Identity escrita por Leh Linhares


Capítulo 4
Capítulo 3 — A Nova Escola


Notas iniciais do capítulo

Me perdoem por demorar tanto pra aparecer de novo. Não esqueci de vocês, só estive um pouco ocupada. Agora vamos ao que interessa...



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Pov. Cheryl Blossom

Ele apaga as luzes e eu me mantenho acordada por horas antes de realmente pegar no sono. Não quero dormir apesar de estar cansada, sei que os pesadelos virão e sinceramente não sei se tenho como lidar com eles mais uma vez essa semana. Começo a pensar em tudo o que aconteceu no dia e a listar todos os motivos pelo qual eu deveria terminar com a minha vida de uma vez, não consigo terminar a lista pego no sono antes disso...

Estou sozinha no rio de novo, está escuro e eu sinto muito medo.

Simplesmente sei que algo muito ruim está prestes a acontecer. Apesar de estar só, sei que não deveria estar, que Jason deve estar ali também em algum lugar, chamo por Jason, mas não escuto nada em resposta.

Descalça eu sigo reto em direção do rio, quanto mais eu ando mais longe eu pareço estar e uma sensação desesperadora me toma. Preciso entrar no rio, Jason está lá, preciso encontrá-lo, não sei como eu sei disso, eu simplesmente sei.

Então, de relance vejo seus cabelos ruivos dentro do rio, como se ele tivesse decidido dar um mergulho em plena madrugada, uma parte minha se alivia, mas a outra não. A outra sabe que algo muito ruim está prestes a acontecer. Meu pai aparece, ele tem uma arma em mãos e está andando na direção do JayJay.

— Jason, Jason... Cuidado! —grito isso tantas vezes que perco a conta. Preciso salvá-lo...

— Cheryl... — a boca do meu irmão se mexe, mas a voz não pertence a ele. Quem é esse?

— Cheryl... Cheryl — aos poucos a realidade me toma, sinto minha pele suada grudada no colchão e abro meus olhos completamente perdida. A visão do quarto escura e de um Jughead desesperado tocando meu braço é o suficiente para me trazer de volta a realidade. JayJay está morto e dessa vez não é só um pesadelo.

Não consigo controlar minhas lágrimas, a antiga Cheryl nunca faria isso, nunca abraçaria Jughead no meio da madrugada num desespero tão grande que o abraço de qualquer um serviria.

— Está tudo bem, Cheryl, foi só um pesadelo. — ele sussurrou enquanto me abraçava.

— Esse é o problema, não é só um pesadelo...— se Jughead ouviu o que eu disse nunca respondeu, mas não me soltou. Queria dizer que depois disso adormeci nos seus braços, mas não consegui. A imagem do corpo de Jason estava na minha cabeça de novo.

— Está acordado? — perguntei.

— Sim — murmurou ele sonolento.

— Desculpa por isso, não queria ter te acordado.

— Está tudo bem, não é culpa sua.

— Talvez seja. Não consigo parar de pensar em tudo o que aconteceu, você me perdoa por como eu te tratei? Nunca fui uma pessoa boa, sempre me senti superior e pisei em pessoas como você e olha onde isso me levou? — não estou mais chorando, as crises de choro tem se tornado cada vez mais curtas, como se minhas lágrimas aos poucos estivessem secando.

— Já te perdooei há muito tempo, Cheryl. Acho que podemos concordar que você já sofreu o suficiente.

— Ás vezes eu fico pensando se tudo isso que eu estou passando não é um jeito do universo me castigar por tudo errado que eu já fiz...

— Tipo um carma? — disse ele sem realmente olhar para mim.

— É...

— Não acredito nessas coisas e você também não deveria. Nada disso é sua culpa,  não é sua culpa o Jason estar morto.

— Se eu tivesse o impedido de fugir...

— Você não sabe o que teria acontecido, eu já passei muito tempo pensando nessas coisas. Depois que minha mãe disse que não queria que eu voltasse, eu me culpei muito, passei semanas tentando entender o que eu tinha feito de errado e sabe o que eu descobri?

— O quê?

— Nós só somos culpados por aquilo que fazemos. Não cabe a nós justificar o erro dos outros. Você não matou seu irmão, não matou seu pai, não abandonou sua própria filha...

— Mas queimei minha casa...— disse com um quase sorriso no rosto.

— Por isso você pode se culpar. Só por isso, ok?

 — Ok — eu deveria ter desfeito o abraço, mas não consegui. Era bom não me sentir tão sozinha para variar.

Não sei exatamente quanto tempo se passa, mas uma hora Jughead adormece e eu me desvencilho dele confusa por ter deixado tudo isso acontecer. O sonho ainda ronda minha mente, tento repetir o que Jughead disse para mim, que nada disso é minha culpa e como em um mantra digo cada uma das frases:

— Não é sua culpa Jason ter morrido. Não é sua culpa seu pai ter morrido. Não é sua culpa sua mãe ter te abandonado. — duas lágrimas solitárias escorrem pelo meu rosto, o que eu limpo rapidamente, já é hora de eu tomar uma decisão definitiva.

Sei que não tem ninguém acordado na casa ainda, o que me incentiva ainda mais. Vou até o banheiro com uma toalha e uma peça de roupa, enquanto tomo banho, não consigo tirar os olhos das velhas e novas cicatrizes na minha coxa. O que Jughead pensaria se visse isso? Que estou realmente louca?

Não sei a resposta e nem porquê exatamente pensei nisso. Apesar de tudo ainda somos Cheryl e Jughead, os mesmos adolescentes de antes, que preferem se ignorar a realmente conversar um com o outro.

Me apronto para o colégio bem antes do horário esperado, não há muito o que arrumar na verdade. Não tenho quase nenhuma roupa para perder tempo escolhendo, visto uma calça jeans surrada escura e uma blusa vermelha com listas brancas, que eu provavelmente nunca usaria na minha antiga vida. Meu rosto não tem nenhum tipo de maquiagem, nem mesmo meu amado batom vermelho, o que me causa um misto de sensações. Uma parte minha se sente nua, vazia, o batom sempre representou muito do que eu era e a outra se sente anestesiada, não exatamente se importa com nada disso,  é a mesma parte que repete insistentemente que devo dar um fim em tudo isso de uma vez.

No ‘’meu’’ quarto deito na cama de novo, certa que não vou dormir, mas entediada demais para fazer outra coisa. Encaro Jughead pelo o que parecem horas, ele ronca um pouco, mas não alto o suficiente para acordar outra pessoa. Ele parece tão tranquilo e feliz, será que é assim que eu pareço quando adormeço?

Uma velha lembrança toma meus olhos, eu e JayJay no quarto dele, depois de um dia cansativo de treino. Ele não queria dormir sozinho tivera um pesadelo na noite anterior e eu ofereci que ele dormisse no meu quarto. Grande arrependimento, o ronco dele era tão alto que mesmo eu tentando não conseguia dormir. Uma risada sai da minha boca, um som que por um segundo eu não reconheço, fazia tanto tempo que eu não ria.

De qualquer maneira, a sensação se esvai muito rápido e quando vejo os velhos pensamentos já tomaram conta da minha mente de novo.

— Cheryl... Cheryl, é hora de irmos. — acordei assustada devo ter pego no sono.

— Já está na hora de irmos?

—Na verdade já estamos um pouco atrasados. O ônibus deve passar a qualquer momento. — peguei a mochila só por aparência mesmo. Não há nada além do bilhete dentro dela.

—Onde está Karen? — perguntei ainda atordoada quando chegamos no ponto de ônibus, onde eu pegaria meu primeiro transporte escolar, parece que realmente existe uma primeira vez para tudo.

— Ela trabalha no hospital do outro lado da cidade, se não sair cedo não chega a tempo, ela te desejou boa sorte.

— Vou precisar — o ônibus chega e nós separamos, Jughead encontra alguns amigos no fundão e eu me sento na frente implorando mentalmente para que ninguém resolvesse se sentar do meu lado.

De todas as orações que já fiz na minha vida essa é a que tem mais efeito, ninguém se aproxima nem quando eu chego na escola. Ando cabisbaixa tentando passar desapercebida, a última coisa que quero é que alguém me reconheça e resolva sentir pena de mim.

— Você precisa de alguma coisa? — disse Jughead quando nós dois já tinhamos passado pelo enorme detector de metais. Eu sempre pensei que isso só existia em filmes, mas pelo visto não. Não quero responder essa pergunta, não preciso admitir que não tenho nenhum lápis para ele...

— Eu sei me virar sozinha. Não preciso da sua ajuda... — respondi grosseiramente.

— A velha Cheryl está de volta. Cuidado com essa atitude por aqui, você não está mais em Riverdale High...

— Obrigada pelo conselho, mas não é necessário... — falei enquanto seguia andando para a secretaria.

— A secretaria é para o outro lado, senhora eu não preciso de ajuda sei me virar sozinha... — troco de sentido e por um segundo nós dois compartilhamos um olhar cúmplice. O que é quebrado por um dos amigos dele do ônibus...

— Posso saber quem é sua nova amiga, Jug? —questionou o garoto me olhando de cima a baixo. Ele é bonito, forte e alto, o tipo de garoto que facilmente faria parte dos populares. Será que é isso que Jughead é aqui?

— Cheryl, uma amiga da antiga escola — respondi antes de Jughead ter a chance. 

— George, um amigo da nova escola. Quer que eu te acompanhe até a secretaria? Isso se o Jug não for te acompanhar é claro...

— George! — falou Jughead pedindo desculpas com o olhar.

— Seria ótimo. — no fim das contas um guia não seria tão ruim assim.

— O que houve com toda a história do “eu sei me virar sozinha”? — questionou Jughead confuso.

— Até eu que estou aqui há pouco tempo já entendi, Jug. Você perdeu, amigo, aceita que doi menos.  Vamos?

Ando lado a lado com o tal de George e Jug não nos segue, uma parte minha queria que ele tivesse feito, querendo ou não Jug me entende melhor do que ninguém. Ele sabe que certos assuntos não devem ser trazidos a tona.

George tagarela por todo o tempo, falando sobre a escola, os esportes que eles praticam e sobre ele mesmo. Não acho que seja por egocentrismo, ele parece o tipo de pessoa que fala quando está nervoso, o exato contrário do meu, mas gosto dele. George está sempre sorrindo, o que é simplesmente encantador.

— Você não fala muito, né? Se eu estiver te irritando fale por favor, meus pais dizem que eu falo demais, principalmente quando me aproximo de meninas bonitas...

— Você me acha bonita? — perguntei com um sorriso no rosto. Não me lembro a última vez que sorri assim para outra pessoa.

— Linda na verdade.

— Obrigada, eu acho...

— Chegamos. — falou ele enquanto indicava com seu braço uma porta transparente.

— Obrigada por me acompanhar, acho que posso me virar aqui...

— Tem certeza? Esses corredores sabem ser bem confusos quando querem...

— Você vai se atrasar para a sua aula...

— Eu não ligo — disse ele encostando de leve seu braço no meu.

— Stevens, posso te ajudar em alguma coisa? — perguntou uma senhora de dentro da sala.

— Só vim acompanhar a aluna nova.

— Que cavalheiro, não é? Visto que a donzela já está bem e segura, acho que você pode ir para sua aula...

— Mas...

— Stevens outro atraso e você tomará uma detensão.

— Pode ir, eu sei me virar sozinha... — eu disse triste, ter uma companhia que não conhece nada do meu passado é simplesmente incrível. Quase posso acreditar que meu passado não existe, que nada do que vivi é real. 

— Foi bom te conhecer, Cheryl. Nós vemos de novo, certo?

— Se eu não me perder pra sempre nesses corredores.

— Nós vemos então...

— Boa sorte, Cheryl! — falou ele quando já tinha saído andando.

De costas eu consigo ver perfeitamente a serpente desenhada na sua jaqueta, ele é um deles. Será que Jughead faz parte disso também? Não prestei atenção o suficiente na sua jaqueta mais cedo para saber, mas algo me diz que ele deve ser.

Na secretaria, sou encarada com diversos olhares de pena, eles sabem quem eu sou e a minha situação atual. Odeio todos eles mais do que tudo. Ganho dois cadernos e um conjunto de lápis e canetas, agradeço oralmente, mas não é o que eu sinto. A secretária me entrega um mapa e meus horários, seu olhar de pena é horroroso.

Por um segundo só quero fugir, desistir da escola e de tudo. É quando me lembro do conselho do Jughead: ‘’Eles não conseguem sentir raiva e pena ao mesmo tempo...”.

Por cinco minutos sou a velha Cheryl, tão grossa e rude, que posso ouvi-la soltar um suspiro quando eu saio. Mesmo com o mapa me perco algumas vezes, mas consigo encontrar a sala. Jughead está nessa aula também e sorri na minha direção quando o professor muito mau humorado dá uma bronca em mim pelo atraso.  

Eu não digo nada, só me sento na única cadeira vaga, bem ao lado da janela e olhando pra ela passo o resto da aula. Não quero estar lá fora, mas também não quero estar aqui dentro.

De onde estou sentada não consigo vê-lo, mas sei que ele pode me ver. Será que Jug me observa? Me questiono por alguns segundos antes de perceber como essa pergunta é absurda, devo estar louca...

Tento me concentrar no que o professor dizer, porém tudo o que ele fala parece ser inútil. Do que me adianta saber resolver um teorema de pítagoras, se vivo em um mundo onde pais matam e abandonam seus filhos? 

Nada parece ter sentido, vago a manhã inteira de aula em aula até a hora do almoço, Jughead não está em mais nenhuma aula comigo. Algumas pessoas puxam conversa, mas eu não me preocupo em ser simpática ou nada parecido. Não sou grossa, nem nada assim, só não digo nada mais do que o necessário.

Não me entendo, porque não consigo recomeçar? Esse é o momento perfeito, nenhuma dessas pessoas parece saber quem eu sou, porque tudo precisa ser tão complicado e doloroso?

Na hora do almoço tenho a resposta para a pergunta que me fiz mais cedo. Jughead está sentado com mais uma porção de garotos, todos usam a mesma jaqueta das serpentes, todos fazem parte da gangue, que o pai dele fazia ou ainda faz parte.

 Imagino se a perfeita Betty já sabe disso, se sabe não deve estar nem um pouco feliz com o que o namorado dela está fazendo. Não que Jughead pareça estar sentindo falta de algum dos seus velhos amigos.

O resto do dia passa muito rápido quando vejo já estou descendo do ônibus escolar atrás de Jughead voltando para a minha nova casa.

— Como foi o primeiro dia? — perguntou ele quando o ônibus foi embora.

— Não tão horrível quanto eu pensava que seria. Por que tirou sua jaqueta? — questionei já sabendo da resposta. Não deve ser interessante pra ele que Karen descubra que ele faz parte das Serpentes.

— Você sabe porquê. Posso confiar em você meu segredo?

— Betty sabe? — perguntei mais por instinto do que outra coisa.

— Mais ou menos.

— Ela não deve estar nem um pouco feliz.

— Betty está distraída demais com Archie para se preocupar com algo assim...

— Problemas no paraíso? — questionei curiosa. Não era segredo para ninguém da escola, além de Archie claro, o quanto Betty era apaixonada pelo melhor amigo. Não é a toa que o relacionamento dela com Jug foi uma grande surpresa para todos.

— Na verdade não. Por que não come alguma coisa e depois me encontra no nosso quarto? Já é hora de começarmos nossa investigação... —disse ele mudando de assunto. Certamente as coisas com a Betty não estão tão bem quanto ele quer deixar transparecer.

— Não estou com fome.

— Tem certeza? Não te vi comer nada hoje. Posso pegar algo se você quiser.

— Não, obrigada. — disse mesmo estando morrendo de fome.

— Toma, coma antes que eu conte pra Betty e todo mundo que você está aqui. — falou ele jogando na minha direção uma maçã.

— Isso é jogo sujo.

— Eu sei.


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Notas finais do capítulo

Espero que vocês tenham gostado
Se alguém quiser dar sugestões e/ou dicas não se acanhem!
Ps: O Ministério da Saúde adverte ser leitor fantasma pode fazer mal a saúde da autora. Comentem sem moderação!