The White Rose escrita por Senhora Darcy


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura! :)



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Os corredores dali eram muito parecidos e eu logo me vi perdida. Pensei em voltar para o quarto e aguardar a boa vontade de Gregory vir me buscar. Mas como uma transmissão de pensamento, ele logo apareceu do meu lado, me analisando metodicamente.

— acho que está bom....talvez, hum....esse cabelo... – ele comentou e com os dedos ágeis, soltou a trança do meu cabelo, fazendo os fios avermelhados cascatearem, longos e armados, por meus ombros e costas.

Colocou algumas mexas para frente, emoldurando meu rosto maquiado. Sorriu para o resultado. Olhei para o espelho do corredor.

— Estou parecendo  uma prostituta barata. – Reclamei – mas essa era a ideia certo?

— Está parecendo uma mulher pela qual os homens pagariam fortunas para desfrutar de sua companhia. – Ele me corrigiu mas eu o ignorei.

— Que seja!

Andamos pelo navio todo, em que Gregory ia me mostrando todas as partes como em uma visita guiada. Visitamos a proa e a popa. A casa de máquinas, a cozinha, a sala de estar, o gabinete do capitão, o porão, o calabouço, a adega, e por aí foi.... ao final, eu estava esgotada de tanto subir e descer escadas e de tanto decorar nomes de lugares estranhos. Voltamos para o convés e Gregory assobiou para os amigos. Uma roda de brucutus se formou em volta de nós. Eles me olhavam feio, tentando me intimidar, mas eu bati o pé, ergui a cabeça e encarei-os de volta.

— Homens, a garota quer saber quem vocês são. Vou fazer uma rápida introdução, então. – Gregory anunciou – Garota, esses são Giully, Betrus, Rupert, Pinsley, Aldo.... – Gregory explicou, apontado para os respectivos donos dos nomes.

Mas eram 14 homens, de forma que eu só memorizei os primeiros com quem já tinha tido o desprazer de fazer contato: Rupert, Betrus e Pinsley. Rupert era um cara grandão e loiro, com olhos azuis gélidos e ameaçadores. Dono de ombros largos e punhos fortes, parecia ser dono de uma força descomunal. Betrus era igualmente grande, mas parte de seu tamanho se devia a gordura de sua carne. Tinha longos cabelos pretos e desgrenhados caindo-lhe pelas costas. Pinsley era o brucutu-mor, o ruivo que tinha a minha guarda antes de Gregory. Era o maior e mais feio de todos, com os pelos flamejantes por todo seu corpo e o rosto marcado de cicatrizes. Juntos, aqueles três formavam um trio engraçado é assustador.

— Homens, essa é a garota. – Gregory concluiu as apresentações.

— A garota aqui tem nome, senhor. Princesa Katherine Marie Rosalinda de Andorra. – Eu disse, orgulhosa.

Mas os homens caíram na risada e começaram com piadinhas bestas. Um deles se aproximou de mim e deu uma palmada em meu traseiro.

— Não está tão parecida com uma princesa agora, hein Garota?!

— Ei! – eu gritei, indignada, e pronta para arranjar a cara feia dele inteira.

Gregory me segurou e sugeriu que eu me retirasse. No caminho, derramei uma lagrima de raiva. Cravava as unhas na palma de minha mão, mas nada passava a minha vontade de bater em todos aqueles homens.

— O que está fazendo? – Gregory puxou minhas mãos marcadas e vermelhas de sangue.

— Tentando não matar ninguém por aqui! Vocês são todos uns idiotas! Não tem postura, respeito ou dignidade! Eu nunca fiz nada para nenhum de vocês para receber esse tratamento hostil! – Berrei com ele no meio do corredor.

— Hum, isso poderia até ser ofensivo se não fosse verdade. Nenhum deles liga para você no momento. É certo que você  só faz nada contra ninguém aqui, mas também não fez nada que bom para nós, além de reclamar seus direitos como uma garotinha mimada. Não espere nada de cortês de nossa parte. Não se esqueça de onde você está.

— Há! Você é igual a eles! Eu estava começando a pensar que você era um pouco melhor, mas estava enganada. Você não liga para nada a não ser ficar com esse ar presunçoso se achando só porque é o braço direito do capitao. – gritei e entrei no meu quarto, batendo a porta com força.

Me joguei a cama, chorei, solucei e gritei com a cara nos travesseiros até ficar rouca. Aquilo era horrível, as pessoas eram horríveis, o lugar era horrível, tudo era horrível! Eu odiava tudo e todos e só queria pular no mar e nadar até deixar aquele navio hostil pra trás. Minha única esperança era Gregory e sua estranha preocupação com meu bem estar, em meio a um bando de homens que jogavam cerveja em mim e batiam em meu traseiro. Mas agora, ele mesmo se incluira no grupo de pessoas ali que ignoravam o fato de eu ser uma pessoa também. Uma batida na porta  me sobressaltou. Porém ninguém pediu pra adentrar. Apenas um pedaço de papel em branco, um bilhete e uma pena passaram pelo vão de baixo. A maldita carta!

Bufei e peguei os materiais. Além e tudo ainda queriam que  eu os ajudasse. Estava prestes a rasgar o papel e atira-lo ao mar, mas eu tinha feito um acordo. E por mais que o capitão não cumprisse a sua palavra tão bem, eu não iria descumprir a minha. Respirei fundo e me sentei na mesa de carvalho com a pena é um tinteiro que achei jogado. Olhando as informações do bilhete, comecei a escrever.

  Mãe e pai,

Escrevo a vocês de  um  navio pirata, cuja tripulação me tem sob custodia. O capitão está disposto a fazer um acordo, dez mil moedas de ouro pela minha vida. Há um  mensageiro no porto que irá até vocês para fazer a transação. Quando os piratas estiverem em posse do ouro, me deixaram no porto mais próximo e eu contatarei vocês. O prazo máximo é de duas semanas. Depois disso, partiremos para as Américas e não voltarei mais.

Não se preocupem comigo, estou bem e viva, e sei cuidar de mim mesma.

Desculpe, meus pais, mas espero que possamos resolver isto logo. Por favor, não compliquem as coisas, o Capitão não tem muita paciência.

Com amor,

Katherine.

Dobrei o papel e enderecei ao Rei e a Rainha. Depois fiquei com raiva de mim mesma. Estava cedendo, fazendo o que eles queriam. Quando todos ainda me tratavam como um verme. Mas, por outro lado, é como Gregory e o Capitão falaram. Não se ganha o respeito. Se merece.

Sai do quarto, com o ímpeto de fazer alguma coisa. A noite já ameacava a cair, e minha barriga roncava com a fome. Estava me alimentando muito mal, sempre pulando alguma refeição, então era melhor fazer as pazes com aqueles piratas logo.

Cheguei na cozinha lotada e barulhenta, sem ser notada. Fui até os armarios e o balcão de mármore. Havia uma peça de carne e um saco de estopa com legumes. Havia uma pilha de panelas velhas e utensílios de cozinha ali perto. Só então reparei que os homens esperavam que eu fizesse a comida. Bom, então o acordo já estava valendo.

Lembrando vagamente das minhas experiências na cozinha do castelo, juntei a carne, agora temperada, e os legumes descascados numa panela com um pouco de água. Coloquei-a para ferver na lareira enquanto dava uma limpa naquela cozinha. Acendi velas e iluminei mais o lugar. Coloquei as louças sujas na Tina com água e guardei o que não usará. Empilhei os sacos de legumes num canto, as carnes salgadas em outro e os grãos numa outra caixa. Enchi copos com vinho e distribui-os para os homens. Coloquei os pratos, com guardanapos e talheres, dispostos de acordo com as regras de etiqueta.

Nenhum se prontificou a me ajudar, a não ser Gregory que pegou a panela de ferro do fogo para mim, mas voltou-se a se sentar com os demais. Segurando a panela com o ensopado e tentei servi-lo. Acontece que nenhum dos piratas mal criados facilitou a minha vida. Eles falavam com gestos e mexiam seus copos, sem me dar espaço pra servir a comida! Estava de brincadeira, certo?! Indignada, olhei em volta e percebi que Gregory me observava com curiosidade. Aquilo era um tipo de teste então?

Ergui a cabeça e soltei o ar, reuni coragem e joguei a panela de ferro na mesa de madeira onde todos conversavam. 14 pares de olhos se voltaram para mim, surpresos.

— Já chega! – gritei – De agora em diante, as coisas vão mudar por aqui. Vocês vão perceber que eu não sou um inseto que faz as coisas para vocês e fica calado. Sou uma garota que vai lhes garantir uma bela quantia de dinheiro e que vocês devem respeitar.

— Não devemos nada a você princesa! – Rupert respondeu e os outros riram.

— Engraçado, não lembro de ter perguntado alguma coisa. – retruquei – se não querem reconhecer minha autoridade, tudo bem, mas respeito é uma questão de educação e civilidade. Tratar alguém como vocês me tratam está fora de cabimentos! Eu não estou aqui a passeio e muito menos porque eu quero. Tenho que aguenta-los com seus estilo de vida do mesmo jeito que vocês a mim.

Eu tomei fôlego e os encarei mais desafiadoramente.

— me digam uma coisa, o que vocês odeiam mais, a mim ou a minha coroa? – está última já tinha sido roubada antes de eu acordar no navio. – estou certa de que é a minha coroa. Bem, fiquem vocês sabendo que eu gosto dela tanto quanto vocês! Só é um fardo na minha vida, só me traz deveres, obrigações e sequestros. Então, para os infernos esse pedaço de metal! Não me tratem como princesa, apenas como uma garota que vai passar um tempo aqui. E acreditem em mim, não será pouco tempo.

 - Pare com baboseiras. Seus pais já devem estar esvaziando os cofres reais agora mesmo. – Betrus comentou, rindo.

— é aí que você se engana, - comentei numa voz mais baixa agora – meus pais pensarão em todas as outras possibilidades antes de entregarem o dinheiro, inclusive se vale a pena o meu resgate. Para eles, o maior problema disso tudo é ficarem semin herdeiro legítimo para o trono. Se for mais lucrativo me deixar partir para a América então lá vou eu. Falo sério. Portanto acho melhor nos acostumarmos uns com os outros.

Eles ficaram quietos, ainda me olhando. Soltei o ar que estava segurando e continuei:

— Eu fiz o jantar. E posso fazê-lo todos os dias, desde que alguém me ajude. Vocês também irão colocar a mesa e eu não vou lavar a louça nem limpar aquela porcada que vocês fazem no convés. Se alguém tiver algum problema de saúde, talvez eu possa ajudar. – Falei mais timidamente.

Servi um prato da comida  para mim e passei a panela adiante, sentando- me na mesa. Os outros se serviram, em silêncio, e eu comecei a comer. Com a visão periférica, vi Rupert, ao meu lado, me encarando. Previ seus movimentos e arranquei de sua mão a caneca de vinho pouco antes de ele a virar em mim. Engoli todo seu conteúdo de uma vez. Quando acabei, bati a caneca na mesa e me virei para o brucutu ao meu lado.

— É melhor renovar os ataques. Está ficando previsível. – Comentei, ao que todos, inclusive Rupert, explodiram em gargalhadas ruidosas.

Não sei exatamente o que foi que eu fiz, mas os homens se transformaram. Conversaram mais educadamente e me contavam algumas piadas. Betrus encheu meu copo de vinho e Pinsley colocou mais carne em meu prato. Alguns outros piratas como Aldo e Marreta elogiaram minha comida e Rupert se ofereceu para lavar a louça.

Satisfeita, eu fui para a cama tranquila, mas minha insônia não me deixou dormir.

Uma parte dos homens que compartilhavam do meu problema fez uma roda no convés para conversar e cantar. Um deles, provavelmente Rupert, pegou um banjo e arranhou algumas notas. Cantando uma música calma sobre o mar. No terceiro refrão, eu já estava dormindo, embalada pelas ondas do mar e pela música suave ao fundo.

No dia seguinte, acordei com Gregory à minha porta.

— Bom dia. – bocejei.

— Bom dia, garota.

— Sabe, pode me chamar de Katy se quiser.

— certo, garota. Bem, preciso que você se vista como ontem. Hoje nos aproximaremos do porto de Oxfordshire, e amanhã desceremos nele para reabastecer.

— Ah, entendo. Se não precisa de mim agora, eu gostaria de dar uma geral nesse quarto. Essa poeira não está me fazendo bem. Quem sabe dar uma redecorada....

Gregory assentiu e fez uma careta. Questionando sua reação, ele, relutante, me mostrou um corte nas costas que o incomodava. Não era muito profundo, mas não estava cicatrizando e ameacava inflamar.

— Como deixou isso ficar assim? O que aconteceu? Não me diga que foi com uma espada que fez isso!

— Na verdade não sei, foi há uma semana. Deve ter sido alguma coisa aqui no navio, não me lembro de sentir nada na hora, então achei que fosse melhorar logo. Mas não se preocupe, em poucos dias volta ao normal.

— ou você pega uma infecção e morre. Venha, ao menos deixe- me limpar.

Brigando um pouco, eu consegui fazê-lo tirar a camisa e sentar na minha cama enquanto eu caçava uma garrafa de aguardente e panos limpos.

— Isso pode arder. – avisei antes de despejar a bebida na ferida e limpa-la com os panos – Hum, o corte está muito aberto. Vou precisar costurar. Vocês têm um pouco de ópio por aqui?

— Temos, mas não será necessário. Não preciso de anestésicos.

Revirei os olhos para seu machismo exagerado e peguei um estojo de costura no baú. Com a chama de uma vela, higienizei a agulha e comecei a costurar a pele. Gregory nem se mexeu, nem mesmo com os puxões que eu dava. Isso facilitou meu trabalho, que no fim, até que ficou bom. A cicatriz não ficaria muito torta. Mas então olhei para seu rosto e lembre de que isso não era um problema.

— como fez isso? – indaguei-o.

— Já disse, não me lembro, acho que foi no navio...

— não, o corte no seu rosto. Deve ter sido uma briga feia.

— Ah, bem, até que foi. Saqueamos um outro navio quando eu tinha uns 16 anos. Entrei numa luta com um cara mais velho e deu nisso.

— Oh, credo! – exclamei, enquanto jogava mais um pouco de aguardente no machucado.

— Ah, nao se preocupe. O cara levou a pior.

— V-voce o matou? – ele assentiu – Nossa. Você tem o que, uns vinte e tantos anos? Quando você estava matando um homem eu estava planejando meu baile de debutante.

— Realmente, uma diferença.

— Sinto muito. Não queria que as coisas fossem assim.

— Você não tem culpa. Além disso, eu não odeio minha vida. Estou certo de que foi bem mais empolgante que a sua.

— Não tenha dúvidas disso. – murmurei – Vamos para a cozinha por um instante, quero achar um pouco de camomila.

Fomos até a despensa, e eu fucei entre as ervas até acha a que eh queria. Coloquei um pouco de água e macerei a planta até virar um emplastro.

— a camomila tem um efeito relaxante e vai ajudar a não inflamar o machucado. – eu expliquei, passando a meleca em cima dos pontos. – Se quiser faço um chá de gengibre. Tambem é ótimo para combater e evitar quaisquer infecções que o seu machismo tenha trazido.

Enrolei uma faixa de linho em seu tórax largo e deixei-o vestir a camisa.

— Como você sabe tanto? Não tinham curandeiros, cozinheiros e faxineiros no palácio?

— tinham. Mas eu gosto de aprender coisas novas, então sempre me dispus a ajudá-los. Anelize costumava dizer que eu tinha sangue de camponês, que gosta de trabalhar.

— E quem seria Anelize? sua amiga?

— Sim. Na verdade ela é minha criada de quarto. Mas é mais minha amiga mesmo.

Gregory pensou por um instante.

— Sabe, você é a prova perfeita de que nossa personalidade não depende de nossa criação.

— Como assim?

— Bom, você é uma princesa. Cresceu num castelo, cercada de empregados e  mimos, ouro e pessoas te venerando. Deveria ser uma pessoa mesquinha, fútil e metida. Sem ligar para os outros e sem saber se defender.

— E eu não sou? – brinquei.

— É verdade que você é bem metida, mandona e mimada. Mas é mais corajosa que qualquer mulher que eu já tenha visto. Sabe falar por si e consegue o que quer, além do mais, você tem uma humildade rara no seu tipo de gente.

— No meu tipo de gente? – eu ri – Acho que isso é bom. Quero dizer, quando você tem um exemplo em casa, você pode escolher segui-lo ou contesta-li e fazer tudo diferente. Seja ele bom ou ruim.

— Concordo. Você dará uma boa Rainha um dia. Espero que saiba fazer coisas boas para todos.

— Eu também. – comentei.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



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