The key to ourselves escrita por Teka Stoll


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Oi amores ♥ Tudo bem com vocês?

Obrigada por ter separado um tempinho para clicar aqui e ler minha história! Essa é a minha primeira oneshot e nossa, o nervosismo de publicar uma nova fanfic parece que nunca passa.

Alguns de vocês sabem que eu sou a louca das fanfics MUITO grandes e olha eu aqui com uma oneshot! Foi extremamente difícil não me render a vontade de escrever mais do que o necessário e transformar tudo isso em uma longfic como sempre faço. Mas acho que consegui passar o que eu queria nessas quase 9 mil palavras!
Desculpa por essa capa que parece ter sido feita no paint, foi eu mesma quem fez heheheh

Bom, sem mais delongas, espero que tenham uma ótima leitura e se divirtam na mente maluca e filosófica da EunHye. ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/735209/chapter/1

—A vida é tipo aquelas almofadas que davam para as crianças botarem nos assentos quando iam ao cinema, lembra? – Pergunto para meu acompanhante naquele encontro, já me preparando para começar mais um de meus filosóficos monólogos.

—Hm? – JaeHwan tomba a cabeça para um lado, provavelmente confuso com minha metáfora. –Lembro...

Ken, como gostava de ser chamado, era nascido em 92, ou seja, só mais um ano mais velho do que eu e definitivamente era um cara legal. Tem um olhar sedutor muito bonito que junto de seu sorriso certamente arranca fôlegos de muitas pessoas por aí. Tinha muita sorte de estar aqui nesse restaurante com ele, mas por que não conseguia me sentir atraída pelo mesmo?

Estava em um dos meus encontros semanais, meus amigos sempre arranjavam caras e até algumas garotas para saírem comigo para ver se eu saia da seca, mas por enquanto apenas Namjoon, meu ex-namorado, foi capaz de me entender e aturar. Sair com outros é só uma forma de me iludir.

—Por exemplo, imagina três pessoas com estaturas diferentes. – Eu pego com as mãos três batatas fritas do prato de meu acompanhante já que as minhas já havia acabado e uso-as para deixar minha teoria abstrata. – Tem uma pessoa baixa, uma mediana e uma alta. A igualdade fala sobre dar os mesmos direitos para todos, ou seja, uma almofada para os três assentos. Mas não é muito justo visto que o mais alto já tem uma altura boa para assistir ao filme sem isso, enquanto o mais baixo que se ferra.

—Mas eles só dão isso para crianç... – Ele tenta me interromper, mas estava tão absorta com minha filosofia que nem lhe dei ouvidos e continuei falando depois de devorar as três batatas fritas que usei no exemplo.

—O que eu quero dizer, é que o mais apropriado devia ser um mundo baseado na equidade. O mais alto podia ceder a almofada para o mais baixo ficar com duas, já que este não precisa daquilo por já ter a vantagem de ser alto. As pessoas precisam abrir mão de seus privilégios para garantir os de quem não tem, entende?

E era por isso que meus encontros não davam certo.

Eu simplesmente não consigo manter minha boca calada! Tenho a necessidade de conversar, debater e passar conhecimento sobre tudo na vida. Comigo era na base do vomitar tudo o que tinha pra falar e só pensar sobre depois que o vomito verbal já tivesse todo espalhado. 

Se Namjoon estivesse aqui, ele me repreenderia e diria “O sábio nunca diz tudo o que pensa, mas pensa sempre tudo o que diz”. Me desculpa Aristóteles, eu falhei no objetivo de aplicar seus pensamentos na minha vida.  

 -Acho que entendi... –Ele força um sorriso. Era uma graça o quanto ele estava se esforçando para me aturar durante a noite inteira. A maioria me acha um pouco chata e não entra comigo em meus papos esquisitos. – Pra mim as coisas sempre foram do jeito que são e eu as aceito assim. –Ele ri e coça a nuca, claramente desconfortável.

“Uma vida não questionada não merece ser vivida. ”

Lembro-me da frase de Platão em praticamente todos os encontros. As pessoas com quem saia sempre mantinham um padrão em suas conversas. Gostavam de falar sobre si mesmas, sobre suas conquistas e sobre seus planos para o futuro, não sai muito dessa rota.

“Você trabalha com o que? ” “Como se vê daqui a 10 anos? ” “Quando era mais novo fui para tal lugar ou fiz tal coisa. ”

 Não que esses não fossem assuntos bons, mas eu tinha muita dificuldade em pensar sobre as coisas de maneira superficial, sempre quando questionada sobre com quantos anos gostaria de casar, eu começava a pensar sobre o porquê insistem em achar que este é uma das prioridades para uma vida plena. Por que não perguntar sobre o conceito da felicidade, o que é estar vivo, por que as pessoas não falam abertamente sobre sexo?! Eu não suportava os joguinhos de conquista, deixar tudo subentendido me irritava.

—Me desculpa, eu devo estar sendo insuportável com essas conversas estranhas, não é?

—Hm... É diferente. – Eu rio do comentário de Ken e o levo como elogio. Pelo menos ele não me chamou de maluca assim que comecei a abrir a boca como foi quando sai com Yoongi. Se bem que olhando pelo lado bom, hoje ele é meu melhor amigo então talvez me xingar desde que esteja sendo sincero possa dar certo. – SeokJin não me alertou que sairia com alguém que pensa tanto sobre tudo.

 -Se ele avisasse você teria recusado? – Retruco, erguendo uma sobrancelha.

Ao julgar pelas taças de vinho já ficando vazias, eu podia deduzir que finalmente esse encontro já chegava ao fim e dava graças a deus por isso. Sentia-me mal por querer sair logo dali mesmo achando Ken uma pessoa muito agradável, quem sabe não poderíamos virar amigos?

—Sinceramente, acho que é impossível explicar em palavras o seu jeito. –Ele faz uma careta após entornar todo o resto do conteúdo de sua taça goela abaixo.  –Então eu realmente não sei.

—Sabe JaeHwan, você é uma pessoa maravilhosa, espero do fundo do meu coração que encontre alguém certo para você.

—Esse é o fim do nosso encontro, certo?

—Da próxima vez vamos sair com o resto dos meninos para comer uma pizza só como amigos, que tal? – Sugiro, já pegando minha carteira de dentro do bolso da calça jeans.

Ele faz que sim com a cabeça, com um sorriso de canto de boca. Dividimos o valor da conta e cada um pegou seu carro antes de seguir seu rumo para suas respectivas casas.

—-

—Eu só queria transar. – Choramingo assim que chego em casa me arrastando pelo piso frio sobre meus pés descalços até deitar de cara no sofá.

—Boa noite para você também. – Jin como sempre estava na cozinha de minha casa testando receitas para o jantar. Nós não morávamos juntos, afinal o lugar era tão pequeno que nem tinha espaço para isso, mas tal fato não impedia de o garoto estar sempre por lá já que era meu vizinho de apartamento. Ele sempre cuidou de mim durante anos, passa mais tempo aqui do que em sua própria casa e é provável que ligue para minha mãe com mais frequência do que eu. – Pela sua reclamação acredito que as coisas não deram certo com JaeHwan.

—Eu só queria ser uma pessoa normal e sair sentindo vontade de dar pra qualquer um que eu achasse atraente. –Sento-me jogada no sofá e bufo alto ao final de meu desabafo.

—Vai ver ele que não queria nada com você. Por favor, me diga que não o explicou a metáfora das portas.

 -Foi a do cinema e as almofadas. –Respondo, estalando a língua. Lembro-me que Namjoon quem inventara como explicar orientações sexuais através de uma simples metáfora com portas. Ele era tão perfeito, por que não encontro outro alguém como ele?  – Mesmo assim SeokJin, ele podia querer e implorar pra me chupar e eu não ficaria com tesão

—Eu sei que já somos amigos a quase meia década, mas eu ainda me surpreendo o quão cara de pau você é com seu linguajar.

Eu ignoro o comentário do mais velho e continuo resmungando sobre minha frustração sexual.

—Será que sou frigida? –Perguntas idiotas como essa sempre me viam a mente em uma forma de tentar explicar o porquê raios a única pessoa na qual me sentia atraída sexualmente na vida inteira foi Kim Namjoon. Eu estava começando a ficar maluca e se nunca mais fosse transar na vida?  

—Ah! Mas não é mesmo! –O mais velho se vira para mim pela primeira vez, deixando de vigiar sua panela no fogo por alguns instantes. Ele aponta a colher de madeira em minha direção e começa a reclamar. – As noites em que Namjoon vinha para cá eram insuportáveis, vocês faziam tanto amor que eu só conseguia dormia quando terminavam e os barulhos cessavam.  

—Não fazíamos amor, nós fudiamos mesmo. E os barulhos se chamam gemidos, talvez alguns gritos. –Eu rio alto do palavreado polido de SeokJin. Nem os maiores filósofos que aprendo em minha faculdade de filosofia conseguiriam explicar a minha amizade com Jin.

—Você é muito pervertida, EunHye.

—Do que adianta ser assim se estou tanto tempo na seca? Estou tanto tempo sem transar que lá embaixo já deve...

—Eu realmente não quero saber sobre suas partes intimas. – Jin me corta antes que pudesse comparar minha buceta com moveis velhos e empoeirados. – Você já comeu? – Mesmo eu não tendo o respondido, o garoto serve o que ele cozinhara em dois pratos em um pedido silencioso para que eu me junte a ele na janta. Eu belisquei algumas coisas no encontro, mas amor por comida era algo em que eu e Jin tínhamos em comum, parecia que ambos estavam sempre com fome.    

—Não aguento mais me sentir assim. –Levanto-me do sofá e vou até o balcão da cozinha, subindo no banco alto com um pouco de dificuldade. –Eu só queria poder ir a baladas e sair beijando todo mundo, sabe?

—A comida está tão boa, prove.   Jin não se importava de falar com a boca cheia e muito menos de sair enfiando a comida que fez em minha boca.

—Como uma pessoa tão viciada em sexo como eu consegue não sentir desejo de fazer sexo?

—Acho que aqui faltou um pouco de sal e pimenta...

Chegava a ser uma cena cômica o quão nítido são os jeitos opostos em que eu e Jin levávamos a vida. Ele era tão tranquilo e paciente, sempre vivia pelos outros. Altruísmo e companheirismo eram as palavras-chaves para definir sua personalidade. Ele sempre vivia o momento, pensando no presente ao invés de se preocupar com coisas desnecessárias. Nunca admitiria, mas tinha inveja de sua calmaria, queria saber como era relaxar.

Já eu sempre pensava no futuro. É mais forte do que eu, a ansiedade é só a consequência de todas as vezes que eu me mutilei com pensamentos de o quanto a vida era curta e os quão todos deviam viver o mais intensamente possível. Talvez fosse daí que minha sinceridade exacerbada vinha.

“A vida é uma peça de teatro que não tem ensaios. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche a peça termine sem aplausos.”

—Como posso viver a vida ao extremo se eu não me encontro? – Murmuro.

A verdade é que minha angustia vinha muito além de uns meses sem sexo. Eu me sentia deslocada. Duvidava sobre minha saúde mental, sobre meu corpo, minha autoestima... Não se encontrar é um saco.

Eu sinto a minha falta, de saber quem sou.

—EunHye?! – Jin me chama estalando os dedinhos tortos em frente ao meu rosto. –Parecia que estava em um transe de hipnose.

—Quem sabe eu não estou mesmo? Quer testar? – Brinco, forçando um sorriso, não conseguia ficar para baixo perto do mais velho.

 -Confesse que eu sou o melhor dançarino que você já viu.

Com os olhos vidrados e fixos em algum ponto qualquer da cozinha, eu finjo estar sobre controle de algo ao zombar do mais velho:

—Como dançarino, você é um ótimo cozinheiro. –Caio na gargalhada ao receber tapas no ombro vindo do maior. – Não fode Jin, acho que nem alguém hipnotizado de verdade é capaz de dizer um absurdo desses.

—Ya! Respeite seu oppa! – Ele diz alto, erguendo a cabeça em tom de superioridade como sempre faz quando esta fingindo indignação. – Você também não é lá essas coisas.

—Absurdo! Meus movimentos sexys que sãos os verdadeiros hipnotizadores aqui. – E para dar ênfase a meu discurso, eu começo a fazer um movimento de onda com o meu corpo inteiro e fico mais parecendo uma minhoca epilética.

—Você tem que comer muito lámen pra chegar aos meus pés, Jagi. – Jin começa a me imitar e ficam dois idiotas rebolando na cozinha.  

Qualquer um que visse essa cena, com certeza morreria de vergonha alheia ou então começaria a filmar para postar no youtube. Eu nunca escondi que vergonha era algo que não pertencia ao meu dicionário, mas Jin era mais retraído e eu me sentia honrada por ser uma das poucas pessoas que podiam enxergar o quão doido esse menino podia ser. Ele era o mais velho dentre os nossos amigos, mas as vezes conseguia ser mais infantil que o maknae.

Quando se dá conta da maluquice que fazíamos, SeokJin começa a rir e é impossível não se deixar levar com aquela risada contagiante de limpa vidro. Suas orelhas queimavam em um tom avermelhado e ele tampava a boca com a mão ao gargalhar.

O celular de Jin começa a tocar e ele continua rindo até chegar ao aparelho, porém seu sorriso se desfaz imediatamente e é substituído por olhos arregalados quando ele vê o que recebeu.

—Meu deus! – Ele exclama de repente após ler a mensagem de celular que deu fim à nossa brincadeira.

—O que aconteceu? – Pergunto querendo saber o que afligia meu amigo. Estava quase escalando aquelas costas enorme a fim de ler as mensagens também quando o mesmo bloqueia a tela de seu celular.  

—Nada... –Jin volta a encarar a comida como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Odiava essa sua mania de jogar a bomba e depois fingir que nada aconteceu, conviver com ele era ter que suportar a vontade de lhe dar uns cascudos sempre que ele fazia isso ou contava piadas sem graça de tiozão.

—Kim SeokJin!

—Me chamando pelo nome inteiro, sério isso que ouvi? – Ele me repreende e eu rosno umas desculpas de volta.

—Oppa, você poderia, por favor, abrir logo a porra dessa boca... – Ele arqueia uma sobrancelha pelos meus maus modos e eu desfaço a expressão raivosa para um sorriso amarelo. – Porra dessa boca mais gostosa que eu já vi, nossa, deve fazer uns milagres na cama. –Faço uma espécie de massagem em seus ombros e braços para lhe convencer de que era merecedora de saber seja lá o que ele descobrira.

 -Você exagera EunHye... – Ele comenta, mas traz em seus lábios um sorriso satisfeito. Odiava quando ele dava um de mais velho e exigia esse tipo de tratamento. Normalmente era eu quem tinha Jin em minhas mãos e quando era ao contrário me sentia desafiada. – Namjoon está de volta a Coreia e Hoseok nos convidou para irmos até a casa dele amanhã, iremos fazer um almoço de comemoração pela volta de Joon.

—A última coisa que eu vou fazer lá e comemorar. –Bufo, voltando a sentar na cadeira em frente ao balcão, porém não comia mais, a informação nova tirara meu apetite. Perdida nos meus sentimentos, não sabia decidir se aquela noticia era boa ou ruim. Vários pensamentos começam a voar pela minha cabeça, tinha tantas perguntas sem resposta acerca daquele idiota.

Será que ele sentiu minha falta? Por que nunca pensou em me contatar? Por que simplesmente foi embora sem dizer nada? Será que ele estava me traindo? Será que ele arranjou mais alguém nesses seis meses ou eu fui a única trouxa que ficou sozinha esse tempo todo?  

—Yoongi vai, eu também estava pensando em ir.

—Claro que Suga vai, aquele traidor.  – Reviro os olhos ao lembra-me que meu melhor amigo idiota sempre fora amigo de meu ex. Sério, não namorem pessoas do seu ciclo de amizade por que quando o relacionamento acabar vai ser uma merda.

—Essa sua implicância com Namjoon já está passando dos limites... –Ele estala a língua e seu revirar de olhos me irrita profundamente a ponto de fazer meu sangue subir. –Eu não entendo o por qu...

—PORQUE EU AINDA GOSTO DELE. –Levanto bruscamente, batendo as palmas de minha mão com força no balcão. Admitir aquilo em voz alta era vergonhoso e fez meu peito doer. Umas lágrimas começam a se formar em meus olhos e eu respiro fundo para que elas não escapassem. Jin não parece surpreso pela confissão, ele apenas ameaça vir até mim para me consolar e eu o impeço com um gesto de mãos. – E dói tanto não ser capaz de superá-lo...

Não me aguento continuar ali me mostrando tão fraca perto de SeokJin. Ele era o melhor amigo que alguém poderia ter para te acalmar e dava os melhores carinhos, mas eu precisava de alguém que compartilhasse da mesma mente perturbada que eu.  

—-

Enquanto caminhava a pé para o bar em que marquei de encontrar Yoongi, começo a xingar-me internamente por não conseguir tirar Kim Namjoon de minha cabeça. Eram nessas horas que eu odiava ter boa memória, pois me lembrava de cada misero detalhe daquele maldito dia em que nos conhecemos. Tão por acaso assim como todos os nossos outros encontros, sempre debochava das pessoas que acreditavam em destino até que senti o gostinho disso em minha vida quando os acasos me afetarem.

Olho para meus sapatos enquanto caminho pela rua escura e vazia e sorrio sozinha com as lembranças daquele dia em que nos conhecemos.

*Flashback On*

William Shakespeare disse um dia “Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o que é corajosa só a experimenta uma vez.”

Bom, eu discordo dele. Os corajosos por não temerem estão à mercê de vários perigos que podem causar sua morte ou então uma voadora na cara.

E era isso que eu estava pensando sobre o garoto que interrompeu minha leitura enquanto tentava me isolar do mundo na biblioteca da faculdade.

—A leitura de bons livros é como conversar com as pessoas mais brilhantes do século passado. –Foi o que o garoto misterioso disse ao se sentar do meu lado e atrapalhar uma das cenas mais emocionantes do livro que estava lendo. Ele não tem medo de morrer?!

—Posso saber o motivo ou circunstância que lhe fez vir até aqui interromper minha leitura citando Descartes? –Pergunto grosseiramente fechando o livro de forma brusca sem me preocupar em marcar a página que parara, minha memória era boa o suficiente para lembra-me do número. – A frase está meio errada inclusive, mas valeu a tentativa. 

Era por isso que não fazia amizade facilmente. Minhas emoções se manifestavam de forma tão genuína que quando dava por mim eu já tinha falado o que vinha em minha mente na hora. Mal olhara para o rosto do menino e já estava levemente irritada com ele.

Quase não vinha a biblioteca, preferia ler em parques, mas SeokJin marcara de me encontrar aqui mais tarde e acabou se atrasando, o culparia disso depois.

—Posso ser sincero? –Ele pergunta. Essas três palavras juntas foram o que finalmente me fizeram prestar atenção nele. Se eu pudesse pedir algo para a humanidade seria que todos fossem sempre sinceros comigo. A verdade é a maior das virtudes na vida, pelo menos para mim.

—Eu espero que sempre seja sincero, por favor.

—Eu gostei do seu tênis. –Ele diz dando de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo chegar em uma garota e elogiar seus sapatos.

Encaro o converse vermelho que usava. Estava todo rabiscado, usara todas as partes brancas para escrever citações ou letras de música, tinha até algumas tentativas fracassadas de desenhos.

—E da dona dele? – Pergunto sugestiva.

 –Primeiro achei ela meio idiota por ter sido grossa, mas agora parece que está flertando comigo. -Ele diz pensativo. – Ela é inconstante. 

Rio alto na parte em que ele me chamou de idiota, mas logo tenho que abafar o som com mão por estar na biblioteca.

Quando olho para o garoto a minha frente, ele sorria para mim pela primeira vez e descubro as covinhas mais adoráveis que já vi.

—Eu vou levar isso como um elogio. – Digo. Lembro-me de uma citação do autor do livro que estava lendo e não hesito em dizê-la em um sussurro. – A constância é contraria à natureza e à vida. As únicas pessoas completamente constantes... 

—Estão mortas. – Dizemos em uníssono.

Olho surpresa para a pessoa a minha frente. Era a segunda vez que ele se referia a citações só nessas pequenas palavras que trocamos. Sempre me achara meio esquisita por ter um hobby tão bobo quanto esse, mas minha memória era tão boa que eu não evitava gravar frases que eu gostava e sempre dava um jeito de citá-las em toda conversa.

Primeiramente tinha achado que o menino, que posteriormente descobri que se chamava Kim Namjoon, tinha dito a frase de Descartes sobre livros apenas para me impressionar, já que basta dar uma pesquisada rápida que você acha aquele verso, porém mal sabia eu que Namjoon se mostrara mais parecido comigo do que eu achava ser possível.

Essa vez em que falamos em uníssono foi só a primeira de muitas outras vezes que falamos juntos comprovando a bizarra conexão que possuímos desde nossa primeira conversa.

Talvez Shakespeare tivesse razão. Às vezes precisamos mesmo ser corajosos, por que não se sabe se o futuro lhe presenteará com uma voadora dada por EunHye ou então fará ela se apaixonar por você.

*Flashback Off*

—Suga! – Chamo meu amigo pelo apelido que eu inventara assim que o avisto na calçada do outro lado da rua. Ele não me escuta por causa dos fones de ouvido e nem sequer percebe quando eu atravesso a rua correndo até quase saltar em cima dele ao lhe alcançar.

—Ya! Está maluca? –Ele pragueja enquanto tira os fones do ouvido e os guarda no bolso do casaco. –Você já viu seu tamanho? Poderia ter me quebrado.

 -Eu adoro o fato que você é sempre muito simpático e amigável, Suga. – Digo irônica e abro meus braços para recebê-lo com um abraço, sempre fui amante de contato físico e quem quisesse ser meu amigo teria que saber a conviver com isso. Yoongi nem reclama mais então simplesmente me dá um abraço e por fim bagunça meus cabelos curtos e lisos.

—Eu odeio quando me chama de Suga.

—Quem mandou você ser essa coisa mais doce? – Queria muito que ele fosse bochechudo para nessa hora poder apertar suas bochechas, mas contento em irritá-lo fazendo um biquinho e segurando na manga de seu casaco xadrez. – Aposto que sua namorada te chama com apelidos fofos bem piores do que esse.

—Ela me chama de deus do sexo quando não está gemendo meu nome...  –Sentia-me tão à vontade por Suga compartilhar do mesmo vocabulário que o meu, quando juntava eu, ele e sua namorada o ambiente virava uma verdadeira orgia verbal. Eram poucos os coreanos que se acostumavam com o meu jeito por isso a conexão que tinha com cada um de meus amigos era bem forte.

—Falando nisso, como está o namoro?

—A distância, como sempre. – Ele suspira sôfrego. Se eu estava reclamando de falta de sexo, imagina Yoongi que só via a namorada a cada dois meses quando ela vinha para cá já que a mesma morava do outro lado do mundo. O garoto pega o celular do bolso e o desbloqueia apenas para ver as horas. Não posso conter um sorriso quando vejo que seu papel de parede é uma foto de sua namorada e de Holly, seu cachorro de estimação no colo dos dois. – Ela deve estar acordando a essa hora.

Nós entramos no bar e cumprimentamos o barman com uma reverencia antes de sentarmo-nos na mesa do canto perto da janela. Sempre íamos para aquele lugar e sentávamos no mesmo lugar, como se fosse um ritual. Nosso grupo de amigos era bem diversificado e aqui era o único local em que nos sentíamos a vontade.

—Eu adoro a dongsaeng. – Comento. Olho no cardápio alguma bebida que eu nunca tivesse tomado. Adorava experimentar algo diferente e novo toda vez que vinha aqui, enquanto Suga sempre pedia a mesma coisa. – Se der mole eu pego ela para mim.

—O pior disso é que eu sei que ela te aceitaria de volta. – Ele ri e em seguida pede nossas bebidas para o garçom. – Mas eu sei que você não me chamou aqui para falar de o quanto você pegaria minha namorada. O que houve, EunHye?

—Eu quero voltar com Namjoon. –Digo de forma direta e decidida.

—Ficou sabendo que ele voltou a Coreia? – Faço que sim com a cabeça esperando que Yoongi me desse algum tipo de bronca por estar sendo idiota ou algo do tipo, mas tudo o que ele faz é me desejar boa sorte. – O hyung já sabe desse seu plano de reconquistar Namjoon?

—O que Jin tem a ver com o que eu faço ou deixo de fazer? – Retruco.

—Bom, talvez ele fique meio chateado já que teve que te aturar chorando pelos cantos e acabando com o estoque de cerveja da sua e da casa dele. - Isso era verdade. Todos me chamaram para sair e procurar outras bocas para beijar quando o único que me aturou com pijamas velhos e cara inchada de choro foi SeokJin. – De qualquer forma, eu sai com Namjoon hoje de tarde e pelo visto ele não está saindo com nenhuma mulher.

— Ele perguntou de mim? – Pergunto afobada demais.

—Sim, nós falamos bastante sobre você.

—Esse idiota brinca com os meus sentimentos mesmo depois de tanto tempo. – Choramingo e pouso minha testa na mesa de madeira. O álcool finalmente chega bem na hora e eu o uso para afogar minhas magoas. –Ele iluminou minha vida e depois foi embora sem dizer nada.

—Iluminou sua vida? – Debocha Yoongi depois de rir desdenhoso. – Aquele garoto era todo depressivo, só sabia filosofar sobre o quanto era solitário. Você se matava em esforço para animá-lo todos os dias EunHye, você quem iluminava a vida dele.

—Ele foi a única pessoa pela qual me apaixonei, Yoongi. Foi a única boca que eu beijei e senti algo! Acho que estou presa a ele, eu me sinto patética falando dessa forma, mas eu já tentei de tudo, eu não consigo me atrair por ninguém! – Troco os suspiros por uma boa golada em meu drink alcoólico e deixo o gosto amargo ir rasgando minha garganta. - Acho que tem algo de errado comigo.

—Você é tão inteligente e tão burra ao mesmo tempo EunHye... –Suga dá um bom gole em sua bebida e eu dou um tapa em seu braço livre o que o faz derrubar um pouco do líquido na mesa.   

—Ei! –Reclamo e faço uma careta, tentando pensar em citações que tinham a ver com burrice, mas como sempre Suga me interrompe ao suspirar e entrelaçar as mãos por cima da mesa, quem o conhecia bem como eu sabia que isso significava ou que ele estava com vontade de ir ao banheiro ou que começaria um textão verbal.

—No mundo a maioria das pessoas são seres sexuais, ou seja, que se atraem sexualmente umas pelas outras normalmente assim como foi comigo e minha namorada que só de nos vermos já começamos a nos pegar loucamente. Porém há pessoas que simplesmente não conseguem se sentir atraídos por ninguém, preferem sentir prazer comendo um pedaço de bolo, por exemplo, estes são chamados de assexuais.

—Você quer ensinar o padre a rezar missa? –Resmungo sem entender onde ele queria chegar com tudo aquilo, era óbvio que eu sabia sobre o que ele explicava. –E pare de mentir, você e a dongsaeng demoraram séculos para se pegarem.

—Puta que pariu, você é muito lerda. EunHye, você está no meio termo entre esses dois, você é demisexual! – O garoto afirma. Ele entorna o resto de sua cerveja enquanto eu tento assimilar a nova informação. Eu sabia o que significa o que eram pessoas “demi”, mas nunca cogitei a ideia de fazer parte de algo, sempre fui tão acostumada a ser deslocada mesmo. – Você sente atração sexual apenas por que você cria uma conexão ou laço com a pessoa, seja ele emocional ou intelectual.     

—Onde você aprendeu isso tudo? –Foi quase uma pergunta retórica. Só tinha uma pessoa além de mim naquele grupo de amigos que poderia ter falado sobre esse tipo de tema.

—Kim, óbvio. –Ele dá uma pequena revirada de olhos, porém sua máscara de rabugento se desfaz por uns instantes para observar meu semblante magoado. Ele segura uma de minhas mãos com a sua me tranquilizando. Suga era um menino doce no final das contas, principalmente quando era algo relacionado aos seus pontos fracos: amigos, namorada e cachorro. – Ele me explicou o que era e disse que você se encaixava com a definição. Mencionou também uma tal teoria sobre portas, disse que você entenderia quando dissesse.  

A “teoria das portas”. Foi um dos vários discursos que me atraíram em Namjoon quando começamos a sair. Ele era inteligente e tinha coração enorme então criou essa metáfora a fim de explicar de forma simples e didática sobre algumas orientações sexuais.

“ Heteros são como portas que só abrem para fora.

Homossexuais são como portas que só se abrem para dentro.

Bissexuais são como portas que abrem tanto para dentro quanto para fora.

Pansexuais é uma porta aberta.

Demissexuais são portas trancadas.

Assexuais: a porta é uma parede. “

—“Demissexuais são como portas trancadas”. – Digo em voz alta a parte que aparentemente se adequava a mim. - Se eu sou uma porta trancada, então eu preciso arranjar a maneira de arrombá-la.

—EunHye, você precisa encontrar a forma de destrancá-la. Tem que ir atrás de sua chave.

Minha chave? Onde será que esta essa porcaria, por que eu já não nasci toda aberta? Esse suspense todo me matava.

Estava tão perto agora de me descobrir finalmente que minhas pernas começam a balançar inquietas pensando nessa conversa toda sobre demissexuais. Teria que pesquisar um pouco mais sobre, mas já me sentia reconfortada por saber que existem pessoas como eu por aí no mundo.

Chave... Onde está minha chav...

—CHAVE! –Grito de repente quando uma luz se ascende em minha mente.

As respostas estavam dentro de casa o tempo todo e é para lá que eu vou imediatamente deixando Yoongi sozinho com a conta para pagar. Amigos servem pra isso, não é mesmo?

*Flashback On*

“O maior dos inventores é o acaso”

Há algum tempo atrás eu zombaria de alguém falando que acreditava em destino, até que uma tempestade de repente fez minha vida virar de cabeça para baixo e nunca mais se endireitar novamente.

Fazia um tempo desde que conheci o garoto das covinhas, Kim Namjoon, na biblioteca da minha faculdade. Acontece que eu poderia ser muito esperta para debater sobre causas sociais e outros problemas na sociedade, mas em outros aspectos eu virava o ser humano mais idiota, como por exemplo, para pedir a porra do número de telefone de um garoto maneiro.

Eu passei a semana inteira passeando pelo campus procurando o garoto que puxara papo comigo naquele dia e de vez em quando meus olhos o encontravam lendo algum livro em um canto, mas não cheguei a ter a chance de ir lá atrapalhar a leitura do mesmo como ele tinha feito comigo.

Parecia que a sorte não estava mesmo ao meu favor e esse fato só se comprovou ainda mais quando uma chuva forte alagou toda a minha casa em uma sexta-feira qualquer por que a burra aqui não olhou a previsão do tempo antes de decidir se deixaria todas as janelas abertas ou não. Mal pude comemorar a chegada do final de semana, pois assim que cheguei em casa tive que convocar SeokJin para me ajudar a secar o chão e moveis de minha casa. Levei todos os meus sapatos que tinham molhado e algumas almofadas para secar na casa de Jin, o único sapato que não tinha sido vitima de tudo isso era o que eu usava, o maldito Converse vermelho.

No dia seguinte, fui surpreendida pela notícia que o parque em que costumava sair para ler foi interditado por causa da tempestade e que teria que pegar o metro para ir a Ttkseom.

Sério, estava tudo dando tão errado que eu nem ia mais sair de casa para minha leitura semanal se não fosse Jin me encorajando, ou melhor, quase me obrigando a ir.

E novamente eu preciso dar graças aos deuses por ter escutado o mais velho.

No meio de minha missão que era procurar uma árvore para me sentar sobre sua sombra, eu ouço alguém gritando:

—Garota do converse vermelho!

Quando me viro na direção da onde vinha o dono daquela voz, os meus olhos se arregalam na hora quando vejo um cara de quase dois metros de altura correndo de forma desengonçada. Ele era bruto e parecia que seus passos eram capazes de quebrar o chão.

 Quando me alcança, ele apoia as mãos no joelho e começa a respirar de forma ofegante pela breve corrida. Ele tenta dizer algo, mas sua respiração forte não permite que eu o entenda.

Depois de se recuperar, Namjoon me explica que sempre vinha a esse parque quando se sentia triste, pois ajudava a arejar os pensamentos. Perguntou-me então se não poderia me fazer companhia e eu aceitei visto que não conhecia muito bem o local. E também, eu não tinha muitos planos para hoje e como diz Lewis Carroll: “Se não sabe para onde ir, qualquer caminho serve”.

Joonie me levou para conhecer as árvores que ele considerava as mais belas e me contou sobre suas filosofias de vida o que me deixou encantada na hora por defendermos em sua maioria as mesmas coisas. Nós trocamos indicações de filmes e de livros e descobrimos que tínhamos o mesmo gosto para livro, tanto que levávamos em nossas bolsas o mesmo livro.

Nesse dia, não trocamos apenas nossos números de telefones como também diversas recomendações de livros, filmes e músicas. Nós comentávamos sobre o que víamos pelo bate-papo e quando chegava no final de semana nos encontrávamos novamente em Ttkseom que virara o meu novo parque favorito. Só de saber que eu encontraria com Namjoon a dor de cabeça que sentia ao pegar o metro lotado desaparecia em instantes. Foram meses nessa enrolarão para que pudéssemos nos conhecer melhor até finalmente nos darmos conta de que estávamos apaixonados. Descobri que por trás daquele sorriso lindo de covinhas adoráveis, se escondia uma pessoa viciada em solidão. Eu sentia necessidade de cuidar de Namjoon e começara a criar um sentimento além do da amizade por ele.

—Eu estou relendo na verdade. – O garoto diz após dar uma lambida em seu sorvete. Sentados sobre um banco de madeira, pela primeira vez eu não dava prioridade para comida e me via completamente vidrada em tudo que saia da boca de Kim Namjoon. Inclusive, tinha muita inveja de seu sorvete. – Cada vez que eu leio, interpreto de uma maneira diferente. É como se tivesse várias histórias dentro de uma só!

—Hermman Hesse é incrível mesmo. É tão raro encontrar alguém que goste de literatura alemã.

—É tão raro encontrar alguém incrível como você... – O garoto diz e em seguida tampa o rosto com as duas mãos, envergonhado do que ele próprio deixara escapar.

Seu rosto já estava corado pelas palavras fofas e ficou ainda mais quando depois de reunir sua coragem finalmente me pediu em namoro. Ele tirou algo do bolso e se eu já estava surpresa com o pedido para termos um relacionamento, esse ato então só me deixou mais apreensiva. Como explicar para ele que eu não curtia essa cafonice de usar aliança?

Foi quando mais uma vez Kim Namjoon provara ser o cara perfeito para mim e quebrou as minhas expectativas.

Quando olho para a palma de sua mão, havia um chaveiro de bronze em formato de chave. O sobrenome “Kim” estava gravado no corpo da chave e eu estava apaixonada pela originalidade do garoto. Eu seguro meu presente com um sorriso enorme estampado em meu rosto e aceito o seu pedido.

*Flashback Off*

Chegando em casa depois de Yoongi ter aberto os meus olhos sobre tudo isso que eu estava vivendo, eu saio revirando todas as gavetas de minha escrivaninha até achar o bendito chaveiro em formato de chave que  esquecera após meu término. Após fazer uma pequena bagunça de folhas pelo chão do quarto finalmente acho o símbolo da paixão que tinha com Namjoon. Sorrio para o objeto não só por tudo o que ele significava, mas sim por estar cada vez mais próxima de poder me destrancar.

Agora o último passo era por o meu plano para funcionar.

“A melhor maneira de alcançar o autoconhecimento não é pela contemplação, mas pela ação.”

—-

Acordei no dia seguinte completamente decidida em ir em frente com essa maluquice toda. Não podia ficar parada observando minha vida ficando de cabeça para baixo, precisava me reencontrar.

“Tente mover o mundo. O primeiro passo será mover a si mesmo.”

E era isso que eu estava fazendo, Platão. Eu iria sim reconquistar Kim Namjoon e finalmente resolver o meu problema de autoconhecimento. Não precisávamos voltar a namorar de imediato, só uma noite de muito sexo já estava de bom tamanho para mim.

O bom de ter namorado alguém por seis meses é saber exatamente quais são seus pontos fracos. Visto um short jeans, uma camiseta branca justa e um shocker preto, sabendo que tudo que envolvia a área do pescoço deixava Namjoon fraco. E claro, não poderia esquecer o bendito Converse vermelho, o motivo de tudo.

Encontro com Jin no corredor entre as portas de nossas casas e vamos juntos no meu carro até a casa de Hoseok.

Não havíamos mencionado Namjoon e nada disso desde ontem de noite quando o abandonei para desabafar com Suga.

Eu e Jin por sermos tão diferentes tínhamos muitos motivos para discutir e brigar um com o outro, mas isso nunca acontecia. Inventamos uma brincadeira para pausar ou até mesmo esquecer tudo o que podia acarretar esses momentos ruins. Quando estamos perto de começar a nos estressar, dizemos “Super Mário” e ambos param imediatamente com aquele assunto. Muitos acham estranha a forma como resolvíamos nossos problemas, mas para nós dois aquilo vinha funcionando por longos cinco anos sem brigas sérias. 

Assim que saio do carro após estacionar na calçada em frente à casa de nosso amigo, a primeira coisa que faço antes mesmo de começar a cumprimentar as pessoas lá dentro é procurar por Mickey, o cãozinho do anfitrião. Ponho os pés dentro da sala e nem foi preciso chamá-lo mais de uma vez, o cachorro que parecia ser tão sorridente quando o próprio dono já aparece balançado o rabo para mim, feliz com a minha visita. 

—Quem é o bebe da mamãe? –Distribuo beijos no pelo macio e tento me afastar dos beijos de língua que o animal tentava dar em meu rosto. Estava deitada no chão, sem me preocupar com sujeira já que sei que Hobi era uma pessoa bem limpa e Mickey pairava em cima de meu tronco quando de repente ele sai de cima de mim no momento em que outro corpo se aproxima.

—Oi EunHye.

Eu quase que paralisei quando ouvi aquela voz dizendo o meu nome.

 Mal chegara na casa, porra Kim Namjoon, colabora!

Ainda não tinha visto mais do que as pernas do meu ex-namorado e já estava ficando nervosa, eu era muito idiota mesmo. Levanto um pouco meu corpo até ficar sentada no chão e Namjoon oferece a mão para me ajudar a ficar em pé. Meus olhos se fixam naquela mão que tinha uma pegada tão firme, depois meu olhar vai caminhando pelos seus braços que eu amava tanto apertar e finalmente me pego olhando para aquele ser a minha frente sorrindo com as covinhas saltando para fora.

Não sei se tinha vontade de agarra-lo ou meter a porrada nele. Provavelmente os dois ao mesmo tempo.

—Quanto tempo, Namjoon. – Eu deixo-o no vácuo e levanto-me sozinha do chão. –Onde estão os outros? –Mudo de assunto imediatamente e começo a vasculhar a sala a procura de outras pessoas, mas não encontro ninguém o que me deixou mais nervosa ainda.

—Se não me engano Taehee e Jungah estão jogando vídeo - game lá em cima.

—Ou então estão se pegando... – Completo a frase quando o casal de namoradas do grupo é citado. – São as mais novas então estão sempre com os hormônios a flor da pele.

—Falando de nós pelas costas, unnie? – Taehee aparece na sala com seu característico sorriso quadrado e abre os braços para me receber.

—É muita saudade. – Respondo abraçando a garota que mesmo sendo mais nova consegue ter mais altura e mais peito do que eu. –Onde está a maknae?

—Ela está mostrando a casa para Jimin, o amigo de Namjoon.

—Ah é? –Viro-me para Joon erguendo uma sobrancelha. – Temos mais um integrante para o clube?

—Jimin é um cara legal. – TaeTae faz amizades com uma facilidade invejável, mas todas as pessoas na qual ela cismava eram realmente bons sujeitos então eu confiava completamente em seus instintos sobre esse amigo novo de Joon. –Até Jungah se deu bem com ele já.

—Essa viagem fez bem para Namjoon-ah. –Digo forçando um sorriso. Estava me coçando para não sair confrontando o garoto sobre nosso término ao mesmo tempo em que me controlava para não sair o beijando. –Deve ter sido boa mesmo já que nem se deu o trabalho de manter o contato.

O clima se tornou pesado e eu me arrependia de ter deixado minha língua e impulsividade me dominarem. Eu preciso aprender a ficar quieta às vezes. Taehee encontra Mickey deitado em um canto e vai brincar com o cãozinho deixando eu e Namjoon a sós.

Joon parece meio envergonhado pelas minhas palavras, ele abaixa a cabeça e vai andando até a porta que separava a sala da cozinha. Achava que ele iria embora, mas pelo ao contrário, ele fechou a porta e caminhou em minha direção.

—Eu sei que eu te devo respostas. – Ele é direto e franco. Eu cruzo os braços e apenas escuto as desculpas que o garoto tinha para me dar depois de passar seis meses sem dar notícia nenhuma. –Mas agora não é a hora de lhe dar elas.

Ele se aproxima de mim e eu, irritada dou uns passos para trás conforme ele se aproximava.

Quando ouvimos passos e vozes vindos em direção ao cômodo em que estávamos, Namjoon abraça-me e sussurra:

—Passe lá em casa depois que tudo isso aqui acabar. – Diz rente ao meu ouvido quase em um sussurro. – Temos muito que resolver. –Ele de repente me larga e começa a diz alto o quanto sentia a minha falta, claramente atuando para que ninguém desconfiasse de nada.

Quando nos afastamos Yoongi e um garoto muito bonito com um sorriso maravilhoso estavam nos olhando e eu suponho que o menino seja o tal de Jimin.

Confesso que nem reparei muito no novo elemento de nosso grupo e nem em nada sobre o que conversavam durante aquele almoço. Tudo o que predominava em minha cabeça era a proposta de Namjoon.

Jin percebera o meu nervosismo e me estendeu a mão discretamente por debaixo da mesa ao meu lado. Sempre que eu ficava ansiosa com algo, precisava de alguma forma mover de forma constante seja minhas mãos ou minhas pernas. Sendo assim, Jin criou a mania de sempre que estava dessa forma, ele me oferecia sua mão para brincarmos de “guerra dos polegares”. Ele sempre vencia e eu sempre me acalmava.

Porém dessa vez eu apenas afastei o toque gentil do mais velho e continue me torturando com os meus pensamentos. Eu precisava tomar uma decisão e não podia me desconcentrar com brincadeiras bobas.

Eu sei que vim para cá determinada, mas agora começava a ficar insegura. Lembranças da época que ele me abandonara aqui retornam em minha mente trazendo o mesmo gosto amargo que sentia.

Quando chego em casa depois de ter fingido a tarde inteira que estava bem, eu jogo-me na cama e tento organizar meus pensamentos. Será que o que estou fazendo está certo?

Eu precisava mesmo tirar a limpo essa história toda de só se sentir atraída por Namjoon? Eu sentia mesmo a falta dele? Ele estava tão diferente hoje, não parecia entender minhas filosofias, não citava mais coisas de livros que gostávamos, ele não parecia mais a mesma pessoa que conheci há meses atrás.

Soco o travesseiro em frustração por não saber o que decidir e então me recordo do chaveiro de metal em forma de chave que encontrara ontem. O pego e encosto o pequeno o objeto contra o meu peito.

—Eu preciso encontrar a minha chave para poder me encontrar. –Repito baixinho para mim mesma e suspiro.

É isso. Eu vou sim até lá e vou tirar tudo isso a limpo.

“A paixão é uma flor delicada, mas é preciso ter coragem de ir colhê-la a beira de um precipício.”

—-

Apreensiva, eu toco a campainha do apartamento. O barulho da chave destrancando a porta só serviu para meu coração acelerar mais ainda. Eu estava pronta e determinada para fazer isso, mas minhas mãos tremulas denunciavam meu nervosismo. Quando o dono do apartamento abre a porta, eu nem espero ele me deixar entrar direito. Olhando aqueles olhos negros que eu tão bem conhecia e aqueles lábios convidativos... Não pude me conter e agi por impulso.

Entrelacei meus braços no pescoço do maior e ficando nas pontas do pé eu lhe dou um selinho demorado.

Permaneço com nossas bocas conectadas de forma casta até sentir o corpo do garoto se amolecer sobre o meu e seus braços abraçarem minhas costas. Começamos a intensificar o gesto e meu coração transborda de alivio por estar sentindo algo pela primeira vez depois de tantos encontros fracassados.

—EunHye...-Ele quebra o nosso beijo e se afasta um pouco. Aproveitando para fechar a porta atrás de nós. – O-O que...

—Precisamos conversar, SeokJin.

~~

Sim, eu fui até a casa de Namjoon naquela noite, porém a depilação e as horas no banheiro me arrumando não serviram para nada, eu não fiz sexo.

A noite já começara cheia de surpresas quando quem abre a porta do apartamento de Namjoon é aquele seu amigo que conhecera no almoço mais cedo, Park Jimin. Ele me recebe muito bem com aquele sorriso bonito que mencionara antes e me oferecendo alguma coisa para beber. Sento-me no pequeno sofá da sala e Joon aparece no cômodo com um semblante preocupado, lembro-me muito bem dessa expressão, foi a mesma que ele fez quando admitiu que estava apaixonado por mim, o medo de ser rejeitado reinava naquele semblante.

“EunHye, eu sei que eu fui um escroto contigo, desculpe-me por ir embora, mas eu precisava me achar.” Foi o que ele disse enquanto passava o braço ao redor da cintura de Jimin. “E nessa busca de autoconhecimento eu acabei não só me encontrando, mas descobri Jiminnie.”

Minha boca semiaberta pela surpresa só vai aumentando conforme Nam conta-me a verdade sobre tudo que passamos juntos.

“Antes daquele dia na biblioteca eu já te conhecia de algumas palestras que você dava e dos textos que escrevia em seu blog então eu simplesmente criei uma paixão platônica por você. EunHye, você foi a primeira mulher na qual eu me atrai por e depois de anos submerso na confusão eu finalmente pensei que tinha me descoberto.”

Meu coração acelerava diante das confissões de meu ex-namorado. O casal agora pairava a minha frente e um copo de água repousava sobre minha mão apesar de eu preferir que aquele líquido fosse um álcool bem forte. Eu não estava mais com raiva de Namjoon, ele passou pelas exatas mesmas coisas que eu e encontrou a chave dele.

“Eu te observei por um tempo e notei que estava sempre perto de Jin, que faz parte do mesmo ciclo de amizade que o meu, foi então que o pedi ajuda para tentar conquistá-la. O hyung te conhecia o bastante a ponto de ter planejado tudo aquilo comigo. Ele leu os livros que gostava, pesquisou sobre os assuntos da sua faculdade, gravara suas citações e filósofos favoritos e me treinou para que eu fosse perfeito para ti.”

Era como se o meu mundo tivesse caído. Tudo que eu vivi com Namjoon fora uma mentira. Todas aquelas coincidências não passavam de planejamentos e toda aquela paixão que senti por Nam não passava de pura encenação. Eu me apaixonei pela fantasia que fizeram do garoto, fantasia esta costurada por SeokJin. Eu começava a ficar com raiva, não podia acreditar que Jin fizera isso comigo.

“O hyung gosta de você EunHye, eu percebi isso depois de um tempo. Mas ele é tão altruísta que abriu mãos das próprias vontades para ajudar um amigo. Já que ele não teria chances com você, então fez de tudo para que você fosse feliz com outro. A verdade é que você não gostava de mim noona, nunca gostou. A sua chave está na porta ao lado, o “Kim” gravado naquele chaveiro de chave que eu te dei, não é de meu sobrenome.” 

Não sabia o que pensar. Meus pensamentos chegavam em forma de um tsunami e me afogavam, era tanta informação nova, tanta coisa para assimilar que simplesmente não era capaz de tomar decisões sábias naquele momento. Nenhuma citação minha a mente, nenhuma frase para me ajudar a raciocinar, nenhuma filosofia que poderia me tirar dessa situação, eu me sentia perdida. Fiquei com vontade de chorar ou de encher a cara ou de fazer os dois ao mesmo tempo, mas antes precisava testar uma coisa.

~~

—Me desculpa... –Jin murmura cabisbaixo depois de eu ter lhe contado que Namjoon me contara toda a verdade. Ele permanecia sentado numa cadeira em frente ao balcão da cozinha que era idêntica à da minha casa enquanto eu andava de um lado para o outro desabafando sobre tudo que eu descobrira hoje.

A cena dele de arrependido me cortava o coração, mas eu não podia deixar as coisas assim, o que ele fez é errado e eu ainda estava irritada.

—Você sabe o quanto eu prezo pela sinceridade e pela verdade acima de tudo e você me enganou durante um ano SeokJin.

—Eu me sinto péssimo... –Ele suspira. Jin mal olhava para mim, seus ombros estavam caídos e seu olhar estava vidrado no chão. Nunca o vira tão magoado.

Meu coração doía demais e me sentia confusa devido aos turbilhoes de coisas que passavam pela minha mente. Porém pela primeira vez eu estava cada vez mais próxima de me descobrir, eu não era dependente de Kim Namjoon, eu conseguia finalmente me entender melhor. As pessoas pela qual me atraio são aquelas nas quais eu tenho um laço com e saber disso era como ver o mesmo mundo de sempre só que de forma diferente. Sentia-me aliviada por estar a um passo de me encontrar novamente.

Um passo, literalmente.

—E eu não te perdoarei tão fácil. –Digo, me aproximando do garoto a minha a frente.

—Eu sei... –Ele responde tristonho sem ao menos perceber a distância entre nós se findando.

—Mas eu ainda não terminei o meu teste. – Com dois dedos, eu levanto o queixo do mais velho a fim de que ele olhasse para mim. Seus olhos encontram os meus e eu praguejo internamente sobre o quanto eu fui burra de não perceber esse ser humano a minha frente durante todos esses anos.

“As mais lindas palavras de amor são ditas no silencio de um olhar.”

Os meus batimentos cardíacos ficam desordenados e sinto a impulsividade correndo pelas veias. Todo aquele desejo que eu fui acumulando durante esse tempo está agora batendo na porta querendo se libertar. Eu precisava de SeokJin e recuperar todo o tempo que desperdiçamos brincando de sermos amigos.

Jin acaricia meus cabelos curtos passando os dedos gentilmente pelos fios lisos até fazer um pequeno carinho em minha bochecha. Eu fecho os olhos e o seu toque faz meu coração já acelerado ficar pior ainda.

—Super Mário? – Jin sugere, pausando nossa discussão.

—Super Mário. –Concordo. Um sorriso brota em meus lábios e o mais velho imita o meu gesto. Seu sorriso acalma meu coração e me encantam os olhos. Como eu nunca reparei nesse sorriso antes?

Agarro-me ao pescoço de Jin e nos beijamos novamente. Dessa vez com mais calma, permitindo que nossas bocas e línguas entendessem o ritmo um do outro. SeokJin abraça minha cintura fazendo com que a distância ente nossos corpos fosse inexistente.

—Isso parece um sonho... –Ele diz entre os beijos e sorri ainda com os olhos fechados.

Eu mordo o lábio inferior do mais velho e vou o puxando gentilmente entre dentes até me afastar da boca alheia com um sorriso estampado em minha face. Jin distribui vários selinhos em minha boca e rosto toda vez que por algum motivo nossos lábios se afastavam.

—Você é um idiota... -Estalo a língua e lhe dou um peteleco fraco em sua testa. - Poderíamos estar assim antes se tivesse se declarado.

—Ya! Você que é cega e nunca me percebeu durante todos esses anos. –Ele resmunga e faz uma careta enquanto reclama. Eu o copio e ficamos nessa de tentar vencer um ao outro vendo quem fazia a melhor careta e claro que essa infantilidade só terminou com mais beijos e risos. Nem parecíamos os mais velhos do nosso grupo de amigos. 

Eu estava viciada nos lábios de Kim SeokJin e a cada beijo eu me sentia mais plena por finalmente estar sendo capaz de sentir algo. Às cegas, entrelaço uma de suas mãos na minha e lhe dou um último beijo demorado antes de guiá-lo até o seu quarto.

“A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, e sim em ter novos olhos.”

Estava diante de mim o tempo inteiro. A pessoa que me fazia feliz, que me fazia se sentir confortável para falar e fazer qualquer coisa, que me arrancava as risadas mais espontâneas, que cuidava de mim e me preparava as melhores comidas. O cara que fez, faz e fará de tudo por mim sem hesitar, pois, sabe que eu também faria por ele.

O cara capaz de me entender antes de eu mesma fazer isso.

—Eu me sinto um idiota, mas eu não consigo parar de sorrir ou parar de te beijar... – Jin comenta me abraçando enquanto eu repousava minha cabeça em seus grandes ombros.

—“Se você não está disposto a parecer um idiota, não merece se apaixonar”

—Gostei dessa frase, é daquele cara que você gosta, plutão?

—Na verdade é de um filme que nós vimos juntos mês passado, “De repente amor”, lembra?

—Ah, então é provavelmente por isso que eu gostei da frase. –Nós rimos juntos de nossas bobagens e continuamos a aproveitar o quentinho que fazia nossos corpos juntos debaixo do cobertor até o sono começar a querer nos apossar. 

Afinal, eu percebi que não precisa que alguém fosse minha chave. Não precisava que nem Namjoon ou Jin me destrancassem. A verdadeira chave foi esse meu abrir de olhos e enxergar de maneira diferente o que sempre esteve a minha volta.

A vida é como diversas portas trancadas, impedindo-a que alcance seus objetivos. Precisamos ter coragem para destrancar cada obstáculo desse, não é preciso só uma chave, mas sim um molho delas. Estas podem ser atitudes, gestos, amigos, amantes...

Essa seria uma ótima filosofia para estragar os vários encontros que me arranjam, pena que não terei mais a oportunidade de testá-la já que não preciso mais procurar por mais ninguém.

—Jin, você quer ser minha chave?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo


Ai que nervoso! Vocês gostaram?! Eu ameeei escrever essa oneshot e estou muito feliz por finalmente ter publicado ela >.<

Se você é um leitor novo no mundo de Teka Stoll e por um acaso quer ler mais coisas minhas, eu tenho uma longfic de BTS que é meu xodó para a vida inteira ♥ O nome da fanfic é “Born Singer”, mas como sou uma pessoa muito legal já vou deixar o link aqui para facilitar a vida de vocês!
https://spiritfanfics.com/historia/born-singer-6097785

Se você veio aqui por Born Singer, será que vocês perceberam uma menção a “Kate” no meio da história? Heheheh

Então é isso amores, não se esqueçam de comentar o que me deixa muuuuito feliz, de favoritar e recomendar para os amigos ♥

Se quiserem podem me seguir no twitter (@teka_stoll), lá eu faço amizade com vocês, converso, sigo de volta e as vezes desabafo sobre o processo de escrever as fanfics e lanço algumas dicas >.< hhduahuashauh

Se você é tímido, mas por um acaso que me perguntar ou confessar algo você pode o fazer em anônimo no curious cat: https://curiouscat.me/Teka_stoll

Beijos amores, obrigada do fundo do meu coração pelo apoio! *-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The key to ourselves" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.