The Long Road escrita por Bella P


Capítulo 4
Capítulo 3




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IRLANDA - 6 meses antes

 

- Desculpe! - veio o pedido logo assim que o ombro encontrou-se com o seu braço, mas ela pouco se importou, apenas quis seguir o seu caminho e isto faria se uma mão não tivesse segurado bruscamente o seu pulso e a feito parar no lugar. - Espera! - os olhos verde oliva estreitaram ao mirarem a mulher de cima a baixo, a avaliando com desconfiança. Sua primeira reação seria a de sacar uma de suas sai para se defender, mas estavam em uma rua movimentada e não queria chamar a atenção de ninguém.

- Posso ajudá-la? - resolveu seguir a tática comum de fazer-se de desentendida.

- Lily Graham... É você? - a estranha balbuciou com os olhos escuros largos de choque e a jovem franziu as sobrancelhas, recuando um passo e tentando soltar-se do aperto que eram os dedos dela em seu pulso. - Não - a mulher riu de maneira nervosa. - se passaram dez anos, você deveria estar com vinte e quatro. Me desculpe. - pediu, finalmente a soltando e a menina recuou aos tropeços.

- Está tudo bem. - falou, esfregando o pulso dolorido e mirando a desconhecida atentamente. Ela lhe era familiar, mas onde a tinha visto antes? Sem contar que a mulher a reconhecera, ou ao menos pensou que a reconhecera.

- Eu... É que... - passou os dedos trêmulos por entre os cachos loiros e soltou um longo suspiro. - Lily é o meu fantasma, sabe. - começou a dizer para o completo estranhamento da adolescente.

- Er... Senhora... - Laurel balbuciou, querendo cortar qualquer conversa que a mulher estivesse disposta a engajar. Primeiro que não estava ali para bater papo, segundo que nem a conhecia. Ou talvez a conhecia, mas não se lembrava dela.

- Pâmela Johnson. - apresentou-se e a morena se segurou para não dar um ofego. Pam Johnson: o seu pesadelo de infância. Se fechasse os olhos ainda podia se lembrar da cena da bela loira abraçada a Chris Hail e caçoando dela, junto com os outros colegas de turma, depois de pregarem uma brincadeira de mau gosto sobre a sua pessoa. - Se não fosse tão pouco tempo eu diria que você poderia ser a filha da Lily... Mas creio que isso é impossível. - sacudiu a cabeça com pesar.

- A senhora e essa Lily... Eram amigas? - perguntou hesitante, curiosa em saber a resposta da mulher. Já que ela a tinha parado, puxado conversa e começado a desabafar seus pecados, não custava nada tentar descobrir um pouco o que acontecera depois de sua partida. Sempre teve curiosidade para saber como ficaram todos depois que largara a sua vida para trás para tornar-se uma Caçadora, mas nunca tivera coragem de voltar a Escócia e investigar. Fora a única vez em que trombara sem querer com o seu meio-irmão em um Parque Nacional nos EUA, depois deste dia, nunca mais.

- Não. Ela foi uma menina... Uma menina... Que tinha potencial.

- Tinha? O que aconteceu com ela? - Pam deu de ombros.

- Várias são as teorias, nenhuma são as respostas. A teoria da polícia é que ela fugiu de casa, outra foi sequestro. Os boatos na nossa antiga escola eram a de que ela se matou... - um tremor passou pelo corpo de Pâmela ao dizer isso. Se matar? Laurel quase riu. Está certo que ela foi judiada e humilhada pelos colegas, mas nunca passou pela sua cabeça se matar. A senhora Ártemis lhe dissera que era essa determinação de aguentar tudo sem protestar que chamou a atenção da deusa para ela e a fez ser escolhida para ser Caçadora.

- Parece que a senhora se culpa, caso ela tenha realmente se matado. - Lily atestou e Pam fez uma expressão sofrida que foi resposta o suficiente para a jovem. - E o fato de eu ser parecida com ela a fez pensar que poderia se redimir dos seus pecados. - continuou e a mulher sentiu como se tivesse levado uma facada no coração. - Sinto muito se não posso ajudá-la.

- Eu sei. - suspirou e Laurel deu as costas para seguir o seu caminho, mas parou abruptamente e virou-se para encarar a ex-colega de escola.

- Só por curiosidade... Se você a reencontrasse, o que exatamente diria a ela?

- Perdão. - foi a única coisa que Pâmela respondeu e Lily assentiu com a cabeça. - Acha que ela me perdoaria? - perguntou quando viu a menina afastar-se.

- Por que não. - Lily deu de ombros e sorriu para a mulher que sorriu de volta e retornou a andar, encontrando Thalia no meio do percurso.

- Quem era aquela? - perguntou a semi-deusa, olhando por cima do ombro da jovem a loira a distância que tinha um sorriso no rosto e lágrimas escorrendo dos olhos escuros.

- Ninguém... Ninguém.

 

EUA - presente

 

- Por que não? - Laurel cruzou os braços sobre o peito em um gesto desafiador e fuzilou o caçador com o olhar, franzindo as sobrancelhas negras e mordendo o lábio inferior em uma clara expressão de desagrado. - A chuva melhorou! - acusou, apontando janela afora para a floresta coberta por uma densa neblina por causa da queda de temperatura mas que não era mais escondida pelos grossos pingos de chuva.

- E o solo está escorregadio, há queda de barreiras e o rio subiu o nível, o que torna arriscado atravessar alguns trechos com ponte para te levar a cidade mais próxima. - Fred suspirou exasperado e esfregou os olhos com as pontas dos dedos. Se fosse capaz de ter dor de cabeça, com certeza uma estaria brotando agora mesmo em suas têmporas. Desde que acordou que Lily estava resmungando que queria ir embora, havia mais do que depressa trocado a camisa de flanela que vestia pelas suas roupas de Caçadora e exigido que fosse levada para a cidade mais próxima visto que a chuva tinha estiado. E desde esta hora que o homem estava tentando explicar para a garota teimosa o quanto isto era inviável.

- Se não vai me levar de carro... - levantou-se da cama onde estava sentada em um pulo. - eu vou a pé! - falou decidida, indo mancando na direção da porta e o homem considerou uma boa opção bater com a testa contra a parede de madeira da cabana só para saber que som o gesto iria fazer. Lembrava vagamente de Laurel das poucas vezes que encontrara-se com a sua irmã e suas Caçadoras e não trocara nem duas palavras com ela, mas jurava que a distância ela era uma candura de menina.

- Laurel Graham! - a voz ecoou pelo diminuto espaço que consistia aquela cabana e a jovem estacou no lugar com os olhos largos e a respiração entalada na garganta. Trêmula, virou-se sobre os pés com medo do que acharia atrás de si e ofegou ao ver que agora quem se encontrava na sua frente não era mais o sisudo caçador Fred, mas sim um jovem de dezoito anos, cabelos claros, porte atlético, pele dourada de sol e expressão fechada.

- Senhor Apolo! - falou horrorizada, caindo de joelhos no chão em uma reverência e ignorando a fisgada que o seu tornozelo ferido deu por causa de tal gesto.

- Oras, levante-se! - Apolo ordenou, rolando os olhos e Laurel não mexeu um músculo. - Levante-se! - disse em um tom mais imperioso e a garota finalmente se mexeu.

- Mil perdões senhor Apolo eu não sabia... - calou-se, franzindo o cenho. - Por que, pelos deuses, o senhor está aqui? - toda a postura subserviente da garota desapareceu e ela cruzou novamente os braços sobre o peito em um gesto desafiador e Apolo deu um sorriso sem graça diante da estupidez de ter revelado a sua identidade somente por ter perdido a paciência. Bem que Ártemis dissera que ele era péssimo para guardar segredos e pavio curto demais. Mas a culpa era dela que o encarregara deste trabalho em primeiro lugar.

- Irmãzinha Ártemis pediu para ficar de olho em você. - explicou-se e Laurel torceu os lábios. A deusa, então, sabia onde ela estava e o que tinha lhe acontecido. Então por que não a levara de volta ao acampamento das Caçadoras como era o de praxe? Por que a isolara em uma cabana no meio da floresta com o deus-sol como o seu guardião?

- Pelos deuses... - ofegou, sentindo as lágrimas arderem em seus olhos e caminhou até a cama, largando-se sobre o colchão mole como um peso morto.

- Ei... - Apolo surpreendeu-se diante da mudança repentina de humor da garota. - O que há de errado?

- Eu desonrei a minha senhora. - choramingou, fungando longamente e escondendo o rosto entre as mãos.

- O quê? - desesperou-se o deus.

- É a única explicação para ela ter me largado aqui com você. - disse em um tom sofrido, com os ombros tremendo por causa do choro.

- Oi! Minha companhia não é tão ruim assim. - Apolo reclamou. - E você não fez nada que contrariou Ártemis, posso garantir. Na verdade, pelo contrário, ela está bem orgulhosa. Você derrotou a Quimera.

- Então por que...

- Eu não sei... Ela não me disse.

- O senhor não sabe? - Laurel ergueu a cabeça de entre as mãos e o mirou com desconfiança. - O senhor é o deus das profecias.

- Quer parar de jogar isto na minha cara? Eu sei...

- Então por que...

- Eu não sei!

- Que ajuda. - suspirou e rolou os olhos, enxugando com as costas das mãos as lágrimas do rosto e mirando o deus intensamente, torcendo os lábios em desagrado. Não queria contestar as decisões de sua senhora, mas até onde sabia Ártemis jamais foi de confiar qualquer uma de suas Caçadoras a outro deus, menos ainda se esse deus fosse o próprio irmão. Será que estava sendo punida por alguma coisa que fizera e da qual não se lembrava? Será que bateu com a cabeça durante a queda?

- Você não tem amnésia, se é isso que a preocupa. E não creio que a minha irmãzinha a esteja punindo.

- Como o senhor... - calou-se. Que pergunta estúpida. Ele era um olimpiano, óbvio que saberia o que ela estava pensando.

- Mas ela me deu ordens de mantê-la aqui até retornar. - completou e segurou um sorriso quando viu os olhos verdes estreitarem em desagrado. Laurel soltou mais um bufo e cruzou os braços sobre o peito, virando o rosto para mirar janela afora. A chuva que antes cessara retornara como uma garoa fina que fazia o frio na floresta crescer e a umidade aumentar a névoa, a tornando tão densa que dificultava ver as árvores. Com a expressão ainda fechada ela voltou a atenção para o deus sentado, quieto, na sua frente.

- O senhor não deveria estar guiando o carro do sol há essa hora? - Apolo deu como resposta a pergunta da garota um sorriso tão largo que fez a menina ruborizar ao ver os dentes brancos e perfeitos sendo exibidos como em um comercial de pasta de dente.

- O carro do sol está cumprindo o seu trabalho perfeitamente bem no piloto automático, não precisa de mim o supervisionando. Sabe como é enjoativo ver a mesma paisagem todos os dias, por milhares e milhares de anos? Zeus abençoe a tecnologia moderna. - um trovão estourou ao longe e o deus riu. - E já vai anoitecer. E você sabe que a noite não é mais minha jurisdição. - deu uma piscadela para ela e a jovem ficou ainda mais vermelha diante do tom de flerte do deus adolescente.

- Irmão, o que eu já lhe falei sobre flertar com as minhas Caçadoras? - a voz contrariada e em tom de repreensão soou perto da porta e Laurel ergueu-se da cama em um pulo, pondo-se de joelhos no chão em um gesto respeitoso e com o coração aos galopes no peito.

- Senhora Ártemis. - falou em um fio de voz enquanto a menina aproximava-se da outra adolescente e depositava a mão sobre os fios castanho escuro dos cabelos dela.

- Levante-se Laurel. - ordenou com suavidade e a Caçadora levantou-se com os olhos marejados mirando a deusa.

- Minha senhora, perdoe qualquer que tenha sido a minha indiscrição...

- Por que acha que me desagradou Laurel? - Ártemis franziu as sobrancelhas ruivas.

- Porque... - a escocesa lançou um olhar para Apolo que parecia divertir-se com a cena do encontro das duas. - a senhora me deixou aqui sob a guarda do senhor Apolo, então eu pensei...

- Que eu a estivesse castigando por algo? - Ártemis riu. - Oras irmão... Sua fama anda ruim, para a minha Caçadora achar que estar na sua presença seja um castigo divino. - Apolo soltou uma risada forçada, indicando claramente que não achara graça da piada. - Não foi por isso que pedi que ele cuidasse de você, minha cara.

- Não? - Laurel sentiu o coração desacelerar. Se não tinha desagradado a sua senhora, então o que fazia ali com o deus em vez de estar junto com as suas irmãs no acampamento das Caçadoras?

- Thalia relatou que você e ela foram atacadas durante a caça ao cervo - Lily assentiu com a cabeça, suspirando aliviada ao saber que Thalia estava bem. - e aparentemente vocês não foram as únicas. Vários ataques de monstros foragidos desde a guerra contra Cronos ocorreram no mesmo momento que o de vocês. Senti quando você foi ferida, mas não haveria como nos locomover no estado em que você estava e muito menos poderíamos ficar paradas esperando por sua recuperação, por isso pedi a meu irmão que cuidasse de você. - explicou-se para tirar qualquer dúvida e temor da mente da jovem.

- Senhora... - Laurel deu um passo a frente para sussurrar no ouvido da deusa. - por que logo ele? - e lançou um olhar de esguelha para Apolo que mirava o teto da cabana como se esse tivesse algo muito interessante para se observar, fingindo não prestar atenção na conversa delas. Ártemis suspirou e rolou os olhos.

- Bem, meu irmão pode ser um idiota irresponsável...

- Ei! - o deus protestou diante da ofensa.

- Mas ele ainda, entre tantos atributos, tem em seu currículo a qualidade de deus da cura. - Lily assentiu com a cabeça. Havia se esquecido deste detalhe. Apolo nos tempos antigos não era apenas o deus-sol, também era venerado por suas outras habilidades, como as profecias, a inspiração e a cura.

- E agora minha senhora?

- Agora você ficará aqui mais esta noite. - Laurel sentiu o coração despencar até o estômago ao ouvir esta ordem. Como assim teria que ficar mais uma noite na presença de Apolo? - Você ainda não está cem por cento. Amanhã quando amanhecer meu irmão a levará para o acampamento das Caçadoras.

- Mas senhora... - tentou protestar mas um olhar dos orbes prateados de Ártemis foi o suficiente para fazê-la se calar. - Sim senhora. - a deusa assentiu com a cabeça e Laurel rapidamente fechou os olhos quando ela brilhou e desapareceu.

- Então! - Apolo bateu palmas, chamando a atenção da garota para ele. - Mais uma noite somente você e eu... - e parou com um gesto dramático, estendendo a mão com a palma erguida como se pedindo silêncio. - Estou sentindo a vinda de um haicai. - Laurel gemeu. Será que era muito tarde para se jogar naquele rio de novo e deixar a correnteza levá-la?


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