Entrei em casa procurando por qualquer sinal do meu  pai. Mas a única pessoa que encontrei, foi Yoongi despojado confortavelmente no sofá. Eu realmente não esperava que ele fosse ficar tão confortável assim em minha casa.

         Me aproximei dele, incerta sobre seu humor. Não havia me acostumado com essas mudanças.

— Viu meu Appa? – Perguntei, no momento em que ele me fitou.

— Lá em cima. – Respondeu, curioso. Olhei para a escadaria e corri na direção dos quartos. Nem se quer agradeci Yoongi.

         “Tenho coisa mais importante pra fazer” – Pensei.

— Appa! –Chamei, batendo em sua porta. – Appa! – Esperei quando ele me respondeu.

— Filha? – Parecia surpreso. – Porque ainda está de uniforme? Achei que já estivesse em casa com o Yoongi.

— Appa, preciso conversar com o senhor. – Pedi, entrando em seu quarto sem permissão. Ele fechou a porta percebendo minha seriedade. Não vi nenhum sinal da Sra.Yanna por perto.

— O que aconteceu? Parece preocupada. – Se aproximou, oferecendo o assento logo a frente de sua cama.

         Eu realmente não sabia o que estava fazendo. Nem mesmo havia preparado um discurso bom para convencê-lo a aceitar meu pedido. Appa era um homem bondoso, mas não sabia até que ponto ele poderia ser tão bom. Na verdade, seria abusar demais de sua bondade...

         Me levantei, percebendo a loucura que estava prestes a pedir. O que eu tinha na cabeça?

         Baguncei meu cabelo, inquieta e frustrada.

— Filha, o que aconteceu? – Appa perguntou, preocupado.

— E-eu só pensei em algo, mas acho que é bobagem. – Pensei em ir até a porta, mas antes que eu pudesse tocar a maçaneta, pude lembrar de Taehyung contando sobre seu problema com os irmãos.

         “Céus, appa entenderia?”     

         Eu sabia que tinha sérios problemas para confiar nas pessoas, e eu confiava em meu pai. Mas a situação era completamente alheia a mim e a ele. As coisas poderiam se complicar daqui pra frente. Eu saberia lidar com minha própria decisão?

— Não pode ser bobagem quando te deixou assim... – Tocou em meu ombro, incentivando-me a falar. – Eu estou aqui para o que precisar, filha. – Repetiu suas palavras sempre ditas desde que cheguei nesta casa.

— Appa... – Não poderia ser tão difícil assim.

         Mas o que eu estou pensando? Eu nem mesmo conhecia Taehyung o suficiente. Porque eu deveria ajudá-lo?

         Encostei minha cabeça a porta, sem saber o que fazer ou dizer. Travava uma batalha interna. Estava sendo mais difícil de fazer isso do que dizer a ele meus próprios problemas. Se eu seguir em frente com essa loucura, isso implicará em confiar nas palavras de Taehyung.

         Porque eu sentia que deveria confiar nele? Não era como se realmente tivesse certeza de sua situação.

— Appa, você adotaria uma criança? – Perguntei, de forma direta. Nem mesmo percebi quando saiu.

         Seu olhos arregalaram de um modo que jamais vi. De repente – talvez de forma involuntária -, ele olhou para minha barriga. O que estaria pensando?

— P-porque e-está perguntando isso?! – Pela primeira vez, vi meu pai gaguejar. Recuou alguns meros passos.

— Ah... – Fiz gesto de negação, tentando evitar que entendesse errado. – Não me entenda mal. – Pedi. Ele me encarou, soprando, aliviado. – Não é nada disso que está pensando.

— Você me assustou, Jiwoo! – Appa levou a mão ao peito, soprando mais uma vez. Eu teria rido da situação se o caso realmente não fosse sério.

— Desculpe. – Pedi, constrangida.

— Pois então, porque perguntou isso? – Cruzei os braços.

— Um amigo está passando por uma grande dificuldade... – Comecei a contar toda a história que Taehyung havia me dito. Appa ouvia atentamente. Não sei por quantos minutos se passaram desde que contei toda a história.

         De repente, ele me abraçou.

— Filha, esse é um gesto muito bondoso. – Dizia. – Mas eu não sei se posso fazer isso por seu amigo... – Se afastou o suficiente para me encarar.

— Tudo bem... – Me levantei, constrangida e frustrada. Eu não poderia exigir muito. Era loucura. – Eu entendo, Appa. – Fiz uma leve reverência antes de tentar sair do quarto. Mas Appa me impediu.

— Confia nele? – Eu entendia que não era uma pergunta simples. Era significativa dada a minha história. Meu pai sabia das minha dificuldades e, muito provavelmente, estava curioso com esse pedido.

         Apesar da resposta óbvia – Tendo em vista que já havia colocado as cartas na mesa -, hesitei em responder.

— Pra ser honesta, Appa... – Suspirei. – Só estou seguindo meu coração. Eu realmente não sei se estou fazendo a coisa certa. Então não se trata de confiar nele, mas em mim. Confiar que posso lidar com minhas decisões, mesmo quando parecem erradas. – olhei para ele. – Isso é amadurecer, não é?

         O sorriso do meu pai era bastante satisfeito em seu rosto. Suspirou pesadamente. Senti que já havia dito tudo o que precisava. Já havia tentado o possível.

— Fico muito orgulhoso de ouvir isso. – Soltou. – Mas me diga... Seu amigo realmente quer toda a responsabilidade para cuidar dos irmãos?

— Ele é completamente maluco, se quer saber. – Soltei um riso fraco. – Mas parece que realmente está sofrendo com tudo isso. E sim, ele está disposto a tudo para ter os irmãos de volta. – Assentiu.

— Kim Taehyung, você disse? – Appa perguntou, curioso. Fiz que sim.

         Logo depois, deixei appa sozinho em seu quarto. Me perguntei onde estaria a Sra. Yanna. Mesmo que isso não fosse da minha conta.

         Caminhei lentamente até meu quarto. Estava exausta, em todos os sentidos. Não era fácil resolver os problemas dos outros.

— Que cara é essa? – Ouvi quando Yoongi perguntou, fazendo careta. Olhei para ele em seguida.

         Eu estava encostada na porta do meu quarto, com a mão na maçaneta, e nem mesmo reparei o quão distraída estava.

— É a minha cara. – Respondi, dando de ombros.

— Porque chegou só agora? – Perguntou, ignorando minha resposta seca.

— Estava com Taehyung. – Respondi, suspirando. Yoongi bufou, e me perguntei o motivo.

— E nesse seu encontro, conseguiu descobrir alguma coisa que possa ajudar o meu amigo? – Era uma pergunta sarcástica. Apertei os olhos para ele.

— Em primeiro lugar, eu não estava em um encontro. – Comecei. – Em segundo lugar, o que eu faço ou deixo de fazer com Taehyung, não é da sua conta... – Usava os dedos para pontuar. – E respondendo a sua curiosidade... – Cruzei os braços. – Eu ainda não posso dizer nada. Mas não se preocupe... Taehyung vai cair em si e eu estarei do lado dele, o apoiando, seja do jeito que for. Diferente do que você, ou os outros, fizeram por ele. – Em seguida, abri a porta do meu quarto, ignorando a expressão de confusão e protesto de Yoongi. Bati a porta com força.

         Não tinha ideia do motivo de ter dito aquilo. Talvez eu estivesse com raiva pela abordagem sarcástica dele. Yoongi estava passando dos limites da interação pacífica. E eu não tinha pavio curto. Dois bipolares não ocupam um mesmo espaço. Ou ele muda,ou eu mostro quem é que fica.