A Nova Era escrita por AugustoB


Capítulo 1
{Capítulo 1} The New Bitch




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—- 15 de Agosto de 2020 --

Izzy saía do dormitório feminino. Já fazia uma semana que os novatos malignos – como ela os chamava – estavam ali e ela simplesmente não os suportava. Eram barulhentos, não conseguiam obedecer direito às regras e insistiam em causar confusão. Mas ela não era alguém que abaixava a cabeça. Nunca fora e não era agora que iria começar a fazer. Ela rebatia, muitas vezes tendo que ser segurada para não partir para a agressão. Ela não usava seu poder, uma vez que era muito forte e não gostava da forma que ela deixava a pessoa. Ela conseguia neutralizar não só o poder de outra pessoa, como também os sentidos. Visão, Audição, Percepções Sensoriais. Ela tirava tudo da pessoa, a deixando totalmente no escuro. A instituição tentou a usar como uma grande arma, porém não iria permitir isso. Tentava ir por baixo do radar. Nem participou da guerra dos mutantes, como os alunos dali chamavam o que ocorrera. E por causa disso, muitos não sabiam qual era seu poder. Achavam até que não tinha nenhum. Mas participava das aulas como todos os outros. Passou por duas garotas – vindas do grupo rebelde - e as fitou de cima a baixo, uma sobrancelha levantada. Elas desviaram a atenção dela, não querendo nenhuma discussão. A fama de barraqueira da garota começava a se espalhar pelos recém-chegados e preferiam ficar mais longe dela. E também das regras bem restritas da instituição. Ela não se importava. Melhor assim. Me deixam em paz, pensou enquanto um risinho debochado aparecia em seu rosto.

Já no saguão, foi ver o quadro de horários digital que ocupava metade de uma das paredes da enorme sala. Sempre que estava ali, imaginava um enorme exército naquele espaço. Com móveis novos e chiques, a sala era bem mobiliada em tons de castanho – das madeiras tanto do assoalho quanto de alguns móveis -, branco – dos sofás e da lareira –, metálico – das janelas e acessórios da própria mobília, como maçanetas, roscas à vista e puxadores – e preto – da tela digital e das molduras dos quadros. Aquele ambiente poderia muito bem ser rústico ou chique. Ela pensou um tanto com desgosto que algumas coisas não combinavam. Perguntando-se – talvez pela milésima vez – quem teria escolhido aquelas cores e aqueles móveis, esquecera-se de ver seu cronograma. Todos os alunos tinham um: era apenas digitar o seu nome em uma das áreas de busca do grande painel. Como eram vários jovens, havia quatro espaços e eles não costumavam se demorar ali. Ela inclusa, mas por algum motivo ficou.

Ouviu-se um assobio musical. Ela reconheceu a música como sendo uma de uma de suas cantoras favoritas. Graças a uma força maior, o mundo não parara nesse sentido. Ela se virou e viu pessoas desviando ou saindo da frente, colando-se à parede. Ela então reparou o motivo: um garoto com cabelo castanho claro na altura dos ombros vinha andando. Seus olhos eram cor de mel e ele tinha um corpo esguio e musculoso. Era alto, com uma cintura que achou que não fosse possível se ter e um ar de arrogância se fazia presente em sua face. Ela automaticamente não gostou dele. Mas o que lhe chamou atenção, e explicava porquê todos saírem de seu caminho, foram os chifres marrons saindo de cada lado de sua testa. Eram pontudos e pareciam que poderiam perfurar qualquer coisa. Percebeu que uma cauda preta balançava atrás de si, se arrastando no chão enquanto andava. Parecia um rabo de gato de tão preguiçoso. Porém diferente da do gato, essa cauda era fina e pontuda.

Ele chegou perto dela e desacelerava. Ia falar com ela? Ajeitando-se, o encarou, se preparando. Ela não iria deixar-se intimidar por sua aparência. Sabia que aquilo era para chamar atenção, mesmo não sabendo ainda qual era seu poder. Tentava adivinhar enquanto contemplava seus chifres. Eles não enfeiavam seu rosto. Tinha um rosto bonito, simétrico. Porém algo nele exalava malícia e maldade. Não sabia dizer o que exatamente. E algo em si disse que ele não era uma boa pessoa. Um sexto sentido.

Ele parou perto dela. Com as sobrancelhas levantadas em uma pergunta silenciosa, a encarou. Tinha cabelos curtos castanhos, quase pretos. Seu nariz era aquilino, porém simétrico com o rosto, fazendo com que não perdesse sua beleza natural. Com olhos verdes bem escuros e uma boca carnuda como a dele, era uma bela moça. Não perdia muito para ele. Mas enquanto ele era alto, ela era baixa. Com 1,60m era uma das mais baixas do instituto. Ele sorriu, mostrando caninos extremamente pontudos e afiados. Além do branco resplandecente. Contrastava com sua pele bem morena, outra coisa que era diferente dela. Ela era bem branca, caracterizando sua origem europeia, enquanto a dele caracterizava sua origem latina. Pelo menos até aonde percebeu. Confirmou quando abriu a boca para falar. Seu inglês carregado de sotaque de um país que não soube identificar.

— Pois não? – ele soltou cruzando os braços. Ele aparentemente queria causar confusão.

— Pois não o que? – ela rebateu. Diferente dele, ela não queria causar confusão. Mas não iria deixar aquela alfinetada passar. Cruzou os braços e embora o olhasse de cima, seu olhar não vacilava. Ou sua postura.

— Sei lá. Você quem está me encarando. Já aviso que não curto racha. – ele concluiu e se virou. A última palavra que utilizou foi em sua língua materna e ela não soube identificar o que era. Ela ficou incomodada enquanto o via digitar seu nome na tela. Olhou em volta e percebeu todos os encarando. Porém quando perceberam que estavam sendo encarados, voltaram a seus afazeres normais. Alguns subitamente muito interessados na pintura do teto ou nas vigas de madeira que cruzavam o salão.

Voltou sua atenção ao garoto. – Você me chamou de que? Isso é um insulto? – ela mantinha os braços cruzados sob o peito.

Ele riu alto, mostrando novamente os dentes. Aquilo a perturbava. Alguém não deveria ter dentes como aqueles. Mas alguém também não deveria ter chifres. Bom, poderia ter, mas não no sentido literal da palavra. Apesar de seu desconforto, não iria o demonstrar. Ele se virou para ela.

— Relaxa. Eu apenas disse que não curto garotas. – ele falou ainda mostrando arrogância. Ah como ela queria tirar aquele sorriso a tapas. Mas não queria ser deselegante. Pelo menos ainda não. Ele não lhe dera motivos reais para isso.

— Ah ta. Bom pra você. Mas eu ainda não entendi porque você falou isso. – ela falou. E realmente, não tinha perguntado da sexualidade dele. Ele voltara a mexer na tela. A ignorou por alguns momentos e isso a irritou. Porém não ia fazer cena. Que se foda, chifrudo. Deve ser dor de corno isso, pensou. A própria piada a fez sorrir e soltar um riso abafado. Voltou seu olhar para frente e viu que ele via sua programação. Quase pulou no pescoço dele, porém viu um papel sendo impresso. Ela quase esquecera que a tela tinha essa função também. Mas isso a deixou confusa. Não falara seu nome. Como ele poderia saber sobre isso? Olhou para ele, para contestar. – Como você...?

Ele levou um dedo aos lábios. Seus dedos eram esguios e longos; um pouco curvados. Pareciam garras. Quem é esse garoto?, perguntou-se mentalmente quando ele falou logo em seguida – Digamos que eu mantenho minha atenção à quem importa aqui dentro. Te vejo no quarto período. Aula de geografia. Beijinhos – disse assoprando um beijo e se virando. Tinha uma traseira avantajava que rebolava enquanto andava. Isso a deixou um pouco desconcertada. Observou-o se afastar.

 

Boo estava em seu armário. Aproveitava o tempo vago entre o segundo e terceiro período e tirava o lixo acumulado. Aproveitou para pegar também seu livro de Inglês e o de Geografia. Agora teria a primeira matéria e no quarto tempo, teria a segunda. Fechando o armário, virou-se para a esquerda, para se assustar com Izzy. Ela era um pouco mais alta que a amiga, com seus 1,65m. E não era em nada parecida. Era loira, com seu cabelo indo até o meio das costas. Seus olhos azul-cinza eram de um brilho intenso. Seu nariz era pequeno e sua boca era uma linha fina. Tinha um arco rosa claro que combinava com seu tom de pele clarinho, igual à de Izzy.

— Ai que horror! Que susto garota. – reclamou Boo. Ela colocou a mão no peito. Diferente de Izzy usava um vestido azul claro rodado. Ambas não poderiam ser mais diferentes, mas algo as juntava. E nem elas conseguiam explicar. Ameaçou jogar os livros na cara da amiga. Mas riu para mostrar que era brincadeira e começou a andar para sua sala. Izzy ao seu lado, acompanhando seu ritmo.

— Foi mal. Mas olha, bafão miga. – disse ela. Se revelava uma pessoa completamente diferente ao lado da mesma. Mostrava que realmente se importava. Diferente da costumeira indiferença que mostrava para com a instituição. – Acabei de ver um dos recém-chegados. Ele...

— Parece um demônio. – completou Boo. Olhava para frente, mas sem realmente ver. Izzy achou estranha a atitude da amiga e mais estranho ainda ela saber. – As pessoas falam, sabe. – ela disse se virando para Izzy, percebendo sua atitude. – E parece que é a primeira vez que ele sai desde que eles chegaram. Ele não só parece um demônio, como é um.

— Como você pode falar isso? Nem conhece ele. – ela falou. Mas sentiu um calafrio mesmo assim. O jeito como a olhou, seus dedos, seus dentes... Boo percebeu.

— Ele não causou uma boa impressão né? – ela fala com um meio sorrisinho. Pararam na porta da sala, com alguns minutos de sobra. – Olha, vai pra aula. Falamos disso no quarto período. – ela abraçou a amiga e começou a entrar, mas a voz e o aviso a fizera congelar por uns segundos.

— Não só nós. Ele vai estar lá também.

 

O quarto período chegou e com ele as fofocas. Pelo visto, Gus havia causado uma impressão. Ele caminhava pelos corredores sentindo os olhos sobre si. Ele não ligava, gostava de ser olhado. Seu exterior e seu poder combinavam - para ele - muito bem consigo. Sua luxúria, seu fogo no rabo, como dizia seu namorado. Ele dera sorte de André ser um dos habilidosos – ou mutantes, como eram chamados em seu país. Não era tão poderoso quanto ele e seus poderes não poderiam ser mais diferentes. Mas adoravam-se e não poderiam estar mais grudados um no outro. Infelizmente, não iriam ter a aula do quarto período juntos. Deu-o um selinho de despedida e observou-o partir. Ele era mais alto que o garoto, porém mais musculoso e menos esguio. Suas mãos poderiam quebrar rochas, mas seu poder era congelante. Enquanto ele era puro fogo. Ele não sabia como herdara esse poder. Não só o fogo, mas a aparência de demônio. A capacidade de controlar mentes mais fracas, as mãos que viram garras e a boca que se alarga tipo sucuri – junto com os dentes. Não se esquecendo das asas e das sombras. Sua mãe sempre o chamara de diabinho. Achava que talvez fosse por conta disso e do fato que a palavra ficara incrustada em sua mente.

Entrou na sala, fazendo todos o olharem e começarem a sussurrar. Procurou e viu Izzy. Sorriu para ela e então percebeu que não estava sozinha. Quando viu quem era a garota do seu lado, ele hesitou. Hesitou pois não queria pular e a matar ali mesmo. Sua máscara caiu por alguns preciosos segundos, demonstrando um medo e um ódio. Mas não poderia perder seu temperamento ali. Controlou-se respirando fundo e colocou sua máscara de arrogância e divertimento de volta. Procurou um lugar vago em uma mesa que não havia ninguém e foi até lá, se sentar. Ainda bem que era bem longe de Boo.

— Okay... Gus, não é? – o professor perguntou, fazendo-o virar sua atenção para frente. Ele estreitou os olhos e apoiou os cotovelos na mesa, enquanto se inclinava. Seu sorriso sempre em seu rosto.

— Correto, profe. – disse em um tom irritante.

— Você poderia, por favor, retrair seus chifres e... sua... sua cauda? Pode ser uma distração para os alunos. E do tipo ruim. – falou o professor. Aparentava ter seus quarenta anos e era meio normal demais. Com cabelos começando a se tornar cinzas e uma barriguinha mais proeminente, vestia roupas simples.

— Acho que não. Esse sou eu. E se alguém tem um problema com isso... Bem... Que se foda. – ele falou simplesmente fazendo um gesto qualquer com a mão. Isso provocou algumas risadas esparsas. Inclusive seu sorriso aumentou, fazendo-o parecer um predador perigoso. Porém a voz de uma pessoa fez esse sorriso morrer. Uma cara de desdém apareceu e voltou seu olhar para Boo.

— Ah, por favor! Faça logo o que lhe é mandado e pare de ser deselegante. Me poupe, se poupe, nos poupe. – ela falou revirando os olhos.

— A única coisa que eu vou te poupar é de queimar sua carne quando eu botar fogo nessas suas roupas de garota branca virginal. – ele atacou, enterrando as unhas, que começavam a crescer, na mesa, formando sulcos.

— Pelo menos ela não é uma piranha que faz questão de exibir a raba enorme por aí. Simplesmente desnecessário. – Izzy falou, ao auxílio de sua amiga. Não que esta precisasse. Muitos olharam espantados, já que fora uma das poucas demonstrações de proteção por parte dela.

— Nossa, que baixo Izzy. Mas eu acho que já deveria esperar isso de você... Meio metro. – ele disse enquanto fazia um sorriso debochado surgir. Automaticamente se arrependeu. Isso iria lhe custar ela.

— Oi?! Eu tenho 1,60 seu... – Boo teve que segurar a amiga para que ela não fosse até ele e lhe estapeasse. Gus achou aquilo tudo muito cômico.

Até o momento que teve que parar.

— Chega! – o professor gritou. Foi um grito poderoso, que tremeu a sala inteira, fazendo o vidro das enormes janelas tremerem. Assim como o interior de cada aluno ali. Gus sentiu todos os seus ossos chacoalharem. – Gus, você vai se transformar agora. E vocês duas, segurem seu temperamento. Resolvam essa birra de crianças no treinamento. Ou não. Eu só quero paz na minha sala. Se não, eu vou gritar tão forte que vocês vão ter suas orelhas explodidas.

Gus quase devolveu a ameaça. Quase. Apenas observou o homem se virar e começar a escrever alguma coisa. Ele não prestou atenção. Concentrou sua força e seu poder, suprimindo sua meia-forma. Agora seria mais difícil de manter, mas não queria suas orelhas explodidas. Terminado, olhou para as meninas. Todos da sala já estavam anotando o que o professor passava no quadro, mas ele ainda não. Fitou-a intensamente, quase conjurando seu fogo. Seu olhar dizia apenas uma coisa. Aquilo ainda só estava começando.


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