Era estranho estar de volta a Londres, depois de quase quatro anos fora. Embora amasse minha cidade, não podia negar que voltar para ela me assustava um pouco, afinal todo o passado que havia deixado para trás quase quatros anos atrás, ainda permaneciam ali. Intactos.  E reencontrar o passado provavelmente me traria problemas e inseguranças.

Fazia algum tempo que havia deixado Londres e embarcado em uma viagem espetacular e indefinida. Depois de adiar milhares de vezes meu sonho de adolescência, finalmente criei a coragem que precisava e embarquei sem rumo pelo mundo.

Claro que havia tido oportunidade de fazê-la antes, no entanto, quando se tem vinte e dois anos, uma vida corrida e um marido para cuidar, algumas coisas simplesmente tornam-se dispensáveis. E isto incluía um dos meus maiores sonhos;

Conheci Scorpius ainda em Hogwarts em meu primeiro ano, era o  amigo do meu primo – e melhor amigo – e para não perder completamente Alvo, decidi que teria que me aproximar de Scorpius também, não tinha muita escolha. Acontece que algo aconteceu no meio do caminho e me apaixonei por Scorpius Malfoy e, nem vamos levar em conta o choque que Ronald Weasley sofreu ao descobrir que sua filha aos dezessete anos, assumiu um namoro publico com o cara que ela deveria superar em todas as coisas.

Scorpius se tornou Auror, enquanto me dediquei fielmente à fotografia. Era uma profissão trouxa que amava e, simplesmente não conseguia me desligar. No fim, acabei vivendo sob a sombra dos dois mundos, trazendo as melhores partes de ambos para minha vida... Três anos depois de assumirmos o namoro, resolvemos nos casar. Alguns poderiam considerar inconsequência, mais éramos dois jovens, ansiosos pela vida de adultos, pela responsabilidade e cegos pelo amor que sentíamos um pelo outro.

Éramos diferentes em vários aspectos, discutíamos como loucos o tempo inteiro, um querendo se colocar acima do outro, personalidades fortes, conflitos constantes. No começo aquela coisa de sexo pra fazer as pazes funcionava muito bem, mais conforme o tempo foi passando, as responsabilidades e a rotina do dia a dia nos assolavam, as coisas começaram a mudar.

Diziam que o primeiro ano sempre seria mais difícil e passamos por ele entre altos e baixos com a esperança de ser apenas uma fase ruim, uma adaptação longa, não foi. O segundo ano foi tão pior quanto o primeiro... Casamento não e nenhum pouco fácil, compartilhar uma vida á dois e difícil para caramba e, se não estivermos realmente prontos e dispostos a ultrapassar as dificuldades, as coisas provavelmente vão sair dos eixos uma hora ou outra.

Exatamente como aconteceu conosco. Se me perguntarem afinal, porque nos separamos, não saberei responder... Até hoje tento encontrar o motivo especifico que nos levou aquela decisão. Talvez as brigas bestas, costumes, falta de compreensão de ambas as partes, incapacidade de abrir mão do orgulho... Tantas coisas!

Dois anos depois colocamos um fim em nosso relacionamento. Estávamos enfadados e magoados demais um com o outro para nos perdoarmos pelas nossas próprias falhas. Seguimos caminhos completamente diferentes desde então, Scorpius se dedicando ao cargo de Comandante no Departamento de Aurores, mergulhando de vez no trabalho, enquanto eu planejava minha viagem ao mundo em busca de fotos incríveis. Passei dois meses me organizando e planejando uma viagem que duraram quatro anos!

Passei por milhares de lugares, vivenciei experiências inesquecíveis, conheci pessoas espetaculares, me aventurei em alguns romances rápidos, e fotografei momentos espetaculares. No fim da viagem, recebi uma proposta tentadora de um antigo amigo, para exposição das minhas fotos em sua galeria. Era uma oportunidade única e, mesmo sentindo um medo profundo do que reencontraria em Londres, aceitei sem pensar duas vezes.

E depois de quatros anos fora de Londres, finalmente estava de volta ao meu país preferido no mundo.

Embora tivesse uma família exuberantemente grande, combinei que reencontraria todos em dois dias no almoço de domingo n’Toca e, apenas Dominique, James, Alvo, Alice, Ana e Zabine me receberiam em uma comemoração de boas vindas no antigo pub que costumávamos frequentar juntos, próximo ao Ministério da Magia.

— Ainda não acredito que passou tanto tempo fora. — Dominique resmungou me apertando em seu abraço de urso, enquanto sorria feliz. — Senti tanto sua falta. — sorriu, enquanto me apertava.

— Todos sentiram. — Alvo confirmou ao meu lado, rindo da minha situação.

— E verdade... Nossos encontros não são tão divertidos sem você. — Alice adicionou, sorrindo alegre.

— Não e o que parece. — Revirei os olhos, rindo mesmo estando chateada com o resto do pessoal que não havia aparecido.

— Não se preocupe eles vão nos encontrar mais tarde, no momento estão em uma reunião com Scorpius. — Alvo avisou calmo, enquanto a menção do nome do meu ex-marido me fazia tremer na base.

Assenti rapidamente, enquanto as meninas me atualizavam das ultimas novidades. Alice e Alvo finalmente haviam assumido um romance, Dominique e James se casariam em alguns dias, Ana estava gravida de gêmeos de Nott e, Scorpius seria padrinho, Zabine continuava solteiro e fechado para relacionamentos, embora estivesse mantendo uma amizade colorida com uma colega de trabalho a pouco mais de dois meses – o que era o recorde pessoal dele –, todos estavam bem, seguindo com suas vidas, enquanto estive fora.

Mesmo não estando todos meus amigos ali, estava feliz por ter meus primos e Alice comigo naquela noite. Embora estivesse desacostumada com a noite fria de Londres, não me abati em nenhum segundo e me empenhei em aproveitar minha primeira noite de volta.

Eu estava na quarta dose de Cerveja Amanteigada quando o resto do pessoal chegou – incluindo Scorpius – depois de dar milhares de abraços em Ana, parabenizar pelos bebes, escutar James reclamar por Dominique ter bebido mais do que deveria e conhecer a “ficante” de Zabine que se chamava Aimée, tirei alguns segundos para observar Scorpius que havia me dado um breve abraço e um sorriso curto de reconhecimento.

Ele estava um pouco mais corado que o normal, sua barba estava grande e aquilo lhe dava um ar tão serio e sexy, e seu sorriso parecia muito mais leve e descontraído que o normal.

Ele estava feliz. Constatar aquilo me feriu de alguma forma, uma parte de mim, pequena e apaixonada esperava que ele sentisse minha falta.  Que de alguma forma ele não estivesse bem, por estarmos separados.

Era estranho, porque mesmo com tantas mudanças a vista, e depois de todo aquele tempo, ainda assim, sentia meu coração bater em um compasso acelerado e louco dentro do meu peito. Minhas mãos suavam como de uma adolescente em frente ao cara que ela gostava.

E eu sentia que ele me analisava também, da mesma forma como havia feito. Com a mesma intensidade de duvidas, por isto, e vencido pela curiosidade ele sentou-se ao meu lado no bar, quando estavam todos envolvidos demais em sua própria conversa.

— E então? — Ele resmungou, desencadeando uma sensação de saudade e paz dentro de mim, ao ouvir sua voz novamente. Agora eu sabia exatamente porque sentia medo de voltar para Londres, era compreensível. No fundo, eu sempre soube que nada dentro de mim havia mudado. Scorpius me analisava de forma silenciosa, com um sorriso brincando em seus lábios e aquele olhar que desvendava todos meus anseios e medos.

— E então o quê? — Perguntei curiosa.

— A viagem foi tudo que você sonhou? — Ele me olhou atento cheio de expectativas.

Sorri abertamente, balançando levemente a cabeça.

— Foi maravilhosa.

Um momento de silencio se instalou entre-nos, mesmo ambos tendo tantas coisas para falar.

— Você cortou o cabelo. — Ele murmurou algum tempo depois, tocando levemente os fios desalinhados.

— Você deixou a barba crescer. — Constatei, rindo.

— Porque a gente deixou as coisas acabar, Rosie? — Scorpius me olhou serio, enquanto o sorriso se desfazia dos meus lábios aos poucos.

— Não sei. — respondi sinceramente, me ajustando no banco. — Nossas vidas mudaram Scorpius, quer dizer, olha pra você... E comodante do Aurores agora, estou prestes a embarcar em um dos maiores projetos da minha vida, sei lá, às vezes precisávamos disso... Desse tempo, das mudanças, do amadurecimento.

Dei de ombros, enquanto o via sorri brevemente assentindo.

— Você acha que ainda dá tempo de fazermos dar certo?

— Acho que vale apena tentar. — sorri abertamente, quando senti suas mãos me puxarem contra seu corpo, antes de seus lábios cobrirem os meus.

Percebi naquele momento que o amor era um ser teimoso. Se ele quiser, ele fica. Você pode cruzar o mundo, mudar de profissão... Conhecer uma nova versão de si mesmo, se apaixonar por outras pessoas, outras coisas... Reencontrar com alguém em uma noite qualquer, ao ponto de desejar refazer tudo de novo, de casar de novo, de convidar todo mundo de novo, e escrever uma carta dizendo “conheci o amor da minha vida, continua sendo a mesma pessoa.”.