Senhora da Alcateia escrita por MHFerreiraFDR


Capítulo 1
Descobertas e Florestas Não Combinam




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Há exatos dezenove anos floresceu no jardim fluminense uma nova flor.      

Seu nome reafirma o que todos pensam e cochicham quando ela adentra um salão de baile. Aurélia. Sinônimo de poder, de ouro, de valor.   

Desde sua repentina ascensão na sociedade a jovem nunca faltou à um baile, mas isso estava prestes a mudar. Aurélia acabara de completar seus dezenove anos e recaiu sobre seu tio, Lemos, a incumbência de revelar a verdade sobre sua origem e sua identidade. A jovem, infelizmente, não pôde conhecer o pai e perdeu a mãe prematuramente. Embora ela ainda sinta falta da mãe e das conversas matinais animadas, teve a sorte de conhecer D. Firmina quem sempre a ajudou e a única pessoa que sabe sobre sua paixão platônica por Fernando Seixas.

Seriam oito horas da noite.

Uma chuva impiedosa deixava a noite de maio fosca, a única coisa que podia ser vista no céu era a linda lua cheia que se formava. A noite estava sombria, assim como ficaria Aurélia quando descobrisse o que seu tio vinha lhe contar. Ninguém o viu, mas Lemos chegou de mansinho e, mesmo com a chuva, ficou ao menos quinze minutos na varanda da casa, temendo a conversa que teria. Não por ser um tio zeloso ou preocupado, mas sim por temer que Aurélia descobrisse toda a verdade.

— Aurélia, podemos conversar agora? – Disse ele forçando um sorriso.

— Tio, preciso comparecer ao baile da família Seixas em uma hora. É urgente? – Indagou apressada andando de um lado para o outro.

— Minha querida, eu acho que uma jovem bonita e ingênua como você não deveria ir à um baile tão tarde apenas com D. Firmina e seu cocheiro.

— Que pena meu tio, pois vou assim mesmo. Me admira você, que vive chorando migalhas a família Seixas, querer impedir-me. – Aurélia disse de forma afrontosa.

— Apenas preocupo-me com o seu bem estar. Será que tem um assento disponível em sua carruagem?  – Indagou com sua falsa pureza.

— Certamente, tio Lemos. Apenas apresse-se, pois em meia hora estarei arrumada. – Disse e prontamente foi terminar seu ritual de beleza. Enquanto se arrumava, Aurélia começou a sentir dores agudas por todo corpo, mas nada a impediria de conversar com Fernando pela primeira vez e, finalmente, descobrir se ele era seu par ideal, assim como imaginava desde que o viu pela primeira vez.

Tudo aconteceu há aproximadamente dois anos: mesmo que andar a cavalo fosse proibido para moças, ninguém obteve êxito ao tentar impedir Aurélia de cavalgar. Nesse dia, lá estava ela no campo, tentando  domar seu novo cavalo, Nero, quando um rapaz, até então desconhecido, surge de forma viril e desconcertante enlaçando seu cavalo. Nada aconteceu, apenas sorrisos cúmplices foram trocados, mas, quando o desconhecido enlaçou Nero, mesmo sem saber, acabou enlaçando o coração de Aurélia junto.

Seriam nove horas da noite.

Todos estavam devidamente arrumados e perto da mansão dos Seixas quando Aurélia tornou a sentir as estranhas dores novamente, um calor imenso tomou conta de seu corpo e sua cabeça começou a latejar. Era impossível continuar o trajeto. Ordenou que a carruagem parasse e foi para perto de uma laranjeira se escorar. Algo definitivamente estava acontecendo em seu corpo, e foi impossível negar quando suas extremidades ganharam garras, seus pés duplicaram de tamanho e seu corpo ganhou uma quantidade de pelo inimaginável. A jovem se desesperou e, sem saber qual providência tomar ou mesmo o que pensar, adentrou a floresta correndo. Seu tio viu tudo, e não iria permitir que a sobrinha indesejada atrapalhasse a boa fama que estava conquistando, então, desceu da carruagem e adentrou a floresta apressadamente.

Aurélia sentia-se sem rumo, e tentava entender o que estava acontecendo. Foi quando percebeu: essa era a conversa que Lemos queria ter. A jovem não conseguia compreender o motivo de tudo ter acontecido naquela hora, naquele dia, justo quando poderia conversar com Fernando e quem sabe, ser feliz. Mas não era hora de pensar em Fernando, mesmo com sua louca paixão, o amor próprio vinha em primeiro lugar e, no momento, ela precisava fugir da pessoa que a estava seguindo. Em alguns minutos a anágua de seu impecável vestido tornou a respiração uma tarefa impossível e, por isso, com demasiada pressa puxou o vestido partindo-o ao meio no processo. Foi nesse instante que Aurélia desatou a correr, mas a corrida não era mais contra a pessoa que a estava seguindo e, sim, contra o monstro que havia se tornado. Ela correria de si própria se fosse possível. “Lobisomens não existem, lobisomens não existem” murmurava a jovem.

Passaram horas até que a menina perdida se sentisse esgotada e iniciasse sua busca por um abrigo seguro. Aurélia encontrou um pequeno casebre e decidiu que passaria a noite ali, afinal, era melhor do que dormir na floresta. A jovem achou que seria fácil arrombar, já que estava fortíssima, mas se enganou grandiosamente. Ela não conseguia domar a própria força e, por isso, precisou da ajuda de um pedaço de ferro que estava jogado ali perto. O inesperado aconteceu quando espionou pela janela lateral, averiguando a segurança do local e se deparou com todos os homens da família Seixas olhando os arredores do cômodo de forma preocupada, provavelmente preocupados com o barulho que Aurélia ocasionou, e um vasto arsenal de armas no canto direito da sala. Ela, uma menina com a vida tão pacata já passou muitas tardes escutando contos e lendas recitados por D. Firmina, será que a realidade seguia os contos? Se ela era uma lobisomem, então era possível a existência de outros seres, e principalmente, de caçadores?

A jovem moça não teve muito tempo para refletir, todos o homens saíram apressadamente do casebre e, para o seu espanto, Fernando estava entre eles segurando uma pistola.

— F-ernando... é um caçador?


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Notas finais do capítulo

Este é um trabalho escolar, então, peço o respeito e críticas construtivas. Agradeço desde já. Beijos!



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