A véspera de Natal foi um dia até tranquilo, a maioria dos alunos que tinha ficado na escola brincava de guerra de bolas de neve do lado de fora. Eu passei o dia estudando, mas acabei decidindo que merecia um pouco de folga também e me juntei às pessoas que se divertiam na neve até a hora do jantar.

  Quando o jantar terminou, os professores pareciam bem-humorados demais para se preocupar com o que estaríamos fazendo nas Salas Comunais... E ainda bem, porque James não estava sendo nem um pouco discreto.

  Ao entrar na nossa Sala Comunal, eu fiquei surpresa, parecia ter menos espaço devido as mesas de comida e bebida ou talvez tivesse gente de outras casas ali, eu nem sabia se isso era possível ou permitido, mas tinha quase certeza que haviam estranhos ali.

— Liv! – Sirius veio até mim e me entregou um copo com um líquido alaranjado – Whiskey de Fogo, você vai gostar.

— Ah... Obrigada... – olhei o copo com curiosidade, cheirei e parecia forte, então virei de uma vez garganta abaixo.

  E queimava! Muito!

— Vai com calma... – Remus apareceu ao nosso lado, ele parecia o mais normal ali, porque Sirius estava com uma cara de louco e eu tinha quase certeza que ele começara a beber antes mesmo da festa começar.

— Deixa ela se divertir, Lupin! – o Black falou, mais alto do que o necessário – Até vocês, minha dupla de sabe-tudo favorita, merecem um pouco de diversão... Eu vou pegar um pouco de whiskey para você também, Remus.

— Ah, não precisa, obrigado. – ele tentou falar, mas Sirius já tinha sumido entre as pessoas – E ele se foi...

— Cadê o James? – perguntei, caçando o Potter.

— Onde você acha? – ele apontou aonde o garoto estava conversando com Lily Evans no canto da sala. Ela estava sorrindo, então era um bom sinal.

— Acho que agora vai. – comentei erguendo uma sobrancelha – Eles ficam bem juntos.

— Eu também acho. Se o James não tivesse sido tão idiota, talvez já estivessem namorando.

— VOLTEI! – Sirius surgiu entre nós – Aqui seu whiskey, lobão... – ele entregou um copo para o Lupin – Ah e a Dorcas estava perguntando por você.

— É? – Remus questionou confuso – Hum, eu vou ver o que ela quer... Liv, cuidado, hein?

  Lupin acenou para mim e se afastou. O Black ergueu uma garrafa e encheu meu copo novamente.

— Vamos lá, ruivinha... Vira esse.

— Sim, senhor. – assenti e tomei o copo inteiro num gole só – Nossa, acho que já está fazendo efeito...

— É? Por quê? – ele sorriu, colocando mais bebida para mim e para ele também.

— Sei lá, você está até bonito. – dei um empurrão em seu ombro e ri.

  Não falei nenhuma mentira ou novidade. Todo mundo sabia que Sirius era muito bonito.

— Ah, então é exatamente como dizem... A bebida entra e a verdade sai. – ele deu um sorriso cafajeste.

— Calado, Black. – tomei mais um gole – Eu vou comer algo antes que fique mais louca.

  Fui até a mesa que estava cheia de comida, aproveitei e conversei com algumas pessoas que estavam por ali. Eu não sabia exatamente de onde vinha, mas havia música tocando na sala, combinando com o barulho das conversas aleatórias virava uma bagunça, tínhamos que gritar para nos comunicar uns com os outros.

  Vários garotos estavam disputando para ver quantos degraus do dormitório conseguiam subir antes da escada virar um escorregador, eu era uma das garotas que estava invejando a brincadeira porque parecia divertido.

  Depois que eles cansaram, me sentei nos degraus e continuei bebendo e comendo, observando as pessoas. Gostava bastante de fazer isso, mas não é nenhuma novidade. Vi o momento em que James e Lily saíram da Sala Comunal juntos, será que finalmente iriam sair do chove não molha?

  Não estava mais encontrando Remus no meio das pessoas, talvez ele também tivesse saído também com a Dorcas... Bom, não era da minha conta.

  Aos poucos as pessoas foram subindo para dormir, alguns caíram de sono, e provavelmente de bêbados, pelo chão mesmo. No final das contas, só sobrou Sirius cantarolando alguma música natalina que não identifiquei.

— Ei, Black... – fui até ele.

— Oh, aí está você, Olivia. – ele se aproximou de mim – Te procurei durante um tempão!

— Sério?

— Sim, meus amigos me abandonaram... – ele fez beicinho e eu ri, por algum motivo aquilo estava extremamente hilário – Não ria de mim, pessoa sem coração.

— Desculpe, Sirius, eu vou parar. Até mesmo porque eu estou começando a cansar, acho que vou dormir... Tenho meu dormitório só para mim durante as férias. – coloquei o copo em cima de uma mesa.

— É? Eu posso te fazer companhia... – o Black me lançou mais um sorriso sem vergonha e se aproximou de mim, sussurrando e tentando me seduzir, mas estava dando meio errado já que ele mal conseguia falar uma frase completar sem enrolar a língua devido ao álcool.

— Você pode até tentar, mas eu gostaria de lembrá-lo que as escadas não vão te deixar subir.

— Verdade, mas as escadas do meu dormitório te deixariam subir. – ele passou o braço pela minha cintura, me puxando para perto.

  Não vou mentir, eu queria ficar com o Sirius por pura atração. O achava muito bonito, divertido e sexy. Meu cérebro queria forçar aquele momento, estava completamente bagunçado.

  Sirius aproximou os lábios dos meus, senti sua respiração misturada com o hálito de whiskey contra o meu rosto e aquilo pode ter agravado a situação do meu senso, porque eu agarrei seu rosto e o beijei de uma vez.

  O Black me puxou junto dele sem interromper o beijo, o que foi uma péssima ideia inicialmente, porque ele tropeçou em um garoto, que resmungou e voltou a dormir, e caiu sentado em uma das poltronas.

— Está nervoso, Black? – passei por cima do ser vivo jogado no chão e me inclinei na direção dele.

— Claro que não... – ele jogou a cabeça de lado, mordendo os lábios e dando uma risada rouca – Desculpe, Liv, acho que eu estou um pouco alterado...

— Um pouco? – eu ri junto dele – Por que diz isso? Já está arrependido?

— Com certeza não! – ele me encarou repentinamente – Não mesmo! Mas acho que isso não vai dar muito certo. Eu acho que não consigo te tratar como as outras garotas... Você é minha amiga, é diferente delas.

— Ah, eu não esperava que “desse certo”. – dei de ombros – Agradeço a consideração e tudo, mas eu estava fazendo isso só pela diversão. Não se preocupe, nada vai mudar.

— Você é incrível, sabia?

— É, eu sei. – levantei, mais uma vez tomando cuidado para não pisar em ninguém – Eu vou indo dormir, Black. Boa noite!

— Boa noite, Liv! Sonhe comigo! – ele gritou enquanto eu me afastava.

— Vou tentar. – prometi a ele antes de entrar no dormitório.

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  Acordei com vozes vindo da Sala Comunal, a luz estava bem forte no meu rosto e eu deduzi que já não era mais tão cedo assim. Minha gata começou a miar quando viu que eu me mexi, ela devia estar querendo sair para comer.

  Com muitas forças, levantei, peguei um robe e abri a porta para ela sair. Já ia voltar para dormir mais um pouco, minha cabeça tinha começado a doer inclusive, porém escutei a voz da professora McGonagall e saí para saber o que estava acontecendo.

— Eu ainda não acredito nisso! – ela estava extremamente nervosa – Olhem esse lugar! Eu nem sei direito o que dizer!

— Professora, foi só uma comemoração de Natal... – James falou, ele estava com uma cara péssima para tentar convencer alguém.

— SÓ UMA COMEMORAÇÃO DE NATAL, POTTER? – Minerva se virou para ele, eu podia jurar que ia soltar fogo pelos olhos – Eu vou descobrir como trouxeram álcool para a escola! Isso é um completo absurdo! Tem alunos do primeiro ano aqui! Nunca na minha vida acreditei que os alunos da Grifinória aprontariam algo desse nível!

  Desci lentamente, tentando não chamar atenção, podia sobrar para mim. Só então notei que a Sala estava caótica, cheia de alunos com cara de culpados em pé ouvindo os gritos da professora McGonagall.

— E vocês, Remus Lupin e Lily Evans? – ela se voltou para os dois que estavam no final do grupo – Eu esperava mais de monitores! Como deixaram isso acontecer? Talvez eu devesse dar seus distintivos para outras pessoas! – ela parou de falar, estava ofegante, eu tive medo dela ter um treco ou algo parecido, Remus apenas abaixou a cabeça parecendo realmente decepcionado consigo mesmo – Não pensem que vão ficar sem punição. Apesar de ter certeza que isso é uma armação de Potter e Black, todos serão punidos por compactuar com isso! Céus! Se não fossem os elfos para me avisar... Quero que arrumem tudo, começando agora, sem mágica!

  A professora ordenou e virou-se, saindo marchando e batendo a porta. Pude até ouvir um gritinho de susto da Mulher Gorda. Mais do que depressa, os alunos começaram a arrumar tudo, mais por vergonha de terem decepcionado a professora do que por medo da punição ser pior.

— Acha que exageramos? – James se aproximou de Sirius, ele quase estava deixando a preocupação transparecer.

— Um pouco. – Sirius assentiu e foi recolher o lixo com o amigo.

  Terminei de descer as escadas, as outras garotas não pareciam estar melhores do que eu, também tinham olheiras profundas e seus cabelos não estavam exatamente comportados. Dorcas e Lily estavam colocando os móveis nos lugares e pareciam bem irritadas.

— Eu sabia que ia dar errado, avisei várias vezes ao James... – a Evans resmungou.

— Mas ontem não parecia que você estava achando ruim. – Dorcas lançou um sorriso malicioso à amiga.

— Pare com isso. – Lily sorriu e empurrou o ombro da amiga – Nós apenas conversamos.

  Fui até Remus, que estava sozinho recolhendo garrafas de vidro. Ele parecia estar lutando uma batalha interna, nem notou quando me aproximei.

— Hey... – comecei a ajudá-lo.

— Ah, oi, Liv. – ele forçou um sorriso para mim – Não precisa fazer isso, eu dou conta.

— Que nada, eu te ajudo... Além do mais, eu notei que você ficou especialmente chateado com o que a Minerva te disse. Por acaso quer conversar sobre isso?

— É, eu a decepcionei... – ele ficou sério – E as vezes eu me pergunto se eu já não deveria ser um pouco mais responsável, digo, ela me deu o cargo de monitor e confiou em mim, mas eu deixei o lado “maroto” falar mais alto.

— Bom... – eu joguei as garrafas em um balde grande que surgiu ao nosso lado, com certeza a professora o mandou para ajudar na limpeza – Eu acho que ela fez isso na esperança que você pudesse controlar seus amiguinhos, porém... Quem iria te controlar?

— Eu deveria ser capaz de me controlar... – Remus desviou o olhar, como se tivesse mais escondido naquela frase.

— Eu não acho certo negar nossa natureza. – coloquei a mão na cintura – Pare de se culpar, sabe que logo ela esquece... A McGonagall adora vocês. E você não a decepcionou.

— Como sabe que não? – ele se virou para mim.

— Porque você é precioso demais para decepcionar alguém. – pisquei um olho e Remus sorriu, ficando vermelho – Aliás, moço, vi que você sumiu ontem de noite... Estava pelos lugares escondidos de Hogwarts com a Dorcas?

— Ah, não. Eu fui até ela, mas aparentemente ela nunca perguntou por mim... Então eu deduzi que o Sirius me mandou para lá porque queria ficar sozinho com você.

— Oh... – foi minha vez de desviar o olhar, já estava esquecida do rápido momento com Sirius na noite anterior.

— Pela sua cara, acho que ele conseguiu o que queria.

— Não! Ele não conseguiu. – respondi rapidamente – Não rolou nada demais.

  Remus apenas riu e continuou seu trabalho. Eu perdi o café da manhã, mas pensando bem, todos perderam, quando terminamos, já era próximo a hora do almoço e todos estavam quase desmaiando de fome, mas tivemos que esperar a professora McGonagall conferir nosso trabalho.

— Espero que tenham aprendido a lição.

— Sim, senhora. – todos responderam prontamente.

— Mas não se animem, ainda não decidi a punição. – ela arrumou os óculos e foi saindo da Sala Comunal – Podem ir almoçar agora.

  Eu estava achando que a punição não poderia ser tão ruim assim, só esperava não estar enganada.

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  A semana passou normalmente, todos estavam se comportando estranhamente bem, com medo de piorar a situação ou para tentar tirar a expressão de decepção do rosto da professora sempre que passava por nós. Ninguém estava bem por ter deixado a Minerva daquele jeito. Na noite de ano novo, alguns alunos foram até dormir antes da meia noite.

  Eu estava sentada na poltrona de frente à lareira, lendo um livro de Defesa Contra as Artes das Trevas e comendo alguns dos chocolates que meus pais me mandaram de presente de Natal quando ouvi algumas pessoas comemorando a virada do ano.

— Hey, Liv! Feliz Ano Novo! – James veio até mim.

— Feliz Ano Novo, Potter. – abaixei o livro e sorri para ele.

— Sei que não podemos nos animar muito, mas não quer ficar com a gente ali? – ele apontou o outro lado da sala.

  Sirius estava sentado no chão ao lado de uma garota do quarto ano, seu próximo alvo, é claro. Lily estava conversando com Remus, mas eu tinha certeza que sua atenção seria do Potter quando ele retornasse.

  Uma rápida explicação sobre a relação entre Lily e James naquele momento: Não sei explicar direito, na verdade. Ele estava “pisando em ovos”, tentando provar que não era um total babaca, se aproveitando das falhas do Snape para ter uma brecha. Cada dia era uma coisa diferente.

  Enfim, eu percebi que era um daqueles dias em que eles estavam só na doçura um com o outro, então fui fazer companhia ao Lupin.

— Claro.

  Nós fomos até o grupo e sentei entre Remus e Sirius. Quando ia cumprimentar a todos, a porta da Sala Comunal se abriu e a Professora Minerva entrou, nós ficamos tensos acreditando que ela estava lá para nos dar uma bronca ou até mesmo para nos dizer finalmente qual era nossa punição, mas não, quem dera fosse isso.

  McGonagall parecia mais perturbada do que irritada. Ela foi até um grupo de garotas do segundo ano e chamou uma delas, pedindo que a acompanhasse. Quando saíram, todos ainda permaneceram em silêncio, trocando um olhar mórbido porque já sabíamos o que aquilo significava. Naquela época estava havendo muitas mortes, todos os dias as pessoas liam os jornais com receio de encontrar os nomes de seus familiares na lista de vítimas do Lorde das Trevas e seus seguidores. Parecia questão de tempo para que ele alcançasse todos... Então, ocasionalmente acontecia do diretor de cada casa aparecer para tirar um aluno de sala e dar a triste notícia de que alguém de sua família foi assassinado.

  E tudo indicava que essa foi a notícia que Minerva levou até aquela garota.