? - pergunta para me irritar e eu sorrio. No entanto, logo paro de sorrir ao pensar em algo. No assunto de Sweet. 

—Você quer ir comigo visitar... minha... família no tumulo?  - indago hesitante.  

—Faz tempo que não vai? - eu concordo.  

—Eu nunca fui. Quando elas morreram, eu não tive coragem de ir, mas, se você conseguiu coragem para perdoar sua mãe, está na hora de eu ter coragem para visitar a minha no cimitério. - ele assenti.  

—Sim, eu irei com você. 

—Isso é claro se você for realmente querer. - digo desviando os olhos. Mas, Oliver pega em meu rosto fazendo eu fitá-lo.  

—É claro que eu quero. Esqueceu-se de que eu cuido de você? - nego com a cabeça.  

—Vamos precisar do jato particular da empresa. - ele concorda, faz um leve carinho em mim e depois foca em dirigir.  

Pego meu celular, mando mensagem para o piloto ficar pronto, pois nós vamos usar o jato. Também encaminho um aviso para Sweet dizendo que irei visitar o tumulo da minha e que estou acompanhada com Oliver. Não veio nenhuma resposta, então presumo que ela esteja ocupada com alguma coisa importante. 

Ao entrar no jato e sair do chão, uma ansiedade começa a surgir dentro de mim. Eu realmente irei fazer isso. Eu irei visitar o tumulo de minha mãe e de minha irmã depois de tantos anos do acontecimento.  

—Não precisa ficar assim. - declara Oliver pegando em minha mão e sentando ao meu lado. - Qualquer coisa estarei para você, igual esteve para mim desde o começo. 

—Sabe, hoje está sendo uma loucura total. - comento forçando uma risada. - Não acredito que estou voltando para minha cidade natal depois de tantos anos.  

—Algumas vezes precisamos voltar a nossas origens.  

Voltar às origens? Bem, foi dessa cidade que minha origem surgiu, a origem assassina, vingativa e dolorida. Mas, tudo bem, se nada disso tivesse acontecido, eu não teria salvado tantas pessoas, eu não teria conhecido Oliver e o resto do pessoal.  

Ao ver que o jato pousou na cidade, um frio passa em meu estomago. E, automaticamente, algumas memórias veem a minha mente, mas tento mantê-las afastada. 

Mesmo se passando anos, a cidade não mudou em nada. Continua pequena, com as mesmas lojas e moradores. Espero que ninguém possa me reconhecer. Para evitar qualquer inconveniente, nós vamos direto ao cemitério.  

—Com licença, senhor - Oliver chama a atenção de um senhor de idade que provavelmente deve trabalhar aqui.  

—No que posso ajudar? - questiona se aproximando de nós dois.  

—Estamos procurando por túmulos. 

—Quais são os nomes das pessoas?  

—Ellen e Diana Smoak.  

—A família Smoak? - o velho ergue sua sobrancelha. - Interessante, ninguém nunca a visitou durante esses anos. 

—Por que não?  

—Nunca ouviu a lenda, rapaz? - pergunta presunçoso. 

—Lenda? - questiono franzindo o cenho e entrando na conversa.  

—A família Smoak acabou graças a uma das filhas, se eu me lembro bem, o nome da menina era Felicity, ela matou sua mãe e sua irmã. O pai dela a mandou para o hospício muito longe daqui. No entanto, todos temem que os seus filhos peguem a mesma loucura que a pobre garota pegou. De felicidade, a garota não deu.   

—Que lenda idiota! - exclamo irritada. - Eu sei por fontes próprias que a menina nunca foi culpada. 

—Quais fontes? - ele ri. - Eu moro aqui há muito tempo e me lembro de ver os policias levando a garota. Ela tinha sangue nas mãos e no corpo. Além do fato dela gritar que ia matar o próprio pai. 

—Ela gritava porque foi o próprio pai que matou a família. - respondo elevando minha voz. Eu nem acredito que estou realmente discutindo sobre isso. As pessoas dessa cidade ainda pensam que sou culpada.  

—Isso é o que ela dizia. Mas como acreditar se as digitais da garota estavam na faca que matou a mãe e na arma que matou a irmã? - sinto meus olhos lacrimejarem. Mesmo depois de tudo, eu ainda continuo sendo incriminada por um crime que não fiz. Isso é terrível.  

—Não quero mais falar sobre isso, apenas me mostre onde estão os túmulos. - peço triste. E o senhor apenas concorda.  

Começamos a segui-los em silêncio. Ao menos eu tenho certeza de que os túmulos estão bem cuidado, pois eu dou dinheiro para mantê-lo. Além de entregar flores também.  

Estou me sentindo desconfortável, pois sei que o olhar de Oliver está sobre mim. Acabei me esquecendo que há poucos minutos atrás eu estava discutindo com o velho sobre minha família e sobre eu não ser a culpada. Nesse pouco tempo, ele conseguiu saber algumas coisas do meu passado e isso me deixa assustada.  

Ao paramos em frente a dois túmulos, o velho nos deixou a sós. Eu rapidamente me ajoelho e passo minhas mãos nos nomes escritos: Ellen e Diana Smoak. Mãe e filha amada. Quando meus olhos veem as duas fotos, eles começam a lacrimejar e em seguida a chorar. 

Parece que apenas agora caiu a ficha de que nunca mais irei ver minha mãe e minha irmã. Antes, eu as via. Mesmo sendo em sonhos ou frutos da minha imaginação. Mas agora, isso só confirma que elas realmente estão mortas. Que eu as matei. 

Começo a gritar em desespero. Minha família está morta e tudo isso é culpa minha. Como eu pude ser esse monstro? Como pude fazer isso com elas? Eu sempre pensei que o monstro dessa história era meu pai, mas na realidade, eu sou. A morte sempre andou em volta de mim, sempre como um ima. Todos pertos de mim morrem, não importa se demorará muito, mas no final, eu acabarei sozinha.  

Todos que tentaram me ajudar, me proteger e me amar, foram machucados no processo. E todos que eu tento salvar e proteger acabam tendo algum final trágico. Tudo isso porque eu sou o monstro da história. O verdadeiro monstro.  

Eu devia ter percebido isso há muito tempo atrás, pois começou com minha mãe que morreu por me amar demais, por tentar me proteger. Depois minha irmã, a quem eu jurei proteger e falhei miseravelmente. As mortes não pararam por aí e até hoje não param. Pessoas que ficam perto de mim acabam tendo algum sofrimento. Estou farta disso, não aguento mais ver alguém sofrendo por minha causa.  

No entanto, preciso agora aguentar esse peso. Se eu não tivesse ido para Starling City, Blue nunca viria até ela e não assassinaria essas mulheres que agora estão mortas. 

Para tentar me acalmar, Oliver se agacha e me abraça. Ele começa a dizer algumas coisas, mas não consigo prestar atenção. Apenas consigo pensar que Oliver será a próxima vítima do monstro que sou.  

Não, eu não posso fazer isso com ele. Não posso permitir que ele se machuque por minha causa. Há muitas coisas boas para acontecer a Oliver. Agora posso ver claramente que sou um obstáculo em sua vida. Eu irei impedi-lo de conseguir tudo de bom que possa ter. Jamais poderei dar a ele o que a Moira deseja que ele tenha, filhos e felicidade. Se ele continuar comigo, nunca irá ter essas coisas. Apenas haverá escuridão e mortes em volta dele. Como há em minha vida.  

Foi um erro da minha parte achar que Oliver ia conseguir tirar tudo de ruim que há em mim. Achar que conseguiria tirar minha escuridão, que conseguiria me ajudar a vencer os meus demônios, sendo que ele possui os seus próprios. Nós não vamos nos ajudar. Não há como uma pessoa quebrada ajudar outra pessoa quebrada.  

Se alguém merece Oliver, este alguém é Laurel. Nela não há nenhuma escuridão, não igual a mim, e com isso ela poderá ajudá-lo no processo. Apenas ela poderá reconstruí-lo. O amor dela não terá segredos como o meu, não será propicio a destruição igual ao meu. No final, eles serão felizes e eu estarei assistindo de longe, enquanto minhas lágrimas cairão de meu rosto, mas não será de tristeza. Será de alegria ao saber que Oliver terá tudo que merece. Todo o amor do mundo que Laurel poderá dar.  

—Vai ficar tudo bem, eu estou aqui. - declara Oliver parando de me abraçar. Ele segura meu rosto com suas mãos e sinto seu olhar sobre o mim, mas eu continuo com os meus olhos fechados, não posso encará-lo. - Eu estou aqui, Felicity. - repete para mim, como se essas palavras pudessem me ajudar. Mas infelizmente, elas não podem.  

—Eu... quero... que... me deixe. - digo entre os choros. Minha voz não sai convicta, então Oliver nem sequer se move. 

—Felicity... - ele começa a dizer algo, provavelmente mais alguma coisa para tentar me animar, para me consolar. No entanto, eu o corto antes que conclua a frase. 

—Eu disse para me deixar! - abro meus olhos para encarar a imensidão azul na minha frente. Noto confusão no olhar de Oliver e isto só me mostra como sou difícil para lidar. 

—Não irei te deixar - diz convicto. Eu apenas pego suas duas mãos e o faço soltar meu rosto. Deste jeito conseguirei dizer sem me preocupar o toque dele.  

—Acontece, Oliver, que eu não estou pedindo. - falo seca. - Vá embora. Eu não quero você aqui, é difícil entender?  

—Você não está pensando direito. Neste momento você nem se quer está pensando.   

—Quem não está pensando direito é você. Eu quero que saia desta cidade, me deixe aqui, pois preciso resolver algumas coisas.  

—Que coisas irá resolver?  

—Não posso deixar que o me culpem por algo que não fiz. - me levanto do chão e me viro de costas para ele.  

—Sabe que eu posso ajudá-la, não sabe?  

—Oliver, eu não quero que me ajude. - digo firme. 

—Então, olhe nos meus olhos e diga isso. - viro-me para encará-lo e tomo todo o ar que me resta, apenas preciso dizer e conseguirei fazer com que Oliver siga o seu caminho para a direção correta.  

—Eu não preciso de sua ajuda. - falo com veemência. 

—Felicity... 

—Eu quero que vá embora! - berro para ele, o fazendo recuar e me olhar atordoado. Sim, agora ele está me vendo como realmente sou. Continuo a olhá-lo de maneira fria, aposto que se eu me olhasse no espelho nem me reconheceria. Ou talvez sim, afinal, sempre fui deste jeito, apenas agora que admito para mim mesma.  

Uma parte de minha não quer deixá-lo ir, mas essa parte é egoísta e pensa apenas em si mesma. Quando ele tenta me abraçar e segura, eu apenas o empurro e grito novamente:  

— Vá embora! Me deixe em paz! Eu não preciso de você! - vejo no olhar dele, pela primeira, uma tristeza. Uma tristeza que eu causei.  

Não precisei mandar novamente, pois ele começou a andar. Eu não queria vê-lo indo, então voltei a encarar os dois túmulos. Apenas depois de alguns minutos, decido olhar para trás, para ver se Oliver ainda pode estar aqui. No entanto, sinto uma dor em meu peito. 

Oliver realmente foi embora. 


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Notas finais do capítulo

Lamento por ter demorado na atualização da história, não tenho motivos que possam ser suficientes para justificar o meu crime :/
Obrigada por tudo ♥



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