— Tô morrendo.

 — Para de chorar, Quill.

 — É sério, cara. Vou derreter. Não sou feito pra aguentar esse tempo.

 — Não tá tão ruim assim.

 Peter parou de se abanar com a mão e encarou seu amigo com um olhar indignado.

 — Como você não está assando? Você é um guaxinim, totalmente feito de pêlo. — Rocket rosnou para ele.

 — Não sou um “guaximin”, e sim, meu pêlo dá ao meu corpo uma temperatura relativamente mais quente, mas eu tô bem. Agora pare de reclamar e vamos.

 Peter pegou seu casaco e o colocou sob sua cabeça em uma tentativa patética de bloquear o sol escaldante. Seus pés estavam fritando por dentro das botas. Tudo parecia um mar seco e amarelo sem fim.

 — Nem sabemos aonde estamos indo, estamos perdidos.

 — Obrigado pela observação óbvia.

 — É sério, Rocket, — Ele lambeu seus lábios secos. — Nós quase não temos mais água e isso é um deserto. Desculpe se estou um pouco preocupado.

 — Eu bebi o resto da água, então acabou.

 Quill gemeu e quis estrangular alguma coisa. Algo especificamente pequeno e peludo e incrivelmente irritante.

 Os Guardiões tinham desembarcado naquele planeta para coletar suprimentos e possíveis missões. Estavam andando e indo bem até que uma tempestade de areia aconteceu e qualquer sinal ou pedaço de tecnologia que tinham parou de funcionar. E agora Peter estava preso com o sol queimando sua pele, uma não tão agradável companhia e sem saber onde os outros estavam.

 — Eles não devem estar muito longe. — Quill disse.

 — Foi o que você disse 4 horas atrás.

 Peter quis chorar. Ou água. Água seria uma boa ideia naquele momento.

 — Odeio verão.

 — Esse planeta não tem verão. É assim o ano inteiro.

 — Odeio mais ainda, então.

 Rocket revirou os olhos. Peter continuou.

 — Você tem ao menos uma noção de onde a gente tá indo? E se nós estamos andando em círculos? Nem acredito que isso aconteceu. Era pra eu ser um bom líder super descolado, não um sorvete derretido.

 — Puta merda, Quill, cala essa boca. Eu tenho um plano.

 Peter parou de andar.

 — Quê?

 — Eu tive um plano tipo meia hora atrás, e estamos indo na direção certa, então acalme suas ansiedades.

 — Ansiedade não funciona desse jeito, — Ele retrucou. — Então qual é o plano? Por quê você não disse nada?

 — Senti cheiro de fumaça de máquina superaquecida um tempo atrás e estive seguindo o cheiro desde que senti. Tá ficando mais forte, então estamos perto.

 Peter o encarou, sem piscar, e os bigodes de Rocket se moveram quando areia passou por eles.

 — Eu tenho tantas perguntas passando na minha cabeça, mas agora eu só quero jogar areia na sua cara. Quer saber?

 Ele pegou um punhado de areia e jogou na direção de Rocket, mas o vento a levou antes que ela chegasse a algum lugar.

 — Seu filho da puta! Estamos rodando aqui por horas e só agora você decide compartilhar essa informação?!

 — Você não parava de reclamar de tudo!

 — E como assim você consegue sentir cheiro de “fumaça de máquina superaquecida”?! Isso existe? Isso nem faz sentido!

 — Cala a boca! Estive lidando com máquinas a minha vida inteira! Eu sei qual é o cheiro—

 — Chega, tanto faz. Vamos ir logo. — Peter tirou suor de sua testa e suspirou.

 Mais 1 hora se passou. Não havia fumaça, só o calor, respirações ofegantes e sede.

 — Eu não entendo... — Rocked disse, agora suando e fraco também. — Ainda consigo sentir o cheiro, mas... Não fica mais forte. Não acontece nada.

 O guaxinim virou sua cabeça para seu companheiro, que estava quieto fazia um tempo. Peter sentia-se fraquejar a cada passo, seus lábios rachados ofegando cada vez mais.

 — Quill? — Rocket chamou, preocupado. — Cê ta bem? Quill?

 Peter caiu.

 Rocket entrou em pânico.

 — Quill! — Ele viu seu amigo dar de cara com a areia e correu até ele. A respiração de Peter estava fraca e sua cara, pálida. Rocket deu um tapa em seu rosto. — Acorde, idiota! Não se atreva a me deixar sozinho aqui nesse maldito lugar!

 A cabeça de Quill caiu de novo para a areia e Rocket gritou em frustração.

—

 Peter acordou com alguém derramando água em seu rosto. Ficou um pouco tonto mas não se importou porque finalmente, água! Alguém pôs um copo em seus lábios e ele bebeu com vontade.

 — É melhor você beber tudo, idiota.

 Peter engasgou com a água.

 — Oi, Rocket. — Ele tossiu e olhou para cima, dando de cara com um guaxinim de cara feia o encarando ferozmente.

 — Eu salvei nossas vidas, contatei o pessoal, encontrei água pra você e tudo o que eu recebo é um “oi, Rocket” — Rocket murmurou, fazendo sua imitação da voz de Quill.

 — Eu não sôo desse jeito, — reclamou, e depois sorriu quando Rocket fora encher mais um copo. — Hey, pelo menos o seu plano funcionou, mesmo sendo estúpido.

 Rocket derramou mais água em sua cara.

 Depois de tossir toda a água que entrou pelo tubo errado, Peter se recompôs e olhou a sua volta.  Os dois estavam na sombra de uma grande espaçonave que tinha, de fato, fumaça de máquina superaquecida. Depois de alguns segundos, ele de deu conta de que a nave era sua.

 — O QUÊ— Levantou-se rapidamente, mas seus membros ficaram pesados, sua visão embaçou e Peter achou que seria uma decisão sensata sentar-se novamente. — O quê aconteceu com a minha nave?!

 — Parece que a tempestade de areia fez um estrago grande, mas nada que eu não possa consertar, — Rocket disse — Felizmente eu fui capaz de conseguir um pouco de sinal aqui e contatei os outros. Enviei as coordenadas e estão a caminho, — Ele apontou para Quill. — E não vá levantando assim no dana. Você quase morreu lá atrás, então... Yeah. — Deu de ombros.

 Peter gemeu em frustração. Pelo menos agora estava mais fresco e não havia suor em todo seu corpo.

 — Isso é uma merda. Odeio calor, esse lugar é o inferno, você tem um radar sensitivo para “fumaça de máquinas superaquecidas” e eu desmaiei como um boneco de pano. Não vamos mencionar isso nunca mais.

 Rocket soltou uma gargalhada.

 — Fechado. Mas eu vou contar pro Groot.