Até gosto escrita por Ana


Capítulo 1
One fucking shot




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O cheiro não saiu de mim. Está no meu cabelo, nas minhas roupas, nas minhas coisas. E eu não me importo. Até gosto.
Mas ninguém pode saber, então me forço a odiar. Já fumei duas carteiras de cigarro, mas nem a nicotina cobre tal perfume. O banho só deixou minha pele avermelhada, porque o odor continua firme sobre a pele. Suspiro.
Eu nem me lembro bem como isso foi acontecer. E isso não é culpa de uma garrafa de vinho ou de uma pancada na nuca, só do efeito embriagador que ele exerce sobre mim. Quando me dei conta, estava debruçada no chão de um quarto frio, minha boca era tampada pela mão grossa, meus seios se prensavam no piso e ele me fodia com força. A estante de metal fazia barulho quando meu ombro batia nela.
Depois de terminar, me virou subitamente e sorriu. Não consigo lembrar se sorri também, só que o beijei como estava querendo há semanas. Ele mordeu meu lábio e saiu dos meus braços sem a menor cerimônia, vestindo a calça jeans gasta que eu tanto conhecia. Deu ordens para ser rápida e correr, pois ninguém poderia saber sobre o que havia acontecido.
Como não iriam saber? Eu exalo por ele.
Enquanto corria no escuro, voltando pra qualquer lugar, jurei a mim mesma que nunca mais faria isso. Garotinha burra.
No dia seguinte, lá estava eu novamente, em um banheiro de bar, sentindo o gosto dele escorrer pela garganta. Segurava meus cabelos e forçava seu corpo contra minha boca, sem se importar com os protesto e gemidos que eu insistia em dar. O desgraçado me conhecia bem, sabia que eu gostava daquilo e que os pedidos eram feitos só pra serem negados. Ele não me beijou naquele dia.
Enquanto esperava um ônibus, na esquina do bar, prometi que nunca mais tocaria naquele corpo. Menininha ingênua.
Dentro de dois dias, meus gemidos podiam ser escutados no andar de cima daquele apartamento. Ele segurava minha cintura com força, gemia um nome que não era o meu e puxava minha nuca. A mesa se mexia um pouco com os movimentos bruscos, mas nenhum de nós se importou. Só saí do meu transe quando ouvimos a porta se destrancando e os passos dela no corredor. Fui jogada para dentro da dispensa, nua e suja, sem saber o que fazer.
Saí pela janela naquele dia. E também foi nesse dia que fiz a grande idiotice de dizer a mim mesma que nunca mais transaria com ele. O problema é que o cheiro dele não saí de mim, mas dessa vez minha promessa se cumpriu. Eu não sei quanto tempo estou sem ele, nessa abstinência da própria necessidade. Mas sinto falta. Eu não me importo de ser a outra. Até gosto.


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