Azul & Violeta escrita por TSLopes


Capítulo 5
Capitulo 4 - Edgar


Notas iniciais do capítulo

E ai povo! Saudades?



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Logo após o dia em que eu matei aquele garoto e voltei a mim, eu me tranquei. Foi no sótão da mansão, com a porta de ferro lacrada e sem nenhuma saída. Fiquei lá, aguentando as reclamações e a raiva da voz. Apenas escutando, apenas ignorando a justiça egoísta da voz. Mas quando chegou a quinta-feira a noite e eu perdi o controle sobre mim, quando o monstro passou a controlar minhas ações, e eu só pude ficar olhando. Observei a fera tentar quebrar com o corpo as paredes e as portas e logo depois desistir. Foram colocadas paredes de aço ao meu comando, já que eu sabia do poder da fera.

Então ele gritou por Rubens e depois por qualquer um, mas já tinha me preparado, proibindo-os de vir até mim, mesmo se eu gritasse desesperado. Ele havia então parado e ficado rodando pelo cômodo, bolando algum plano. Esse foi meu erro. Eu não sabia que ele poderia ser capaz de ter raciocínio logico nesse estado.

Foi então que minha visão ficou azulada e foi seguindo pelo cômodo até atravessar a porta. Só então eu percebi que o corpo da fera continuava no sótão. Um modo fantasma. Ele seguiu observando até encontrar uma empregada, recém-contratada. Disse na cabeça dela.

Socorro! Por favor, me ajude! Só você pode me ajudar!

— Senhor Edgar? – disse surpresa.

Estou preso! Liberte-me pelo lado de fora do porão!

— Como o senhor fala comigo? – havia sussurrado disfarçadamente.

São os meus laços de amor por você. Por favor, venha me ver! Estou louco para te ver novamente.

E ela foi. A pior decisão de sua vida. Assim que ela abriu a porta, o monstro a pegou e a levou para a floresta.

Naquela semana eu fiquei com os ossos da costela e dos braços trincados, além de não conseguir abrir meus olhos, pois eles sangravam.

.....||.....

Na outra quinta, eu estava em outro porão, de uma prisão muito protegida, preso em uma cama com barras de ferro e a porta trancada, a chave com alguém que a abriria no sábado.

O monstro não conseguiu matar, e por isso gritou e me infernizou, causando-me choques e muita dor. Eu aguentei tudo, pensando em mim e em minha família, sem me deixar ser um monstro. Eu não podia ser.

No sábado, o monstro desapareceu. Não consegui ouvir ou sentir sua presença. Era uma sensação de liberdade com a qual sinto falta ate hoje. Sem voz, sem alucinações, sem peso. Eu me senti naquele momento totalmente livre. Cheguei a chorar de alegria. Como eu estava errado.

Foi só o guarda abrir a porta e me soltar que o monstro voltou. E ele estava com raiva, muita raiva.

Ninguém sobreviveu, todos que estavam naquela prisão e ao redor morreram. Quando percebi o que aconteceu, quando voltei a mim, peguei uma arma, pus na minha cabeça e apertei o gatilho. Nada. Apertei varias vezes e mirei na parede. Disparou.

Como o desespero, a culpa e a dor dominavam o meu ser, eu não pude controlar minhas ações. Eu só quis me ver livre desse pesadelo.

Encontrei uma faca e enfiei na minha barriga. Um escudo preto feito de fumaça apareceu do nada e a jogou para longe. Entrei em uma cela e coloquei fogo nela. O escudo me revestiu completamente, me protegendo do fogo.

O monstro não iria me deixar morrer, percebi em pânico enquanto estava encostado em um canto chorando, me perguntando o porquê e me amaldiçoado. Esperei o escudo enfraquecer ou eu morrer de fome.

O fogo se espalhou e horas depois o prédio desabou. Eu sobrevivi e ninguém no mundo exterior havia me notado. A imprensa disse que tudo fora causado por causa de um incêndio inexplicável, e que isso fora uma redundante.

.....||.....

Parei de me lembrar dessas coisas e me concentrei no presente.

Ontem, quando virei a fera, por incrível que pareça, encontrei uma mulher parada, no meio da floresta, na área mais distante do vilarejo, me esperando em pé. Ela havia gritado que era o sacrifício em troca da segurança e prosperidade do vilarejo.

Mas o que estavam pensando?

Também estou decepcionado, não tem nem a graça de caçar.

Caminhei pelo escritório, como sempre as imagens da vítima gritando de dor e minhas ações não saiam da minha mente. Será que ela tinha família ou filhos? Quanto sofrimento eu causei para essas pessoas?

Ela devia ter uns 30 anos no máximo, então provavelmente era casada ou fora, talvez fosse até viúva. Mas o que a fizera se sacrificar assim, desse jeito? O que acontecera com ela para que decidisse se matar dessa forma?

A imagem desesperada e seus gritos voltaram a dominar minha mente. Pus a mão na cabeça e me sentei na minha mesa, rapidamente pegando um papel e começando a escrever.

Pare de pensar. Pare de pensar. Eu não pude evitar. Apenas espere um herói pra me salvar. Apenas não pense. Se concentre na realidade. Não adianta pensar nisso agora, eu escrevia essas frases no papel com mãos trêmulas.


Quando as lembranças me dominavam, esta era minha única forma de fugir. Eu tinha que me concentrar em algo. Então quando eu escrevia, quando eu me concentrava em bolar uma frase e ser lógico, a culpa diminuía.

Eu sei que isso é desumano, mas sou um monstro de qualquer forma, eu podia fazer isso. Esse era um privilegio covarde que eu aceitava de peito aberto.

Você é um conde charmoso e elegante, com um grande poder e importância para este país. E como tal, você deve ter classe e agir como um nobre, escrevi no papel com as mãos mais firmes.

Inspirei fundo e depois expirei, absorvendo o poder de minhas palavras. Eram elas que me mantinham são.

A mulher voltou a me atormentar.

Pare de pensar neles e pense em você. Tem que fazer a caçada voltar.

— Eu tenho é que te mandar pro inferno.

A voz riu.

Droga, o que foi que eu fiz?

.....||.....

Passei a sexta-feira inteira no escritório, atormentado pelas imagens e pela voz. Sarah havia me avisado que Angelina queria falar comigo. Escutei até a jovem falar que iria me esperar na porta.

O que ela quer?

Provavelmente lhe dar o golpe do baú.

Agora já era sábado de manhã e a imagens já não dominam a minha mente. A voz já não tinha mais o poder de me deixar louco. Era isso o que acontecia todo sábado, eu ficava livre das atormentações. Não que entenda o porquê de todo sábado isso acontecer, entretanto, esse era um mistério de pouca importância comparado com os outros em minha existência. O importante é: estou de novo no controle de mim mesmo.

— E por que acha isso? – perguntei olhando para o nada, como sempre fazia.

Ela é bonita, charmosa e pobre e você jovem, solteiro e rico. Tem alguma duvida?

— Impossível.

Na verdade, eu achei a garota irritante com aquela insistência em me fazer ficar. Será que ela não sabe cuidar da própria vida? Ou entender que eu faço o que bem entender? Além do mais, eu não a conheço e ela não me conhece, então ela ficou parecendo uma doida correndo atrás de mim daquele jeito. Com certeza ela não conseguiu chamar minha atenção de forma positiva.

Eu também não gostei dela. Muito boazinha pra você.

Nesse momento, a imagem dela dominou minha mente. Ela é linda, não posso negar. Sua pele branca parecendo pérola, sua boca carnuda, seu corpo bem delineado e seu jeito gentil conquistariam qualquer homem. Lembrar dela me fez sentir uma intensa vontade de sentir seu perfume novamente. Rosas... Com certeza, ela será uma bela distração pra mim.

Isso, fica com a irmã do cara que você matou.

Paralisei, como se um vento frio tivesse passado pelo meu corpo e me congelado por inteiro. O que estou pensando? Como posso ficar com uma mulher que chora pela perda de alguém que eu matei? Essa com certeza seria a atitude mais cruel, egoísta e desumana que eu já fizera. Não posso ficar com ela. Pela primeira vez, estou impedido de ficar com uma certa mulher.
Não posso ser tão vil.

Vou ignora-la, decidi. 

Voltei a olhar o relatório sobre o desenvolvimento do trigo nos últimos meses. Tenho que mandar essa garota pra fora daqui o mais rápido possível.

Sarah abriu a porta. Veio me trazer uns papeis e junto a ela veio a jovem. Angelina estava séria, entretanto, seu biquinho a fez parecer fofa.  Admirei a forma como esse vestido marrom velho, que normalmente faria qualquer uma ficar mais feia por causa de sua cor acabada e o tecido corroído pelo tempo, causar um efeito contrário em seu corpo. Nele, a cor de seu cabelo louro se destacava e lhe davam uma aparência angelical, além desse corpo magro e bem delineado lhe fazer ficar irresistível. Deus, como ela é linda. Que desperdício eu terei. Mesmo sem querer seduzi-la, falei com o meu sorriso galante.

— O que a traz aqui, senhorita?

— Vim lhe pedir uma coisa - disse, hesitante. Continuou perto da porta, do outro lado da sala.

— O quê?

— Que me deixe ensinar Sarah a ler.

Essa me surpreendeu. Esperava outra coisa.

— Ensina-la a ler? – falei para Sarah.

Ela ficou vermelha.

— Sim, nunca aprendi e gostaria de aprender mesmo que eu esteja velha.

Falei, logo logo vai lhe pedir seu dinheiro.

— Na verdade, gostaria de vir nas quintas feiras, quando o senhor não está, para não incomodá-lo – Angelina falou.

— Como sabe que não estou nesse dia?

— Sarah me contou.

Fuzilei Sarah com o olhar e ela abaixou a cabeça. Essa garota não para de se intrometer na vida dos outros. 

— Parece que se tornaram amiguinhas – respirei fundo e melhorei meu sorriso – mas não posso aceitar.

— Por quê?

Levantei a mão dramaticamente.

— Porque uma flor como a senhorita iria perder toda a cor e beleza se vivesse comigo. Sou como uma praga, que iria destruí-la em pouco tempo.

— Não estamos em um teatro, conde Edgar, fale normalmente – ela disse impacientemente.

Isso me surpreendeu e também me deixou irritado. Mulheres não gostam de serem elogiadas? Sempre tratei todas assim e todas ficaram loucas por mim. O que deu nela?

Já que ela quer ver o seu lado mal, mostre.


Pigarreei.

— Tudo bem. Não vou mais lhe tratar com educação, vou lhe tratar como quero. Mas cuidado para não chorar – aumentei meu sorriso. Cansei de trata-la bem enquanto ela me responde com esse jeito impulsivo. 

 
Ela ficou vermelha.

— Não disse para falar grosseiramente, e sim como falaria com todos – falou.

Balancei a cabeça e me levantei. Andei para frente da minha mesa.

— Ok, não vou deixar – meu sorriso acabou e eu a fuzilei com o olhar - Sabe por que? Por que não tenho o mínimo de interesse nessas aulas ou em você.

Angelina riu e também me fuzilou com o olhar.

— Não estou fazendo isso por você e sim por ela. – apontou para Sarah que colocava os papéis na mesa.

Mas o quê?

— Quem você pensa que é... 
Ela revirou os olhos.

— Lá vem você de novo.

Continuei.

— Para vir até minha casa, me interrogar, me criticar, me mandar e me corrigir, hein?

— Você é muito infantil, sabia?

Cruzei os braços.

— Sou mesmo. Pode ir, você não me tem utilidade.

Quando Angelina ia gritar, Sarah entrou no meio.

— Já chega – olhou para Angelina e disse educadamente – Poderia nos dar licença por um minuto?

Ela a encarou furiosa e depois de dois segundos se virou e foi embora. Voltei para a mesa, irritado. Mas que garotinha irritante! Intrometida! Chata...

— Edgar Borchacell! Trate de se comportar como um homem adulto! - ordenou, interrompendo minha linha de pensamento.

— Ela não vai voltar para cá! - gritei furioso.

Sarah andou e deu um tapa forte na mesa, derrubando a maioria dos objetos.

— Não estou fazendo isso por mim e sim por vocês dois! – gritou. Então olhou pra baixo, o rosto franzido e vermelho -  como sempre ficava quando estava brava - e  depois se acalmou – Lembra-se de quando as empregadas contaram para o mundo que você está solteiro e é novo e eu tive que trancar toda a mansão por causa daquelas garotas doidas? Do jeito que Angelina está, provavelmente faria algo do tipo só para inferniza-lo. Deixe que ela fique um tempo, só para que eu possa amacia-la– parou- E também, eu sonhei com uma jovem de olhos violeta que iria transformar a sua vida. Ela tem de ficar.

Velha chata.

Sarah se afastou da mesa. Droga, ela teve um sonho, e toda a minha família sabe do poder desse seu dom. Principalmente desde o dia em que convenceu minha irmã de não ir a casa de sua amiga por causa de um sonho e horas depois, descobrimos que a casa fora assaltada e queimada. Ela nunca errara e eu nunca tive a audácia de desobedece-la. Resmunguei.

— Chame-a.

Ela a chamou e Angelina entrou com a cara fechada. Parecia uma menininha pirracenta sem pirulito. Sarah foi embora me dando uma última avisada com o olhar.

— Pode dar as aulas - murmurei, com a cara fechada.

O que?!

Ela se surpreendeu. Então, como se finalmente assimilasse a notícia, seu  rosto se ergueu com os olhos arregalados e brilhantes e um sorriso aberto e alegre surgiu. Não pude deixar de me encantar com tamanha alegria.

Onde está sua raiva?

— Posso?

— Com uma condição. Vai passar uma semana aqui e quando acabar não quero saber, vai embora. Pode ser?

Angelina parou para pensar e rapidamente respondeu.

— Pode, mas posso avisar meu pai, você vai comigo se quiser.

— Rubens vai. Estamos de acordo, senhorita Líbia?

— Sim - me surpreendeu quando andou até mim e segurou minha mão direita com as duas mãos – Obrigado, obrigado mesmo.

Por algum motivo, a violeta dos seus olhos ficou mais intensa com o seu sorriso.

— Quanto vai custar? – tentei ignorar o poder dos seus olhos.

— Você me chamar de Angel.

Hein? Que acordo esquisito. Mas ela é estranha normalmente então deixei passar. Pensei em seu apelido.
Angel. Combina com sua aparência angelical e seu jeito gentil. Isso fez uma sensação agradável dominar meu coração e pela primeira vez em meses, eu sorri de forma espontânea.

— Então me chame de Edgar.

— Obrigado, Edgar.

Angel se virou e caminhou alegremente.

— Quem deveria estar feliz não seria Sarah?

— Como professora, fico muito feliz em poder ensinar.

Observei surpreso e admirado seu andar ligeiro e saltitante. Ela não se parecesse em nada com nenhuma garota comum. Então ela parou na porta e de repete seu sorriso desaparecera.

— E também, obrigado por me deixar ficar e me impedir de cair do segundo andar - disse timidamente.

Foi embora e eu fiquei sem fala.

Você é um idiota.


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Notas finais do capítulo

Capitulo betado pela lady mikaelson. O que acharam? Comentem!



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