Nós escrita por Graciela Pettrov


Capítulo 19
Passados III


Notas iniciais do capítulo

Capítulo surpresa!



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ATENÇÃO!

ESSE CAPÍTULO CONTÉM:
— Insinuação de sexo
— Insinuação de Violência
— Interação SasuKarin

 

 

 

Quando chegou em casa, encontrou Itachi dormindo no sofá, ainda com as roupas do trabalho. Nem os sapatos ele tirou.

Sasuke ponderou se deveria chama-lo ou deixa-lo dormir em paz, no entanto chegou a conclusão de que seu irmão acordaria todo dolorido se continuasse ali. Afinal Itachi tinha 1,80 de altura.

Se aproximou e começou a sacudir o mais velho, acordando-o.

— Sasuke? Caramba, você chegou agora? Que horas são?

Itachi estava tão grogue de sono que nem percebeu que não estava gesticulando.

Sasuke apenas apoiou o braço do outro em seus ombros e o guiou em direção ao quarto. Adentrando o cômodo o Uchiha mais velho praticamente se jogou na cama. Sasuke teve algum dificuldade em tirar os sapatos e calça dele. Ele não conseguiu tirar a camisa social, pois quando tentara, Itachi se moveu e seu braço por pouco não acerta o rosto do mais novo.

Sasuke finalmente desistiu quando Itachi puxou o cobertor e se enrolou nele como uma panqueca.

Agora em seu quarto, o Uchiha mais novo tirou a própria roupa e seguiu para o banheiro, ligou o chuveiro bem quente e entrou embaixo da água.

Passou a mão no cabelo e então tocou a própria testa onde antes estavam os dedos de Sakura. Apesar da quentura ser o suficiente para sair vapor até por baixo da porta do banheiro, ele sentia que aquele ponto em que ela tocara mais cedo estava em chamas.

 

[...]

 

Ao se ver dentro de seu apartamento, Sakura ainda estava sorrindo. Era um sorriso bobo, talvez a vizinha que entrou com ela no elevador até pensara que ela estava bêbada.

Relembrou o momento em que estava perto de Sasuke, tão perto que podia sentir sua respiração, lembrou da eletricidade que se formara, e da louca vontade de tocar na boca dele. Seus olhos verdes estavam lá, vidrados nos lábios do Uchiha e ela não ousou desviar para os olhos, pois sabia que não se seguraria.

Jamais sentira tanta vontade de beijar alguém como naquele momento.

Ela poderia tê-lo beijado, no entanto sentiu que não era o momento, não ainda. Só fazia uma semana que terminara com Gaara, ainda era muito cedo.

Se Sasuke estava mesmo pensando a mesma coisa que ela naquela hora, então ela sabia que ele a esperaria, respeitaria seu tempo. Mesmo que ele não compreendesse qual era o real motivo de sua hesitação.

Durante o caminho para casa, a Haruno se deu conta de que o Uchiha sequer sabia que ela tinha um namorado, afinal eles nunca entraram nesse tópico.

Sentia que tudo envolvendo Sasuke era diferente, os assuntos, a aproximação, mão só pelo fato de ele ser surdo, mas também por conta de sua personalidade. Se fosse mesmo seguir por aquele caminho, que fosse bem resolvida e decidida.

Se bem que... Sakura já havia decidido.

Agora se encarando no espelho, ela tocou as pedrinhas ainda grudadas em seu rosto. Um pensamento engraçado passando em sua mente: Se aquele fosse seu rosto de verdade, Sasuke faria carinho ali sempre que a visse.

 

[...]

 

Já fazia mais de uma hora desde que Sasuke chegou em casa e estava deitado. No entanto o sono não alcançava. Sua mente trabalhava continuamente, focada em um tópico específico.

A vida era mesmo uma caixinha de surpresas, jamais imaginara, mais cedo enquanto se arrumava para ir ao teatro, que a noite daria toda aquela reviravolta.

Estava ansioso para ver Sakura, claro, eles não se viam a mais de uma semana e quase não houve comunicação, pois aquele projeto final de Kakashi tomara todo o seu tempo. Por sorte, já estava livre da faculdade por todo aquele semestre.

Ver Sakura gesticulando foi como se uma brisa suave e quente passasse por todo o seu corpo, o abraçando de fora para dentro. Aquilo significava tanto para ele e ela não fazia ideia.

Não era apenas uma visão romântica. Não que ele não tivesse sentido ímpeto de segurá-la em seus braços e não larga-la nunca mais...

A questão era que a ideia de que alguém se esforçara tanto apenas para poder entende-lo era encantador. Era Acolhedor. Já fazia um bom tempo desde que Sasuke tivera aquela sensação. A última vez fora com Naruto.

Naruto.

Conversar com Naruto o fez voltar no tempo, e um sentimento nostálgico tomou conta de Sasuke.

Relembrou de sua época de amizade com o Uzumaki. Era como se as imagens se desenhasse em seu teto branco, um filme de todos os momentos de brincadeira, dele ensinando a Língua de Sinais para o mais novo amigo, da excitação de ter mais alguém para conversar além de seus pais, do irmão chato e Pakkun, o cão da família.

Os lábios do Uchiha se abriram em um sorriso fraco, era uma criança tão ingênua que até mesmo “conversava” com o cachorro.

O Sasuke criança achava que o animal não sinalizava de volta porque ainda não havia aprendido a Língua de Sinais.

O Sasuke criança todos os dias tentava ensinar Pakkun a gesticular e esperava pacientemente ele gesticular de volta.

O Sasuke criança não desistiu de ensinar Pakkun mesmo depois de conhecer seu vizinho loiro e tornarem-se amigos.

O Sasuke criança era tão feliz.

As imagens se desfizeram, restando apenas uma dele e Naruto com quatorze anos jogando videogame na casa do Uzumaki. Por um logo período foram apenas os dois, pois Naruto era muito encrenqueiro com as outras crianças, e por conta disso não tinha outro amigo além de Sasuke.

Só um pouco depois os demais foram se juntando à dupla, no total a adolescência de Sasuke entre os 12 e 14 anos foram passadas com Naruto e mais três amigos.

Isso o fez lembrar de alguém em quem não pensava há muito tempo: Karin Uzumaki, a prima de Naruto.

A garota ruiva se mudou para a casa dos tios quando eles tinham treze anos, ela já tinha quinze. Pelo o que Sasuke soube na época estava havendo algum problema com os pais dela na outra cidade onde moravam, então tiveram que manda-la passar um tempo na casa de Kushina e Minato.

A garota tinha uma expressão grave por trás dos óculos de grau que usava. Quando a viu pela primeira vez, Sasuke não pode definir se ela estava brava, feliz ou só entediada.

Era uma incógnita.

Depois de um mês de sua chegada, e mesmo o Uchiha indo diariamente na casa dos Uzumaki, a ruiva e ele fingiam não saber da existência um do outro.

Somente um ano depois que estava morando na casa de Naruto, foi que Karin tentou se aproximar do amigo de seu primo.

Ela obviamente já sabia que ele não ouvia e tampouco falava frases com sentido, mas não era nisso que estava interessada. O que a Uzumaki percebeu foi que o Sasuke de quatorze anos surpreendentemente não lembrava em nada o molequinho de treze que ela via jogando videogame com Naruto.

 

 Você é fofo.

 

Foi o que ele leu em uma folha de caderno que era segurada por uma Karin passiva.

Ele estava em seu quintal observando Pakkun enquanto o cachorro parecia procurar um lugar para fazer xixi, quando sentiu algo cutucando seu ombro. Olhou para o lado e Karin estava do outro lado da cerca com o braço esticado enquanto alcançava ele com um marcador de texto.

Percebendo sua atenção ela segurou a folha de papel na frente do rosto virada para Sasuke.

Era difícil saber quando alguém estava sendo legal com ele ou apenas fingindo, afinal devida tantas circunstancias, Sasuke exalava condescendência nas pessoas que o conheciam.

Afinal ele era fofo, não era? Tinham que ser legais com ele, certo?

Karin estava sendo legal com ele?

É certo que ela nunca fora gentil com ele antes, mesmo que já fizesse um ano que se conheceram, mas ela também não fora qualquer outra coisa. Era neutra à presença dele até aquele momento.

Sasuke aceitou sua gentileza.

Ele não poderia reponde-la, uma vez que ela não sabia Língua de Sinais, então esperou ela tirar a folha da frente para olhá-la e sorrir.

Ela o encarou gravemente por um breve instante, depois sorriu de volta e então se afastou para dentro da casa.

 

Depois desse dia vieram mais e mais encontros na cerca, que pouco depois evoluíram para encontros na calçada e logo um assustado Sasuke se viu sendo arrastado escada acima, em direção aos quartos da casa dos Uzumaki.

Mesmo que estivessem nessa situação há mais um mês, Sasuke ainda não entendia absolutamente nada das intenções de Karin. Ele não conseguia desvendar seu humor ou imaginar o que estava pensando.

A única coisa que ele sabia era que ela não estava interessada em aprender Língua de Sinais, pois continuava resoluta em usar o papel e marca texto, mesmo quando o Uchiha escrevera um dia que poderia ensiná-la como fez com Naruto.

Ela negou veemente e voltou a escrever no papel como se ele não tivesse dado a sugestão...

 

 

Sasuke suspirou, os olhos ainda no teto do quarto. Algumas partes daquela lembrança fugiam-lhe à mente, como se fossem fumaça ao vento.

Karin era uma garota de mil faces e Sasuke nunca, por mais que tenha tentado, conseguiu criar um sinal para ela. Ele sentia que nunca a conhecera de verdade, nunca enxergara sua essência.

Nem mesmo Naruto sabia de seu envolvimento. Era segredo absoluto, essa era uma das regras dela. Havia outras regras também.

 

 

Quase dois meses depois que Karin o chamou de fofo, ela abriu o jogo sobre o que queria de Sasuke.

Foi no dia em que Naruto fora suspenso na escola e os pais dele tiveram que ir até à instituição. Karin arrastou um Sasuke confuso para o seu quarto, e não dando chance de ele questionar o que estava acontecendo, ela tirou a blusa junto com o sutiã, pegou a mão dele e a colocou em seu seio.

Quando ela começou a tirar o resto das roupas e acenou para que ele fizesse o mesmo, tudo o que o Uchiha fez foi a acompanhar.

Aquela foi a primeira vez que fizeram sexo, de mais seis vezes no total.

Ela tinha dezesseis anos, era linda.

Sasuke sabia que tinha sua dose de culpa, mas ele era um adolescente bem como todos os outros, seu corpo pedia por toque feminino.

Não resistiu, aquilo era a verdade.

 

 

Outro suspiro. Os olhos secos de olhar para o teto.

Apesar de lembrar de ter sentindo o prazer do sexo, as memórias do ato em si não eram nítidas em sua mente. As duas primeiras vezes por si só já pareciam surreais demais para ser verdade, principalmente depois, quando ela escreveu que era virgem e que estavam “treinando”.

A maioria da memória dessa época era fragmentada. Exceto por algumas partes, algumas ficaram cravadas, uma delas era a regra dela do travesseiro.

 

 

Depois da primeira vez, Karin adotou como regra segurar o travesseiro na cara de Sasuke quando estava por cima dele.

Um dia em particular ele quase sufocara, pois ela havia se apoiado em cima do travesseiro que cobria o rosto dele.

Sasuke o tirou e deu um pulo da cama, enquanto passava a mão no peito, estava sem ar.

Desde aquele dia, a Uzumaki parara de colocar o travesseiro, ela na verdade passara a entregar para que ele mesmo o segurasse.

Poucas semanas depois, ele a questionou. Enquanto ela tinha ido ao banheiro, ele tomou coragem e escreveu:

— Por que faz isso? Por que cobre meu rosto?

— Você faz uma cara muito estranha.

Sasuke sentiu-se murchar.

Ele era uma garoto de quatorze anos, até então virgem, que nunca sequer tinha tocado em uma garota.

Ouvir aquilo o marcou profundamente.

“Mas todos não fazem uma cara estranha?” Ele quis retrucar na época, porém não o fez.

O que ele fez foi pegar o travesseiro e cobrir o rosto como ela falara, já que olhar para ele a desagradava tanto.

 

 

Sasuke tentou lembrar de antes, de quando ela fingia ser boazinha e as coisas eram boas para ele, mas nada concreto veio a sua mente.

Era incrível como as coisas que te machucam são as que mais grudam em sua memória. Pois ele recordava-se claramente do dia que tentou beijá-la e ela o empurrou, à pontapés, com tanta força que ele quase caiu da cama.

Karin e ele não se beijavam. Nunca.

Ele estava sentado na cama com ela em seu colo, no meio do ato. A posição deixava seus rosto frente a frente e a centímetros de distância, Sasuke aproximou suas bocas quando ela fechou os olhos, um simples encostar de lábios. Karin de repente abriu os olhos, saiu de cima dele e começou a lhe dar pontapés onde seus pés alcançavam.

Devido a posição em que estavam e rapidez de ação de Karin, Sasuke nem teve tempo de desviar, sentiu uma do horrível quando ela acertou um chute em seu membro ainda sensível.

Ele não se ouviu, mas soltou um gemido de dor quase choroso. Já ela falava alguma coisa enquanto o chutava, mas ele não conseguia identificar o que era.

Passado o momento e vendo que havia realmente o machucado, ela até tentou justificar o ato, escrevendo um texto enorme e entregando a ele quando o mesmo se vestia para ir embora.

Em casa, quando chegou no quarto e tirou as roupas, a primeira coisa que fez foi ir se autoexaminar em frente ao espelho. Constatou o que temia: estava com um hematoma na sua genital. O arroxeado já estava se fazendo visível. Não era muito grande, mas por ser em um local tão sensível, tornava-se tão pior quanto um hematoma grande em qualquer outra parte do corpo.

Seus braços e tórax, onde ela também havia acertado, não estavam roxos, apenas um pouco doloridos.

Sasuke tomou banho, sempre muito cuidadoso para não tocar no machucado. De volta para o quarto, sentou-se na cama e decidiu ler o que Karin havia lhe entregado.

 

Eu já fui usada e descartada por outros idiotas, então um dia simplesmente decidi que faria o mesmo. Infelizmente o escolhido foi você.

Mas veja pelo lado bom, pelo menos você tem ciência disso, certo? Eu não te deixei no escuro quanto a isso.

Mas eu também te falei as regras, e você tentou quebrar uma.

 

Depois de ler mais uma vez para ter certeza de que entendera bem, amassou o papel e o jogou no lixo.

Karin chegara ao ponto de não querer sequer beijá-lo, aquilo era humilhante.

Muito mesmo.

Se sentiu péssimo com aquilo, teria sido melhor se não tivessem se conhecido.

Naquela noite, Sasuke não sabia o que doía mais, se seu machucado ou o peso daquelas palavras.

 

...

 

Após aquele dia o envolvimento deles chegou ao fim. O Uchiha passou alguns dias sem ir na casa de Naruto, pois o mesmo ficara de castigo e fora proibido de jogar videogame. Karin não apareceu mais em sua cerca.

Eles só foram voltar a se comunicar, de fato, três meses depois, quando uma Karin afoita o avistou no quintal e foi correndo para a cerca.

Ela trazia outra folha de caderno em mãos, mas ela não a segurou como da primeira vez.

Ela não se esticou toda para alcança-lo e chamar sua atenção.

Ela não esperou ele ler e sorrir para sorrir de volta.

Ela simplesmente amassou o papel em forma de bola e a jogou, mirando na cabeça de Sasuke.

Ela não esperou ele vê-la, nem as lágrimas que pareciam transbordar de seus olhos.

Se Sasuke pudesse ler os pensamentos de Karin, ele saberia...

 

Ele saberia o quanto ela estava se detestando naquele momento. Aos dois.

Ele saberia que, na visão dela, ele a fez virar a vilã da história, ser a pessoa má que só o usou para benefício próprio.

Ele saberia que ela se apaixonou por ele na primeira vez que o viu jogando videogame com Naruto na sala de estar.

Ele saberia que ela desistiu dele assim que soube como ele era: que não ouvia e nem falava.

Ele saberia que, se não fosse quebrado, ela poderia tê-lo amado.

 

Você é fofo, é o que você é.

Sabe Sasuke, você me lembra muito um cachorrinho que meus pais me deram de presente de 9 anos.

 

Foi a ultima coisa que ela escreveu para ele antes de ir embora, de volta para a casa dos pais. As palavraras tão parecidas com as primeiras dela de cinco meses atrás, mas também tão venenosas.

 

Três semanas depois de ler essas palavras, Sasuke viu seus pais serem assassinados.


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