Quietude escrita por Sarah


Capítulo 10
Capítulo 10




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Steve esfregou os olhos, levantando-se. Ainda era muito cedo, provavelmente não faria mal se dormisse mais algumas horas, mas precisava urinar. Deu um último olhar de esguelha para Bucky, deitado de bruços, dormindo a sono solto, antes de se virar para sair do quarto. A ideia era fazer isso em silêncio, porém, ao dar um passo para fora da porta, seus pés enroscaram em alguma coisa que girou, produzindo um som metálico que reverbou por todo o apartamento. O Capitão tropeçou e só não caiu no chão porque a parede do outro lado do corredor estava perto o suficiente para que ele se agarrasse nela.

Em meio segundo, Bucky estava ao seu lado.

— Mas que merda? — ele perguntou, os olhos inchados e a voz pesada de sono.

Steve ainda estava tentando entender o que tinha acontecido quando o outro se curvou, pegando seu escudo do chão. Ao ver o objeto — que não devia estar ali —, o Capitão assumiu uma postura combativa, mas, ao que parecia, já era tarde demais.

— Vocês estão dormindo no mesmo quarto? — a voz de Clint soou pelo apartamento, e Steve deparou-se com ele encarapitado sobre a bancada da cozinha, obviamente recém saído de uma missão noturna. Uma mistura de alívio e irritação encheu seu peito. Estava prestes a perguntar o que ele estava fazendo ali e dizer que dividir o quarto com Bucky não queria dizer nada, mas Clint foi mais rápido, continuando sem dar atenção àquelas questões: — Vocês definitivamente precisam de um alarme na porta. E nas janelas. Vou falar com a Natasha e amanhã alguém vai vir instalar...

— Nós não precisamos de um alarme! — Steve finalmente o interrompeu. Não era como se algo do tipo fosse impedi-lo de estar ali, de qualquer forma. — E você pode, por favor, sair da minha bancada, isso não é feito para sentar.

Clint suspirou como quem não se importa, mas, no fim, provavelmente percebeu que o Capitão estava prestes a tirá-lo dali a força se ele continuasse em seu lugar. Pulou para fora da bancada com elegância.

— Você devia estar me agradecendo por trazer seu brinquedo de volta — ele falou, fazendo um gesto em direção ao escudo que Bucky ainda segurava. — Saí do meu caminho para casa só para entregá-lo.

— Por que você está com isso? — o Soldado questionou, fitando Clint com o cenho franzido. Cada músculo do seu corpo parecia tensionado.

 Devagar, Steve se aproximou dele e retirou o escudo de sua mão. A última coisa que precisava era que aquela situação fizesse ruir a estabilidade que Bucky tinha conseguido até ali.

— Está tudo bem, Bucky — assegurou.

De fato, sentir o peso do escudo novamente trouxe-lhe uma sensação de conforto. Tinha sentido falta do objeto, mas parecia que só naquele momento percebera o quanto. Ajustou-o no braço, voltando-se para Clint ao mesmo tempo em que se colocava ao lado de Bucky, esperando que aquilo lhe passasse alguma segurança.

O Gavião tinha descido da bancada, mas ainda se recostava nela, os braços cruzados.

— Então? O que está acontecendo aqui? — Steve perguntou.

— Resumindo, alguém contou a T’Challa que você ajudou Natasha a recuperar alguns arquivos que nas mãos erradas podiam comprometer a segurança de Wakanda, e ele quis expressar sua gratidão. Tony aceitou os termos dele, e T’Challa fez alguns consertos no escudo.

Ao olhar melhor o escudo, Steve percebeu que todos os riscos haviam sumido, até mesmo os sulcos profundos que as garras do Pantera Negra tinham feito.

— Tony aceitou me devolver isso?

Clint fez um gesto afirmativo.

— Também colocou seu laboratório à disposição para reimplantar o braço de metal dele — disse, apontando para Bucky.

— Não pode estar falando sério — o Soldado replicou diante da declaração.

— Por que o Stark faria isso? Ele me pareceu bem claro quando disse que eu não merecia o escudo e quando tentou matar o Bucky.

— Ele disse que o escudo não combinava com a sua decoração. Além disso, T’Challa foi bem convincente — Clint hesitou pela primeira vez, suspirando. — Também acho que ele está cansado de estar de mal com você.

Steve assentiu, respirando fundo e finalmente deixando a defensiva. Isso era algo que podia entender. Sendo justo, sabia que Tony nunca quisera que as coisas ficassem tão feias entre ambos. E, de certa forma, achava que tudo aquilo estava sendo pior para Tony do que para ele: o Homem de Ferro não fazia o tipo lobo solitário, Tony precisava de gente ao seu redor para rir das suas piadas e com quem implicar.

Se aquela era a forma de Tony para tentar fazer as coisas voltarem a ser como antes, bem, era melhor do que tudo o que Steve tinha esperado...

— Não tenho certeza se eu quero o braço de volta — Bucky interrompeu seus pensamentos.

— Eu costumo achar que ter as duas mãos é bastante prático — Clint comentou, ganhando um olhar de desagrado dos outros dois.

— Tony não vai usar isso para fazer mal a você, não é o estilo dele — Steve assegurou.

Tinha se acostumado a esperar bastante coisa do Stark, mas certamente não algo assim. Se Tony ainda quisesse matar algum deles seria em outra briga, não em uma mesa de cirurgia.

Bucky grunhiu, fechando os olhos e esfregando o cenho.

— Não é esse o problema. T’Challa já tinha se oferecido para colocar o braço de volta quando eu acordei em Wakanda.

O fato pegou Steve de surpresa. Tinha passado muito tempo vendo Bucky cambalear sem equilibrio e penar com tarefas simples, como se barbear, ler um livro ou fazer as refeições, para que aquilo fizesse sentido.

— E por que você não aceitou?

Diante da pergunta, Bucky deu um olhar desconfiado a Clint, como se tentasse decidir se ele era confiável o bastante ou não. O Gavião rolou os olhos.

— Cacete, eu me dispus a abandonar minha aposentadoria, ficar contra a Natasha e levar uma surra por você naquele aeroporto. Se isso não for um ponto a meu favor, não sei o que seria.

Pela forma como Bucky mudou o peso de um pé para o outro, Steve podia dizer que ele havia ficado constrangido, mas de outra forma ignorou as palavras de Clint.

— Eu sou menos perigoso assim, ok? Não vai ser tão difícil me conter se eu perder o controle novamente.

A despeito da óbvia tensão de Bucky, o Gavião riu daquela resposta.

— Ohh, alguém se tem em alta conta, não é? A gente consegue parar você mesmo com o os dois braços, Soldado — garantiu, sorrindo.

Steve fez uma careta que dizia claramente para Clint se calar.                                                                                                                                  Aproximou-se de Bucky, tocando o ombro que terminava em nada.

— Você não pode se punir para sempre pelo que a HYDRA fez com você.

— Não é isso que eu estou fazendo! — ele negou. — É mais seguro para você se eu não for uma ameaça. Ninguém tem interesse em uma arma quebrada.

Steve sentiu suas entranhas revirarem.

— Não tenho mais só cinquenta quilos, Bucky! Não preciso ser protegido. E, merda, você não é uma arma! — disse, exasperado e algo dolorido.

— Está sendo idiota — Clint se intrometeu. — Acha mesmo que vão conseguir manter

essa vida pacata por muito tempo? Sinto muito, mas isso não vai acontecer. Eu tentei, mas gente como nós não se retira simplesmente. Sempre tem uma ameaça nova ou um amigo precisando de ajuda. Quando isso acontecer, bem, acho melhor você ter os dois braços para poder lutar junto do Capitão.

— Ele não precisa mais lutar se não quiser — Steve pontuou, irritado, sentindo que estava batalhando em duas frentes naquele instante.

Clint sacudiu os ombros com indiferença.

— Eu queria me aposentar, mas a Natasha estava no meio da confusão, então eu me meti lá também. Às vezes não há muito "querer" na equação.

O Capitão estava pronto para rebater, mas Bucky se adiantou, cortando-os.

— Tem um prazo para eu dar essa resposta?

— Até onde eu sei, um médico enviado por T’Challa vai chegar na próxima terça. Tony vai auxiliar no procedimento.

Bucky anuiu.

— Vou ter uma resposta até lá.

Houve um silêncio tenso que pareceu estender-se por um longo instante, até que Steve suspirou, achando que seria mais produtivo deixar aquela discussão para quando estivessem sozinhos.

Passou os olhos por Clint, tornando-se mais consciênte da estranheza daquela situação: ele e Bucky de pijamas, descalços, seu rosto ainda amassado de sono, o escudo em seu braço. Para seu desespero, o Gavião pareceu notar a mesma coisa, sorrindo de lado em um gracejo.

Além de tudo que podia esperar, foi Bucky quem deu naturalidade à cena. O Soldado contornou os dois, indo até a cafeteira e ligando-a. Em seguida, pegou uma garrafa de leite e o pacote de cereais.

— Café? — questionou diante da quietude dos outros dois.

Clint riu, içando-se e tornando a sentar na bancada.

—Achei que nunca ia oferecer.


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