Uma Galáxia Inteira escrita por Sarah


Capítulo 6
A mesma dor, mas não o mesmo sangue




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A mesma dor, mas não o mesmo sangue

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Ronan era uma bagunça. Se pudesse pensar, saberia que a única coisa que o tinha feito aparatar no lugar certo era sua ligação com Adam. Ele sequer sabia aparatar direito, ainda não possuía permissão para fazer magia fora da escola, e tinha apenas o endereço de Adam e um ligeiro vislumbre da casa, roubado de uma fotografia que o garoto estivera relutante em compartilhar.

Era um milagre que ele não tivesse estrunchado, mas, em vez de com um braço ou perna faltando, ele estava só muito zonzo e camabeleou alguns passos até conseguir se firmar o suficiente para correr.

A propriedade dos Parrish era tão decadente quanto Adam fizera parecer, numa das poucas vezes que se dispusera a falar sobre sua casa. O mato não cortado arranhou suas canelas enquanto Ronan corria, e era absurdamente estranho poder sentir algo tão simples ao mesmo tempo que a dor de Adam o sufocava.

Havia gritos quando chegou perto da entrada, mas ele não identificou a voz de Adam, e isso o apavorou ainda mais. Ronan não executou nenhum feitiço conscientemente, porém, ainda assim, a porta explodiu fora das fechaduras, dando passagem a ele.

Só soube que estava tremendo porque sua varinha sacudia em suas mãos. Havia uma mulher encolhida no canto, que gritou quando Ronan apontou a varinha para ela, mas os dois outros ocupantes da sala demoraram mais tempo para perceber sua presença. A dor na sua cabeça — na cabeça de Adam — foi pior do que nunca: um zumbido fino e lacerante que rasgava seu cérebro de um ouvido ao outro.

Sangue estava pingando do nariz de Adam e sua face esquerda era muito vermelha, indicando o nascimento de uma nova galáxia. Ele ainda estava meio caído quando Robert Parrish acertou um pontapé no meio das suas costelas.

A agonia transpassou Ronan e ele explodiu em pura ira.

A casa pequena encheu-se de luz azul. Parrish foi pego de surpresa pelo feitiço, que o acertou no meio das costas, mas a mágica foi insuficiente para nocauteá-lo; e então o homem estava revidando. Dessa vez Adam também gritou. Sua própria dor se juntou à dele, mas era óbvio que Robert não esperava que Ronan fosse tão bom em duelos, nem que tivesse tanta fúria para queimar.

A última coisa que ele sentiu antes de os funcionários do ministério o deterem foi sua varinha muito quente, ardendo contra a palma da sua mão.

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Não mais do que meia hora depois do acontecido, a mãe de Gansey tinha encontrado-o na saleta de um funcionário do Ministério, tirado-o dali e levado para o St. Mungus, na sala de espera imediatamente à frente de onde Adam estava sendo atendido.

Gansey se juntou a ele logo em seguida, simplesmente se sentando em silêncio ao seu lado. Alguém devia ter dado um sedativo para Adam, porque qualquer dor que vinha dele tinha se reduzido a um leve sussurro. Por sua vez, seus próprios machucados começavam a latejar.

— Você está bem? — Gansey perguntou após alguns minutos, finalmente vencido por sua necessidade natural de cuidar. Ronan sacudiu a cabeça. — Tem certeza? — Nem por um inferno ele ia sair dali sem saber o que tinha acontecido com Adam, então Ronan sacudiu a cabeça novamente. Gansey devia ter compreendido, pois passou o braço por seus ombros e o apertou mais junto de si. — Meu pai encaminhou Adam para cá enquanto minha mãe foi pegar você, ele está com bons medíbruxos, eu prometo.

— Adam vai enlouquecer com isso — Ronan falou, embora fosse óbvio que não era uma crítica.

— Ele vai ter que superar... Ele nunca devia ter voltado para casa. — Gansey suspirou. — Você também, minha mãe está cuidando das coisas com o Ministério para justificar o uso de magia fora da escola, você vai ficar bem.

Ronan poderia dizer que estava pouco se importando para Hogwarts ou para o Ministério, mas não estava com ânimo para entrar numa briga com Gansey.

— Obrigado — forçou-se a falar, e Gansey estreitou o aperto em seus ombros.

Voltaram a ficar em silêncio. Um curandeiro saiu da sala de emergência onde Adam estava, e Gansey o seguiu pelo corredor atrás de notícias, porém não obteve mais do que uma dispensa pouco amigável e orientação para que continuassem esperando. Ao retornar, ele trouxe uma coca-cola para Ronan. Só então Ronan reparou que não tinha comido nem bebido nada durante as últimas oito horas. O doce picou sua língua. Ele sentiria ainda mais sede depois, mas naquele instante o açúcar foi bem vindo.

Gansey concentrou-se no seu suco de abóbora altamente industrializado até que Ronan arrotou e amassou a lata de coca. Diante do gesto, ele ergueu o olhar e o fitou de canto de olho.

— Como você sabia o que estava acontecendo? Como chegou lá na hora certa?

Ronan gostaria que Gansey tivesse esperado mais tempo para fazer aquela pergunta. Gostaria que Noah estivesse ali. Poderia inventar uma desculpa — Deus sabia que ele já tinha inventado muitas desculpas durante a vida —, mas naquele momento sentia-se muito cansado, sua própria dor e a dor de Adam correndo em suas veias e o desespero de pensar que poderia perdê-lo ainda cru. Ronan simplesmente não queria inventar uma mentira.

— Eu senti — falou em vez disso, apertando a face no lugar onde o primeiro golpe de Robert Parrish tinha atingido Adam. — Adam é minha pessoa, Gansey. Posso sentir a dor dele.

Esperou que Gansey fosse mostrar alguma aversão, mas ele só abriu a boca em surpresa.

— Você e Adam?

Ronan negou.

— Só eu. Nunca aconteceu nada, Gansey. — Assegurar isso parecia importante. — Adam estava com Blue, eu acho que ele nem mesmo sabe da ligação.

Foi a vez de Gansey balançar a cabeça em negação.

— Adam não está mais com a Blue. Eu e ela... — Era justo que Gansey oferecesse um segredo em troca do que Ronan estava dizendo. Ronan também achou decente da parte dele corar, mas isso não o impediu de rolar os olhos.

— Eu sei. Adam também sabe. Vocês dois são idiotas, acharam mesmo que a gente não ia notar?   

Pelo olhar em seu rosto ele obviamente achava que não, porém não era sobre os segredos de Gansey que estavam falando, e o garoto tampouco tinha interesse de levar a conversa naquela direção.  

— Como é sentir uma ligação? — ele perguntou.

Ronan encolheu os ombros.

— Dolorido. — Os socos de Robert Parrish tinham desestabilizado seu mundo, chacoalhado até o interior dos seus ossos. Doia ainda mais saber que Adam vinha aguentando aquilo a vida toda. Tinha sido uma tortura vê-lo com Blue. Oh, sua pele ardia com vontade de tocar Adam, beijá-lo, deslizar mãos pela curva de suas omoplatas, tocar os nós de seus dedos com os lábios, deixar que ele o levasse para baixo e o tomasse. E, para além de tudo isso, Ronan morria de medo de como Adam iria reagir quando soubesse sobre como se sentia. — Você não acha estranho que eu tenha a ligação com outro cara?

 Gansey voltou a tocá-lo, pousando a mão no seu antebraço, meio um conforto, meio um carinho. Um dos golpes tinha acertado Adam bem ali, e Ronan se perguntou se Gansey tinha visto a marca antes de o garoto ser levado pelos medibruxos e tinha escolhido aquele lugar para colcoar a mão de propósito.

— É uma magia poderosa, Ronan. Você provavelmente salvou a vida de Adam por causa dela, não pode ser algo ruim. Você tem sorte, eu gostaria de sentir isso com a Blue.

— A pessoa que matou Noah era sua alma-gêmea — Ronan deixou escapar. Aquele não era seu segredo para contar, mas a coisa vinha consumindo-o. — Ele ficou irado por ter a ligação com um homem. — Os olhos de Gansey se arregalaram, mas o garoto se manteve firme.

— Adam não será assim. — A certeza de Gansey era absoluta, e Ronan sentiu algum alívio naquilo. — E não importa o que Adam diga, Ronan, você não vai estar sozinho, eu prometo.

Talvez não, Ronan considerou, a mão de Gansey ainda contra sua pele. Então, porque ele já tinha derramado tantos segredos, pareceu fácil continuar.

— Eu também tiro coisas dos meus sonhos...


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