Entre Ela&Eles: Um segredo. escrita por BeaFonseca


Capítulo 7
Capítulo 06 - Preocupações, Confissões e... Fuga?




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Ainda estava cedo para o início do segundo tempo de aula. Temos aulas integrais nas segundas, terças e sextas. Nada conveniente, pra infelicidade de muitos. Apesar disso, pelo menos, as aulas do segundo tempo da quarta e a do primeiro tempo da quinta, eram dedicados, inteiramente, aos clubes e oficinas. Em outras palavras, são as horas mais esperadas da semana.

            Este novo semestre eu havia decidido mudar do clube da matemática. Porém, ainda não fazia ideia do clube que escolheria. Como ainda estávamos no início do ano, os professores dariam um mês para os alunos se decidirem, e meu prazo estava no fim. Para ser mais precisa, esta semana era a última, e eu nem mesmo tinha parado para pensar nas possibilidades.

            Sentada, abri o caderno, revelando os diversos panfletos espalhafatosos de promoção a algum clube. Logo de cara, descartei o clube da matemática. Não era mais uma opção me dedicar a um clube que não fazia diferença alguma para mim – e do qual eu apenas escolhi, como um ponto de fuga. Eu nem precisava interagir com o clube - . E se era para mudar alguma coisa, que começasse por novos horizontes.

— Novos horizontes... – Pronunciei, realmente distraída com todos aqueles papeis a minha mesa.

— Deveria tentar o clube do teatro! – Me assustei com a voz de Tae tão próxima. E com o susto, rasguei, sem querer, o papel do clube do teatro em minhas mãos. – Ou não... – Tae mudou sua expressão para tristeza ao ver o papel rasgado.

— Porque você faz essas coisas? – Perguntei, impaciente. Ele sorriu, alheio – Ou não-, a minha reação.

— Que coisas? – Perguntou, dando de ombros. Não era possível que ele não percebesse como ele próprio era estranho.

            Pensando nisso, lembrei do bilhete de Jimin. Eu teria que dar alguma razão a ele, porque eu não agia mais normal que o 4D.

— Não pode chegar de repente assim! – Ralhei, evitando olhar para ele, e recolhendo os papeis para recolocar dentro do caderno. – Pode matar alguém de susto!

— Achei que tivesse me visto entrar. – Ele sorriu, puxando a cadeira para mais próximo de mim, involuntariamente ou não. Suspirei, tentando não perder a paciência.

— O que quer agora, Taehyung? – Perguntei, mantendo a voz tranquila. Ele parecia surpreso.

— Pode me chamar de TaeTae, se quiser. – Deu de ombros, mais uma vez.

Definitivamente, não!”— Pensei.

— Tudo bem... Então V ou apenas Tae. – Disse, supostamente respondendo a meu pensamento alto. Suspirei mais uma vez.

— Que tal 4D? – Não hesitei em dizer seu apelido. Ele me encarou, pensativo. Cogitei a possibilidade dele realmente não ter gostado, e logo surtaria, como o esperado.

— Olha, eu não gosto deste apelido, mas posso abrir uma exceção para você. – Seu tom era pouco mais sério e concentrado. Estava surpresa com a resposta. – Além do mais, tenho certeza que já não faria diferença algum se alguém deixasse de usá-lo.

            Por um breve momento, senti tanta pena de Tae, quanto sinto por mim mesma. Quer dizer, ele odiava o apelido, e ninguém respeitava. Eu jamais me atinei para isso, porque em seis meses de colégio, eu jamais tinha visto Taehyung triste com alguma coisa. A culpa por chamá-lo de 4D se alastrava por meus pensamentos, e não era como se eu fosse a única a chamá-lo assim. Talvez eu tenha sido a única a perceber que ele precisava ser respeitado, além de seus amigo muito provavelmente, dada a forma como o próprio Jimin o defendeu. Além do mais, eu sentia por mim mesma quando era odiada por ser a preferida dos professores. E o apelido que ele mesmo me dera, também não me agradava.

— Gosto de Tae. – Falei, de repente. Eu não me arrependeria disso, ainda mais quando ele me olhou com tanta surpresa. Talvez não esperasse por isso.

            Ele sorriu, e involuntariamente, eu também sorri. Para logo em seguida lembrar que a situação ainda era constrangedora. Dei uma tossidela, tirando a minha própria atenção dele. Voltei a abrir o caderno, encarando os papeis.

Acha que teatro seria mesmo uma boa ideia?— Perguntei, de forma baixa. Eu não sabia se queria mesmo ser ouvida e receber uma opinião. Eu nem mesmo pensava em fazer teatro. Não era uma opção real.

            Eu estava tentando, não é mesmo? Talvez não fosse tão difícil assim.

— Eu gostaria de ter um amigo ou amiga para compartilhar o teatro comigo. – Tae respondeu. Parecíamos duas pessoas “normais”. E ele parecia confessar algo.

            Me dei conta de duas coisas, naquele minuto. Uma, era que Tae, apesar de tantos amigos populares, parecia se sentir só. A segunda era que, apesar de tudo, ele era um cara muito legal, e eu estava começando a gostar dessa sua aproximação repentina.

            Se eu me arrependeria depois? Bom... Eu não tinha como ter certeza, e rezava para não quebrar a cara. E rezava para não prejudicar ninguém também.

            Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, o sinal havia tocado, tirando toda a nossa atenção. E quando todos começaram a entrar na sala, Tae apenas acenou com a cabeça, se afastando até a sua própria carteira.

            Me ajeitando na cadeira, notei que Jungkook logo que passou por mim, deixou um bilhete cair, propositalmente, na mesinha. Sem olhá-lo, abri o papel, tentando ser mais discreta. Discreta o suficiente para não ter outro bilhete de Jimin questionando com quem eu falo ou deixo de falar.

“Me perdoe pela forma rude que te tratei. Mas preciso falar com você. Depois da aula, quando todos forem embora.”

Ass: Jeon JungKookie

 

            “Mas que surpresa” – Pensei, guardando o bilhete no bolso.

            Não olhei em sua direção. Não respondi a seu bilhete. Talvez fosse melhor lhe dar o beneficio da dúvida. Afinal, não é todo dia que o garoto “perfeito” da sua sala, te chama pra conversar depois da aula.

            Conti a vontade de rir da situação - Claro que, de deboche - . Era óbvio que ele não queria bater papo comigo, e eu já até podia imaginar do que se tratava. Eu poderia muito bem dizer a ele que não me lembrava de nada. Que havia sofrido um pequeno acidente dentro de casa e perdi toda a memória do dia anterior. Seria uma desculpa idiota, mas se isso fosse deixá-lo tranquilo, eu o faria.

            O que ele faz ou deixa de fazer, não era problema meu, realmente.

***

            No fim da aula, esperei que todos saíssem, como de costume. Porém, desta vez, eu tinha um bom motivo. E ele já estava sentado ao meu lado, dando uma desculpa qualquer aos amigos. Estes, por sua vez, olhavam para nos dois de forma incógnita. Era de se esperar, e eu já até podia ouvir as queixas de Jimin sobre não conversar com ele. Ou as ideias de Tae sobre interagir mais.

— Se for sobre o que aconteceu no telhado, eu já entendi que não é da minha conta. Não precisa me sondar. – Disparei, na defensiva.

— Eu sei. – Disse, e parecia cauteloso com as palavras. – Mas você viu, e eu não posso ignorar esse detalhe. – Seus olhos estavam fixos aos meus, e eu quase imaginei um cenário de uma serial killer tentando se livrar de alguma testemunha.

“Eu vou morrer por um segredo..”— Pensei. – “Que patetico!”

— Não seja boba! – Disse. Prendi a respiração, ciente de ter deixado passar mais uma vez. Seus olhos tinha uma expressão divertida. Mas era bastante contido. – Eu quero dizer que... – Desviou seus olhos do meu. Levou as mãos a nuca, balançando a cabeça, quase como se estivesse torcendo o pescoço. Estralou as mãos.

            Eu observava cada gesto como se a qualquer momento ele estivesse prestes a confessar algo muito importante, e eu era a única que poderia ouvir. E eu estava bastante curiosa com o que ele tinha pra falar. Por que, na maioria das vezes, eu mesma me sentia nessa mesma situação.

— Na verdade, eu queria perguntar se você gostou... – Fechou os olhos, interrompendo a frase, e voltando a falar, se corrigindo. – Minha voz é boa? – Timidamente me fitou.

            Era a primeira vez que alguém pedia a minha opinião. Me senti como uma professora prestes a dar um feedback. Surpresa, não sabia o que responder. Ainda nem havia processado o fato de tanta coisa mudar de uma hora pra outra. E agora, mais essa...

— Está me deixando nervoso. – Ele disse, talvez percebendo a minha expressão de desespero.

Também estou!”— Pensei, de verdade.

            Ouvi ele soltar um riso abafado. Corei, imaginando que mais uma vez ele tinha me ouvido. Mas que droga, hem?!

— Porque precisa da minha opinião? –Perguntei. Afinal de contas, estava lidando com Jeon Jungkook, o aluno “perfeito” da sala de aula. Talvez de toda a escola. Porque estava tão inseguro?

            Timidez não poderia ser o único fator. Porque mesmo tímido, ele sabia muito bem lidar com seus próprios problemas e se sobressair nas diversas situações. Digamos que Jungkook era o falso tímido. Aquele que apenas come quieto, por puro desinteresse em agir ou reagir.

            Sim, eu conhecia a personalidade deles! Era quase um hobbie observá-los.

            Ele estava pensando numa resposta. Era nítido.

            Não disse nada por um longo minuto. Fiquei surpresa em ter paciência em esperar tanto. Afinal, geralmente, nessas situações, eu dava um jeito de escapar.

— A música não é exatamente o que as pessoas esperam de mim. – Confessou, finalmente.

            Eu concordei com isso. Jungkook, como um dos melhores alunos no colégio, era recheados de expectativas alheias para seu futuro. “Médico, Advogado, Administrador, entre outros cargos de posições altas no país.” Portanto, “cantor”, não se encaixava na sua lista de um futuro promissor... quer dizer, na lista daqueles que faziam por ele. Eu o compreendia. Talvez mais do que qualquer um. Eu também tinha medo de não suprir as expectativas alheias. Sempre com medo do que pode acontecer.

— Olha...- Respirei fundo. Não fazia ideia do que estava para fazer. – Sua voz é incrível. E não acho que deveria seguir caminhos por determinações alheias. Faça você mesmo o seu futuro, Jungkook. – Aconselhei. – Você tem escolha. – Concluí, e ele franziu o cenho, pensativo e curioso.

            Seguir nosso próprio destino era fletar com o desafio e as próprias descobertas. Eu gostava de pensar assim. E achava que poderia servir de exemplo, se eu realmente seguir meu próprio conselho.

            E qual seria o meu destino? E principalmente, qual seria as consequências?

            Sempre teria um impecílio em meu caminho. Sempre...  

— Isso foi legal. – Ele disse, sorrindo de lado. – Mas não me parece tão simples.

— Ninguém disse que era simples. – Dei de ombros. – Na verdade, nada é tão simples. – Completei. Ele assentiu.

            De repente, tive uma ideia. Procurei no caderno o papel que a algumas horas eu havia rasgado, sem querer, por culpa de Tae. No momento em que achei, entreguei na mãos de Jungkook.

— Porque não começa com isso? – Sorri. – Tenho certeza que vai te ajudar a descobrir o que realmente deseja, e lutar pelo que quer.

— Deve odiar mesmo o teatro. – O moreno segurou o papel rasgada a minha frente. Me senti constrangida. Não só pelo fato de ter entregue o papel rasgado, mas por realmente não ter o teatro como uma opção, porque isso me lembrava a falta que minha mãe fazia. E o problema que essa profissão havia causado na minha vida.

— Isso foi sem querer. – Disse, apenas.

— Eu estou tão atarefado com outras atividades extras... – O interrompi.

— Aulas de xadrez e seminários artesanais... não são, exatamente, atividades divertidas. – Debochei. Ele riu. – Acho que pode abrir mão de alguma dessas aulas pra realmente se dedicar a algo que te faça agir mais pelo seu próprio futuro. Aula de música também é uma ótima opção.

— Tem razão. – Disse, juntando os dois pedaços de papeis e guardando em seu bolso. – Amanhã irei preencher minha ficha no clube do teatro e no clube de música. – Se levantou, empolgado.

            Peguei minha mochila e coloquei nas costas. Pronta para me despedi do moreno. Este por sua vez, fez uma leve referência e saiu a passos apressados porta a fora. Eu jamais poderia imaginar que algo assim me aconteceria. Eu estava sendo influência para alguém. E não era pelo meu status financeiro, desta vez.

            Uma pontada de orgulho se manifestava enquanto eu tentava evitar expressar demais a minha própria empolgação do momento. Eu ainda passaria pelo pátio do colégio, e pela primeira vez, em seis meses, eu não prestei atenção no movimento alheio. Seja pela distração do ocorrido, seja pelo simples fato de que eu não precisava MESMO parar para observar.

            De longe, eu podia ver o grupo se afastando, animados como sempre. Mas sentia que algo estava faltando.

            Ignorando a sensação, continuei a passos lentos pelo meio do pátio.

            A sensação era um alerta, e eu parei, bruscamente.

“Bendita seja a hora que eu parei, e bendito seja o lugar.”

            Sem que eu tivesse tido tempo para pensar em reagir, pernas voaram em minha direção. E não, você não leu errado. Pernas voaram em minha direção, como duas varas de bambus dançantes.

— Aigo!! – Ouvi alguém gritar, se agachando próximo a mim. Eu estava, literalmente, jogada no chão, como um saco de batatas amassadas. – Me desculpa! Eu não ti vi aqui!!

            Levei mais de um minuto para perceber de quem se tratava. E não fiquei surpresa por ser Hoseok, o líder de torcida masculino. Mas é claro que seria ele. Segunda-feira, de 17h às 18h o colégio ficava aberto para o treinamentos das equipes de torcidas. Era quase um ritual, e eu me lembrava de sempre passar o mais rápido possível por ali, após a aula, justamente para não ter que ser atingida por lideres de torcida malucos.

— Você está bem?! – Perguntou, e não parecia ter sido a primeira vez.

— Es-estou... – Foi o que consegui dizer.

            A situação poderia ser bastante hilária. Hobi, como era seu apelido, segurava minha mão com delicadeza. Estava de joelhos, e com expressões tão preocupadas e ansiosas, que me senti em um cenário onde ele acabava de me pedir em casamento e eu desmaiara de felicidade. Comecei a rir.

            Não faço ideia de onde esse pensamento surgiu. Com toda certeza, a batida foi forte o bastante para me fazer delirar.

— Acho que bati com muita força na sua cabeça. – Deduziu ele, me ajudando a levantar.

— Deve ter sido... – Respondi, um pouco atordoada, ainda rindo. Ele ergueu a sobrancelha.

            Levei minha mão a até  quadril. Tinha quase certeza que no dia seguinte, teria um belo machucado colorido na região ao qual bati com força no chão. Já sentia os primeiro sinais de dores ali, além da cabeça girando.

—  Mas que irresponsabilidade a minha. Estou muito envergonhado por isso... – Se desculpava, ainda segurando firme a minha mão. – Como posso ajudá-la?

            O encarei, pensativa. Não havia nada em que ele pudesse me ajudar, a não ser, é claro, soltando a minha mão e me deixando ir embora. Hoseok tinha a terrível fama de ser pegajoso e insistente, mais do que o próprio Tae. Era intensamente envolvente com todo mundo. Completamente o oposto de mim.

            Me soltei de sua mão, tentando arrumar meu uniforme e recolocando a mochila no ombro, evitando fazer careta de dor.

— Está tudo bem. – Tentei tranquilizá-lo. – Eu estou bem. Não se preocupe. – Tentei sorrir. – Até mais. – Na verdade, eu estava assustada com a possibilidade de ser um alvo chiclete para ele.

            Não esperei que dissesse mais nada. Simplesmente, continuei meu caminho, falhando em mostrar equilíbrio emocional. Para ser honesta, eu estava praticamente correndo pátio a fora, desesperada para ir embora.


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Notas finais do capítulo

Oiii gente!! Mais um capítulo da jornada da nossa Jiwoo! O que acharam?
Por favor, é muito importante que comentem!!!

bjsss e até o próximoo!!



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