Eles por ela e ela por gatos escrita por Airi


Capítulo 19
Como uma Alice no País das Maravilhas


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que eu demorei, PORÉM, eu deixei avisado no meu perfil que estava voltando, então peguem leve comigo, a escritora aqui acabou de voltar do hospital e tudo, enfim, o capitulo foi dificil de fazer, porque sinceramente eu sinto falta do Serafim e eu estou louca para fazer uma parte que ainda não pode chegar, se não atropela tudo. AUSHASHUAUSH, bom, espero que continuem gostando, algo que eu tenha feito de errado por favor me avisem e ENQUETE!
- Com quem você acha que a Amélia deveria ficar? E porque? -
Respodam se quiserem, é só curiosidade minha. HOHOHO ~
Boa leitura a todos!



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Sentada no sofá do salão principal, lá estava eu, olhando a neve que caia suavemente sobre o jardim lá fora. O que antes estava vivo e cheio de cores, brilhando com os raios de sol, agora estava como eu, melancólico, triste e aparentemente sem vida até a próxima estação. Tudo bem, eu não estaria “sem vida” até a próxima estação, mas era assim que eu me sentia toda vez que ficava sozinha, pensando insistentemente nele e no outro. Eles me traziam muitas duvidas que rodavam minha cabeça e infelizmente meu coração. Enquanto pensava, levei uma das mãos até o coração e comecei a medir suas batidas calmas e rítmicas. Tudo estava normal, perfeito e em seu lugar, como sempre fora. Sem ele eu me mantinha no controle e isso parecia muito errado, como se meu coração quisesse bater rápido novamente e a qualquer momento. Eu sabia que enquanto olhava cada canto do casarão, pensativa, meus olhos o procuravam. Tendo esperança de que em qualquer segundo ele fosse aparecer com aquele sorriso torto e irônico, chamando minha atenção com alguma provocação que iria me pegar de jeito.

Um sorriso involuntário apareceu em meus lábios e senti as batidas começarem a ficar mais rápidas e descompassadas. O nome disso? Esperança. O pouco que ainda restava em mim, que lutava contra minha teimosia de não admitir certas coisas.

– Senhorita Amélia? – escutei alguém me chamar.

O sorriso sumiu rapidamente e tirei minha mão que estava sobre o peito, virando-me bruscamente, um pouco assustada.

– Sim?

– Atrapalhei seus pensamentos?

Espirro parecia um pouco preocupado, mas tratei de acalma-lo antes que mais perguntas surgissem.

– Não. – respondi com um sorriso fraco. – E você deveria estar trabalhando em um momento como este Espirro.

– Hora do almoço. Acho que a Senhorita ficou aqui mais tempo do que pensou.

Ele riu e eu corei, envergonhada por lembrar os meus pensamentos anteriores.

– Ok. Acho que exagerei um pouco, mas o tempo aqui passa rápido.

– Estou começando a achar que a Senhorita está sentindo é sau—

Levantei-me na mesma hora, o puxando em direção ao refeitório.

– O que temos para o almoço hoje?

Mesmo confuso Espirro viu que eu queria mudar o assunto e como um fiel felino, apenas sorriu sem jeito e abaixou as orelhinhas, meio pensativo.

– Acho que hoje temos algo parecido com o que vocês chamam de macarrão.

– Algo parecido? – perguntei curiosa no meio do caminho.

Ele pediu para que eu esperasse e foi o que fiz. Chegando ao refeitório, onde todos os gatos estavam se organizando para a hora do almoço, soltei Espirro e sentei-me em uma mesa afastada. O felino não me seguiu de imediato, voltou algum tempo depois com dois pratos e colocou um na minha frente. Aquele negocio tinha mesmo um cheiro bom e parecido com macarrão.

– Porque a Senhorita se sentou tão afastada dos outros hoje?

– Não estou muito para conversas. – admiti.

– Ao menos coma um pouco.

A voz preocupada do meu pequenino felino assustado me chamou a atenção. Ele parecia estar realmente preocupado com o meu estado meio morto dos últimos dias, afinal, ele quem tinha que aguentar toda a minha melancolia. Suas orelhinhas tinham se mantido um pouco para baixo toda vez que eu o olhava e ele estava sempre com uma expressão triste e séria, e não a assustada e engraçada de sempre. Eu deveria ter mudado com a ausência dele e os pensamentos confusos sobre Sebastian.

Peguei o prato e mesmo sem fome, comecei a comer alegremente. O gosto era realmente bom e foi o suficiente para fazer Espirro sentar-se na minha frente e começar a comer quietinho, com as orelhinhas, aos poucos, voltando para cima.

– Espirro.

– Sim?

Respirei fundo e comecei o assunto que sabia que daria alguns problemas.

– Preciso continuar visitando Sebastian.

A resposta demorou e então o olhei de canto, e lá estava a expressão que tanto esperei ver em meu pequeno companheiro. Os olhos arregalados, as mãos tremulas, as orelhinhas para baixo e a respiração rápida. Não aguentando, comecei a rir e até engasguei um pouco com a comida.

– I-I-Impossível! – ele berrou, batendo as duas mãos na mesa. – Senhorita Amélia, você só pode estar brincando comigo!

Fiz um gesto com as mãos, pedindo para que ele falasse mais baixo, já que agora vários gatos curiosos tinham parado de comer e estavam com as orelhinhas em pé, esperando as próximas palavras. O felino negro olhou e disse que conversaríamos melhor no meu quarto logo após o almoço.

Como não queria nenhum infeliz no meu pé ou dando bronca em Espirro, concordei e terminei rapidamente minha refeição e segui em direção ao meu quarto. Aconcheguei-me na cama, colocando vários travesseiros em volta e me cobrindo com a coberta que estava no pé da cama, o quarto estava gelado por causa do vento que entrava por uma das frestinhas da porta de vidro da sacada. Eu teria que mudar de quarto.

– Senhorita Amélia?

Escutei Espirro da porta de entrada, todo preocupado.

– Sinto muito a demora. Assim que você saiu, eles vieram em cima de mim por ouvir o nome de Sebastian.

– Mas como...

Parei na mesma hora, dando um tapa de leve na testa.

– ...é mesmo, vocês são gatos, escutam melhor que os humanos.

– Mas não se preocupe com isso, por alguma razão, apenas ouviram o nome dele, e não sua frase inteira.

– Talvez eles não estivessem prestando atenção na nossa conversa até ouvir o nome todo proibido né. – respondi um pouco irônica. – Mas isso não vem muito ao caso agora, se eles não suspeitam de mais nada, então está tudo bem, mas eu realmente preciso continuar vendo ele Espirro.

Após dar uma boa olhada em volta, com as orelhinhas atentas para ver se tinha alguém por perto, Espirro respondeu.

– Por quê?

– O tempo que você me deu foi muito curto, e além disso Sebastian é esperto demais, todos estes dias ele conseguiu fugir do assunto sutilmente e me fez falar o tempo todo de mim e dos costumes humanos da época atual, ou seja, a minha.

– Ele está sabendo muito sobre você Senhorita Amélia. – Espirro se aproximou e sussurrou para mim. – Tome mais cuidado com isso, está bem? Mas acho que posso dar um jeito de você usar o tempo que tem disponível para ir visita-lo, mas terá que ser de noite.

– De noite?

– Sim. Após o por do sol todos os felinos ficam preocupados em ir para seus quartos, principalmente no inverno.

– Mas de noite ele pode estar dormindo Espirro.

– Para você, ele sempre terá o tempo que quiser senhorita Amélia e parece que a senhorita ainda não percebeu isso. – ele disse entre uma risadinha besta. – Então lhe dou os dias que quiser, desde que seja de noite.

– Bom, se não vai te comprometer. – suspirei. – É o mínimo que posso fazer para compensar seus esforços por me ajudar Espirro. Obrigada.

– Ora essa, quanta formalidade! – ele disse todo animado, com um sorriso infantil.

– É mesmo.

Aproximei- me do pequenino e lhe fiz um carinho na cabeça.

– Está sorrindo.

Espirro comentou feliz e com um sorriso que eu jamais havia visto em seu rosto infantil. Ele parecia mesmo feliz com isso. E era verdade, sem perceber eu estava sorrindo despreocupada enquanto lhe acariciava a cabeça. Isso por me sentir calma ao lado do pequeno felino que eu já tinha como um irmão mais novo que vivia querendo fazer o papel de mais velho porque a irmã aqui tem sérios problemas psicológicos e não se cuida direito.

Combinamos os horários certinhos para não dar nenhuma confusão e Espirro voltou ao trabalho, me deixando novamente sozinha. Entre suspiros de irritação e frustração, acabei adormecendo e sonhando novamente com Phie, a mãe deles. Mas ela não estava com os meninos e nem falou comigo, eu parecia ser invisível desta vez. Ela estava sentada num tronco de madeira, olhando as planícies verdes, com os cabelos bagunçados pelo vento forte, as orelhinhas para cima, atentas e segurava algo nas mãos que me parecia uma carta.

Não demorou muito tempo para que ela se levantasse, apertando a carta contra o peito e olhando fixamente para um ponto lá embaixo. Me aproximei um pouco mais, vendo se eu era mesmo invisível naquele sonho, e olhei para baixo, vendo que alguém vinha na direção dela. O estranho era que o homem não possuía orelhas de gato. Um pouco surpresa, olhei para trás, encarando a expressão apaixonada de Phie, que falou algo, enquanto uma lagrima caia por seu rosto pálido. Ela parecia mesmo muito feliz com a carta em mãos e olhando aquele homem.

Segui novamente o olhar para o homem que estava com um dos braços levantados para cima e acenando. Ele dizia algo, mas estava longe demais para que eu pudesse ler seus lábios. Quem seria ele?

Phie falou novamente algo, que pude ouvir baixinho, mas meus sentidos já estavam bem confusos e apaguei, logo depois abrindo os olhos e saltando da cama, vendo que estava no quarto escuro e frio do casarão. Respirando fundo, sentei-me na beirada da cama, tentando acalmar os ânimos, encarando a lua que já estava alta no céu.

– Meu deus, eu dormi tanto assim.

– Dormiu.

Ouvi Espirro ao meu lado e logo dei um berro, caindo da cama.

– A Senhorita está bem? – perguntou todo preocupado.

– Sim! Mas levei um susto seu desnaturado! – berrei em resposta.

Sai do chão e o encarei com ares de irritação, mas o pequeno felino, ao invés de se encolher, me olhou docemente, com um sorriso animado.

– Porque tanta animação hein?

Mesmo meu estado irritado parecia não deixa-lo com medo, e isso me intrigava.

– Porque estou conseguindo fazer você rir Senhorita Amélia, alias, sabe quantos dias seguidos você ficou muda, pensativa e com expressões de melancolia?

Após uma breve pausa na conversa, resolvi responde-lo. Era hora de compartilhar algumas coisas com ele.

Desculpa. – comentei baixinho, primeiramente, sentando ao seu lado. – Fiquei pensando nas coisas que tinham acontecido e dizer que não me chateei com a viagem repentina de Serafim seria mentira. Ele que me trouxe para cá e sem ao menos um bom motivo me deixa desamparada? Isso não foi justo comigo, além de mentiroso ele foi um tremendo canalha comigo.

Era incrível como minhas palavras conseguiam fluir, após tanto tempo calada. A presença de Espirro me acalmava e fazia algo dentro de mim querer se abrir, jogar todo o sentimento ruim para fora.

– E estou passando por tantas coisas de uma só vez que tem momentos que penso que vou ficar louca! E tive outro sonho Espirro, porém apenas com Phie, como se fosse um fragmento da memoria dela, como isso é possível?

Indignada, me levantei e fui até a janela, desistindo de abri-la quando vi que nuvens tímidas se formavam acima do casarão. Logo estaria nevando.

– Fui pesquisar sobre isso Senhorita Amélia e consigo concluir apenas uma coisa desses seus sonhos estranhos. – Espirro comentou calmo e após um suspiro, concluiu. – Existe mais do que apenas um motivo para você estar aqui.

– Acha que...

– Você não está aqui por acaso, e não foi de caso pensado que o Mestre lhe trouxe, e sim porque existe alguma coisa relacionada a você nesta dimensão e é seu dever, sozinha, desvendar isso.

O comentário de meu pequeno escudeiro era previsível e talvez no fundo eu estivesse esperando que ele dissesse algo parecido, porém me surpreendeu o tom sério e acabei rindo baixinho, o que chamou a atenção dele que moveu uma das orelhinhas.

– Está certo. Eu já estava mesmo desconfiada de tudo isso e vou começar a pesquisar, começando por Sebastian. – respondi determinada.

– Pelo Senhor Sebastian?

Espirro se demonstrava agora curioso, com a cauda balançando atrás de si e as orelhinhas em pé, pronto para que eu continuasse.

– Sim, ele age como se soubesse de algo.

– Ele age como se soubesse de muitas coisas Senhorita Amélia, isso pode ser uma armadilha para prender você.

– Nunca pensou que ele pode, de fato, saber de algo que nenhum de vocês sabe?

– Impossível. O Senhor Sebastian está banido do mundo, ele não tem contato com nada.

– Pelas informações que você recebe e eu duvido muito que tenham dito a verdade, ou que saibam da verdade. Mas isso eu discuto com você outra hora Espirro, preciso ir visita-lo.

– Está bem, venha comigo.

Fomos em silencio até o salão principal, parecia que já era tarde e todos estavam em seus quartos, dormindo ou se preparando para dormir para mais um dia de trabalho. Chegando à frente da porta que dava para a Ala Oeste, Espirro me deu mais um aviso.

– Não se esqueça, o sol apareceu no horizonte, venha correndo. É mais fácil de mentir com você no salão principal, sentada ou largada no sofá, do que com você nos corredores da Ala Oeste.

Assenti, concordando com Espirro e lhe puxei para um abraço apertado.

– Não sabe o quanto está sendo importante para mim seu apoio Espirro. Obrigada.

O felino não me retribuiu o abraço e logo se afastou todo eufórico e coçando a cabeça, abrindo a porta e mandando eu me mandar dali. Às vezes penso que ele não está acostumado a ser tratado com carinho ou com importância, também, nunca o vi tentar se destacar ou sair detrás de Serafim ou outros gatos, o que estava me surpreendendo muito, vê-lo todo empenhando em descobrir o que eu realmente estava fazendo ali. Aos poucos, o gatinho medroso e preocupado estava se demonstrando um forte aliado, por sua curiosidade, e com uma força de vontade até maior do que de certo gato convencido.

Como já sabia de cor o caminho, a má iluminação não me atrapalhou, e eu até teria me assustado, se as luzes lá de fora não estivessem acesas. Um calafrio estava percorrendo por meu corpo desde que eu acordara do sonho com Phie e minhas pernas ainda tremiam um pouco, presumi que era o frio e continuei o caminho até abrir a porta do final do corredor, sentindo aquele golpe de ar gelado passar por mim.

A neve caia suavemente, em pequenos flocos, e já cobria a maior parte do jardim abandonado. Uma cena linda, porém melancólica estava acontecendo a minha frente. Sebastian estava sentado embaixo de uma das poucas arvores em seu quintal particular, e após me aproximar alguns passos da grade de metal enferrujada, vi que estava de olhos fechados e segurava um livro aberto sobre suas pernas esticadas na grama. Estava todo coberto pelos floquinhos de neve.

Entrei com cuidado, tentando não fazer muito barulho, juntando as mãos e as assoprando, pretendendo inutilmente espantar o frio. Aproximei-me a passos desconfiados e lentos, analisando bem suas expressões, qualquer sinal de que estivesse fingindo eu continuaria afastada e chamaria sua atenção, mas parecia que ele realmente estava adormecido. A expressão calma, indefesa, assim como de Serafim naquela vez, uma visão linda de alguém que sempre está na defensiva. Seu peito subia e descia suavemente, despreocupado com o frio ou com a minha presença, os cabelos compridos jogados para o lado, com apenas uma parte cobrindo seu rosto pálido e a mão que não segurava o livro, estava repousada em seu colo com a palma para cima e por entre seus dedos havia algo que ele estava segurando. Curiosa, aproximei-me devagar e ajoelhei ao lado dele, tentando descobrir o que seria aquela pequena coisa avermelhada que ele estava segurando.

Desviei minha atenção à outra mão, que segurava uma pagina do livro de capa dura e envelhecido aberto. Com cuidado, aproximei minhas mãos e toquei na capa do livro, o puxando para cima para ver seu conteúdo. A mão do felino deslizou para o lado sem movimentos seguintes, o que me preocupou por um instante, e logo voltei a deslizar os olhos pelas paginas, vendo que era um livro de química, ou como os antigos e eles gostavam de chamar: Alquimia.

Continham varias formulas estranhas e o texto estava escrito em uma língua ilegível para mim, provavelmente latim, já que reconheci alguns símbolos que vi quando era pequena, nada demais, se não fossem pelas ilustrações bizarras que me pareciam mortos se levantando de seus túmulos e mutações.

Arrepiada, fechei o livro rapidamente e o coloquei ao lado do braço de Sebastian, que estava encostado na arvore. Os toques leves não o acordavam e seu corpo não se mexia de forma alguma. Senti uma pontada no peito, que afastou rapidamente o frio e a tremedeira de meu corpo e peguei a mão que parecia estar com algo rubro na palma para verificar sua temperatura. Normal e ainda por cima com o susto o felino acordou bruscamente, abrindo seus lindos olhos cor de mel e me encarando assustado.

Em poucos segundos estávamos assim, novamente tão próximos, porém por um descuido meu, com minhas mãos sendo esmagadas pelas dele e meus olhos sendo devorados pelos olhos assustados e apaixonados dele. Fiquei estática, não sabia como reagir, ou ao menos não me lembrava, e foi então que vi que por detrás daquela expressão de gatinho assustado, Sebastian parecia procurar algo. Algo que estava, provavelmente, em seus sonhos e que eu havia perturbado.

Voltando a realidade, desviei os olhos e tentei ignorar as batidas rápidas do meu coração enquanto me afastava e sentava-me a frente dele, que ajeitou as costas no tronco da arvore e pegou o livro que estava do seu lado.

– Sinto muito.

Foi tudo o que eu consegui dizer naquele momento tentando me afastar mais e mais, lentamente.

– Sem problemas.

Ele respondeu seco, pegando minhas mãos novamente e colocando algo em minha palma.

– Você deixou cair isso da ultima vez, me surpreende não ter sentido falta.

Sua voz não havia mudado o tom seco, porém seus olhos agora me rondavam, eu podia sentir eles sobre mim, como se quisesse analisar meus movimentos. Tentando ignorar a sensação estranha, voltei à atenção ao que estava em minhas mãos e tapei a boca, segurando um grito abafado, quando vi o que era.

– O anel! Mas como fui deixar para trás uma coisa tão importante dessas? – comentei distraída, o colocando de volta no dedo. – Sem isso Serafim iria acabar comigo.

– Você é bem distraída não?

– Sim, um pouco.

Mesmo tentando descontrair o momento com um tom mais animado e bobo, Sebastian ainda ria melancolicamente e parecia não querer se mexer muito. Parecia, pela primeira vez em tempos, desconfortável com a minha presença inofensiva. Curiosa, continuei a conversa por mais algum tempo, vendo que o felino se mexia o tempo todo, suas mãos estavam bem presas ao livro, e quando me aproximava, sua calda se mexia e suas orelhas iam levemente para trás, enquanto ele se afastava sutilmente.

Ele não queria me tocar?

Com respostas curtas e sem perguntas para que a conversa continuasse, Sebastian parecia tentar achar um modo de me mandar embora sem que parecesse rude. O que me deixou ainda mais intrigada e preocupada, afinal, ele poderia estar escondendo algo importante de mim. Eu precisava investigar certo?

– Está frio aqui do lado fora, o que fazia aqui?

Perguntei após alguns segundos de silêncio. Achando uma boa brecha, o felino voltou seus olhos para mim e depois se distraiu com os flocos, agora grandes, de neve que caiam em volta.

– Gosto do frio, dessa paisagem morta e melancólica que ele trás junto. Porém, para mim o frio não significa muita coisa, mas para você que é humana deve estar sendo difícil, não quer –.

– Ir embora?

Completei a frase dele um pouco emburrada, com os braços cruzados e o olhando diretamente nos olhos, coisa que mal faço. Sentia-me irritada por ele querer que eu fosse embora, me tratar com indiferença não fazia seu estilo, muito menos não me olhar direito. Tal pensamento causou certo frio na região da barriga e meu coração voltou a palpitar, porém certamente angustiado e não esperançoso. O que esta acontecendo comigo?

– Está frio Amélia, e é de noite, não deveria ter vindo até aqui. Me surpreende ver você a essa hora, com esse tempo sentada a minha frente no jardim, você está querendo morrer congelada, só pode ser isso.

Sebastian respondeu ainda sem me olhar, levantando.

– O que houve? – rebati aflita, sem me levantar. – Você está estranho Sebastian.

– Não. Estou apenas do jeito que deveria ter agido assim que lhe conheci.

– Como é? Você prometeu que tentaria ser...

Parei. O que eu ia dizer já não tinha mais sentido, pois o que eu estava sentindo era uma rejeição parecida com a que senti com Serafim quando ele foi embora dias atrás. Passei a olhar para a grama completamente branca e depois para a palma pálida das minhas mãos. Sebastian parecia estar apenas esperando, impaciente, minha resposta, mas era inevitavel, eu não conseguia organizar os pensamentos em minha cabeça e tudo parecia e não parecia fazer sentido.

– Amélia. - escutei após um tempo. - Você está bem?

Somente nesse momento que consegui erguer a cabeça, lentamente, agora encarando cara a cara Sebastian, que ao mesmo tempo que parecia preocupado, tentava manter certa distância. Movimentei a cabeça tentando dizer que sim, me levantei, dando somente alguns passos antes de encarar o chão novamente. Eu havia caido e num rápido movimento Sebastian tinha me segurando e estava me apoiando em uma de suas pernas, com suas braços em meus ombros.

– Desculpa, fiquei meio tonta. - respondi incerta tantando me levantar.

– Não, Amélia. - Sebastian comentou preocupado, me empurrando levemente para trás e me apoiando em uma de suas mãos, levando a outra até minha testa. - Você está ardendo em febre.

Ele parecia preocupado, mas eu estava me sentindo exausta demais para perceber mais detalhes. Somente agora vi que estava cansada, meus olhos estavam querendo se fechar involuntariamente, mas eu ainda estava tentando ser forte e continuei, com um sorriso fraco.

– Não seja bobo, deve ser só porque está frio.

– Eu deveria ter percebido, você não está com o rosto todo corado como costuma estar e eu não posso lhe levar para dentro. - ele continuou com uma voz irritada. - Sua teimosia só me deixou uma escolha.

Ia perguntar qual, mas senti o dedo indicador de Sebastian tocar meus lábios e por entre uma piscada lenta e outra vi um sorriso vindo dele. O que ele pretendia?

Assim, me jogou para frente, me apoiando no outro braço, enquanto passava o livre para minhas pernas, me pegando no colo no estilo princesa, porém eu não tinha forças o suficiente para segurar o pescoço dele, mas antes que minha cabeça caisse para trás ele a segurou delicadamente e começou a se dirigir para o lado oposto do portão de ferro. Meus olhos foram se fechando aos poucos até eu não ver ou ouvir mais nada.

Quando acordei, me mexi vagarosamente por uma cama acolchoada, puxando o cobertor fofo para me cobrir mais, eu ainda sentia muito frio. Ao afundar a cabeça no travesseiro senti um cheiro conhecido, um perfume doce. Comecei a me perguntar o que havia acontecido para que eu me sentisse tão debilitada, mas uma linda melodia tocava ao fundo, como se tivessem aberto uma caixinha de musica, lembrando-me vagamente de minha infância.

Resolvi abrir os olhos, encarando uma parede escura de pedra e comecei a especionar o local, passando os olhos para os outros lugares, vendo que estava num quarto todo escurecido e com detalhes de madeira igualmente escura e uma pequena janela por onde entrava os poucos raios de sol. Já era de manhã? Foi então que a lembrança do dia anterior voltou como um raio a minha mente e eu pulei na cama, sentando-me, como se tivesse tido um pesadelo terrivel e mesmo sendo isso que eu torcia para ter acontecido, acabei constatando que não era, quandotentei me levantar, e tudo voltou a girar e eu cai para trás, sentindo uma mão grande me apoiar, e uma voz aveludada soprar perto do meu ouvido.

– Ainda não pode levantar princesa.

– Sebastian?

Me virei na hora, encarando o par de olhos cor de mel intensos, me olhando com preocupação, porém com uma grande satisfação.

– Espero que tenha uma ótima desculpa quando voltar, já é de manhã.

– Onde estou? - perguntei preocupada.

Ignorando minha pergunta, ele continuou.

– Deveria me agradecer por ter ajudado você. Sabe o estado que estava?

– Eu estou ótima, pode tirar sua mão de mim agora? - disse ríspida, me sacudindo.

Na mesma hora ele tirou o braço e se afastou, sentando-se numa cadeira, mas ainda me observando.

– Está muito nervosinha para alguém que quase se denunciou ontem.

– Não me venha com sarcasmo Sebastian.

– Quem desmaiou foi você, eu apenas lhe trouxe aqui para dentro e cuidei de você. Sabe que sou limitado a esse espaço fisico.

Com a ultima frase percebi que estava mesmo pegando um pouco pesado com ele, porém o nervosismo as vezes me fazia esquecer de que ele se fazia de dificil para não chegar perto, assim, não tive escolha a não ser relaxar e me reencostar no travesseiro fofo e cruzar as mãos sobre meu colo.

Espirro irá me matar por não ter comprido o trato com ele, porém não tem como, novamente o Destino me pregou uma peça e tanto. Droga.

– Está bem.

Disse meio "vencida".

– Obrigada por ter me ajudado, o problema é que tudo foi tão rápido que eu não consegui pensar em outra coisa a não ser...

– Eu não fiz nada, se é o que está pensando. - ele me cortou.

– Mas do mesmo jeito, agora que estou aqui, precisamos conversar e você não vai mais escapar. - disse autoritária.

– Temos tempo? - ele zombou.

– Você sabe que temos.

O sorriso zombeteiro começou a sumir do rosto de Sebastian, e ele passou a ficar com uma expressão nervosa no rosto, estava claro que ele não queria conversar sobre o assunto que eu queria. Sorri involuntariamente ao ver que ele havia cedido, ao menos temporariamente.

– Pergunte o que quiser, mas vou avisando: Você poderá ouvir o que não quer.

Minha gargante fechou levemente e minha respiração aumentou, ficando um pouco descompassada e mesmo com o coração na boca, resolvi criar coragem e fazer a primeira pergunta.

– Os meus sonhos Sebastian, porque são com a Phie?

Ele se virou para a janela, encarando um raio fraco de sol que batia em seu rosto, deixando seus olhos bem mais claros. Era obvio seu nervosismo, suas orelhas felpudas tinham ido para trás e a cauda balançava. Cruzou as mãos acima do peito e assim ele finalmente começou a responder aquilo que eu sabia que ele tinha a resposta.

                          


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Notas finais do capítulo

Imagem de hoje: Sebastian como gatinho e Amélia!
Obrigada por lerem *-*



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