Fox escrita por IsaS


Capítulo 2
Capítulo 1º


Notas iniciais do capítulo

Eis o primeiro capítulo para vossas apreciações! Espero, como havia pedido, que comentem e me digam o que acham. Devo continuar, amados?
Um grande beijo! Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/735062/chapter/2

CAPÍTULO 1º

 

                Segundo minhas pesquisas, Bibury era uma pequena aldeia no distrito de Cotswold, no condado de Gloucestershire, na Inglaterra. Seus chalés de pedra construídos na era medieval, distribuídos numa área de 21,10 km², habitavam quase 700 habitantes. Com o habitual frio que só a Inglaterra podia proporcionar, o sol ás vezes aparecia para dar vida ao incrível verde daquela cidade, enquanto os pequenos chalés de pedra tingiam o vilarejo num agradável tom alaranjado. Ao longe, eu podia ouvir o fogo na lareira de alguma casa tilintar, e transformar a lenha em carvão flamejante. Se me esforçasse um pouco mais, podia ouvir o entregador de jornais passar em frente às casas com sua bicicleta, buzinando. Como nossa casa era quase escondida e separada da avenida principal por uma rua estreita de paralelepípedos, eu desconfiava seriamente que não receberíamos os tais jornais.

                Não era Forks. Era mais bonito, mais charmoso e, até mesmo, mais cheiroso. Ruas estreitas, chaminés soltando fumaças dos chalés de pedra e árvores floridas, alegres e convidativas. Mas, a verdade, é que eu sentia falta da úmida cidade em que havia nascido. Por mais que soubesse que não podíamos continuar lá, eu sentia falta do linóleo da cozinha da casa de vovô Charlie e do cheiro salgado de La Push. No final das contas, não adiantava colocar defeito em Bibury, porque eu sabia que Forks só tinha a vantagem sobre aquela cidade por ser familiar, e eu reconhecia isso.

                Estávamos há quase uma semana naquele casarão. Era uma antiga mansão por qual Esme se apaixonara a primeira vista, com seis suítes que se estendiam num comprido corredor. Achei engraçado saber que, nem o valor daquela coisa esculpida em pedras nem a lenda de um fantasma de um lorde qualquer, assombrando aqueles corredores, nos assustaram. Emmet até conseguiu fazer piada. Afinal, éramos vampiros e um lobisomem! Vai querer assustar logo a minha família com essa lendinha barata? Era capaz de o fantasma ficar assustado, ao invés de querer nos assustar!

                Eu não podia negar que era – realmente— um lugar fenomenal. O casarão era feito de pedras como o resto dos chalés na vila, e Esme concordou em manter sua arquitetura original. No entanto, também concordou que animais empalhados e escudos da era medieval eram um pouco demais em pleno século 21. Mas só o pequeno vislumbre daquela mansão causava uma impressão de realeza de séculos passados. O interior ainda estava sendo cuidadosamente decorado. O piso de madeira escura e brilhante refletia sofás de couro e móveis de madeira maciça, lustrosos. Quadros foram pendurados, livros preencheram as estantes vazias e cortinas foram instaladas nas inúmeras janelas do imóvel. Todos os quartos tinham camas espaçosas – ignorando o fato de ninguém, além de mim, dormir – e lareiras – mesmo que ninguém, de fato, sentisse frio. O importante era que lá estávamos, começando do zero, numa cidadezinha que conseguia ser menor e mais monótona que Forks. Eu já havia perdido as esperanças de morar numa grande cidade com luzes e movimento por perto, então tinha que me contentar em fazer uma viagem de duas horas de trem até chegar a Londres.

— Parece chateada. – meu pai sabia tudo o que eu sentia, é claro. Eu não tinha mais tanto cuidado ao pensar, porque eu sabia que não adiantaria.

Se meu pai não soubesse de meus pensamentos, minha tensão me entregaria e Jasper correria para me acalmar e, assim, ele saberia da mesma forma. Ele caminhou até mim e sentou-se na cama, ao lado de uma pilha de roupas quase do seu tamanho.

— Tenho saudade de casa. – suspirei. Ele sabia disso, todos sabiam. Era a primeira vez que eu estava começando do zero, assim como minha mãe.

Quando Charlie faleceu em função de um ataque fulminante, quase quinze anos após a visita dos Volturi, as coisas mudaram.          Já havíamos subestimado demais a inteligência das pessoas com nossas feições imutáveis e hábitos estranhos. Não nos sobrara nada na América além de Renné, minha avó materna, que nos ligava de vez em quando e lamentava nossa distância. Nunca vi minha mãe lamentar da mesma forma porque, no final das contas, sabíamos que era melhor assim.

— Tem saudade de Jacob. – ele sorriu minimante para meu semblante murcho.

Billy acabara de falecer e Jacob achou melhor ficar em La Push por mais aquela semana para conversar com a matilha sobre sua mudança. Afinal, não era como se eles pudessem sair correndo de Forks e chegar aqui, como se fosse na esquina. Estávamos em outro continente e as coisas haviam se tornado mais complicadas. Mais do que um lobisomem tendo imprinting com uma híbrida. Nada mais prendia Jacob naquela cidade e ele foi recebido em nossa casa com os braços abertos, entre as reclamações de Rosalie, pelo cheiro e de Alice, por ter suas visões interrompidas. Ele estava comigo, e isso bastava.

— É só mais uma semana... – dei de ombros, tentando ser positiva, mas sem sucesso algum. Meu pai soltou sua risada de sino e beijou minha testa, saindo em seguida. Talvez ele tenha concluído que não havia muito para se preocupar em relação a mim.

                Meu quarto estava quase arrumado. Apesar de Alice e Rosalie terem insistido em ajudar, eu neguei veemente. Eu precisava daquele momento a sós para pensar em toda essa nova fase da minha vida e em como eu teria que me acostumar. Eu, provavelmente, amaria aquela cidade, me apegaria a ela como foi com Forks, e mudaria novamente, em dez anos. Tentei me concentrar em organizar minhas roupas nos cabides, revirando os olhos ao encontrar peças nunca usadas, que foram compradas para mim por Alice, em seus devaneios consumistas.

                Eu estava na maioridade, o ou que poderia ser chamado disso para minha espécie. Eu já parecia ter a mesma idade de meus pais, apesar de meus dezesseis anos. Eu me achava meio magricela, sem muitos atributos. Mas Jacob jurava de pés juntos que, além de me achar a garota mais extraordinária do planeta— nas palavras dele, é claro –, já ouvira comentários maliciosos sobre mim vindos de alguns garotos. Eu gargalhei, logicamente. Primeiro, porque eu nem saía de casa direito naquela cidade pra que alguém notasse, sequer, a minha existência. Nem pra escola eu tinha ido, devido meu crescimento anormal. O único lugar que costumava ir era La Puch, e eu não acreditava que os garotos de lá pudessem comentar algo sobre mim sabendo quem Jacob, de fato, era. Além de ser engraçado vê-lo com ciúmes. Segundo, porque Jacob me amava, e a gente acha lindo quem ama...

Eu seria extremamente presunçosa se quisesse, por exemplo, me comparar a minha mãe. Na minha visão, minha mãe era a mulher mais linda do planeta e, quando eu o disse, ela pediu que nunca repetisse aquilo na frente de Rosalie. É claro que obedeci, mas vislumbrei seu sorriso minimamente orgulhoso antes de afastar o pensamento.

                Finalmente consegui encaixar todas as roupas da melhor forma que pude e temi virar as costas para meu closet, com medo que ele explodisse, como num desenho. Saí do pequeno cômodo e fechei a porta de correr atrás de mim. Meu quarto era claro e arejado, com uma cama imensa cercada por um mosqueteiro delicado.

Esme perguntou-me que cor gostaria na decoração e eu disse que podia ser qualquer uma, menos o rosa vibrante que Alice havia sugerido. É claro que, mesmo depois das reclamações pela recusa, até Alice admitira que ficara lindo os tons de salmão nas paredes, combinando com o acabamento em madeira e as roupas de cama. Um tapete de pele artificial branco cobria o chão a frente de minha cama, tornando-o fofinho. Do lado oposto, havia uma penteadeira – que Rosalie havia abastecido rica e inutilmente – com um espelho oval e um vaso de bonitas flores que ela recolhera no jardim pela manhã.

Mas o melhor não eram os móveis, minha prateleira cheia de meus amados livros nem a poltrona de couro branco, colocada em diagonal no canto do quarto. O melhor era a vista que eu tinha da sacada. A cidade toda, alaranjada com seus últimos raios de sol do dia, parecia querer me dar as boas vindas. Corri para me esgueirar e sentir a brisa nos cabelos, enquanto encontrava meu celular no bolso do moletom.

Passei os dedos pela tela, enquanto vislumbrava rapidamente as fotos que havia tirado de minha família em nossa antiga casa, e com a matilha em La Push. Mandei mensagem para Jake: “Estou com saudade. Quando puder, me retorne, ok?”.  Engoli o choro e decidi que a melhor coisa a se fazer, naquele fim de tarde, era descer e dar mais uma rondada no que havia sido transformado em meu lar. Nunca fui do tipo chorona, e não seria agora.

                Desci as escadas rapidamente, pulando os degraus e sorri para minha família de vampiros. Jasper e Alice organizavam na lareira os porta-retratos que Rosalie selecionava, Esme tentava organizar a cozinha com o auxilio de Carlisle e minha mãe, enquanto meu pai tocava seu piano. Emmet sorriu quando passei, enquanto passava rapidamente os canais da TV, parecendo entediado, no sofá.

— Oi. – me esgueirei nas costas do sofá e roubei seu boné enquanto os outros achavam graça.

— Ei, mocinha. Isso é meu! – sorri triunfante enquanto saía da sala e passava por um curto corredor até chegar na cozinha, de onde vinham os leves tintilar de talheres batendo uns contra os outros enquanto eram devidamente guardados na gaveta.

                A cozinha era o menor cômodo de toda a casa, tirando os banheiros, mas nem de longe minha presença tornou-o mais apertado. Na verdade, além de todos os eletrodomésticos, Esme colocara um balcão para “lanches rápidos”, como ela mesma havia mencionado. Era engraçado ver aquele esforço todo para pessoas que nem comiam. Na verdade, Esme só cozinhava para Jacob e sua matilha.

— Então, Nessie, como está ficando? – Esme me olhou esperançosa. Ela queria que eu tivesse uma ótima experiência em minha primeira mudança, era visível. Todos estavam se esforçando para isso e eu engoli seco para afastar a emoção, novamente.

— Está ótimo, Esme. Tudo está lindo. – sorri ao ver sua expressão se iluminar e assenti quando minha mãe piscou.

— Está ansiosa? – minha mãe perguntou e eu pigarreei. Na verdade, estava tão absorta pensando na quantidade de roupas que eu tinha sem necessidade que nem sequer lembrei-me de ficar.

— Ah, sei lá... – dei de ombros e ela assentiu. Eu tinha quase certeza que era o tipo de resposta que ela dava quando humana, quando se sentia desconfortável com algo, então entendia daquele dialeto de gente insegura.

— Claro que sim! Ela não para quieta. Está quase quicando de nervoso. – Emmet pegou rapidamente o boné de minha cabeça e me mostrou a língua.

— Não é verdade! – cruzei os braços no peito, como uma criança birrenta. Ele me fazia esquecer que já era adulta.

— Eu acho que ela está bem tranquila, até. – Jasper bagunçou meus cabelos. De repente, a cozinha ficou cheia, todo mundo querendo falar ao mesmo tempo sobre meu estado emocional. Senti-me lisonjeada somente por alguns segundos e, depois, irritadiça.

— Estou bem. – levantei as mãos para o alto num gesto de quem se rende. – Gente, é só escola!

— Não sei pra quê você vai, Nessie, de verdade. – disse Alice, com sua voz de sino.

— Você sabe muito mais do que realmente pretendem ensinar no ensino médio. – Rosalie concordou, enquanto enrolava seus cabelos dourados num coque perfeito.

— Isso é verdade. – Carlisle disse enquanto organizava os pratos, sorrindo suavemente com seu rosto branco e perfeito. – Já é formada em medicina sem nem frequentar a faculdade.

— Você aprendeu a ler sozinha! – lembrou-me minha mãe enquanto todos concordavam com ela.

— Bem, vocês estão mais formados no ensino médio do que qualquer um que exista na face desse planeta! – bufei. – Não é justo que eu não passe por essa experiência.

                Por um momento, temi que dizer a verdade fosse acarretar reações quase alarmantes. Minha família tendia a ser extremamente super-protetora quando queria. Mas, quando analisei aquele segundo rápido de silêncio que se fez, enquanto todos pensavam no que eu havia respondido, vi expressões tranquilas e compreensivas. Eles sabiam que precisavam me deixar passar pela vergonha alheia de ir ao baile com Jacob que, por sinal, estava matriculado para terminar os estudos comigo. Além do mais, todos nós estávamos matriculados, como de costume.

— Você tem razão. – meu pai me abraçou de lado e pareceu que, naquele momento, todos soltaram o ar preso pela tensão. Sorri e continuei a tagarelar sobre coisas, qualquer coisa que não me lembrasse de Forks, La Push ou Jacob e, como esperado, todos cooperaram e deram risadas de suas memórias de escola.

                Sentia-me mais disposta. Após uma semana para me acostumar com o fuso da Inglaterra, eu sentia o cansaço bater na hora certa. Decidi dar um beijo em todos, tomar um banho e me preparar para o dia seguinte. Encolhi-me em minha cama com frio, sem Jacob para me esquentar. Já estava tão acostumada com o calor que ele emanava que me esquecia de que aquela cidade era milhões de vezes mais fria que Forks.

Levantei-me, rapidamente acendi a lareira e corri pelo tapete de pele artificial, jogando-me na cama. Olhei o celular pela milésima vez. Nenhuma nova mensagem de Jacob, e meu coração se apertou. Lembrei-me que minha família não dormia, que podiam escutar qualquer movimento brusco, então engoli o choro novamente. Jacob deve ter explodido dentro das roupas e perdido o celular. Não seria a primeira vez, é claro. Ou talvez tivesse deixado cair, ou estivesse sem bateria... Pensei em todos os motivos plausíveis para aquele silêncio. Meu celular vibrou quando, finalmente, lembrei-me da diferença de fusos de quase 8 horas da América para Inglaterra.

“Oi Ness, me perdoa! Amanheceu agora e já estou saindo com Sam para finalizarmos os últimos detalhes para minha viagem. Não está fácil lidar com Leah e Seth, então estamos pensando na melhor solução. Estou com saudades... Fique aquecida e tenha bons sonhos, meu anjo. Te amo. ♥”

                Li a mensagem e suspirei aliviada. Seria mais fácil ter bons sonhos tendo notícias de Jacob. Pensei em Leah, sentindo-se mais a vontade depois de tanto tempo e, de vez em quando, conversando com Esme. Pensei em Seth e como ele me fazia rir, como ele parecia mais maduro desde que o vi pela primeira vez, quase um homem. Eu não via problema de tê-los aqui, mas eu sabia que eles veriam problemas em deixar La Push. Eu mesma vi problemas em deixar meu antigo lar. Aquela praia cheia de pedras coloridas também era meu lar.

Peguei no sono e sonhei que visitava a velha aldeia indígena em Forks pela ultima vez.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fox" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.