você não devia nem estar aqui escrita por Astaroth


Capítulo 1
I




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Nico acordou com um calafrio. Puxou o cobertor para se esquentar e coçou os olhos, que demoraram um pouco para se adaptarem à luz verde das tochas de fogo-grego.

Que ótima ideia de decoração, Nico. Como se esse lugar já não fosse deprimente o suficiente.

Ele tinha idealizado o chalé (e o construído com ajuda de um esqueleto arquiteto e alguns pedreiros zumbis) logo após a batalha contra Cronos, e na época aquela decoração parecera ser uma ótima ideia. Agora, o mármore escuro o deixava desconfortável e o verde pálido criava sombras que o davam náuseas.

— É muito estranho um filho de Hades não se sentir à vontade perto de sombras? — perguntou.

A resposta demorou um pouco para vir.

— Depois de tudo, eu acharia estranho se você se sentisse à vontade perto delas. — A voz de Will geralmente era engraçada; ele tinha a tendência de, de vez em quando, falar cantando. Uma das poucas melodias que ainda conseguiam animar o astral de Nico. No entanto, sua voz não carregava aquela tonalidade característica. Soava cansada e fraca, mesmo que um sorriso aparecesse nos lábios dele. — Outro pesadelo?

— Não tenho sonhado com nada ultimamente — respondeu, um tanto seco. Não esperava convencê-lo, mas mentiu do mesmo jeito. — Só tô com frio.

Will levantou uma sobrancelha.

— Frio? Aqui não tem janelas. — O cabelo desgrenhado parecia ainda mais bagunçado, e a regata dos Beatles estava suja com algo que Nico não conseguia discernir muito bem o que era.

— Eu não tinha um bom gosto quando pensei nesse lugar — admitiu. Não bastassem as paredes negras, as camas em forma de caixão (sério, caixões?) e o calor vindo das tochas esverdeadas, o chalé não tinha uma janela sequer. Era tudo tão escuro e abafado. Tudo tão... morto. Antes apropriada, a decoração agora só servia para deixar Nico ainda mais apreensivo. A presença de Solace ajudava: o garoto trazia vida ao lugar. E vida era algo que estava faltando em sua vida.

— E tem agora? — Will brincou, rindo um pouco. Sentou-se na cama e colocou a mão na testa do outro. — Você tá com febre. — Não parecia muito surpreso. — Vou preparar alguma coisa. — Próximo como estava, era fácil identificar os sinais de cansaço: as olheiras estavam maiores, as pálpebras um tanto caídas e os olhos cada vez mais vermelhos.

Levantou-se, bocejou um pouco e foi em direção a uma pequena bancada com ervas. Pegou uma faca e começou a cortá-las, enquanto cantarolava uma canção sem letras. Perguntou-se há quanto tempo Will não dormia; provavelmente mais do que ele próprio. Nico o observava, as costas largas e os músculos que outrora foram maiores trabalhavam não tão rápido. Quantos quilos ele tinha emagrecido?

— Você não precisava estar fazendo isso. — Não recebeu resposta dessa vez. O mais próximo que teve foi um pigarreio, o singelo modo de Will dizer “cala a boca, cara”.

Mas era verdade. Nico tinha feito sua dever: levara, com a ajuda de Reyna e Hedge, a Atena Paternos ao acampamento. Sua missão estava cumprida. Mas aquilo não era a missão de Will. Não era sua obrigação estar lá.

— Toma, vai se sentir melhor. — Tinha aparecido com um punhado de ervas picadas e um copo com água. Nico nunca fora um grande fã dessa tal medicina natural, porém já havia mastigado tantas plantas nos últimos dias que estava começando a se acostumar.

— Como estão os outros? — perguntou, após beber e devolver o copo.

— Estão melhorando. O pessoal mais grave não deve demorar muito pra receber alta. — Fez uma pausa, como se sua mente não estivesse processando direito. — Daqui a pouco eu vou lá dar uma checada.

— Que horas são?

— São quase cinco da manhã.

A conversa não durou muito mais. Nico não estava realmente no humor para bater papo, e, após ter certeza que a febre tinha diminuído, Will logo se retirou para a outra cama, a cama de Hazel.

Ah, Hazel... Como ela estaria agora? Fazia tempo que não conversavam. Ele gostaria disso.

Encostou a cabeça no travesseiro vermelho e fechou os olhos rapidamente. Não queria ver as sombras causadas pelo fogo.

O Tártaro não era uma boa lembrança.


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