Pov. Jiwoo     

         Pela primeira vez em semanas, eu estava sentindo falta da confusão que era meus horários da refeição. Nenhum sinal dos rapazes, nem mesmo Taehyung aparecera como de costume nos momentos mais inoportunos.

         Tentei não me preocupar ou me importar com isso, é claro, e decidi que visitaria a Sra. Abby na biblioteca. Eu ainda não havia tido tempo para conversar sobre o maluco e inesperado final de semana.

         E foi a passos lentos que a lembrança de que iria a um psicólogo me ocorrera. Já na porta da biblioteca, decidi que colocaria sim para frente essa ideia, porque mesmo que eu tenha tomado a decisão de seguir em frente, as recaídas seriam minhas inimigas.

— Sra. Abby? – Chamei, notando que ela vasculhava uma prateleira qualquer, organizando alguns livros desalinhados.

— Aigoo! – Sorriu, assim que me viu. – Passei o final de semana pensando em você, acredita? – Sorri, concordando. – É bom vê-la sorrindo. – Apontou para uma mesa próxima. – Conte-me tudo, e não esconda nada.

— Com sabe que tenho algo para lhe falar? – Fingi descrença.

— Ora essa, menina... – Riu-se. – Eu a conheço muito bem agora, não se esqueça disso.

— OK. – Fiz sinal positivo para ela, que mais uma vez riu.

         A Sra. Abby aproveitou o momento de descanso para almoçar comigo na biblioteca, mesmo que este não fosse permitido. De qualquer forma, ela mesma contou que o reitor Bang andava de muito bom humor, e não haveria problema algum, por enquanto.

         Por alguma razão, até mesmo a sra. Abby tinha um sorriso misterioso em seus lábios e olhos. Mas eu não questionaria, por enquanto.

         Foram muitas as expressões de surpresa e preocupação em seu rosto quando lhe contei toda a jornada do acampamento no lago. A conversa fluía tão bem, que quase me neguei a me render ao sinal que tocava o segundo tempo de aula. Foi preciso muita reclamação para que eu me levantasse daquela cadeira de madeira.

         Já de volta para a sala, notei que Jimin, Taehyung e Jungkook, já e encontravam unidos, e como o esperado, acenaram para mim de forma quase sincronizada e empolgada. Eu deveria fingir está chateada por terem me abandonado nas refeições? Amigos de verdade se sentiriam assim, não é?

         Ao contrário do que pensei, eu apenas acenei de volta, pronta para mais uma bateria de aulas. Os três, por incrível que pareça, estavam bastante focados no assunto. Nenhum bilhete ou conversa paralela...

         O que há de errado?

         Taehyung, meia hora antes do término da aula, simplesmente se despediu do professor, e este, por sua vez, acenou como se já soubesse da saída.

         O que tinha aquele garoto agora? Eu estava curiosa.  

***

         No fim da tarde, ou sinal tocava em despedida. A maioria já se encontrava fora da sala. Aproveitei a oportunidade para combinar os detalhes de horário para estudar com May no dia seguinte. Ela concordou, não estendendo mais que um simples aceno com a cabeça.

— Jiwoo! – Jimin estava me esperando na saída da sala. Eu nem mesmo havia reparado que já estava fora. Olhei ao redor, apenas para confirmar que Jungkook não estava próximo.

— Disse que gostaria de falar comigo? – Me adiantei, certa de que esse era o único motivo para ele ter esperado. De relance, notei a May saído da sala de cabeça baixa e apressada. Jimin nem reparara na garota tímida.

         O único motivo pelo qual eu estava tão curiosa com a May, era sua nítida expressão de desgosto desde que Jimin havia se aproximado de mim. Estava mais do que obvio que a garota era apaixonada por ele, e estava frustrada por não se fazer notar.

         Pensando sobre isso, era irônico que eu, que passei todos esses meses evitando tudo e a todos, tenha atraído mais atenção do que a garota que estuda a anos em um colégio de elite, que teve milhares de oportunidade de aparecer. Era um destino clichê.

         Onde mesmo eu já havia lido sobre isso?  

         E mais uma vez cá estava eu, me preocupando atoa com problemas alheios. Eu tinha mesmo que encontrar solução para todo mundo?

— Anya... – Fez gestos negativos com a mão. – Não há problema nenhum aqui.

         Olhei para Jimin chocada. Fazia dias que eu transparecia pensamentos desta forma. Eu ainda precisava tomar cuidado com essa boca e mente sem filtros, pelo visto.

— Hm... – Pigarreei, fazendo a melhor expressão de desentendida. – Eu só estava pensando alto. – Fiz sinal para que ele continuasse. – Então...?

— Na verdade... – Foi a vez dele de pigarrear. – Eu só queria saber se nossa monitoria está de pé. – Pôs as mãos para trás, com um sorriso descontraído.

         Desconfiada, descansei o peso do meu corpo em um lado dos pés. Se era uma bobagem, porque motivos pareceu ser algo tão sério hoje mais cedo?

         Toda essa mudança de comportamento aflorava minhas suspeitas, é claro. Jimin nunca foi tão discreto assim comigo. Ele parecia tão contido...

         De repente, uma luz no fim do túnel. May estudaria comigo amanhã na biblioteca, e Jimin ainda era meu “pupilo”. Seria uma ótima oportunidade para fazer a May perceber não havia nada demais entre a gente. Além disso, ela poderia até gostar, não é mesmo?

         Aigoo! Lá estava eu, novamente, tentando resolver o problema dos outros. Era quase impossível não me envolver. Sinceramente, jamais conheci esse meu lado. Tinha alguma coisa muito errada aqui, e com toda certeza, era EU.

— Claro. – Sorri, minimamente. – Amanhã, no mesmo horário. – O loiro concordou, empolgado, antes de se despedir e sair em disparada.

         Nem bem andei alguns centímetros, Jungkook surgiu de algum corredor, acenando, pedindo para que eu esperasse.

         Pelo visto, o caminho até a saída do colégio seria longo.

— Jiwoo. – Sorriu o moreno.

         Eu já havia perdido as contas de quantas vezes meu nome havia sido pronunciado, principalmente pelos populares. E se antes me parecia algo ruim, agora eu já estava mais do que acostumada.

         Esperei que dissesse alguma coisa.

— Quarta à noite terá um festival de kimchi em Hongdae.... – Cruzou as mãos em animação. – Gostaria de ir?

         Minha expressão era típica surpresa. Jungkook estava me convidando para sair. Um encontro? Não poderia, poderia? Eu deveria aceitar?

— Quem mais vai? – Perguntei, mais para ter certeza que minha mente não me pregava uma peça. Não poderia ser falta de companhia quando ele ainda tem seis amigos a disposição.

— Bom... – Ponderou, pensativo. – Os rapazes estão em compromissos familiares, coincidentemente nesta quarta... – Deu de ombro. – Na verdade, acho que nenhum deles está afim de ir. – Riu. – E eu não gostaria de ir sozinho.

         Então não era um encontro. Isso me deixava aliviada, porque não é minha atenção me envolver romanticamente com nenhum deles. E se isso tiver de acontecer, será no tempo certo, mas por enquanto, evitarei o máximo que puder. Embora já tenha decidido viver, eu não precisava me apressar com nada disso.

         Sou jovem. Tenho uma longa vida pela frente, e minhas experiências para contar e acrescentar. Definitivamente, “namoro”, não está incluso ainda. Eu ainda não me sentia preparada para nada disso.

Então porque eu estava nervosa?

— Tudo bem. – Concordei. – Eu não tenho nenhum compromisso familiar neste dia. – Ele riu, divertindo-se com a provocação.

— Ótimo! – Fez sinal positivo. – Vamos nos diverti, prometo. – Se despediu logo em seguida.

         Não duvido que vá ser divertido. Ao menos eu pretendo me divertir neste festival.  

         Felizmente, a última pessoa que encontrei foi Yoongi, que me aguardava na saída do colégio. Desta vez, nenhum comentário ou provocação. Ele estava mesmo agindo como um irmão mais velho e preocupado, e como o esperado, voltamos para casa de carro. Yoongi, é claro, ficou na casa dele no meio do caminho, se despedindo bem mais tranquilo.

         Tudo parecia tão normal e estranho. Era quase como se a minha vida estivesse fadada ao tédio. Eu estava sentindo falta dos deboches de Yoongi, e das súbitas aproximações de Taehyung. O que estava acontecendo?

         Chegando ao destino, me deparei com uma cena um tanto quanto incomum. Taehyung estava em frente ao meu portão, esperando e com uma enorme bolsa nas costas e uma mala mediana aos pés.

         Eu não conseguia imaginar o motivo dele está esperando. Se fosse assuntos com meu pai, ele já teria entrado. E como ele chegou tão rápido até aqui? Se queria falar comigo, porque não falou no colégio? E o que são aquelas malas?

         Eram perguntas que eu esperava serem respondidas o quanto antes, e foi com esse pensamento que me aproximei o suficiente dele, que mantinha seu sorriso quadrado e empolgado no rosto.

— O que faz aqui? – Perguntei, curiosa, mas não de forma rude. Olhei para as malas, e logo depois, para seus olhos expressivos.

— Acho que agora eu moro aqui... – Disse, incerto e ao mesmo tempo, ansioso.

         O QUÊ?!