Nós escrita por Graciela Pettrov


Capítulo 1
Problema Matemático


Notas iniciais do capítulo

É uma Longfic.
Boa leitura.



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Ela se via em mais um dia daqueles: tedioso, nublado e frio. Tão frio que deixava seu nariz vermelho e sua respiração visível. Detestava o clima daquela cidade, o céu estava sempre em uma cor acinzentada e quase nunca se via o sol. Nem mesmo quando ele devia aparecer.

Mas não era só isso que a fazia querer arrancar os cabelos. O fato de ter que estudar em pleno inverno também não a agradava nenhum pouco. Principalmente quando era matemática, como naquele momento. Não entendia porque uma pessoa que cursava cinema precisava estudar isso. 'A matemática está em todos os lugares, senhorita Haruno. E também é uma das matérias essenciais que todos têm que ter em seu histórico' foi o que o reitor dissera dois anos atrás quando ela viu a matéria em seu horário no primeiro dia de aula e foi reclamar.

Sakura olhou ao redor da sala de aula e observou seus colegas de turma, desde os lugares mais abaixo até os que estavam ao seu lado na parte alta. Eram dez fileiras composta de dez cadeiras cada, somando cem lugares, todos devidamente ocupados — uma vez que todos os cursos tinham esta matéria como obrigatoriedade. Não conseguia deixar de comparar a sala da faculdade com uma pirâmide social: na parte de baixo, nas duas primeiras fileiras (e consequentemente mais próximo aos quadros e a mesa do professor) ficavam os alunos aplicados e mais inteligentes, ou seja, os bons e velhos nerds;

Nas cinco do meio, uma variedade de diferentes tipos de alunos sentava-se de forma dispersa, desde o nerd que não era tão nerd assim aos desinteressados que apareciam nas aulas sabe-se Deus por qual motivo;

E acima, nas três últimas fileiras, no topo e bem longe do professor, era onde Sakura e seus amigos sentavam. Tratavam-se dos atletas: a equipe de basquete, natação e, obviamente, as líderes de torcida. Que era onde ela se encaixava.

O interessante disso tudo é que no colegial Sakura simplesmente desdenharia da equipe de cheerleaders. Mas na faculdade a coisa era diferente, as equipes de cada instituição do estado competiam entre si através de eventos organizados pelos reitores e professores de educação física. E como não havia time feminino de basquete, e ela praticamente só sabia nadar o suficiente para não morrer afogada, optou por torcer pelos que sabiam. Acabou pegando gosto pela coisa. Sem falar que ela ainda tinha direito a meia bolsa por participar da equipe.

Seus olhos pararam nos quatro quadros brancos dispostos a sua frente, repletos de números e fórmulas matemáticas alternadas entre pinceis de cor preta e vermelha. Sentiu náuseas. Não entendia nada daquilo que o professor havia escrito, apesar de ele já ter explicado duas vezes no primeiro tempo.

— O Kakashi pegou pesado hoje, hein?! — Uma das garotas ao seu lado falou de forma indignada. Era Ino Yamanaka, a pessoa mais próxima de uma amiga que Sakura arrumara desde que chegara ali — Normalmente ele só usa dois quadros. Um já era o suficiente! — Continuou, desta vez falando mais alto, pois o professor havia saído há alguns minutos e os deixara escrevendo.

Um dos alunos da frente ergueu a cabeça e virou-se para Ino, mandando-lhe um olhar repreensivo.

— O quê? Se você gosta de ficar com as mãos doloridas de escrever problema seu! Eu não gosto. — Retrucou. Seus amigos de cima concordaram e outros sorriram.

Antes que Sakura falasse algo, Kakashi adentrou a sala carregando alguns papeis, colocou-os sobre a mesa. Ficou de frente para a turma, olhou para o relógio em seu pulso, depois bateu uma mão na outra.

— Peeen. Tempo esgotado! Espero que já tenham terminado.

Então aconteceu a sincronia de sempre: os alunos da frente fechavam seus cadernos; metade dos do meio pareciam nem ao menos notar a presença do professor; e os de cima tiveram reações variadas: alguns reclamavam, como Ino, outras apenas bufavam e fechavam seus cadernos, e outras pediam por mais tempo, como Sakura.

— Nada disso. Dei vinte minutos para copiarem, agora vamos resolver... ou querem ficar aqui até depois do sinal tocar? Porque só serão dispensados quando tivermos uma bela e correta solução para essa maravilha aqui. — Disse ele batucando em um dos quadros e depois indo sentar na ponta de sua mesa. Parecera um bom argumento, pois todos se calaram e passaram a se concentrar nos quadros.

Kakashi Hatake era um professor querido por praticamente todos os alunos, coisa bem diferente de sua matéria. Ele era o mais jovem do corpo docente e de longe o mais divertido. Conseguia fazer as aulas menos chatas possível. Mas mesmo com isso parecia que os conteúdos não entravam na cabeça de Sakura. Ela estava indo muito mal na matéria e sabia disso.

Seguiu o exemplo dos demais e encarou os quadros como se a resposta fosse sair de lá se ela apenas o olhasse bastante, no entanto, não saiu. Desviou os olhos para Ino e viu que a loira tentava olhar o caderno da pessoa à frente, uma fileira abaixo delas, mas pareceu frustrada por as folhas estarem piores que a delas. A loira endireitou seu corpo e pegou Sakura a olhando.

— Que droga. Ninguém tem a resposta — bufou — Pelos menos ninguém daqui de cima. — Cochichou e apontou a cabeça para baixo, na direção das duas primeiras fileiras.

— Nem me fale. Acho que vamos passar o intervalo todo aqui. — Sakura respondeu e repreendeu-se na mesma hora, pois encontrou o olhar de Kakashi direcionado para as duas. Ele levantou da mesa, pegou um lápis que estava em cima da mesma e começou a andar deliberadamente de um lado para o outro. Seus olhos captando cada aluno até pararem novamente em Sakura e Ino.

— Droga... — A Haruno ouviu a outra resmungar.

— Eu obviamente já sei a resposta, mas vou perguntar mesmo assim: — Alguém vem em socorro a seus colegas e se voluntaria a resolver esta equação? — Seus olhos continuavam na fila de carteiras de cima. Uma garota da segunda fileira estava a meio caminho de erguer a mão quando o Hatake fez um gesto para que parasse.

— Não, não, não. Eu gostaria que alguém da oitava, nona ou décima me presenteasse com essa alegria — silêncio e resmungos foram ouvidos — Ninguém? Vamos lá pessoal, não é necessário acertar de primeira, afinal estamos aqui para aprender!

Por um momento Sakura cogitou levantar a mão, mas fora barrada por Ino que a segurou e lhe lançou um olhar que dizia claramente 'Nem pensar!'. A Haruno desistiu e quando a loira soltou sua mão toda sua coragem se esvaiu. De fato, o que Kakashi disse era certo, que não havia problemas em errar na primeira, mas o caso é que não seria legal dar uma de burra na frente da turma. Era mais aceitável perder a ida para o refeitório.

O homem suspirou — Certo, terei que escolher então — ergueu novamente o lápis e passou a apontá-lo para ninguém em especial. Os alunos se encolhiam como se estivessem sob a mira de uma arma. — E o contemplado de hoje é...  Haruno.

— O quê? — Sakura estava atônita. Quando foi que ele apontou aquele maldito lápis para ela?

— Você mesmo, querida. Venha, venha. O almoço de hoje é atum e eu adoro atum!

A ideia de atum e matemática deu a Sakura vontade de vomitar. Ela detestava as duas coisas.

Desceu os degraus entre as fileiras com a melhor pose que pôde e pegou o pincel que Kakashi a oferecia solenemente. Dirigiu-se ao primeiro quadro. Continuava tão indecifrável de perto quanto lá de sua cadeira. Virou-se para as carteiras e deteve seus olhos na primeira em busca de alguma ajuda, mas tudo que recebeu em troca foram olhares e risinhos desdenhosos. Os nerds da faculdade também eram diferentes dos colegiais.

Fez uma careta e voltou para o quadro. Não adiantava olhar para sua turma da décima, eles estavam no mesmo barco que ela. Só que o deles era o equivalente a um iate e o dela uma canoa que já se encontrava afundando.

 Resolveu afundá-la de vez:

— Eu não faço ideia por onde começar — confessou dirigindo-se ao professor — Pode me reprovar se quiser. — Então entregou o pincel e voltou a subir rumo a sua carteira. Todos a olhavam boquiabertos e aquilo era horrível. Piorou ainda mais quando ela viu o professor escrever algo em seu diário escolar.

— Muito bem, muito bem. Senhorita Wells, pode nos dar a honra? — Perguntou para a garota que levantara a mão antes. Ela pegou o pincel, foi para o primeiro quadro e passou a escrever rapidamente. — Vocês têm sorte de hoje ser atum.

Apesar de falar no plural, Sakura teve quase certeza de que aquele comentário de Kakashi era direcionado para ela.

[···]

Por um ínfimo momento ela se deu o desfrute de gostar de atum. Mas esse momento passou rapidamente quando chegou ao refeitório e sentou ao lado de Naruto na mesa enquanto ele devorava-os como se fosse um canibal.

Sentiu um braço sobre seus ombros. Era Gaara. Ele, Naruto e metade do time de basquete não tinham a aula de Kakashi. A sala deles era outra assim como o professor, mas a matéria era a mesma. Isso amenizou seu constrangimento, pois se Naruto tivesse visto estaria rindo até agora e Gaara, bom, ele era seu namorado, sentiria vergonha por ela.

— E então como foi a aula de vocês? — Gaara perguntou alternando o olhar entre ela e Ino.

Sakura as vezes detestava isso, ele sempre envolvia outras pessoas entre eles. Sempre. Em tudo. Nunca era apenas 'Sakura e Gaara', era sempre 'Sakura e Gaara e Ino e Naruto e o resto da equipe de torcida misturada com o time de basquete'. Às vezes imaginava seu namoro com algo por conveniência, tanto por parte dele quanto da dela, mas não se aprofundava na hipótese.

Já estava pronta para evitar o assunto de que ela possivelmente seria reprovada em matemática quando Ino desatou a falar:

— A aula hoje foi interessantíssima. Sakura fez até questão de ir à frente e demonstrar toda sua inteligência. — Dizia ela entre risadinhas enquanto contava o que ocorrera.

Sakura se obrigava a fingir que ria e achava engraçado. Ino era tão linguaruda que a tirava do sério!

— Que doidera, você não tem medo dele te reprovar, Sakura? — Naruto perguntou depois de se recuperar de um quase engasgo de tanto rir.

É claro que ela tinha medo, estava morrendo de medo, na verdade. Temia que isso refletisse em sua atuação na equipe e, consequentemente, em sua bolsa. Ela morava sozinha na cidade e seu emprego de meio período na loja de música quase não era o suficiente para pagar a outra metade das mensalidades e não deixá-la morrer de fome.

Por Deus! Só agora vira a extensão do problema que arrumou para si mesma! Corria o risco de perder o resto do ano! Precisava falar com Kakashi.

— É óbvio que ela tem, idiota! O reitor não vai deixar ela disputar as estaduais se reprovar. — Ino respondeu pela amiga. Ela parecia mais chateada com o fato de a Haruno não sair na equipe do que o risco iminente de uma reprovação em matemática.

Sakura sentiu-se novamente enjoada e não era por causa do atum.


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