Encontros, Acasos e Amores escrita por Bell Fraser, Sany, Gabriella Oliveira, Ester, Yasmin, Paty Everllark, IsabelaThorntonDarcyMellark, RêEvansDarcy, deboradb, Ellen Freitas, Cupcake de Brigadeiro, DiandrabyDi


Capítulo 19
Estações


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde... Aqui é a Sany e vim trazer meu desafio.
Bom primeiro queria agradecer em nome de todas as autoras a Jessi que fez uma linda recomendação essa semana, muito obrigada nós adoramos a recomendação de coração.
Quem me desfiou foi a Dri (Cupcake de Brigadeiro) e nessa rodada podíamos propor algum projeto que já tínhamos em mente, como não tinha nenhuma One em mente o meu desfio era:
Que o amor dos dois Peeta/Katniss começasse quando eles ainda fossem crianças.
E que se passasse no natal/ano novo.
Porém um tempo depois acabei sugerindo um bônus de uma fic que tenho planejada para escrever no próximo ano (quando terminar as que estou escrevendo) que vai se chamar Photograph e a Dri aceitou proposta então tentei encaixar o desafio no enredo e trazer pra vocês esse bônus antecipado. Espero não decepcionar minha desafiante e nem vocês então sem mais delongas vamos lá.



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Mudaram as estações, nada mudou

Mas eu sei que alguma coisa aconteceu

Tá tudo assim, tão diferente

Se lembra quando a gente

Chegou um dia a acreditar

Que tudo era pra sempre

Sem saber que o pra sempre, sempre acaba

Mas nada vai conseguir mudar o que ficou

Quando penso em alguém, só penso em você

E aí, então, estamos bem

Mesmo com tantos motivos

Pra deixar tudo como está

Nem desistir, nem tentar

Agora tanto faz

Estamos indo de volta pra casa...

 

Por enquanto 

Cássia Eller.

 

 

Primavera 1995.

Assim que o taxi parou em frente ao prédio, impotente em meio aos edifícios de Manhattan, senti um incomodo desagradável, aquele não era meu lugar. Minha mãe por outro lado sorriu antes de apoiar a mão direita em meu ombro em um ligeiro apoio. Ela acreditava que aquele era o melhor caminho para mim e considerando que basicamente éramos nós dois a maior parte do tempo, precisava acreditar que ela estava certa, mesmo detestando a ideia de estudar ali.

Meu pai desceu do carro que já estava estacionado na porta falando ao telefone, e com um aceno de cabeça me cumprimentou seguindo para o prédio onde o porteiro abriu o portão como se já nos esperasse. Assim que entramos fomos recebidos por uma mulher sorridente que informou que nos mostraria a escola. Minha mãe sorriu agradecida tentando ignorar o fato do meu pai ainda estar no telefone.

— George...

— Já conheço cada canto desse prédio, estudei aqui lembra? – Como sempre ele não se importou com o tom, e ela pareceu respirar fundo por um momento antes de voltar a sorrir enquanto seguíamos o tour pelo prédio. A Sra. Smith mostrou o laboratório de informática, de química, a sala de estudos, a biblioteca e embora não tenha aberto nenhuma das portas indicou onde as salas de aula ficavam enquanto falava sobre o ótimo programa de ensino do Colégio Ângelus.

— Posso garantir que se entrar, seu filho vai sair daqui tendo não uma, mas várias grandes universidades a escolher. Nosso programa de ensino prepara nossos alunos para o futuro...

— Você vai poder ser o que quiser Pee. – Minha mãe sorriu e acabei sorrindo de volta, tentando ignorar o fato de que os corredores estavam vazios e o silêncio era predominante mesmo dentro do horário de aula. Após a visita fomos levados de volta ao pátio principal onde formos deixados sozinhos por um momento. – George juro que, ou você larga esse telefone, ou eu vou quebra-lo aqui mesmo. E não duvide que faça isso. É seu filho, custa parar um momento para participar. É um momento importante, ele precisa de apoio.

— Eu ligo de volta em alguns minutos... – Ele fechou o aparelho e o prendeu no cinto antes de olhar em minha direção. Não havia nenhum índice de preocupação em seus olhos enquanto ele ajeitava a gola da minha camisa. – Pense um pouco antes de responder e seja sincero na maioria das suas respostas, não necessariamente em todas, no mais é só uma conversa. Nada demais.

— Jura que esse é o conselho que vai dar a ele? Inacreditável.

— Inacreditável é você querer discutir agora... – Os conhecia o suficiente para saber que aquela discussão poderia ir longe, mas por sorte a Sra. Smith voltou naquele momento.

— O diretor irá recebe-lo em instantes para a entrevista Sr. Mellark, esta pronto? – concordei com a cabeça e a segui em direção a uma recepção circular deixando meus pais para trás. – Sente-se, já venho chama-lo em alguns instantes. – Passei as mãos sobre o tecido da calça tentando manter a calma, por mim passar naquele processo era irrelevante, mas não queria decepcionar minha mãe então de alguma forma precisava passar. Mesmo significando deixar minha escola e amigos para trás.

— É só uma entrevista não precisa ficar nervoso. – A voz suave e ligeiramente autoritária me fez virar em direção a porta onde uma menina de longos cabelos negros, presos em uma trança, usando o uniforme da escola estava olhava em minha direção.

— Como? – Ela se aproximou e sentou ao meu lado como se não fosse nada demais estar ali.

— Você está aqui para fazer a entrevista de admissão para o próximo ano, não é? – assenti com a cabeça. – Não precisa ficar nervoso, considere como uma conversa social. Isso se quiser entrar.

— Mas é claro que quero entrar, ou não estaria aqui.

— Certeza? - Olhei sem acreditar em tamanha petulância. – Certo, então aconselho a parecer mais animado, você parece estar indo a julgamento. E um julgamento onde é culpado suficiente para já saber a sentença.

— Ei! Você nem ao menos me conhece para me julgar assim!

— Não estou julgando, só tentando ajudar. – vi quando ela revirou os olhos. – Acho que vai se encaixar muito bem aqui, se não aceita a opinião dos outros.

— Srta. Everdeen, no que posso ajuda-la? – A Sra. Smith perguntou assim que voltou para sala.

— O professor Adams me mandou, discordamos sobre minha nota da última redação de novo. – Ela estendeu a folha que estava segurando e vi a senhora sorrir ligeiramente enquanto lia rapidamente o que parecia ser um bilhete. – Aparentemente perdemos o direito expressar nossas opiniões em um texto quando vai contra a opinião do professor. Isso é uma forma de opressão sabia?

— Já vamos ver isso Katniss, só um momento, está bem? – Ela se virou em minha direção. – O diretor vai vê-lo agora, Sr. Mellark... – Olhei uma última vez para a garota petulante antes de entrar na sala do diretor e internamente desejei não precisar conviver com ela.

 

Verão 2000.

— Ainda não acredito que me fizeram ver esse filme! - comentei enquanto saíamos do cinema junto as demais pessoas. – Que fim triste. Sério, nunca mais venho com vocês para ver esse tipo de filme. Nunca mais.

— Qual é? Foi um filmão. – Finn estava animadíssimo e vi Peeta concordar.

— Aquela cena em que ele releva quem é, foi incrível.
"Meu nome é Maximus Decimus Meridius, comandante dos exércitos do Norte. General das Legiões Felix, servo leal do verdadeiro Imperador, Marcus Aurelius. Pai de um filho assassinado, marido de uma esposa assassinada. E terei minha vingança, nesta vida ou na próxima.” – Ele fez uma voz mais grossa imitando o ator. - E a luta entre Maximus e o Commodus então... Isso sem contar os efeitos visuais. Vai concorrer ao Oscar sem dúvida.

— Se Russell Crow concorrer esse ano por esse filme, ele ganha, é o melhor trabalho dele até agora. – Revirei os olhos enquanto seguimos em direção ao metrô mais próximo.

— Pra mim foi trágico do início ao fim. E não um trágico bom.

— Claro, porque um anjo se tornar humano por uma mulher que morre em seguida é muito alegre.

— Ei é diferente, Cidade dos Anjos é uma história de amor épica. – Defendi meu filme favorito e os dois riram. Continuamos nosso caminho. Sempre íamos juntos até o metrô aonde Finn e eu pegávamos um taxi enquanto Peeta seguida para casa. Uma das desvantagens de ter dois melhores amigos era que eles tinham um mundinho próprio e as vezes me sentia excluída dele.

Acabamos parando na sorveteria para tomar um sorvete onde enfim mudamos de assunto.

— Você sempre escolhe o melhor sorvete. – Peeta comentou enquanto atacava meu sorvete com a própria colher.

— Tenho que concordar. – Finn fez o mesmo e meneei a cabeça, os dois não mudavam nunca, ainda assim não conseguia imaginar minha vida sem eles. Nunca fui uma pessoa com muitos amigos e antes dos dois entrarem na Ângelus vivia sozinha, e mesmo não nos entendendo de imediato devido as nossas diferenças de personalidade, nós tornamos inseparáveis.

Vocês vão à festa da Rodriguez, né?

— Claro que sim, sou parte da corte da debutante e já consegui até uma bela acompanhante para dançar a valsa comigo, Lisa Jenkins. – Finn era um dos conquistadores do ensino médio e não escondia isso de ninguém. – E você Peeta já convidou alguém? Soube que a Dani precisou adiantar a viagem e não vai mais ir.

— Não, muito em cima da hora, vou com a Katniss mesmo – comentou casualmente, e foi o fim da frase que me magoou, eu era aquela opção segura. A última opção.

— Quem disse?

— Como assim quem disse? Somos amigos, é natural irmos juntos.

— E você por acaso perguntou se queria ir com você?

— Precisa perguntar? – As vezes Peeta me tirava do sério e mesmo querendo ir com ele, não permitiria ser a última opção.

— Lógico que precisa Mellark! Por um caso parou para pensar que posso ter combinado de ir com alguém. – Finn recostou na cadeira e pegou o sorvete que deixei em cima da mesa prestando atenção na nossa conversa.

— Achei que iria querer companhia. Você nunca vai com ninguém. Sempre vai conosco.

— Pois saiba que me convidaram e que aceitei. Então não Mellark, não vou com você.

— E quem te convidou? Por que não comentou antes?

— Vai descobrir no sábado. – Levantei da mesa e saí irritada da sorveteria entrando no primeiro taxi que consegui.

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A festa estava incrível, os pais da Rodriguez, não haviam poupado gastos e contratando até mesmo uma banda para tocar ao vivo. E por mais que estivesse nervosa no início da noite, por ser uma das acompanhantes de um dos participantes da corte da debutante e ter que dançar a valsa com Tresh, acabei me divertindo muito. Ele era engraçado, divertido e estava fazendo o possível para que me sentisse bem naquela noite.

— Já volto, vou falar um momento com meus amigos – comentei seguindo em direção a uma mesa aonde Peeta e Finn estavam junto com alguns conhecidos do colégio, mas que naquele momento só tinha os dois. – Ei, festa incrível, não é?

— Muito, mais animada só se minha acompanhante não estivesse tão interessada em ficar bajulando a aniversariante. – Ri para Finn que havia sido largado pela morena que logo após a valsa o deixou sozinho.

— Procure outra pessoa para dançar, os amigos do Tresh formam um grupo bem legal e todo mundo está dançando junto, vocês poderiam ficar lá conosco.

— Não obrigado. – Peeta respondeu mal humorado. Ele tinha vindo sozinho e aparentemente não havia se quer levantado da mesa para dançar uma única dança.

— Qual o problema Peeta?

— Tresh Okeniyi, sério Katniss, o filho do diretor? Não esperava isso de você.

— O que? Não tem nada a ver Peeta. Tresh é divertido e engraçado, talvez você devesse dar uma chance e conhecer outras pessoas.

— Prefiro ficar sozinho.

— Então fique aí mal-humorado. Você vem Finn? – Meu amigo olhou para nós dois por um momento e negou com a cabeça. Não me surpreendi, os dois eram amigos demais e na dúvida, um sempre escolhia ficar do lado um do outro. – Ótimo, fique aí com o senhor péssimo humor, ou vá para casa! – Dei dois passos e acabei voltando em seguida. – Sabe de uma coisa? Você não vai estragar minha noite Mellark, porque a culpa disso é sua.

— Minha?

— Sim, sua. Da próxima vez, me pergunte primeiro antes de deduzir que estarei a sua disposição. Tente me convidar para acompanha-lo ao invés de me deixar como última opção. – Me virei e saí em direção a pista de dança, tentado ignorar o loiro que não saía dos meus pensamentos.

 

Inverno 2001

Olhei mais uma vez pela janela da sala e em seguida para o relógio.

— Tenho certeza que ficar olhando a janela e o relógio a cada minuto, não vai fazer com que ela chegue antes do horário combinado. – Minha mãe comentou sorrindo e revirei os olhos.

— Deixa o garoto, baby. – O namorado da minha mãe comentou enquanto se recostava no batente da porta. - Ele está ansioso pela chegada da “amiga”. – Fez aspas com as mãos. – Sabe que se precisar de dicas de conquista, estou aqui, não sabe?

— Will, você não deveria estar preparando o peru? – Normalmente gostava dele, afinal, embora fosse cheio de piadinhas ele parecia gostar de verdade da minha mãe e a fazia feliz, sem contar que depois de tantos anos, o jeito era acostumar com a figura.

— Já está pronto. E sei que vai amar, fiz um recheio inacreditável.

— Não comecem, é natal. - Minha mãe pediu sorrindo levemente. - Me ajude com esses pratos, por favor, filho.

— Certo, e só para deixar claro, estou apenas preocupado. Está começando a nevar – comentei organizando os pratos na mesa.

— Ela já deve estar chegando, e você mesmo disse que ela viria de taxi não de metrô. – Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouvi o som de um carro parar e saí em direção a porta ignorando os risos atrás de mim.

Katniss saiu do taxi, com os cabelos soltos em cachos e um sorriso singelo nos lábios. Desci os degraus em frente minha casa para recebe-la.

— Feliz natal. – Sorri involuntariamente.

— Feliz natal. – Nos olhamos por um momento e não sabia ao certo o que fazer. – Está frio, vamos entrar – ela concordou e a deixei ir na frente.

— Katniss que bom que veio, feliz natal, querida – observei enquanto ela cumprimentava minha mãe e em seguida Will. Como minha melhor amiga ela já era de casa.

O almoço foi servido e olhei atentamente, sentada do outro lado da mesa, estava minha melhor amiga, mas não só isso. Não sei explicar exatamente quando, mas em algum momento nos últimos anos Katniss passou a significar muito mais para mim do que uma amiga significaria. As brigas bobas e aquela sensação desagradável que sentia sempre que a via perto de outro garoto eram sem dúvida um sinal do que vinha tentando negar.

Seguir o "conselho" dela e convida-la - ao invés de deduzir que estaria a minha disposição - não foi fácil.  Um convite para o baile era sem dúvida algo que mudaria as coisas entre nós, mas sabia que não queria sentir aquela angústia que senti na festa da Rodriguez no ano passado, então tomei coragem para convida-la para o baile de inverno assim que divulgaram uma data. E para minha alegria, aceitou com aquele sorriso lindo e sincero que só ela tinha.

Havíamos nos divertido muito naquela noite, na ocasião tinha providenciado um corsage, alugado com meu melhor amigo uma limusine que nos levou no maior estilo. Houve fotos na casa dela e na entrada do baile, rimos muito, dançamos todas as músicas possíveis, ainda assim no fim da noite não consegui arriscar, e simplesmente nos despedimos com um beijo no rosto. Havia sido um idiota como Finn mesmo fez questão de ressaltar.

Após o almoço trocamos presentes, mas propositalmente não entreguei o dela naquele momento, queria fazer isso quando estivéssemos sozinhos. Ficamos um pouco mais na sala antes que eu a chamasse até o jardim dos fundos aonde nos sentamos no degrau da varanda em silêncio.

— Sua mãe mandou chocolate para vocês. – Will apareceu repentinamente com duas xicaras, nos assuntando. - E pediu para avisar que vamos dar uma rápida saída. Ela quer cumprimentar uma amiga, ou algo assim.

— Certo, obrigado.

— Veja se não é um visco natalino – ele apontou para o enfeite em cima das nossas cabeças com um largo sorriso. - Já sabem, não é? – Will fez sinal com as mãos indicando beijo e não sabia onde me esconder de tanta vergonha.

— Will, minha mãe não está te esperando? – Dei meu melhor olhar bravo e ele riu antes de concordar.

— Certo, mas lembre-se, beijar sob o visco traz sorte no amor.

— WILL.

— Já fui... – Ele piscou antes de voltar a entrar.

— Desculpa...

— Não tem problema, já estou acostumada com ele. O Will sempre será o Will. – Ela sorriu. - Gosto daqui, sua casa tem um ar acolhedor.

— Queria dar seu presente – comentei pegando a caixinha com o presente dela no meu bolso. – É simples, mas quando vi pensei em você imediatamente.  

— Obrigada. – Katniss desatou o laço verde, se desfez da pequena tampa da embalagem com cuidado e observei seu rosto com atenção. – Peeta é lindo... – Ela abriu com cuidado o relicário em forma de coração e olhou a pequena foto. - Somos nós no baile duas semanas atrás. Eu amei essa foto. Coloca pra mim? – Ela afastou o cabelo e prendi o colar em seu pescoço com cuidado.

— Dessa forma você sempre vai me ter perto do seu coração. – Ela riu. – Foi piegas?

— Um pouco, mas gostei da representação, embora não fosse necessária, por que você sempre vai estar no meu coração.

— Talvez o visco seja um sinal, não sei... – brinquei e ela sorriu.

— Acho que não deveríamos arriscar perder a sorte no amor. – Ela mordeu levemente os lábios e me aproximei selando nossos lábios pela primeira vez. Podia sentir meu coração acelerado, como se fosse sair do meu peito.

Ela era minha melhor amiga e a pessoa que ocupava meus pensamentos o tempo todo. Aquele era um grande passo, sem dúvida estávamos arriscando uma longa amizade, ainda assim não havia como negar estava perdidamente apaixonado por Katniss Everdeen.

 

Inverno 2002

Podia sentir as borboletas no estômago enquanto esperava sentada na sala de estar da minha casa. Já havia tomado minha decisão há muito tempo, entretanto o nervoso estava me deixando inquieta. Assim que a campainha tocou corri em direção a porta diminuindo os passos assim que me aproximei. E logo que o vi sorri involuntariamente, os cabelos loiros ligeiramente bagunçados pelo vento, o sobretudo preto e cachecol, o deixaram perfeito como sempre.

— Boa noite, amor. Você está linda. – Ele beijou meus lábios com carinho. – Mas acho que vai passar frio.

— Boa noite, entra. Não vou sair assim.

— Achei que já íamos sair – comentou pendurando o casaco e me seguindo. – Se demorarmos muito, não vamos conseguir ficar no mesmo setor que o resto do pessoal.

— Está cedo, quer beber alguma coisa? – ele negou com a cabeça. – Vem – chamei subindo as escadas em direção ao meu quarto.

Peeta conhecia a casa bem o suficiente, considerando que nos conhecíamos há oito anos, e aquela não era a primeira vez que ia ao meu quarto. Assim que entramos ele sentou na poltrona próximo a janela olhando o livro que estava na mesa ao lado e respirei fundo pensando em como dar o próximo passo.

— Katniss...

— Desculpa, o que?

— Perguntei se você está bem amor? Parece nervosa – observou.

— Estou bem, não é nada – garanti sorrindo.

— Annie nos chamou para ir até a casa dela depois da meia noite, mas se importa se formos para outro lugar? Não quero encontrar meu pai nas primeiras horas do ano.

— Não tenho planos de ir a lugar nenhum essa noite. O que acha de não irmos a Times Square esse ano? – Fechei a porta às minhas costas e isso chamou a atenção dele para mim, me aproximei lentamente e beijei seus lábios com carinho, enquanto sentava em seu colo. Sem questionar ele retribuiu o beijo, colocando suas mãos na minha cintura. – Meus pais vão passar a noite em Boston... – comentei em meio o beijo.

— Katniss...

— Quero entrar o ano com você e mais ninguém. Estou pronta para o próximo passo. - A respiração dele estava mais pesada, anda assim ele olhou em meus olhos.

— Amor, você tem certeza? - Mesmo que tivesse qualquer vestígio de dúvida ele teria ido embora naquele momento, eu o amava.

— Tenho, há muito tempo. Eu te amo Peeta e quero ser sua de todas as formas possíveis. – O sorriso dele era a coisa mais linda do mundo pra mim e sorri junto. No momento em que ele se aproximou - a mão esquerda na minha nuca - antes de selar nossos lábios novamente, dessa vez com mais intensidade. Desabotoei lentamente os botões da camisa dele e no momento seguinte ele me ergueu em seus braços e me levou até a cama.

Suas mãos foram percorrendo meu corpo com carinho, e lentamente ele foi tirando peça por peça da roupa que estava usando enquanto fazia o mesmo com as dele. Sua boca percorria cada canto do meu corpo com cuidado e as sensações que cada toque me proporcionava eram inexplicavelmente prazerosas. Já havíamos tido momentos mais intensos antes, mas dessa vez não pararíamos, dessa vez permitira ir além. Não havia pressa e apesar da ansiedade por ser minha primeira vez confiava o suficiente nele, para saber que não me machucaria.

— Eu te amo Katniss, mais do que tudo. – Olhando no azul de seus olhos não duvidei e foi em meio a esse olhar que pude senti-lo dentro de mim pela primeira vez. E nada mais importava naquele momento, a não ser, nós dois e nosso pequeno universo particular.

Quando a meia noite chegou, trazendo com ela o novo ano, ainda estávamos nos braços um do outro e meu único desejo foi que nosso amor durasse para sempre.

 

Outono 2007

Estava fechando o forno quando ouvi o pequeno baque da porta da sala. Com um sorriso fui em direção ao som do salto no assoalho e pude vê-la pendurando a bolsa e o casaco.

— Que bom que chegou. – Caminhei até ela e a beijei de imediato. Por mais que estudássemos juntos, muitas vezes nos víamos apenas na sala de aula e a noite. – Estava com saudades.

— Eu também. – Ela deu um meio sorriso, quase sem vontade e soube que algo não estava certo.

— O que foi? Parece estar pensativa. Aconteceu alguma coisa?

— Nada sério. – Olhei para ela sabendo que era mentira. A conhecia o suficiente para saber quando estava mentindo, ou escondendo algo. – O professor Latier me chamou para conversar. –Ela me puxou para o sofá.

— E...

— Ele quer me indicar para uma vaga de colunista...

— Uau, isso é incrível, Latier só indica os melhores. Parabéns amor. Temos que comemorar! – Estava realmente feliz por ela, nosso professor não indicava qualquer aluno, mas quando indicava era sempre para vagas incríveis. – Você não parece feliz.

— Eu estou é que... a vaga é em São Francisco.

— Uau. – Não que fosse extremamente longe, ainda assim seis horas de voo era uma distância considerável. Sem contar que ela teria que mudar tudo.

— Eu sei, fiquei sem palavras na hora. Ele disse que tenho um tempo para pensar, mas que não é muito já que tem todos os preparativos para a entrevista, mas vou dizer a ele que não posso. Há vagas aqui e posso conseguir uma assim que me formar.

— Não, não amor. – Era uma oportunidade única. – Você vai fazer a entrevista e vai passar. É com certeza, uma grande oportunidade, e você merece ela só fiquei meio surpreso.

— Pee, não posso me mudar para Califórnia, é loucura.

— Por que não? O Clima lá é maravilhoso. – Ela sorriu.

— E namoro a distância, por acaso é maravilhoso? – Fiquei sem fala por um momento. – Viu, estamos indo tão bem e minha vida é aqui. Sabe que não daria certo todas as viagens, sem contar o custo que teríamos. Já passamos da fase de namorar pelo MSN querido.

— Muito engraçada você. – Ela beijou meus lábios rapidamente.

— Sou sim, agora me conta o que está fazendo para o jantar? Está com um cheiro maravilhoso. E estou com fome. – Ela levantou e foi até a cozinha. – Lasanha, amo lasanha. Ainda temos vinho? – Fui até o balcão da cozinha e a observei por um momento. Katniss merecia o mundo e daria tudo que estivesse ao meu alcance para faze-la feliz.

— E se fosse com você para Califórnia? – Talvez fosse loucura, ainda assim sabia o quanto ela queria aquela oportunidade.

— Como?

— Se conseguir a vaga, posso me mudar com você, procurar um emprego lá. Não estou preso a Nova York. Podemos começar algo lá depois da formatura.

— E seu curso de fotografia?

— Posso fazer lá, amor. Podemos dar um jeito.

— E se não der certo? É muita mudança...

— Se não der certo mudamos os planos outra vez. O importante é estarmos jutos.

— Você realmente iria comigo?

— Iria a qualquer lugar com você, eu te amo.

— Também te amo. – E lá estava o sorriso mais lindo do mundo.

 

Primavera 2008

Olhei mais uma vez para mala na minha frente conferindo mentalmente tudo que já havia colocado. Não queria esquecer nada. Peeta já havia desistido de me fazer companhia enquanto arrumava as coisas e pelo canto do olho observei enquanto o mesmo assistia um desses filmes de ação com muito tiro e correria. E foi quando um dos personagens apareceu com um daqueles casacos que lembrei que seria bom levar uma blusa meia estação. Não que acreditasse que chegaria a usar, mas por precaução preferia levar.

— Amor, você viu aquela minha blusa meia estação preta? – perguntei após procura-la no armário.

— Não. – ele respondeu sem tirar a atenção da TV, não que estivesse surpresa por meu namorado não saber onde achar algo, mas acabei revirando ligeiramente os olhos antes de começar a procura na parte superior do armário, onde guardávamos as roupas mais quentes. – Por que você quer aquela blusa? Vai estar um calor daqueles por lá.

— Eu sei, mas prefiro estar preparada para tudo.

— Ai não amor! – Vi quando ele levantou em um pulo da cama no exato momento em que puxei uma pilha de suéter do armário e junto com ela uma caixinha de presente azul da joalheria que foi direto para o chão. Olhei atentamente aquela embalagem antes de olhar para ele surpresa.

— Isso é...? – Intuitivamente era como se soubesse o que tinha naquela pequena caixinha. Nunca havíamos falado nada sobre oficializar nossa relação. O mais perto do assunto que chegamos foi quando decidimos morar juntos, claro que as vezes planejávamos o futuro. Uma casa, filhos bem mais no futuro, mas casamento era algo subentendido.

— Se eu dizer que não, você vai acreditar?

— Não sei, vou? – Ele sorriu antes de se abaixar e pegar a caixinha do chão se ajoelhando em seguida.

— Não era assim que planejava esse momento, não mesmo. Na minha mente estaríamos em um restaurante comemorando seu novo trabalho. Estava disposto fazer isso e correr o risco de ouvir um não em público, e eu iria pedir para colocar na sua sobremesa, essas coisas de filme romântico e me ajoelhar ao seu lado no momento em que visse, mas  como sempre você está um passo a frente então... – Meu coração estava acelerado e instintivamente coloquei a mão sobre a boca. – Katniss Everdeen, eu amo você mais do que tudo no mundo, e não importa aonde eu vá fazer isso, porque o importante é que sei que não importa aonde, eu quero estar ao seu lado pelo resto da minha vida. Você aceita se casar comigo? – perguntou abrindo a caixa com um belíssimo anel de diamantes.

Mesmo sem pensar diretamente no assunto eu sabia a resposta para aquela pergunta, porque não havia outro alguém que queria passar o resto da minha vida.

— Sim! Sim! – Ele beijou as costas da minha mão antes de colocar o anel em meu anelar direito, ao se levantar ele me abraçou me erguendo ligeiramente.

— Eu te amo tanto.

— Eu também te amo.

 

Verão 2008

Olhei uma última vez a vista da janela do quarto, antes de fecha-la com cuidado e voltar minha atenção para os últimos livros que ainda estavam em cima da cama. Peguei um deles e observei com atenção antes de abrir e ler novamente a dedicatória na capa.

“Que um dia suas fotos preencham as paginas de um livro como esse. Com amor Katniss.”

Por um momento pensei em não colocá-lo dentro da caixa, mas tão rápido quando a ideia veio, ela se foi. Então o coloquei com os demais livros.

— As caixas da sala já estão no carro. – Finn comentou entrando no cômodo.

— Certo, obrigado Finn, por tudo.

— Não há o que agradecer, essa vai lá pra casa ou para o depósito?

— Pra sua casa - respondi fechando a caixa em questão e a levando em direção a sala.

— Gosto desse apartamento, passamos tanto tempo aqui nos últimos anos – ele observou o local e fiz o mesmo, embora a maior parte dos móveis fosse ficar, todos os objetos pessoas não estavam mais em seus lugares.

— Com a Annie em Londres, você praticamente morava aqui – brinquei e ele riu.

— Ora, meus dois melhores amigos moravam aqui – ele suspirou e olhou em minha direção – Você é meu melhor amigo, quase um irmão, aliás, um dia ainda será um irmão então preciso dizer que está cometendo um erro.

— Finn...

— Eu sei que está fazendo o que acha certo, mas isso não parece certo pra mim. Há outras formas de lidar com tudo isso. Pega o primeiro voo para São Francisco, faz alguma coisa, mas não abre mão da sua felicidade por conta de um erro. Você não é como seu pai, a situação é outra.

— O que eu mais queria era poder apagar o que aconteceu, mudar aquele dia, ir para São Francisco, mas eu não posso. Preciso ficar aqui. É o certo a ser feito, não posso mudar meus erros, tampouco impedi-la de ser feliz. Não é justo com ninguém.

— Mas você a ama? Você ama a Katniss? – Era uma pergunta tão fácil e sabia que não precisava mentir para ele.

— Amo, amo demais.

— Sei que ela também te ama, então vai atrás dela, traz ela de volta.

— E, é por ama-la que não posso ir atrás dela, pedir para que volte. Não posso fazer isso com ela, não tenho esse direito. Preciso deixar que seja feliz, mesmo que sem mim.

— Ainda não posso acreditar nisso. É piegas, mas Annie sempre disse que vocês eram perfeitos juntos e ela estava certa, por que vocês não veem isso...?

— Por favor, preciso que esteja ao meu lado, mesmo que não concorde. – Ele me olhou por um momento.

— Vamos para casa.

— Obrigado, vou ficar lá por pouco tempo. Só até achar um lugar que a cada canto não me torture.

— Você pode ficar o quanto quiser. Vou descer essa caixa e te espero no carro.

Dei uma última olhada e como flashes, lembranças invadiram minha mente em cada um dos cômodos. O modo como ela se maquiava no espelho do banheiro com a porta aberta, como me abraçava todas as manhãs ao acordar, como gostava de ler no sofá próximo a janela da sala vendo a neve ou a chuva, como se apoiava no balcão enquanto eu cozinhava. 

Antes de fechar a porta olhei uma última vez aquele lugar que lembrava tanto o que fomos e o que poderíamos ter sido, eram lembranças demais. Não era para ser assim, era para ser para sempre.

 

Outono 2017

Fechei os olhos por um instante e respirei fundo inspirando o ar assim que abri a porta de acesso a sacada do meu apartamento. A vista da baía e da Bay Bridge era um dos privilégios de morar em South Beach e embora não ficasse tanto tempo assim na cidade gostava particularmente daquele apartamento.

— Sua reflexão na maioria das vezes me intriga Everdeen. – Olhei para minha amiga por um momento e voltei minha atenção para a vista.

— Nunca entendi o que tinha na minha cabeça quando dei a cópia da minha chave para você.

— Me faço essa pergunta todos os dias. – Johanna comentou enquanto se apoiava na sacada olhando na mesma direção que eu. – Mas a teoria que faz mais sentido, é a que você não anda batendo bem da cabeça, principalmente depois que soube hoje que está de aviso prévio. – Me mantive em silêncio. – Pra aonde você vai?

— Consegui um emprego em uma revista, o salário é bom e não tem todas essas viagens.

— Certo, e você quer realmente ficar em uma redação todo dia? Você adora viajar, conhecer os lugares escrever sobre eles. Nunca te imaginei sentada atrás de uma mesa.

— Era o que planejava fazer anos atrás. Além do mais, estou cansada disso. Cansada de evitar a realidade, talvez eu queira... sei lá... uma família. Um horário para estar em casa todos os dias.

— Não dou seis meses para que fique entediada de passar tanto tempo em São Francisco e queira viajar.

— Não vou ficar aqui. – Evitei o olhar dela, sabendo que veria repreensão neles. 

— Não me diga que vai... Você vai voltar? Katniss?

— A vaga é em Nova York.

— Não acredito, por que isso agora?

— Cansei de fugir, de evitar tudo que amo. Se passaram nove anos. É hora de deixar o passado para trás. Encarar as coisas.

— E você ainda o ama?

— Não dessa forma, talvez parte de mim sempre vá ama-lo de alguma forma. Ele foi importante na minha vida, mas nunca seremos o que fomos um dia e evitar Manhattan não vai mudar nada.

— Está realmente preparada para reencontrá-lo?

— Nem tenho certeza que chegarei a reencontrá-lo. Não tenho ideia se ele ainda morra lá. Sem contar no tamanho da cidade.

— E você pretende voltar e nem ao menos rever os conhecidos? Vocês tinham amigos em comum.

— Não sei o que vou fazer Johanna, mas quero voltar. Grande parte de mim sente que não deveria nem ao menos ter ido embora.

— Sair de Manhattan fez de você a profissional excepcional que é hoje. Olha o tanto de coisas que fez. Os lugares que conheceu. – Sabia que ela estava certa, mas sempre sentiria aquela velha sensação do “e se”. E se, nunca tivesse aceitado a entrevista de emprego, se tivesse ficado, se tivesse perdoado? Eram tantas possibilidades diferentes, mas que jamais saberia de fato.

— Amo minha profissão. O trabalho na revista, esse apartamento e amei cada lugar que estive, as oportunidades, dei o melhor de mim a cada linha escrita, mas São Francisco não é minha casa. Nenhum dos lugares que estive é.  Nova York é, e sinto uma falta enorme de lá.

— Ou foi, sinto que não deixou o passado onde deveria estar. E como sua amiga, tenho que dizer que acho um erro. Que vai acabar se magoando ao voltar. Mas te conheço o suficiente para saber que nada do que eu diga vai mudar sua decisão.

— Não, não vai. Mas preciso que me apoie nisso.

— Vou sentir sua falta.

— Imagine que estou viajando a trabalho.

— Suas viagens tinham sempre data de retorno. Se quiser voltar, as portas estarão sempre abertas pra você aqui. Nem que tenha que ameaçar o chefe a contrata-la de volta. – Sorri.

— Não duvido que faça isso, mas ele já me garantiu que se mudar de ideia, a revista estará de portas abertas pra mim.

— Quanto tempo tenho para importunar você?

— Preciso estar em Nova York em um mês.

— Certo, vou pensar em várias coisas para fazermos nesse período.

Sorri olhando novamente para Bay Bridge. Um mês e eu estaria voltado para minha cidade natal, para aquela adorável loucura. Iria voltar para casa.


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Notas finais do capítulo

É isso, espero que tenham gostado e que não queiram me matar pelo final.
Quero agradecer todos os leitores maravilhosos que estão acompanhado esse projeto, as autoras que estão participando esta sendo incrível participar disso com vocês e a Bel que fez esse banner lindo.
Semana que vem é a vez da Ellen que sem duvida vem trazendo algo muito bom por ai.
Beijos



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