O Segundo Antes do Sol Voltar escrita por Eponine


Capítulo 12
Capítulo 12




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— Há quantos anos estamos fazendo isso?

— Faz literalmente três anos que não fazemos isso, James. — esclareceu Remus, chocado em como o amigo nunca tinha noção de tempo e espaço. Lá estavam os quatro e Charlie, sentados na estação de trem prontos para mais uma aventura de verão desastrosa floresta adentro. A última fatídica vez que Charlie sugeriu que passassem uma noite na floresta fora no verão do terceiro ano e nada acabou bem: Peter se perdeu após fazer suas necessidades longe demais de onde o grupo acampara, James queimou as salsichas, Charlie quebrou as barracas tentando montá-las, Sirius tivera sua primeira experiência alcóolica (roubando o cantil do pai de Charlie) e simplesmente entrou em coma, o pai de Charlie dormiu assim que chegaram no local e Remus sobrou, como sempre, para resolver o caos que seus amigos conseguiram causar em poucos minutos em um novo local.

Entretanto, agora, tudo seria diferente. Eles iriam acampar sozinhos, sem adultos, e com mais convidados para diversificar a experiência. James quase desistiu de acampar quando perceberam que convidar Emmeline era automaticamente convidar Marlene, o que deixou Sirius feliz. Por um milagre, Lily aceitara o convite de Remus, dizendo que seria legal apresentar sua irmã mais nova para jovens bruxos e todos passaram boa parte do verão curiosos para conhecer a famosa Petúnia Evans.

— Será que ela ficaria comigo? — questionou James.

— Bem, se o asco por homens metidos for de família você pode ter certeza que não. — garantiu Sirius, não se incomodando em magoar o amigo. James ficou abalado depois do dia que tentou mostrar para Hogwarts as partes intimas de Snape e Lílian Evans acabou com sua existência na frente de Hogwarts. Remus ficou sabendo que ele chegou até mesmo escrever uma carta para desculpar-se com Lily, porém sem resposta.

Remus olhou a estação com o sol amanhecendo e encolheu-se em seus casacos ao lado de Peter, adormecido. O local estava com poucos trouxas transitando naquela sexta de manhã quando James ofereceu-lhe uma bala. Fitou os olhos castanho cor de mel do amigo, lhe dando um breve sorriso encorajador para que pegasse a bala que oferecia. Estavam cheios de dedos um com o outro depois da briga que tiveram, que rendera a perca da Taça das Casas no fim do ano, as conversas que trocavam eram educadas e nadas pessoais, o que causava ansiedade em Sirius e Peter.

— Pelo amor de Merlin por que vocês não se beijam logo e param com isso? — Sirius levantou de supetão do banco, arrancando a bala de James e enfiando na cara de Remus. Acendeu um cigarro, colocou a touca do casaco e desceu da plataforma que estavam, irritado com o frio.  — Que merda, quem é que acha razoável acordar essa hora pra acampar, que bosta, que inferno, eu quero-

— Ele fica irritado com o frio. — comentou James, como se fosse uma mãe carinhosa, explicando a manha do filho. Remus abriu a bala e comeu, percebendo um grupo de pessoas aproximando-se.

Sorriu ao ver sua namorada carregando uma mochila pesada quase de seu tamanho das costas, acompanhada de Marlene e mais algumas pessoas que Remus desconhecia. Sirius subiu rapidamente da plataforma, jogando o cigarro fora e soltando a fumaça, tentando ver quem acompanhava as duas.

Todos, inclusive acordando o dorminhoco Peter, arfaram ao perceber que o garoto ao lado de Marlene era ninguém menos que

Brendan Rollins? — gaguejou Charlie, apertando o banco e deixando seu livro cair.

Brendan Rollins era lenda em Hogwarts. Ele era nascido trouxa, grifinório, um ano mais velho que os quatro e tudo que sabiam sobre o mesmo era constituído de boatos: James ouviu falar que em um verão a família dele estava com fome então ele matou um porquinho de estimação com as próprias mãos, tirou o couro e fatiou. Peter garantia por sua pobre avó que uma vez o viu fazer um feitiço segurando a varinha com os dedos dos pés. Sirius ouvira falar que uma vez ele estava tão entediado que montou o Salgueiro Lutador por uns dez minutos até Dumbledore em pessoa ir pedir para que ele descesse. E Remus, bem, Remus ouvira diversas histórias escabrosas sobre Brendan, mas uma ele tinha certeza:

No início de seu sexto ano, que fora o quinto ano dos garotos, Brendan teve de ir embora e ninguém soube o porque, o que alimentou mais ainda os boatos. O mais forte fora que ele finalmente fora expulso e o motivo era tão absurdo e sombrio que Dumbledore apagou da mente dos que presenciaram o fato.

O que esse cara veio fazer aqui... — murmurou Sirius, começando a fazer pose, colocando as mãos nos bolsos do casaco, fechando a cara. Remus levantou-se lentamente, assim como James e Peter e parecia que Brendan estava em um filme, lentamente em direção deles, com uma versão boboca e envergonhada de Marlene ao seu lado.

Ele era alto, e seu cabelo era longo como o de Sirius, porém liso e castanho. Suas roupas de trouxa eram de um jeans surrado e rasgado, seus casacos eram maiores que ele, o que dava a impressão de ser forte. Suas botas eram de exército, gastas e charmosas assim como o cigarro pendendo no canto de sua boca. Ele usava luvas de motoqueiro enquanto carregava apenas uma bolsa que segurava com a mão esquerda para trás do ombro.

As outras pessoas eram Morgana e JJ, pessoas do ano de Brendan e os poucos que tinham contato com o mesmo. Remus sentiu-se envergonhado ao saber que ia acampar com os descolados estranhos de Hogwarts, apertou a boina na cabeça e desceu da plataforma quando Emmeline aproximou-se, ajudando a com a bolsa.

— Meu deus, estou até suada. — arfou a garota, vermelha, sorrindo para o namorado. Ele pegou a bolsa, evitando olhar Brendan e o cheiro pesado de cigarro que o rodeava. Selou os lábios da namorada brevemente e por mais que estivesse morto de saudades sua curiosidade era maior.

— E aí. — cumprimentou Brendan, apenas acenando brevemente com a cabeça em direção de Remus. Uma Marlene ansiosa apareceu entre Brendan e Emmeline, vermelha e risonha.

— Moony, esse é Brendan! É ele quem vai dirigir a van. — ela sorria de uma forma que Remus nunca tinha visto antes. Os garotos desceram da plataforma e se aproximaram. Sirius chegou perto ainda emburrado enquanto Marlene jogava as longas madeixas louras para trás, com seu casaco de couro longo nadando em seu corpo magro e atlético. — JJ veio co-

E aí. — Sirius pareceu estranhamente hostil com Brendan quando o “cumprimentou”. O mesmo virou para ver Sirius e o mediu rapidamente, forçando um sorriso. Remus olhou James em busca de ajuda, mas o mesmo apenas deu de ombros, também constrangido. — Tudo certo?

— Ignora esse retardado. — cortou Marlene, empurrando Sirius para fora de seu caminho, olhando James. — Vamos logo? Quanto mais cedo a gente for, melhor.

— Temos que esperar Lílian e a irmã dela. — respondeu James, colocando sua bolsa nas costas, sendo imitado por Peter. Aproximou-se de Brendan, sorrindo e oferecendo a mão. Rollins parecia segurar o riso quando apertou a mão de James, enquanto isso Marlene parecia extremamente envergonhada.

Remus sentiu um cheiro estranho no ar e notou o famoso JJ no fundo do grupo reunido, fumando um cigarro diferente há minutos enquanto a conversa rolava. Emmeline apertou o braço de Remus aproximou-se de seu ouvido lentamente enquanto Remus observava o garoto magricela de longas madeixas castanhas tragar loucamente seu cigarro, tranquilo envolto em fumaça.

Se prepare. — alertou, dando-lhe um olhar aflito.

 

 

Creedence Clearwater Revival - Bad Moon Rising

 

 

 

E foi um bom conselho para a ansiedade de Remus.

A van alugada por Remus para transportar a todos pelas longas estradas de Londres até Ruislip Woods era confortável para a quantidade de adolescentes, a briga foi na hora de escolher o disco para tocar durante a viagem. Lílian e Petúnia Evans chegaram uma hora depois, atrasadas e brigadas, a irmã de Lily era pequena, com olhos gordos e um bico bem fechado e emburrado ao lado JJ, principalmente pelo cheiro forte de maconha que ele exalava (Remus demorou para entender que era maconha o que ele tanto fumava).

Ela e Lílian sequer pareciam irmãs: Lílian era muito alta e Petúnia muito baixa, Lily tinha longas madeixas lisas e ombros longos, arqueados, uma postura um pouco intimidadora e não tão feminina como Petúnia, tão delicada, magra e pequena.

Remus sentiu-se mal de ter feito parte do casal grudento com beijos intermináveis ao lado de Lílian, mas aparentemente ela preferia isso a ir ao lado de James, que conseguiu perturbá-la durante metade da viagem com assuntos sem nexo. Ele sabia que era egoísta pensar daquela forma, mas aquele grupo demonstrava já na ida a confusão que seria todos reunidos numa tarde na floresta, ainda assim ele se sentia tranquilo pois passaria a noite inteira transando com sua namorada.

Sentia o olhar perfurador de Sirius em sua nuca, entretanto não sentiu culpa. Remus passou grande parte de suas férias de verão ouvindo as mais melosas de Nancy Sinatra enquanto transava com Emmeline em todos os locais possíveis, até mesmo James estava ficando preocupado.

— Meu Merlin do céu você consegue manter seu pau dentro das calças? — esgoelou após pegá-los no flagra dentro de seu armário durante mais uma de suas festas de verão. — Eu me sinto cuidando de um gato no cio!

Remus notou o exagero de seus hormônios durante uma tarde no riacho em que ele realmente considerou a possibilidade de transar com Emmeline ali mesmo dentro d’água, porém, foi impedido pela mesma, assustada com a ideia de algas marinhas entrarem em suas partes. Era como se estivessem recuperando todo o tesão acumulado naqueles meses de namorico infantil entre beijos envergonhados e cabelos na nuca arrepiados ao simples toque na cintura ou nas pernas. Remus agora sentia-se um completo adulto, era como se o mundo tivesse adquirido um sentido que as outras crianças não compreendiam.

O verão também fora divertido para os outros, Peter finalmente revira seus pais, após tantos anos longe, James recebera o título de capitão do time da Grifinória e Remus sentiu um genuíno carinho pelo amigo ao vê-lo apenas sorrir e acariciar o crachá após tirá-lo da carta da Profª McGonagall. A festa que dera na semana seguinte para comemorar sua nova conquista contou com a presença de Lily Evans por insistência de Remus, e apesar da pouca interação foi o suficiente para James ter passado a festa inteira sorrindo feito um boboca.

Aquele verão também tinha sido emblemático pelo brusco corte de laços entre Sirius e sua família, após a fuga de casa, ele estava morando com James. Apesar do amigo sempre ter sido deprimido e reservado sobre seu relacionamento com os Black, todos perceberam que aquilo gerara um trauma tão grande em Sirius que ele conseguira ficar mais apático e fechado do que antes. Demorou uma semana inteira para Sirius comentar, de forma monossilábica, que discutira com McKinnon durante essa mesma festa de comemoração. James conseguiu mais informações que Remus, logo passou para a frente.

Segundo James, tudo acontecera no quarto de Sirius, onde estava rolando o jogo da garrafa (e Remus soube que esse jogo era amaldiçoado) com alguns colegas da Corvinal e Lufa Lufa, ao som de White Room de Cream (o que para James era uma mensagem subliminar de Sirius, já que ele destacou esse detalhe, logo ele que jamais detalha nada), os dois estavam na roda, conversando sobre o time quando a garrafa caíra nela. Marlene olhou para Sirius e então levantou, beijando um garoto aleatório. James disse que Sirius quis sair do jogo, mas a garrafa caiu nele pela terceira vez, logo ele teria que ir para o armário com a coitada que fosse escolhida pela garrafa.

E Marlene foi a escolhida da garrafa.

Quando entraram no armário apertado de Sirius, Marlene estava irritada.

— Qual o seu problema? — perguntou ela.

— Como assim?

— Por que você nunca conversou comigo assim todos esses anos? — James disse que Sirius estava suando frio, o armário era muito apertado, Marlene é uma garota relativamente alta e com ombros muito bem arqueados e desafiadores para se ter uma conversa tão próxima.

— Assim como?

Marlene ficou em silêncio, e aparentemente nervosa.

— O que eu quero dizer é que poderíamos ser amigos, se você falasse comigo como falou hoje.

E James deu um triste sorriso quando contou a resposta de Sirius.

Eu... Eu não quero ser seu amigo. — Remus entendeu o que ele quis dizer com isso, mas Marlene não. Sirius disse que houve um longo e desconfortável silêncio no armário, com os dois tão próximos, os intensos olhos verdes de Marlene estavam escuros e ele sentira que cometera um erro, entretanto não sabia e nem tinha coragem de reparar. Um garoto da Corvinal abriu bruscamente o armário anunciando o fim dos minutos no paraíso e Marlene saiu, aparentemente também indo embora da festa.

Agora estavam todos viajando com o suposto novo namorado de McKinnon e Sirius parecia que estava com uma dor de barriga sistêmica tamanha cara fechada.

O que você tá levando nisso? — gemeu James após se oferecer para carregar também a mochila de Lily nas costas. A ruiva riu o ignorando, de mãos dadas com Emmeline. A floresta de Ruislip Woods era longe do centro de Londres e confiável, diferente das florestas sugeridas por Marlene com histórico de desaparecimento e morte. O grupo caminhou por alguns minutos para algum lugar rodeado de folhas o suficiente para que o chão abaixo das barracas fosse confortável.

Brendan e Marlene ficavam de conversinha e risinhos enquanto faziam as coisas fazendo Sirius jogar e fazer tudo de má vontade. Remus olhava a namorada se esforçando para não rir da situação, entretanto ele se sentia mal pelo amigo. Principalmente James e seus quarenta minutos tentando montar a barraca trouxa de Lílian, deitava na rede montada entre duas árvores, cobrindo a risada com a boca.

Já estavam em um sol das 14h da tarde quando finalmente Remus conseguiu juntar galhos o suficiente para acender uma fogueira e a maioria das pessoas estavam conversando entre cervejas e encantamentos diferentes para fazer o rádio encantado de Brendan funcionar no meio do nada. 

— Bem, eu cabulava também. — ouviu James interromper alguma conversa.

Remus olhou Lílian, Charlie, Brendan, Marlene e JJ gargalharem de James e aproximou-se, também abrindo uma cerveja. O Potter parecia envergonhado perto de Lílian. Ela parecia ter crescido tanto quanto seu cabelo naquele verão, seu casaco de camurça masculino conversava com sua blusa xadrez vermelha e seus jeans boca de sino, Lily sempre parecia uma personagem descolada dos filmes adolescentes antenados em moda, apesar dela visivelmente pouco se importar com isso.

— O que? Eu também já cabulei aula!

— Você nunca cabulou aula, você é o maior nerd de Hogwarts. — debochou Marlene, rindo.

— Por quê você não riem de Lily, ela também é uma nerd!

— Até eu cabulo História da Magia, Potter. — riu ela, abrindo outra cerveja. Assim que Lílian ergueu a cabeça novamente, seus olhos se arregalaram — EI!

Todos se viraram para onde Lílian olhava horrorizada apenas para se horrorizarem também ao ver a pequena irmã de Lily, Petúnia, aos beijos com Sirius Black em cima das bolsas em uma árvore próxima da fogueira. Em choque assim como Remus, James deu uns passos para a frente, transformando o rosto de horror em gargalhada.

— Petúnia! Não! — Lílian marchou até os dois e Remus sentou-se com os amigos, pronto para assistir a briga. Notou o olhar fixado de Marlene na discussão do casal de pombinhos contra Lílian não muito longe dali e mordeu a língua para não falar mais do que devia.

Brendan acendeu um baseado que estava em seu bolso jeans e olhou para Remus, lhe oferecendo.

Deu de ombros, aceitando.

A noite entrou para dentro do grupo com árvores vibrando com luz, enfeitiçadas por JJ, pulando ao redor da fogueira com a música alta. Grande parte das pessoas estavam envolvidas em uma onda de maconha e cerveja seguindo o ritmo da música, principalmente Marlene, que assustara a todos quando aceitou beber. Suas longas madeixas louras voavam por suas costas dançando entre seu corpo magro composto por suas costumeiras regatas de alça fina e a calça cargo gasta.

Remus estava chapado e com medo dela cair em cima do fogo, mas nunca acontecia porque Marlene dançava como ninguém. Remus tinha a leve a impressão que Marlene estava tentando chamar atenção de Brendan, apesar de só conseguir a de Sirius, sentado no chão perto da fogueira, em sua décima cerveja.

No fim da noite, absolutamente todo mundo estava torto de tanta maconha, menos Sirius, Marlene e Petúnia, essa última emburrada após uma briga com a irmã, entretendo-se apenas com as salsichas oferecidas por James. Charlie e Morgana estavam estranhamente próximos ao redor da fogueira, entre conversinhas e risinhos, irritando profundamente Lílian, já emburrada por conta de sua irmã.

As horas se passavam ao som de Jimi Hendrix quando Emmeline decidiu deitar-se. Brendan era monossilábico, mas parecia um cara legal e Remus estava chapado e bêbado o suficiente para não calar a boca.

— O que aconteceu que você saiu da escola ano passado? — Brendan notou Remus falando com ele e gravou sua cerveja na terra entre as folhas, observando a fogueira. Deu de ombros, observando as pessoas no local.

— Eu tive que cuidar da minha avó, ela estava doente. — disse calmamente, e Remus surpreendeu-se. Brendan sorriu e apoiou-se no chão com os ombros, jogando as madeixas para trás. — Mas esse ano retorno para terminar Hogwarts, provavelmente na mesma série que vocês... Dumbledore é um cara legal.

— Sim... Ele é.

Pensou em Hogwarts, e como deviam alimentar boatos sobre ele e seus sumiços também. Deitou-se nas folhas secas ao seu redor e viajou dentre estrelas e galhos de longas árvores ao seu redor. A noite durou por muitas e muitas horas entre baseados e cervejas, longas e longas conversas e risadas, até mesmo entre Lílian e James, ao redor da fogueira.

Levantou-se para pegar uma manta para Lily quando ouviu um gemido estranho não muitas árvores de onde estavam as malas. Pegou a varinha no bolso e seguiu o gemido, achando Marlene deitada no chão, de olhos fechados. Remus aproximou-se assustado, mas ela aparentemente estava acordada.

— Moony, não chega perto. — gemeu, cobrindo o rosto. — Não me sinto muito bem.

— Quer que eu chame ajuda?

— Não... Eu... — Marlene conseguiu sentar-se, respirando fundo, olhando a fogueira ao longe. — Eu pensei que Brendan queria ficar comigo, mas achei errado.

Remus observou o rosto vazio de Marlene, fitando o nada.

— Acho que ele percebeu que eu não era o que ele achava. — Remus fitou as folhas secas ao seu redor. — Eu tenho a sensação de que nunca vão gostar de mim pelo que sou.

Marlene o olhou brevemente e soltou um sorriso melancólico, como se aceitasse sua sina. Remus queria dizer que a entendia, mas ela não entenderia de onde ele estava tirando a constatação. No fim do dia, Emmeline pensava que ele era apenas um garoto pobre com uma péssima imunidade e um gato maldoso. Nunca poderia revelar sua real identidade porque o fazê-lo era afastá-la dele para sempre. Marlene era corajosa de mostrar sua real carne ao outro, em busca de abrigo, porém, se a rejeição existia para ela, que segundo o que Remus sabia não escondia uma identidade a parte, o que restava a Remus em seus dezesseis anos, breve a ser solto no mundo real com sua identidade que o sufocava e o abatia todas as noites?

Em breve ele teria de deixar Emmeline partir, pois ela não merecia o destino de estar ligada à uma escória da sociedade.

Sirius aproximou-se aos poucos com as mãos nos bolsos de seu casaco grosso, olhando para Remus, ele sequer precisara pedir, apenas deixou os dois sozinhos com a lua que os acolhia.

 

 

...

 

 

 

Após ter adormecido ao lado da fogueira fugindo de seus demônios e principalmente de sua namorada, ao acordar, Brendan estava tomando uma garrafa d’água, rindo de algo com JJ, Lílian desmontava sua barraca com a ajuda da irmã, James e Peter dividiam um pedaço de sanduíche, Morgana e Charlie saíam juntos de uma barraca e sua namorada, vestida com seu casaco, se aproximava com um sorriso sonolento, sentando-se ao seu lado.

— Dormi abraçada com sua mochila. — riu ela, tirando as folhas das madeixas de Remus, completamente bêbado de sono.

— Meu deus, eu simplesmente apaguei. — gemeu, fascinado com o poder da maconha. Sequer sentia ressaca. Olhou todos ao redor tentando situar-se com o sol, lentamente abraçando a todos.

— Eu pensei que você tinha dormido com Sirius. — ela parecia confusa. — Ele dormiu aqui?

— Não que eu saiba. — sentiu-se esquisito, se Emmeline perguntou aquilo, provavelmente não sabia que Sirius e Marlene conversaram aquela noite. Levantou-se lentamente com a ajuda da namorada, indo até James.

— Eu não sei como você não morreu congelado, eu jurei que íamos descobrir que você fora devorado por esquilos durante a noite, seu sono foi tão pesado que nem te chutando você acordou. — relatou James enquanto Remus se aproximava. Ele oferecera uma garrafa de chá para o amigo. — Viu Sirius?

— Eu vim aqui perguntar isso. — James deixou seu sorriso morrer, assumindo uma face de preocupação que claramente escondia por trás da descontração com Remus. — Ninguém viu ele?

— Não... Não, ninguém viu. — Os quatro se entreolharam até Emmeline ir até Brendan. O mesmo deu de ombros e a garota pareceu nervosa pois constataram a barraca de Marlene vazia e deixada da mesma forma que fora montada.

Remus, que fora o último a ver os dois engoliu seco, tendo certeza que cometera um crime.

Assim que o mais rápido chegaram na cidade, Emmeline encontrara Marlene em casa, e James encontraram uma versão calma do mesmo. Nunca foi fácil arrancar as coisas de Sirius, mas ele parecia ter jurado silêncio sobre o assunto, entretanto, Marlene revelara que na noite a floresta, Sirius parecia irritado.

 

 

Led Zeppelin – Going to California

 

 

— Por que você não disse que estava saindo com Brendan? — perguntou assim que Remus saíra de perto dos dois. Marlene levantou-se, respirando fundo, não entendendo como Sirius podia ser tão estúpido.

— Porque eu não estou saindo com Brenda, e mesmo que eu tivesse, desde quando isso é da sua conta? — retrucou, cruzando os braços. Sirius fitou as botas de Marlene e aproximou-se, ainda emburrado. — Por que você não volta a beijar Petúnia? A creche fechou?

Emmeline deu um doce sorriso para Remus, ardendo de curioso para contar à James finalmente que porra acontecera. Ela disse que sua amiga estava com o ímpeto de irritar Sirius até ele surtar, mas ficou curiosa com a expressão dele, como se tivesse muita dificuldade em articular palavras... Emmeline dissera que Marlene quis chorar, mas segurou-se, e Sirius finalmente pareceu flutuar no refrão da música ressoando pela floresta, que tocava ao longe, na clareira onde todos estavam.

— Eu... Eu- — ele respirou fundo, fitando as botas de Marlene. — Eu quero te falar uma coisa há muito tempo.

Marlene manteve-se em silêncio, e a garota sentia que seu coração ia explodir.

— Eu não-, eu... Eu não sou muito bom falando.... Coisas... Assim. — gaguejou. Sirius finalmente olhou Marlene, ainda tímido. — Qualquer coisa no geral na verdade.

E Emmeline disse que Sirius dissera, mas Marlene não disse o que. Por mais ferrado de curiosidade que Remus estivesse, em um passe de mágica, ele não estava mais. Parecia saber exatamente o que Sirius dissera, e talvez sequer tenha sido uma frase, e sim uma conversa, uma palavra... Não importava. Marlene parecia aflita quando Sirius finalmente falara.

Eu não acredito em você.

— Eu não ligo. O que eu disse é verdade... Sempre foi. — Emmeline disse que Marlene não se lembrava de ter outra vez na vida sorrido para Sirius, mas ela sorrira. E os dois guardaram aquilo para si, tanto que na volta para Hogwarts, Marlene e Sirius finalmente se viram na cabine e sentaram lado a lado, como duas almas que finalmente entraram em um tratado de paz.

Nas terras de Hogwarts, rumo a carruagem, James arfou quando os dois deram as mãos. Os olhos castanhos de James, sempre abafados pelos óculos, pareceu até mesmo lacrimejar enquanto sorria para os dois, um pouco a frente.  

Remus era amigo de Sirius há seis longos anos e não sabia muitas coisas sobre o amigo, sabia o quão sofrido era para o garoto verbalizar coisas que por muitas vezes Sirius aparentemente sequer sabia manejar como sentimento. Tudo ao redor de Sirius sempre era coberto de compreensão e longas conversas silenciosas. Olhou a loura rir de algo que o amigo dissera perto do ouvido dela enquanto caminhavam.

Remus sentia-se em paz de Marlene finalmente ter entendido aquilo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Há quantos anos estamos fazendo isso? Há três anos que NÃO fazemos, James.


Eu gosto muito dessa fanfic para abandoná-la só pela falta de "hype", eu acho que posso escrever uma longa história sobre a adolescencia de Remus e, mesmo que lentamente, realmente gostaria de terminá-la para que possa entrar no hall de grandes histórias escritas pela perspectiva de cada Maroto...

Eu não sou mais a mesma Eponine de 2017 e não consigo replicar a sensação gostosa e jovem que minha versão de três anos atrás escreveu os 11 capítulos, mas estou me esforçando (ouvindo muuuita música https://open.spotify.com/playlist/3nW3qd758V3Ggt3YkwLi6G?si=Zu3VQKOtT02YNnxz8Nt7yw).

Espero que alguém queira ler isso enquanto posto, ou muitos meses e anos depois, vasculhando pelo Nyah, afinal isso é pra quem gosta de reler e reler histórias confortáveis e espero que essa seja uma delas.

Obrigada por ter lido.



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