Família De Marttino Uma Segunda Chance(degustação) escrita por moni


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Genteeeeeee
Espero que gostem. Obrigada pela confiança. Por me acompanharem e por começarem essa nova caminhada comigo. Estou feliz. Emocionada e grata por existirem. Aos novos leitores essa é a segunda história.
A primeira é Sacrificio de Amor. Quem sabe decidem ler.



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   Pov – Filippo

   O helicóptero levanta voo com Bianca ainda vestida de noiva. Aceno para o casal. Meu melhor amigo finalmente conseguiu acertar a vida e está feliz com a namorada. Agora esposa.

   Enzo não é só meu melhor amigo. É meu sócio também. Quando começamos com nossa agencia de publicidade. Depois de termos estudado juntos desde a infância até o ensino superior. Achei que levaria mais tempo para conseguirmos algum sucesso profissional. Acontece que meu melhor amigo e sócio é também um herdeiro do nome De Martino.

   Nossa primeira conta foi justamente com o vinho De Martino. Famoso no mundo todo e depois do sucesso com a marca De Martino foi fácil conseguir novos contratos e temos agora um bom grupo de clientes alto nível.

   Eu que sempre fui um jovem classe média, filho único de um casal de trabalhadores agora posso dar aos meus pais algum luxo e muita tranquilidade. Essa é sem dúvida a melhor parte.

   Pessoalmente nunca liguei muito para qualquer luxo. Namorar Paola Rugani por oito anos me mostrou os dois lados do mundo. Paola é filha de um industrial milionário e estive em muitas festas e jantares luxuosos. Conheci muita gente boa, mas também vi de perto a futilidade de gene rasa e sem qualquer respeito pelo próximo. A vida de ricos e famosos nunca encheu meus olhos.

   Nosso namoro não acabou da melhor maneira. Primeiro ela decidiu viver em Paris. Deixar a Itália por algum tempo para se aventurar em um universo que nunca me atraiu foi até aceitável. Não fosse isso, talvez eu não descobrisse meus sentimentos reais por ela. Nossa história se desgastou e no fim eu nem sei se algum dia a amei.

   A história podia ter simplesmente acabado em uma bonita amizade. Teria sido assim se dependesse de mim, mas Paola perdeu a cabeça. O juízo ou apenas se descobriu. Não sei, ainda não tenho vontade de descobrir, mas abrir um site de fofocas de celebridades e dar de cara com minha namorada de oito anos beijando o famoso estilista Paco Sturano não foi algo fácil.

   Não nos falamos desde aquela tarde. Não sei se um dia vamos nos falar de novo. Não a odeio, apenas não quero pensar em nada disso.

   Hoje é dia de festa na Vila De Martino e acabo de ser padrinho do casamento do casal mais legal que conheço. Meu amigo passou por muitas coisas difíceis e merece essa felicidade.

   Os De Martino enfrentaram dias difíceis. A morte do irmão caçula do jeito mais dramático que podia acontecer. A separação por três anos de Enzo e Bianca. A descoberta do filho Matteo. Tudo acontecendo ao mesmo tempo.

   Me sinto parte da família e passei por tudo ao lado dele. Hoje, mesmo que a família ainda esteja aprendendo a superar, eu sinto que um dia eles vão ser felizes.

   Kiara está com Matteo no colo, mostrando o helicóptero se distanciar enquanto o garotinho mais fofo que existe acena para os pais indo para a noite de núpcias.

   Kiara De Martino é a irmã mais nova de Enzo. Eu a conheço da vida toda. De uns anos para cá ela mudou. Ficou fechada, se envolveu com gente que não presta, passou a beber, sair com todo tipo de caras, perdeu o respeito por si mesma. Isso me incomoda e tira o sono.

   Não entendo bem por que me sinto assim, mas penso nela, me preocupo e queria achar a garota doce que existia e agora está encoberta por muita maquiagem e quase nenhuma roupa. Escondida sob algumas doses de vodka a mais e uma raiva do mundo que ela despeja em um humor cítrico e muita ironia.

   Fomos padrinhos juntos. Eu num terno elegante e escuro. Ela num mini vestido preto, decotado e com botas acima dos joelhos. Aliás ela nunca anda sem elas. A maquiagem exagerada não escondeu o brilho nos olhos e a emoção quando o irmão disse sim e os noivos trocaram suas juras. A Cara de concha como a chamo desde criança ainda está lá dentro, só não sabe como sair.

   A capela pequena da Vila De Martino com seus poucos convidados passou por um pequeno burburinho quando ela entrou. Se chocar seus convidados e mesmo o padre era seu plano ela teve sucesso. Eu ri, no fundo achei divertido.

   Não gosto de levar as coisas as últimas consequências, não gosto de colocar peso em nada. A vida por si já é bem complicada e cheia de surpresas ruins, prefiro então olhar para o belo, o novo e aposto minhas fichas sempre nas boas surpresas. Elas também acontecem.

   O helicóptero desaparece e olho em torno. A festa continua com seus convidados espalhados em conversas leves regada a muito vinho e comida Toscana. Típico. Somos italianos e claro, somos barulhentos, expansivos e isso fica claro até mesmo quando estamos entre os milionários De Martino e suas tradições de quinhentos anos.

   ― Volta para Florença conosco? – Meus pais se aproximam. Franco e Carmela Sansone são minhas pessoas preferidas no mundo. Mamãe é a pior cozinheira que existe. Não tem meios dela aceitar isso. Carmela está sempre tentando e papai sempre fingindo que gosta, mas ele tem uma conta no restaurante ao lado do trabalho onde ele costuma fazer algumas refeições durante a semana. Os dois estão juntos há trinta anos. Felizes do jeito deles.

   Acho que o fim do meu namoro com Paola machucou minha mãe muito mais do que a mim. Ela gostava e acreditava no futuro da nossa história. Não aconteceu e acho que leva um tempinho para ela compreender e perdoar Paola.

   ―Não papai. Vou até amanhã. Prometi ao Enzo levar a Kiara e o Matteo.

   ―Eles não vão viajar em lua de mel? – Mamãe pergunta. Para sua cabeça simples um casal de recém-casados precisa de uma lua de mel romântica.

   ―Vão mamãe. Só que o Matteo vai junto. O garotinho tem dois anos. Não pode ficar sozinho. Eles vão passar um mês fora.

   ―Ah! Um mês é mesmo muito tempo. – Meu pai comenta se servindo de mais uma taça de vinho.

   ―Querido eu vou dirigir. Você já bebeu demais.

   ―Carmela eu estou ótimo, mas pode dirigir se fica mais calma. – Papai nunca discute com ela e acho que herdei essa impaciência com brigas dele. – Sua mãe tem uma mania de achar que qualquer taça de vinho me derruba.

   Um garçom passa por nós servindo doces e meu pai se serve de um Canolli.

   ―Esse doce está uma delicia. Tratei de ir atrás do chef e pegar a receita. – Meu pai quase cospe o doce e engulo a vontade de rir.

   ― Sério mamãe? Tenho certeza que o papai vai amar. Olha como ele gosta. Quem sabe faz amanhã mesmo?

   ―Boa ideia. Amanhã amor. Vou fazer um almoço leve e de sobremesa Canollis. Tem vários recheios.

   ―Amanhã? – Papai me olha, sinto a vingança se aproximar, os olhos faíscam quando algum plano maligno se forma em sua mente perversa e vingativa. – De jeito nenhum amor. Amanhã não. No próximo fim de semana. Filippo vai estar de volta e exijo que passe o domingo conosco. Você faz um almoço especial e de sobremesa Canolli.

   ―Tem razão. – Mamãe passa o braço pelo meu. Papai ri de modo maléfico. Faço minha cara de bom filho. É um meio sorriso que treinei desde a primeira infância. Eu o uso a cada refeição. – Vao gostar filho. Vou fazer um almoço digno de uma ceia de natal.

   ―Eu vou... amar. Obrigado pela ideia incrível papai. – Ele faz uma mesura.

   ―Eu te amo filho. Estamos nessa juntos. Você sabe. – Papai me dá um tapinha no ombro. Beija os lábios da minha mãe. Se tem uma coisa que ele me ensinou, foi que o amor está acima dessas pequenas questões. – Vamos Carmela. Temos horas de estrada.

   ―A Pietra convidou vocês para passarem a noite aqui. Tem certeza que querem ir agora?

   ―Sim. Será romântico. – Mamãe sorri. – Eu e o papai pegando a estrada sozinhos, com boa música, estamos bem. – Minha mãe me abraça. – Cuidado amanhã na estrada com essa criança.

   ―Pode deixar mamãe. Boa viagem. – Meu pai me abraça.

   ―Bebi demais, vou dormir todo o caminho e ela vai ficar uma fera quando chegarmos. Amanhã de vingança não vai cozinhar.

   ―Que pena papai. Acho que amanhã eu ligo e me certifico que ela vai cozinhar qualquer coisa. Você vai precisa se alimentar bem para curar a ressaca.

   ―Faça isso e vai conhecer minha fúria. – Ele me abraça de novo. Mamãe se despedindo de vó Pietra. Ela não é minha avó, mas me trata com carinho desde menino e gosto dela.

   Acompanho meus pais até o estacionamento, espero que entrem no carro e quando o carro pega a estrada eu volto para a festa.

   ― Achei você. – Kiara se aproxima com Matteo no colo. – Fica um pouco com ele.

   ―Oi bebê. – Pego Matteo no colo. Ele é um garotinho bem alegre, vai para a agência as vezes e somos próximos. – Onde vai? – Pergunto quando Kiara começa a se afastar.

   ―Banheiro. Posso? Já chega ele que resolveu estranhar todo mundo. Os pais partiram e ele não quer nem a vovó. – Ela fala enquanto vai caminhando e eu a seguindo com Matteo no colo. – Filippo você pretende me acompanhar no banheiro?

   ―Não. Estou sendo educado. Você anda falando, estou... te ouvindo cara de concha.

   ―Vai para o inferno! – Ela me xinga, me faz rir. As pessoas em torno nos olham chocadas.

   ―Inferno tio? – Matteo repete, Kiara revira os olhos e se afasta apressada.

   ―Essa sua tia é muito chata.

   ―Chata.

   ―É, mas vamos melhorar esse seu vocabulário. Amanhã quando te devolver aos seus pais não quero reclamação. Já chega sua tia com a boca suja e o humor ou a falta dele.

   ―Bola.

   ―Claro, bola. Sempre bola. Eu vou te ensinar umas brincadeiras novas. Umas em que a pessoa fica parada.

   Olho em torno. Deve ter uma bola em algum canto dessa festa chic. Não tem um brinquedo, uma diversão para as crianças. As pessoas acham que bolo de chocolate resolve, mas crianças precisam de mais do que isso.

   Vittorio está numa roda de homens elegantes conversando. Todos devem ter pelo menos o dobro da idade dele. Não sei como ele aguenta esse mundo chato dos executivos, mas é o irmão mais velho e dono da Vila de Martino, deve saber como consigo uma bola para o garotinho.

   ―Bola tio.

   ―Calma aí pequeno. Vamos pedir ao tio Vittorio.

   ―Tio. – Ele aponta Vittorio com o dedinho gordo e quero morder a mãozinha.

   ―Vittorio, você tem por aí uma bola de futebol? – Olho para os homens em torno dele. Vittorio faz um ar engraçado de quem quer correr para longe de mim e do sobrinho. Os dois definitivamente não tem uma relação. – Desculpem a interrupção. Tem Vittorio?

   ―Por que eu teria uma bola?

   ―Por que é italiano? Por que tem um sobrinho? Por que eu estou desesperado? Se ele começar a chorar pedindo os progenitores, sabemos que evitar os nomes é melhor, eu caço você e te entrego ele.

   Dá para ver que a ideia de ficar com o menino causa erupções alérgicas em Vittorio De Martino. Os olhos arregalam.

   ― Me dão licença? – Ele pede aos convidados e depois faz sinal me pedindo para acompanha-lo. – Cadê minha irmã? Ela não tinha que cuidar do menino? Vocês dois não se ofereceram para ficar com ele até amanhã?

   ―Ninguém se ofereceu. Não foi bem assim. Fomos induzidos. Sua irmã foi ao banheiro atender a um chamado da natureza.

   ―Não precisa de detalhes Filippo. – Ele reclama. – Vamos ao quarto do Enzo. Deve ter uma bola lá.

   ―Papai. – Matteo faz bico e olha para o céu lembrando do helicóptero.

   ―Olha aí o que fez? Não fala o nome. Quem vai jogar bola com o tio Filippo lindo?

   ―Eu! – Ele ergue os braços rindo, esquece que pretendia chorar e fico aliviado.

   ―Acha que ele é bipolar? – Vittorio pergunta estranhando a mudança de comportamento.

   ―Não Vittorio. Ele é só um bebê.

   Chegamos a casa, agora é só atravessar os possíveis dez mil metros e chegamos no quarto. Vittorio sobe as escadas na minha frente. Fico em dúvida se fugindo de mim ou do sobrinho.

   ― Aposto que meu irmão deve ter deixando os brinquedos do menino aqui. – Ele abre a porta do quarto. – É só você.... procurar. – Vittorio me encara e decido me aproveitar um pouco do seu desespero para rir.

   ―Certo. Vai trocando a fralda dele enquanto faço isso. – Olhar horrorizado me faz prender o riso.

   ―O que disse?

   ―Fralda Vittorio. Trocar o menino. Toma ele. – Ofereço o garotinho. Vittorio dá dois passos para trás. Correria para longe se as pernas respondessem ao seu pânico.

   ―Nem pensar. Eu procuro a bola. Não me comprometi com ninguém. Vocês são sócios então... se vira.

   ―Vai deixar um De Martino ficar assado e com dor? Cara, achava que a família e tal sangue De Martino fossem importantes para você.

   ―O que estão fazendo aqui? – Kiara surge para alivio de Vittorio.

   ―Pronto. Ela te ajuda. – Vittorio desaparece em meio segundo. Kiara me olha sem entender.

   ― Estraga festa. – Reclamo. – Estava torturando seu irmão.

   ― Com sucesso pelo pânico que vi nos olhos dele.

   ― Bola tia, sumiu. – Ela sorri derretida e dá para ver a doce Kiara de volta num pequeno vislumbre do que um dia foi. Chega a tocar meu coração quando ela abre os braços convidando o garotinho que se atira para ela encantado.

   ―Sumiu meu bebê? Vamos procurar. – Ela beija o rostinho corado. – Filippo pega ali a bola. No cesto de brinquedos dele.

   Tem mil brinquedos no cesto. Achar a bola é difícil. Quase preciso mergulhar nele. Quando encontro e me ergo o pequeno bate palmas. Se estica e contorce.

   ―Aqui.

   ―Vai jogar bola com ele?

   ―Sim. Quer jogar?

   ― Não. – Ela nem inventa uma desculpa. Essa é Kiara e sua honestidade. – Pega essa cesta de brinquedos e leva para o meu quarto? Ele vai dormir lá comigo.

   ― Pego. – Ergo a cesta. Matteo carrega a bola. Caminho até o outro lado do corredor, Kiara abre a porta do quarto e entro com o cesto. Deixo no chão, passo os olhos pelo lugar. Não tem muita coisa. O quarto é meio sombrio. Umas caixinhas de música do século passado, móveis antigos. Tem uma penteadeira de madeira. Um espelho todo trabalhado. Um guarda-roupa escuro. – Kiara, eu acho que algum fantasma mora aqui com você. Aposto que esse quarto pertenceu a algum De Martino que deve ser muito apegado a essas coisinhas de mil oitocentos e três.

   Kiara abre uma das caixinhas de música e o som invade o quarto me causando calafrios. Ela ri.

   ―Foi o quarto da vovó Pietra de solteira. Não mudei nada. Quase nunca venho aqui.

   ― Ainda bem que o quarto de hóspedes é bem diferente. Vamos?

   Ela me acompanha para longe do quarto mal-assombrado. Fica me olhando enquanto descemos as escadas.

   ―O que?

   ― Você parece um garotinho as vezes. Medo de fantasma é tão infantil.

   ― Não tenho medo. Tenho respeito. – Kiara ri de mim. Depois me entrega Matteo no fim da escada.

   ―Bom jogo. Vou circular.

   ―Está esfriando. Devia colocar uma roupa. Olha lá. Aqueles caras estão te olhando. – Tem um três idiotas numa rodinha que nem disfarçam. Ela me ignora. – Vai ficar resfriada.

   ― Aqueles caras ali? – Ela me aponta os três sem cerimônia. Todos ficamos constrangidos. Eu e eles, já ela ri sem preocupação. – Vou lá saber o que estão olhando. Te vejo mais tarde.

   Ela joga os cabelos e caminha com passos firmes em direção ao grupo, os rapazes se assustam. É uma De Martino, em terra De Martino, brincar com ela significa problema e o grupo de dispersa antes que ela de meia dúzia de passos.

   Kiara se volta, abre um sorriso cínico. Dá de ombros e caminha de volta. Meu coração salta. Um misto de raiva e alivio.

   ―Pronto. Sumiram.

   ―Não achei graça.

   ― Vocês homens são cem por cento covardes.

   ―Generalizando. Vem jogar bola e para de me irritar. – Ela me faz careta.

   ― V ou fumar um cigarro e tomar um drink. Não se preocupe, não vou ficar bêbada. Meu irmão tomou o cuidado de não servir vodca. Só esse maldito vinho De Martino.

   Sempre me pergunto o que diabos a fez mudar tanto. A mãe morreu, o pai morreu. O padrasto desapareceu e nem sei direito por que. Teve a morte do irmão e hoje é um dia estranho por que talvez, se as coisas tivessem sido diferentes Giovanne poderia estar aqui. Comemorando com os irmãos, mas a mudança. A amargura, e esse peso que dobra seus ombros, eles parecem vir de algum outro lugar.

   Depois de uma hora correndo pelo jardim com Matteo e a bola o garotinho se cansa. Kiara nos assiste de longe. Não tem nenhum cigarro com ela. Não tem nenhuma bebida. Seu negócio é mais irritar que qualquer coisa.

   ―A festa finalmente acabou. – Ela se junta a mim. – Vou levar o Matteo para dormir. Quer vir?

   ―No quarto do fantasma?

   ―Não tem fantasma. Deixa de ser idiota.

   ―Vamos conchinha. – Ela sai na frente brava com o apelido.

   Assistimos Matteo pegar no sono em dois minutos depois da mamadeira. Kiara abre a porta da varanda. Tem um perfume incrível vindo dos vinhedos. A paisagem de dia deve ser linda. As plantações na sua perfeita formação, mas assim, a noite, tudo que temos é escuridão, céu estrelado e perfume de videiras.

   Ela cruza os braços. A brisa sopra trazendo o perfume mais acentuado. Os cabelos dela balançam. Kiara fecha os olhos. A maquiagem pesada fica mais acentuada.

   ―Anda tão gótica, cara de concha. Por que?

   ―Eu gosto. – É mentira, parece mais outra coisa, mas o que posso fazer se ela não quer contar. – Achei que a Paola viria. Ela é amiga do meu irmão há tanto tempo.

   ―Terminamos. Deve saber. Todo mundo sabe da foto.

   ―Eu vi. Não dei importância. Não é da minha conta.

   ―Não ficou nem um pouquinho preocupada com meus sentimentos? – Kiara me olha um momento. Não responde. – Ficou sim. No fundo gosta muito de mim. Eu sou bonito, inteligente e agora rico. Quando faço a lista das minhas qualidades eu me esqueço de incluir essa. É nova. Estou me acostumando ainda.

   ― O que me consola é a esperança de estar brincando.

   ― Estou. – Sorrio, ela é bonita, maluca e triste.

   ―Sente falta dela?

   ― Não da namorada. Essa eu meio que já tinha perdido. Sinto falta da velha amiga. Paola era divertida.

   ― Conversaram?

   ― Ainda não. Quer dizer, não estou com raiva, só decepcionado e acho que isso é normal.

   ― Logo vai estar em outra. – Seu tom é um tanto amargo.

   ― Nem pensar. Quero distância de namoro. Passei toda a vida namorando. Agora estou curtindo um pouco a vida. Saindo. Conhecendo gente nova. Meu melhor amigo se amarrou justo agora, então...

   ― Você vai sair por aí destruindo corações com essa sua lista de qualidades. Entendi.

   ―Não. Nem pensar. Não quero coração nenhum no momento. Quero só me divertir. Como você por sinal.

   ―Amanhã marquei com o Enzo no hotel as seis da tarde. Eles vão pegar o voo das nove, deixamos os três no aeroporto. Pode ser?

   ―Que talento é esse? Muda de assunto com uma categoria.

   ―É sério Filippo.

   ―Tudo bem para mim. Só não estou gostando de saber que vai ficar sozinha naquela mansão.

   ―Ela é nova Filippo, não tem fantasma lá.

   ―Não estava pensando em fantasma, estava pensando em você se metendo em encrenca.

   ― Sei me cuidar. Aprendi.

   ―Pode me chamar a qualquer hora. Sério mesmo, eu prometi ficar de olho em você. Se quiser te trago de volta para a Vila. Ou posso ir sozinho com o Matteo.

   ― Não vou ficar presa aqui um mês. Sou adulta. Tenho vinte e dois anos.

   ―Mês que vem só. Ainda tem vinte e um. Vou dormir cara de concha. Esse pequeno De Martino vai me obrigar a jogar bola o dia todo amanhã. – Beijo seu rosto, ela se esquiva um tanto incomodada. Não sou eu. É qualquer um. – Se precisar me acorda.

   ―Conte com isso. Boa noite.

   Deixo o quarto. Até sinto vontade de ficar mais um pouco com ela, mas é tarde. Foi um dia corrido e o dia amanhã promete. O quarto de hóspedes é confortável. Depois de um banho eu me atiro na cama. Sinto saudade do meu apartamento pequeno e aconchegante, com cara de lar e não casa mal-assombrada.

   ―Que droga Filippo. Tinha que pensar nisso bem agora? – Me levanto e ligo a televisão. Encontro um canal de desenhos e volto a deitar. Nenhum fantasma sobrevive a canal infantil. Eles correm. Isso é certo. Meu pai me provou isso na infância.


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Notas finais do capítulo

BEIJOSSSSSSSSSSSSSS