Encontros, Acasos e Amores escrita por Bell Fraser, Sany, Gabriella Oliveira, Ester, Yasmin, Paty Everllark, IsabelaThorntonDarcyMellark, RêEvansDarcy, deboradb, Ellen Freitas, Cupcake de Brigadeiro, DiandrabyDi


Capítulo 13
Nossa Irmã


Notas iniciais do capítulo

Bom dia, boa tarde, boa noite.
Aqui é a SelRegina, agora RêHutcherEvansDarcy e venho com o último desafio Peetniss dessa rodada.

*Primeiro quero agradecer a Bel por ter me convidado a participar desse belo grupo, com escritoras f*#as (me desculpem o termo) que admiro e respeito muito. E também pela ajuda, tanto com idéias como na edição. Meninas as Ones de vocês estão perfeitas, é uma melhor que a outra, me sinto até indigna de estar entre vocês. Agradecer tambem a Sílvia que me ajudou muuuiiiitooooooo com a parte médica da One, vocês meninas foram importantíssimas no andamento da minha One, serei eternamente grata a vocês

*Segundo agradecer a minha desafiadora Sany que me deu um tema q na hora quase morri, mas depois amei ter escrito e pedir desculpas a ela, pois também fui um pouco rebelde e desenvolvi uma estória em cima do desafio dela, não focando no desafio em Si.

Bem o desafio que a Sany me mandou foi este:

Primeiro amor, primeiro beijo.
Quando Katniss Everdeen e Peeta Mellark se reencontram depois de anos, lembranças de um sentimento a muito esquecido e do primeiro beijo de ambos vêem a tona.

Sel a proposta é o relato desse primeiro beijo. Mas sendo uma lembrança em meio a um reencontro anos depois. Se você quiser explorar que eles após o reencontro vão ficar juntos fica a seu critério. Mas eles precisam ter se separado em algum momento.
Pode ser POV do Peeta ou da Katniss ou até mesmo dos dois.
Se quiser usar música fica a seu critério também.

Então dado o desafio a sinopse é a seguinte:

Nossa irmã!

Primeiro amor, primeiro beijo. Essa foi a sútil ligação entre Katniss e Peeta, ainda na adolescência. Por um motivo tiveram que se separar e tentaram piamente esquecer um do outro, mas o destino marca um encontro entre eles, e mesmo depois de anos, lembranças de um sentimento há muito esquecido e do primeiro beijo vem à tona, Os dois tinham algo em comum, uma ligação, mas precisavam resolver a real situação para poderem seguir em frente.
" Eu sei que é difícil esquecer o passado, mas é necessário para se seguir em frente".

Obs: lembrando que sou amadora, não manjo dos paranauês médicos e que pode e haverá algum erro de concordância e etc

* Drama.
* Classificação +16. Insinuação de sexo, palavras de baixo calão.
*One dividida em três partes, com POV Katniss e Pov Peeta.

Espero que gostem e comentem plis.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/731702/chapter/13

 

╔─━━━━━━⊹⊱ ⊰⊹━━━━━━─╗

Nossa Irmã

Parte 1

Reencontro

╚─━━━━━━⊹⊱ ⊰⊹━━━━━━─╝

 

 

Acordo com o telefone tocando insistentemente, olho para meu celular, são exatamente 2h30 da madruga fria, de uma quarta-feira.

— Alô!

— Docinho, até que enfim!

— Hay, se você estiver bêbado em algum lugar, ligue para um táxi. Eu não vou te buscar de novo.

Meu pai, Haymitch Abernathy, era um dos mais famosos empresários do país. Com uma inteligência a cima da média. Mas, infelizmente quando minha mãe morreu, ao me dar à luz, ele se tornou um bêbado e mulherengo. Fui criada praticamente pelos empregados dele, especificamente pela doce Greasy Sea, mas ela nunca pôde me dar algo que eu sempre quis: Amor de mãe.

Com meu pai aprendi muitas coisas - dentre elas - a não beber, ser uma empresária tão brilhante quanto ele, e a não confiar nas pessoas. Meu pai sempre arranjava muitas mulheres. A maior parte delas eram modelos sexys, alpinistas sociais, que sempre gostavam do status e do luxo que tinha e até hoje tem. Mas, acredito que nenhuma delas, o amou de verdade, embora existiu uma que suportou as bebedeiras dele por mais de dois anos, quase três. Porém meu pai, sempre foi muito desconfiado, e quando bebia ficava insuportável.

— Me dê um pouco de crédito, mocinha. Estou sem beber faz mais de 24hr, preciso de você aqui no Hospital Capitolito do Câncer, pra ontem! - ao ouvir suas palavras levantei da minha cama.

— O que aconteceu? - Mesmo meu pai bebendo, ele tinha uma saúde de ferro, ainda assim fiquei bem preocupada.

— Quando você chegar aqui, te explico. Levantei correndo, peguei a primeira roupa que vi na frente e fui correndo para o hospital. Chegando lá encontrei meu pai parado na porta com a fisionomia bastante perdida.

— Hay, o que aconteceu? –Ao me aproximar, me deu um abraço apertado.

— Não consigo fazer isso sem você do meu lado, docinho. Meu relacionamento com meu pai é bem peculiar - não o chamo de "pai" e ele não me chama de "filha”- gostamos de um irritar o outro. Ele nunca gostou que lhe chamassem de "Hay" e por isso sempre o chamava assim. Quando criança, para ter a atenção dele, chamava ele desta maneira. Depois quando adulta, era só pelo simples fato de irrita-lo. Já ele, me chamava de "Docinho" por causa do meu temperamento difícil. Sempre fui fechada com desconhecidos, taciturna, e com pouco humor. Após os meus vinte anos de idade, ao assumir uma parte da administração das empresas, fiquei mais séria e rígida com as pessoas em minha volta. Sou conhecida como megera no ambiente de trabalho, não ligo, tenho que ser pulso firme com os meus subordinados. Meu pai sempre diz, que minha mãe era assim. De poucas palavras, séria, inteligente, determinada, corajosa. Embora meu pai nunca falasse, eu sei que ele me admira. Assim como eu o admiro, por seu sarcasmo com piadas em horas inapropriadas, mas nunca admiti isso a ele. Nesse quesito somos parecidos, ambos orgulhosos para assumir nossos sentimentos e expressa-los

— Você está com câncer? - Fazer essa pergunta ao meu pai trouxe uma dor desconhecida para minha alma, mas era necessário pensar nessa possibilidade. Ele pegou em minha mão, me puxou sentando nos bancos que haviam na porta do hospital.

— Você se lembra da Effie ?

Effie, um simples nome e um misto de sentimentos e memórias. Ela foi o caso mais duradouro do meu pai. Eles ficaram juntos por quase três anos. Meu pai a conheceu quando foi comprar flores para uma de suas muitas amantes. Ela tinha um jeito divertido de falar, andar e se vestir. Sempre muito espalhafatosa e colorida, mas muito carinhosa. Effie foi a única das muitas mulheres que passaram pela vida dele, que me tratava com amor e carinho. Ela penteava meu cabelo, e me ajudou a lidar com as mudanças que aconteciam em meu corpo, na época da puberdade. Foi ela que me ensinou sobre a menstruação e sobre muitas outras coisas do universo feminino. Ela me amava como filha, e eu a amava como mãe, sempre me refugiava em seus braços. Ela era proprietária de uma pequena floricultura no centro da cidade e tinha um filho meses mais velho que eu. Também era viúva, seu falecido marido era padeiro. Effie era um doce, sempre com um sorriso amável no rosto. Mas, o vício do meu pai estragou o relacionamento dos dois. Effie suportou muitas coisas, desde crises de ciúmes, traições, comas alcoólicos e outras coisas, me lembro da última vez que há vi. Eles estavam voltando de um coquetel da empresa e meu pai gritava coisas horríveis para ela.

Você é uma interesseira que nem todas as outras. Uma puta que se vende por dinheiro. Se pelo menos fosse mais nova e sexy, valeria a pena aguentar a sua chatice. Sua puta, eu vi você dando em cima dele.

Me lembro de como ela chorava e tentava acalma-lo. Dava para ver que meu pai estava caindo de bêbado. Naquele dia, Effie vomitou no tapete super caro que havia na sala. Era um tapete sagrado para o meu pai, minha mãe havia mandado tecê-lo na Arábia.

Sua puta desgraçada! Queria nunca ter te conhecido.

Não entendia o porquê ele gritava tanto com ela, mas queria fazer algo por Effie. Foi aí que o seu filho desceu correndo as escadas e foi enfrentar meu pai. A discussão se acalorou e meu pai entrou numa briga corpo a corpo com o filho dela. Foi a pior cena que eu vi em minha vida - as vezes nos meus sonos mais conturbados - acordo revivendo tudo isso. Os empregados da casa separaram eles, e Greasy me levou para o meu quarto. Depois daquela noite nunca mais vi Effie e seu filho. Eles foram embora sem se despedir de mim. O que me magoou profundamente. No almoço do dia seguinte, meu pai com a maior cara de ressaca fez um comunicado para todos os funcionários e para mim.

O nome, Effie Trinket e tudo o que à envolva, está proibido nessa casa! Não quero nem escutar o nome dela. Espero que vocês compreendam e respeitem minha decisão. Quem a desrespeitar vai ser mandando embora na mesma hora.

Lembrar de tudo isso me deu um certo desconforto, pois eu gostava dela e era apaixonada por seu filho. Depois daquele dia prometi, pra mim e para o meu pai, que não ia pensar nela e nem no seu filho. Por isso, evitava ao máximo falar o nome dele, para minha mente não se encher com lembranças doces, de tempos felizes que passei ao seu lado.

— Achei que era proibido falar o nome dela. - tentei não ser sarcástica mais falhei.

— Docinho por favor, me escute, sem me interromper com seu sarcasmo e com suas piadinhas ruins.

— Ok.

— Recebi a visita do filho dela, hoje de manhã. - Só mencionar o fato dele, ter visto o filho dela, me deu um frio intenso no estômago. - Ele me disse que esperava nunca mais me ver. Que me odiava muito, mas que precisava da minha ajuda.

— E, você? - perguntei pasmada, por saber que ele havia voltado.

— Disse que não ia ajudar, mas ele jogou um álbum de fotos na minha mesa. Esse álbum aqui. - Ele me estendeu o álbum. Ao folhear, vi diversas fotos de um bebê loirinho, de olhos verdes iguais ao do meu pai. Dava para ver o crescimento dos cabelos loiros, primeiro umas mechas curtas, depois duas tranças. Ela sempre tinha um sorriso no rosto, um sorriso meigo e cheio de vida. Havia muitas fotos dela com ele, ambos pareciam muito próximos, sempre se abraçando, de mãos dadas e um beijando ao outro. - Naquela noite tinha brigado com Effie, por que ela tinha me falado que estava grávida. Eu estava tão bêbado, que não me lembrava desse detalhe, Katniss. Ela foi embora carregando uma filha minha. A garota tem quase dez anos e está com leucemia. Peeta, foi bem taxativo ao me dizer que, se eles pudessem doar a medula para Prim, ou tivesse encontrado algum doador eles nunca me procurariam. Você viu como ela é linda, Katniss, mesmo se parecendo comigo? De fato, Primrose Trinket possuía uma beleza infantil encantadora. Seus olhos verdes, brilhantes combinavam perfeitamente com seu cabelo loiro. Seu sorriso meigo, era idêntico ao do seu irmão.

— Sim pai, ela é linda, mesmo parecendo com você. - lhe disse sem o encarar, de fato nunca havia pensado estar vivendo numa situação assim.

— Como vou olhar para Effie, depois de tudo o que eu fiz para ela? Estou aqui faz tempo, tentando ter coragem para conversar com a Effie, e olhar para Primrose. Por isso te chamei aqui, filha. Você é tão corajosa como a sua mãe. Por favor, me ajude a lidar com essa situação toda.

Já presenciei meu pai em situações ruins, em estados de quase coma alcoólico, mas nunca o vi tão vulnerável e quebrado. Ele chorava muito. Não sabia como agir, sempre fui de apoia-lo, apesar de tudo. Assenti lhe dando um abraço, meu pai sabia que no fundo, eu não era tão fria como era taxada e que ia apoia-lo. Entramos no hospital, fui à recepção e pedi mais informações sobre Primrose Trinket. Parecia que os funcionários do hospital já conheciam o caso, e quando me identifiquei como a "irmã" pude ver sorrisos de esperança direcionados, tanto para minha pessoa, como ao meu pai.

Odiava hospitais. Fomos encaminhadas a ala de quimioterapia, ambos colocamos mascaras, para não passarmos algum tipo de vírus aos internados daquela área. Pude reconhecer a cabeleira loira de Effie de longe. Ela estava com a fisionomia bem cansada e triste, alisava o rosto pálido de uma garota e sem seus longos cabelos loiros. A menina tinha um sono tranquilo aparentemente. Effie ficou tão descorada quando nos viu, e meu pai intensificou o aperto nas minhas mãos. Olhou para Primrose e chorou como nunca tinha visto alguém chorar. Effie, tentava não o olhar, mas quando o fazia expressava raiva, magoa e esperança no olhar.

— Espero que um de vocês, tenha a medula compatível com a da minha filha.

— Eu também espero, Effie. Não consegui segurar as minhas emoções diante dessa situação e fiz algo que estava guardado há dez anos em mim. Chorei pela briga dos dois. Chorei por eles terem ido embora sem se despedir. Chorei pela saudade que negava sentir. Chorei por descobrir que tenho uma irmã e chorei pela doença dela. Quando me vi, estava debruçada nos braços de Effie e ela me carregava ao corredor. Sentamos no banco, deitei em seu colo enquanto ela me confortava.

— Está tudo bem, querida. Tudo vai se ajeitar.

— Por que vocês foram embora sem se despedir? Nunca me ligaram. Nem me mandaram sequer um cartão de natal, ou de aniversário. Eu senti tanto a sua falta. Eu sinto muito pelo o que meu pai fez com vocês! De repente, ali deitada no colo de Effie, eu não era mais a empresária bem sucedida de vinte e cinco anos. Eu não era mais uma mulher forte, destemida e cheia de atitudes. Eu era aquela garota insegura que estava descobrindo a vida de dez anos atrás.

— Minha querida, eu não pude entrar mais em contato, seu pai me proibiu. Mas, saiba que nunca me esqueci de você. Eu também sinto muito, por toda essa confusão, não queria te machucar assim. Effie também chorava muito, e acariciava meus cabelos. Ela era a única que fazia e fez isso por mim. Perdi a noção do tempo em que fiquei deitada em seu colo, sentido seu carinho, minhas costas começaram a protestar pelo tempo que fiquei ali deitada em cima dela.

— Effie, o que aconteceu naquela noite? - Ela deu um suspiro tomando coragem para contar. - Meu pai nunca falou, o que realmente aconteceu.

— Um dos sócios do seu pai, um tal de Seneca, me agarrou naquela festa. Seu pai viu, não falou nada a princípio, mas bebeu muito. Tentei convencê-lo a maneirar, e ele começou a me ofender. Voltei do evento, até a casa de vocês, sendo humilhada com todos os tipos de xingamentos. Quando pedi para ele parar, porque suspeitava estar grávida, foi pior. Peeta tentou me defender e ele bateu em mim e no meu filho. - ela deu um suspiro e engoliu um pouco seu choro - Tive que ir embora e jurei para mim mesmo, e para meu filho que nunca mais ia procurá-lo. Depois de algum tempo confirmei a gravidez. Tive a Prim, e ela era tão parecida com ele na fisionomia, mas com um jeito doce. Não queria que as coisas fossem assim, mas está tudo tão fora do controle. Eu sinto muito, queria que tudo fosse diferente!

Dessa vez foi a minha vez de consolá-la. Ficamos muito tempo abraçadas, até meu pai pedir para conversar a sós com Effie. Me dirigi ao quarto da minha irmã e olhar ela, ali me senti tão impotente. Já sentia tanto amor e carinho por ela que queria tomar a dor dela para mim. Fiquei analisando cada detalhe do seu rosto, procurando semelhanças. Ela tinha os olhos e os poucos fios de cabelo do meu pai. Seus lábios lembravam os de Effie e seu filho. Procurei alguma semelhança entre nós, não conseguia encontrar...

— As mãos dela, são iguais as suas e a carranca que faz quando está brava, é o mesmo que ver você! - Aquela voz, era a mesma de há dez anos, só que bem mais grave.

— Peeta! - Evitei por dez anos falar seu nome. Evitei sentir esse aperto no coração e o frio na boca do estômago. Evitei que meus pés corressem ao seu encontro, e evitei meus braços enlaçarem seu pescoço. Mas, quando dei por mim já estava cheirando o pescoço dele e sentindo seu aperto em minha cintura. Fechei os olhos e deixei-me ir à nostalgia e às lembranças de um sentimento que estava escondido profundamente em minhas entranhas.

Quando meu pai saía com a Effie, e todos os empregados se recolhiam, eu e Peeta sempre fugíamos pra biblioteca. Ficávamos lendo livros que meu pai nos proíba ler. Eram normalmente livros com conteúdo pornográfico, ou com histórias macabras, fantasmagóricas, demoníacas, com zumbis e etc. Até hoje não entendia por que ele possuía esses livros no seu acervo.

Quando apresentou, Effie e seu filho para mim, achei que eram apenas mais uma das infinidades de pessoas que passavam pela vida do meu pai. Ele era simpático que nem a sua mãe, em todo o momento puxava papo comigo. No início eu me sentia muito envergonhada, o respondia de forma monossilábica. Depois de uns seis meses quando fiquei mocinha, e me senti apavorada ao ver sangue em minha calcinha, Effie me encontrou chorando. Me deu colo e conversou comigo, tirando todas as minhas dúvidas de uma forma tão amorosa. Naquele dia, todos meus muros foram para o chão e deixei sentir um carinho imenso por ela. Passamos a conversar sobre diversos assuntos e ela incluía seu filho em nossas conversas. Assim, comecei a ter uma amizade com o garoto de cabelo tigela e sorriso meigo.

Passávamos horas conversando sobre músicas, esportes e filmes. Ele como todo garoto amava esportes e me ensinava tudo o que sabia, com ele aprendi a jogar vôlei, aprendi um pouco sobre futebol, basquete, beisebol e outros. Ele gostava de filmes de terror, eu morria de medo e toda vez que assistíamos algum filme desses escondidos, ele me abraçava e dizia:

É só um filme, eles fazem esse sangue, com suco de morango. Eu acabava rindo das ligações que fazia entre zumbis e comidas, eu gostava de estar nos braços dele. Sentia uma segurança desconhecida para mim. Ele virou meu melhor amigo, meu confidente. Ele conhecia todos os meus medos e fazia de tudo para que eu pudesse vencê-los. Em uma madrugada em que estávamos fuçando os livros proibidos de meu pai, achei um diário com fotos da minha mãe, eu e ela éramos tão parecidas. Nas últimas páginas continha os relatos da gravidez. Minha mãe sabia que ia morrer se desse seguimento a gestação, mas ela descrevia que me amava tanto e que daria a sua vida em troca da minha. Era isso que mães faziam, certo? Ler aquelas palavras doeram tanto em mim, que me senti culpada pela morte dela. Ao me ver chorar ele me abraçou e disse que tudo ficaria bem, que eu não tinha culpa. Foi a escolha da minha mãe, e eu não tinha como refutar.

— Kat não chore, você é bonita de mais para chorar assim. Você não teve culpa. Inclinei meu rosto para poder olhar em seus olhos e vi algo que eu nunca havia visto em nenhum outro garoto da nossa idade. Ele limpou minhas lágrimas e acariciou minhas bochechas, olhando no fundo dos meus olhos. Não sei quem se aproximou primeiro, só senti a maciez dos lábios dele esquentando toda a estrutura do meu ser, foi um simples roçar de lábios.

— Você sabe o que está fazendo? - Eu lhe perguntei.

— Não, nunca havia beijado nenhuma outra garota. - Me respondeu ainda segurando meu rosto, com as suas bochechas vermelhas. — Foi estranho para você? .

— Um pouco e para você? - Estávamos com nossas testas coladas e podia sentirsua respiração e seu, hálito de menta.

— Também foi, será que podemos fazer melhor? Igual aqueles filmes românticos que você me faz assistir - sorri assentindo, de repente, me esqueci de todas minhas tristezas.

— Vamos tentar abrir a boca. Encostamos novamente nossos lábios e tentamos abri-los. Foi bem desajeitado, mas quando ele segurou meu rosto com firmeza e sugou meu lábio inferior, senti um arrepio na espinha que deixou meu corpo todo em ebulição. Segurei o pescoço dele, afundando meus dedos nos seus cabelos castanhos. Senti a língua dele envolver a minha, e meu pulmão pediu por ar e acabei me afastando bruscamente dele.

— Desculpa, me empolguei. - Ele parecia bem sem graça com a situação, e estava ofegante.

— Seus lábios estão inchados.

— Os teus também. Essa vez foi melhor do que a primeira.

— Eu nunca tinha beijado uma menina, espero que não tenha sido tão ruim.

— Foi o meu primeiro beijo, também e foi bom.

— Talvez se ensaiarmos mais vamos chegar a perfeição. Sempre nos escondíamos e trocávamos beijos. Não tinha maldade. Era um sentimento tão puro, uma coisa plena, íntegra. Ele dizia com tanta naturalidade que me amava, que eu era a princesa dele. Ele enfrentava batalhões, dragões, ganhava torneios, competições só para ter meu coração. Brincávamos, líamos sobre aventuras, éramos unha e carne. Foram os melhores três meses da minha vida, nunca me senti tão feliz e completa, ele me fazia tão bem. Até chegar aquela noite. Ver meu pai batendo nele destruiu meu coração. E, no dia seguinte saber que haviam ido embora sem se despedir, e que ia ser difícil os ver de novo, me trouxe uma sensação de morte. Mas aguentei firme, fui forte fazendo um pacto comigo mesma, de deixar essas lembranças enterradas no passado.

O soltei e olhei em seus olhos. Ele não havia mudado muito, seu rosto estava só um pouco mais velho com uma rala barba, escondendo sua cova perfeita no queixo. Era engraçado, ele sempre desejou ter barba. Mas está parecida bem falha, com poucos pelos no bigode, nenhum nas bochechas e só uma penugem que ia do seu queixo ao pescoço.

— Você cresceu muito, e seu nariz? - Ele me analisava minuciosamente, olhando todos os detalhes do meu rosto.

— Meu nariz era horrível. Estou percebendo que cresci um pouco mais que você? - Tentei ser engraçada, mas falhei.

— É, meus pais não eram grandes, pelo menos fiquei maior que a minha mãe.

— Fico feliz que tenha desistido de usar o cabelo tigela. Você fica bem melhor assim. - Fui sincera e consegui arrancar um pequeno sorriso dele. - Eu sinto tanto! - lamentei e ele me abraçou novamente aquecendo todo o meu corpo. Senti algumas de suas lágrimas nas minhas costas. - Vamos salvar Primrose, vou fazer de tudo por ela.

— Eu que sinto muito, Katniss. Eu quis tanto te procurar, mas odeio tanto Haymitch. É uma pena que minha pequena tenha o sangue dele.

— Eu te entendo e não julgo você, ou a Effie por tudo o que aconteceu. Não tenho raiva de vocês, eu fiquei magoada por terem ido sem me dar adeus, mas já passou! Eu realmente tinha ficado magoada, mas não podia fazer nada. Sempre fui obediente as ordens do meu pai, mesmo não me agradando delas. E, depois de algum tempo, não sentia raiva deles. Compreendia a situação, também não ficaria perto de um homem que me humilhasse e tivesse agredido a mim, e ao meu filho. Talvez Effie tenha ficado com medo do meu pai, até eu mesma fico quando está muito bêbado.

— Não vamos remoer o passado. O que me preocupa é a saúde de Prim. - Ele me soltou e se virou para a menina adormecida.

— Vocês não iam contar pra mim e para o meu pai da existência dela? - Me dei conta de que, se Primrose não estivesse doente, nunca teria a conhecido. Peeta, suspirou e me encarou.

— Quando fomos embora da sua casa, voltamos para o interior. Eu tentei entrar em contato com você, mas não queria que seu pai soubesse da existência da minha irmã. Eu te conheço Katniss, você ia falar para ele. E eu e minha mãe não queríamos isso!

— Como você pode pensar assim? Meu pai e nossa irmã tinham o direito de se conhecer, todos nós tínhamos esse direito. - Estava incrédula com seu pensamento egoísta.

— Seu pai iria humilhar minha mãe de novo e desprezar minha irmã, não queríamos isso. Nós tínhamos prometido tanto para o seu pai, como pra nós mesmos, que nunca mais íamos procurá-lo. - Ele me explicou impaciente, entendi o ponto dele, só que havia uma questão que martelava em minha mente.

— E eu? E a gente? E o que vivemos? Você não queria me ver? –Peeta me olhou com os olhos cheios de dor...

 

Pov. Peeta

 

Me lembro no colo do meu pai, ele confeitava um bolinho, fazia com tanto concentração e delicadeza. Não entendia muito na época, mas hoje sei como amava a confeitaria. Seus olhos brilhavam quando ele estava atrás do balcão da padaria do meu avô, sovando uma massa, e também brilhavam quando ele via minha mãe. Ele lambia o chão que passava, tinha uma real devoção por ela. Sempre me dizia o quanto devemos apreciar a beleza de uma mulher com respeito. E quando amarmos de verdade uma mulher, fazer dela a nossa única rainha, fazer o que estiver ao nosso alcance para ela ser feliz.

Minha mãe era muito nova quando se envolveu com meu pai e engravidou de mim, mas eu sentia que ela me amava, mas via como era fria com meu pai, as vezes até muito brava. Me lembro em uma tarde quando estávamos desenhando - ela me ensinava a desenhar alguns animaizinhos. O telefone de casa tocou, minha mãe atendeu, fomos para um hospital, ver meu pai deitado numa cama. Foi o momento mais traumatizante da minha vida. Quando me deixaram entrar no quarto ele me fez prometer que eu ia cuidar da minha mãe, e que nunca ia deixar alguém magoá-la. Que um dia quando tivesse idade suficiente, ia fazer a moça mais bonita que eu já havia visto, feliz lhe dando todo amor que havia no meu coração. Daquele momento em diante tudo foi um borrão. Minha mente infantil parece que apagou todo o luto do momento.

Só me lembro de algum tempo depois, minha mãe me levando para a cidade grande, fomos para a Capital. Era tão empolgante aqueles prédios enormes, muitos carros nas ruas, pessoas andando de um lado para o outro. Completamente diferente do que estava acostumado no interior. Mas, ela estava feliz, começou a trabalhar com roupas que mais tarde fui entender que era "moda". Conheceu homens ricos e bonitos, mas nunca se envolveu com ninguém. Até o dia que me levou para conhecer o Haymitch.

Esse cara era bem descolado, diferente das lembranças que tinha do meu pai, as vezes tratava minha mãe com grosserias e as vezes a mimava com rosas e chocolates. Um dia, quando tinha por volta de treze anos e estava começando a descobrir o que era garotas, eles me levaram para conhecer a sua filha. Ela tinha os olhos tão lindos, os mais perfeitos que já tinha visto. Era delicada, dotada de uma timidez que me deixava descontrolado, sempre ficava calada ao meu lado, ou quando estávamos os quatro juntos. Quando fomos morar na mansão de Haymitch fazia de tudo para chamar a sua atenção, mas não conseguia. Depois de uns seis meses, ela ficou grudada na minha mãe, sempre via elas conversando e em um momento me vi participando na conversa das duas. Desde então começamos a ser melhores amigos, ela tinha um gosto bem peculiar, se interessava por esportes (o que eu amava). Lhe ensinei a jogar vôlei e futebol, líamos livros juntos, cantávamos rock, brincávamos tanto. Era ela, a princesa que eu quis coroar, eu queria salvar ela de tudo e todos, lhe arrancar todos os sorrisos e medos. Queria fazer o coração dela bater tão forte, quanto o meu batia, quando estava ao lado dela. Foi nos lábios dela que dei meu primeiro beijo. Foi nos lábios dela que senti a maciez, a doçura, o coração pular tanto que parecia sair do peito e o prazer de estar com alguém. Foi com ela que senti amor de verdade.

Mas, houve aquela noite, uma briga, os gritos e as lágrimas da minha mãe. Havia prometido ao meu pai que a defenderia e foi o que eu fiz, apanhei dele, mas bati descontando toda a raiva que sentia naquele momento. Talvez tenha ganho aquela luta corpo a corpo, mas perdi "ela" para sempre.

— Vão embora da minha casa, agora. Espero nunca mais ver vocês!

— Você que nunca mais vai chegar perto da minha mãe. Se cruzar nosso caminho, eu mato você!

Nunca havia brigado e batido em ninguém, me senti tão mal por isso. Mas era necessário. Voltamos para o interior, minha mãe abriu uma loja de roupas. Ela constantemente passava mal, até um dia me contar que estava grávida e não sabia o que ia fazer. A fiz prometer que não ia procurar o Haymitch.

Nós não vamos precisar dele, temos uma boa renda. Você com a sua loja de roupas, e eu vou ajudar meu avô na padaria. Essa criança não vai precisar de nada daquele cara.

No inverno daquele ano nasceu, Primrose para aquecer nossos corações, ela era tão linda e delicada. Um bebê tranquilo e sorridente, era um bálsamo para nossos corações feridos. Sempre ajudei minha mãe com os cuidados dela. Meus avós se apaixonaram por Prim e imploraram para ela carregar o nome da família Mellark. Minha mãe protestou, mas no fundo ficou agradecida e para nós era uma página virada, esquecida no nosso passado. Não queríamos saber nada de Haymitch Abernathy Everdeen. Eu mentia muito bem, tanto para mim, como para os outros. Quando Prim começou a ler minha mãe me perguntou:

— Eu sinto saudades dela, você não sente? - Como não respondi continuou: - Vocês eram tão grudados... ela não é como o pai!

— Mãe, eu não quero lembrar... nós prometemos, certo?

— Eu sei querido! Vivemos esses dez anos bem, se concentrando na criação, e no bem-estar de nosso pequeno anjo. Mas, novamente veio a vida brincar conosco. Estávamos tão bem financeiramente. Minha mãe já tinha uma confecção de roupas, e eu administrava a padaria que meu avô tinha me deixado, quando minha mãe descobriu que a anemia persistente de Prim havia virado uma leucemia. Aguentamos firmes o baque e começamos os tratamentos de quimioterapia. Prim nos dava tanta força. Ela mesmo dizia que já, já ficaria boa. E, já estávamos preparados para doar se fosse necessário e realmente foi. Só não esperava não poder ser o seu doador.

— Sra. Trinket, infelizmente sua medula não é compatível com a de sua filha, nem a sua Peeta. Eu não consigo entender, por que, vocês têm o sangue diferente do dela.

— Como assim doutor? - Eu não compreendia muito bem.

— A Sra. Trinket tem o sangue A+, o seu é AB+e o de Primrose é, O- um tipo de sangue raro, bem diferente para os parâmetros da família de vocês. Pelos registros, o Sr. Mellark, tinha o sangue B+.

— Primrose, não é filha do meu falecido marido, doutor.

— O pai dela está vivo? Se tiver, ele seria o doador perfeito!

Nosso mundo desabou daquele momento em diante. O sentimento de inutilidade batia forte em nosso peito. Me perguntava, como uma pessoa tão grossa e fria, como Haymitch, ia aceitar que tinha uma filha doente e ainda ser o doador? E, também tinha "ela" como seria nosso reencontro? Me fazia essa pergunta todos os dias. Minha mãe me deu o álbum de fotos de Prim, onde continha toda a sua história desde a primeiro ultrassom, quanto fotos mais recentes. Marquei uma reunião com ele, me passando por uma pessoa que não era, um novo cliente. Quando me viu, seus olhos se encheram de ódio e fúria. Ele pegou o telefone me dizendo que ia chamar a segurança, joguei o álbum de Prim em cima de sua mesa.

— Eu prometi para mim mesmo, que nunca, nunca ia lhe procurar. Eu tenho tanto ódio de você, quanto você tem de nós! Mas há uma vida em jogo, e nós estamos ficando sem tempo.

— Ele olhou para mim e segurou o álbum olhando a foto de Prim, linda com seus olhos verdes e uma trança cumprida que ela amava.

 — Primrose, é uma criança encantadora, e está com leucemia. Infelizmente ela herdou muita coisa de você, incluindo seu sangue. Não podemos doar a medula para ela, e a fila para doação de órgãos é grande demais. Precisamos salvar a Prim, e eu espero que você tenha um coração, aí fim do álbum tem o endereço do hospital que ela está internada, se você quiser nos ajudar...

Ele ficou tão branco e estático que parecia morto, saí do seu escritório orando a Deus que tocasse o coração daquele ser, para ajudar a minha irmãzinha. Voltei para o hospital e encontrei Prim acordada.

— Ei, agora você vive com esse vinco na sua testa. Parece até uns dez anos mais velho! Não gosto d e te ver assim preocupado, tudo vai dar certo!

— Vai mesmo, Prim! Prim era tão forte e determinada para a sua idade. As vezes pensava que toda a sua determinação, vinha da outra parte da família dela, nunca contamos para Prim de seu verdadeiro pai e de sua irmã. Mas ela sabia que havia uma garota. A menina dos meus sonhos, e os olhos dos quadros que eu pintava! Passei aquela tarde inteira esperando Haymitch vir, e ele não apareceu.

— Vai querido, tomar um banho e jantar, eu fico aqui com ela. Ele não vai vir, fique tranquilo. Depois de muita insistência fiz o que me pediu, e fui direto para o quarto de Prim no hospital. Quando entrei, não acreditei no que via, era "ela". Estava debruçada diante da cama de Prim analisando cada detalhe do seu rosto, ela ensaiava algumas carícias em sua bochecha, mas parecia que tinha medo que Prim se desmanchasse ao menor toque.

— As mãos dela, são iguais as suas e a carranca que faz quando está brava, é o mesmo que ver você! - Falei com a voz um pouco falha, devido a emoção de reencontra-la depois de dez anos.

— Peeta! - A voz dela estava idêntica, a voz das minhas lembranças mais profundas, e o frio que senti na minha barriga me fez voltar ao tempo, e sentir aquele mesmo frio que sentia quando ela estava perto de mim, ainda crianças. Ela correu ao meu encontro e seus braços enlaçaram meu pescoço. O cheiro do seu cabelo, a finura de sua cintura, a textura de sua pele... sonhei tanto com nosso reencontro, mas nada se comparava em estar com ela aqui, assim nos meus braços. E, acabei desejando que esse momento se eternizasse. Fechei os olhos e deixei-me ir à nostalgia e as lembranças de um sentimento que guardava a sete chaves no meu coração, apertando mais sua cintura, trazendo o corpo dela tão junto ao meu que podia sentir o seu coração batendo forte, ou seria o meu? Isso não importava! Ela me soltou e olhei em seus olhos, ela não havia mudado muito, seu rosto estava só um pouco mais fino com características de uma mulher formada e não mais de menina. O nariz dela estava diferente e ela estava tão alta, parecia uma modelo.

— Você cresceu muito, e seu nariz? - Eu a analisava minuciosamente, olhando todos os detalhes do seu rosto. E ela fazia o mesmo.

— Meu nariz era horrível. Estou percebendo que cresci um pouco, mais que você? - Ela tocou o nariz, amava aquele nariz de batatinha que ela tinha, mas confesso que estava mais linda do que eu sonhava.

— É, meus pais não eram grandes, pelo menos fiquei maior que a minha mãe. - Fiquei um pouco constrangido pelo fato dela ter ficado mais alta do que eu.

— Fico feliz que tenha desistido de usar o cabelo tigela. Você fica bem melhor assim. - Ela foi sincera e me arrancou um pequeno sorriso. - Eu sinto tanto! - lamentou e eu a abracei novamente e fiz algo que lutava muito para não fazer ultimamente, chorar. - Vamos salvar Primrose, vou fazer de tudo por ela – disse me consolando.

— Eu que sinto muito, Katniss. Eu quis tanto te procurar, mas odeio tanto Haymitch. É uma pena que minha pequena tenha o sangue dele. - Tentei achar palavras pra lhe explicar toda essa confusão.

— Eu te entendo e não julgo você, ou a Effie por tudo o que aconteceu. Não tenho raiva de vocês, eu fiquei magoada por terem ido sem me dar adeus, mas já passou! - Eu a magoei, sabia disso, não esperava que fosse tão compreensível. E, olhando para nós ali, naquela situação horrível, notei que ela não era igual o pai.

— Não vamos remoer o passado. O que me preocupa é a saúde de Prim. - A soltei e me virei para Prim, que dormia tranquilamente.

— Vocês não iam contar pra mim e pro meu pai da existência dela? - Ela me perguntou olhando para Prim.

— Quando fomos embora da sua casa, voltamos para o interior. Eu tentei entrar em contato com você, mas não queria que seu pai soubesse da existência da minha irmã. Eu te conheço Katniss, você ia falar para ele. E, eu e minha mãe não queríamos isso!

— Como você pode pensar assim? Meu pai e nossa irmã tinham o direito de se conhecer, nós tínhamos esse direito. - Ela estava incrédula.

— Seu pai iria humilhar minha mãe de novo e desprezar minha irmã, não queríamos isso. Nós tínhamos prometido tanto para o seu pai, como pra nós mesmos, que nunca mais íamos procurá-lo. - Tentei explicar impaciente.

— E eu? E a gente? E o que vivemos? Você não queria me ver? - Ela me olhou com os olhos cheios de dor e expectativas. Aí eu compreendi, que ela não havia me esquecido.

 

 

╔─━━━━━━⊹⊱ ⊰⊹━━━━━━─

Nossa irmã

Parte 2

Doador

╚─━━━━━━⊹⊱ ⊰⊹━━━━━━─╝

 

Pov. Katniss

 

Ele tomou um fôlego para me responder...

— Peeta? - Me assustei quando vi aqueles olhos verdes nos encarar.

— Oi minha flor, desculpa por te acordar. - Ele se abaixou e deu um beijo na testa da garota e ela me encarou. –Prim, essa é Katniss, ela é uma amiga de infância. - A garota sorriu para mim de maneira tão doce, que quis fugir dali para chorar.

— Oi Katniss, você é muito bonita! - ela me olhava com curioidade.

—Não tanto quanto você, posso te beijar? - Ela assentiu.

— Peeta estou com sede... - Já vou manhosinha. Você fica aqui com Katniss, sem fazer muita pergunta, ok?

— Fica tranquilo, quero suco de laranja e um croissant. Peeta saiu e ela sentou olhando para mim, me analisando. - É você, não é?

— Eu o quê? - Não compreendi o que ela me pergunta, e não sabia se poderia contar do nosso parentesco.

— A mulher dos sonhos do meu irmão. Ele vai me matar se souber disso, mas eu não tenho muito tempo, preciso ajuda-lo a ser feliz. - ela estava bem afobada.

— Não fale isso querida... - tentei falar.

— Ele tem um caderno no fundo falso da gaveta, da cabeceira da cama dele, onde tem várias fotos suas, e desenhos. Meu irmão tem uma fixação por seus olhos. Já vi ele pesquisando na internet fotos de uma tal Katniss Everdeen, é você? - Eu estava sem palavras diante daquela menina, ela falava como uma adulta e não uma criança doente, e saber que ele não havia me esquecido, fez meu coração bater descompassado.

— Sim, sou eu. Eu, e seu irmão fomos muito amigos quando éramos adolescentes - respondi num fio de voz.

— Case com ele e o faça feliz. Você não vai se arrepender. Uma vez minha vó disse que se um homem trata a sua mãe e sua irmã bem, vai se tornar um bom marido. Meu irmão é muito bom para mim e para a minha mãe. - Seus olhos estavam suplicantes, e eu sorri para ela.

— É muito cedo para falarmos disso. - Tentava ser cautelosa, mas Prim não parava de falar nem para respirar.

— Eu sei que não tenho muito tempo, Katniss. - Ela tinha os olhos tristes - Não diga isso, vamos encontrar um doador para você, nem que isso seja necessário eu doar todos os meus bens.

— Você é um amor, mas eu só quero ver minha mãe e meu irmão felizes.

— Eles ficarão felizes, quando você ficar bem, e depois seremos muito amigas.

— Você ia querer ter amizade com alguém igual a mim ? - Ela estava um pouco incrédula.

— Claro que sim. Por que não iria querer isso? - falei sentando na beira de sua cama.

— Sei lá, você é tão linda e elegante...

— Não tenho a metade da sua beleza, você é tão doce...

— Docinho? - Meu pai entrou no quarto desconfiado, olhando fixamente para Prim.

— Prim, esse é meu pai Haymitch. - Ela se ergueu e sorriu para ele, ao contrário de mim, meu pai chorou. Os dois, assim lado a lado, pude ver o quanto eram parecidos. Meu pai pediu um beijo a Prim, e ela o abraçou enxugando as lágrimas dele. Lhe cobriu de perguntas, das quais ele respondia com a paciência que nunca teve comigo. Effie acompanhava tudo pela porta segurando a emoção, fui para seu lado, oferecer meu abraço e meu conforto diante dessa situação. Peeta chegou depois trazendo os pedidos de Prim, ele não gostou muito da interação entre pai e filha, mas também não fez nada para impedir.

— Docinho, você precisa ir para o escritório, tem uma reunião importante hoje e quero que me represente. Vou ficar aqui e conversar com os médicos, para ver todos os trâmites legais, pra doar a medula para a garota e quero registra-la. - Meu pai me passou as ordens sussurrando pra que Prim e os demais não ouvissem.

— Não, você não vai registra-la. - Peeta se impôs sussurrando ao nosso lado.

— Essa garota tem mais sangue meu do que seu, eu tenho esse direito moleque – disse com firmeza, enfrentando Peeta.

— Pai, por favor - supliquei a ele.

— Direito? Você nem vai pedir exame de DNA, para ter certeza que minha mãe, não está mentindo? - Peeta estava bem sarcástico.

— Essa garota é minha cara. DNA é só perda de tempo. Por favor, moleque não dificulte nossas vidas. - Peeta saiu do quarto nervoso, eu me despedi de Effie, Prim e Haymitch e fui atrás dele.

— Ei, por favor, brigas não vão solucionar o problema. Meu pai vai falar com o médico dela e fazer os exames para doar. Vamos resolver isso e Prim vai ficar boa, Peeta. - Ele estava muito nervoso.

— Eu não queria que seu pai chegasse perto dela.

— Eu sei, mas ela precisa da medula dele para ficar boa. Vem comigo tomar um café? - o chamei esperando a sua recusa.

— Você tem coisas para fazer, eu ouvi aquele cara te falando.

— Sim, mas antes vou tomar um café e um banho. - Era quase seis horas da manhã, e pelo visto meu dia seria bem atribulado. - Eu não sei aonde você e a Effie estão ficando, durante esses dias, mas ficaria muito contente em poder hospeda-los, até essa fase passar. Moro aqui perto, e é melhor do que gastar com hotel. - Ele me olhou um pouco relutante, queria negar, mas agarrei seu braço e o levei ao meu apartamento. Sempre lhe garantindo que no meu apartamento ele poderia ficar à vontade.

Nossa conversa foi descontraída, apesar de todos os males. Ele me contou um monte sobre Prim, como foi e como estava sendo a vida deles. Ele parecia feliz ao relatar as suas obras, na padaria da família Mellark, e sobre os seus cursos voltados a área de gastronomia. Meu apartamento era grande com três suítes, lhe ofereci a suíte ao lado da minha, apresentei Mags, minha empregada, deixei uma chave com ele e fui para o escritório.

Minha manhã foi um verdadeiro borrão, só pensava em Prim, e nessa situação toda que ela se encontrava. Pedi para minha secretária, Annie entrar em contato com o hospital e paguei mais do que Effie havia gasto na sua internação, conversei com o diretor do hospital e prometi uma doação generosa se Prim e seus familiares fossem bem tratados.

Fiz o trabalho de uma semana em quatro horas e deixei instruções aos meus subordinados, lhes dizendo que iria passar a semana longe do escritório e não queria ser incomodada. A tarde, antes de ir para o hospital, passei numa loja de brinquedos. Fiquei pensando em que uma pré-adolescente gostaria de ganhar. Vi um ursinho de pelúcia e comprei para ela e assim segui para o hospital.

— Onde está todo mundo? - perguntei assim que a vi sentada numa poltrona no seu quarto, lendo um livro.

— Kat, oi... é para mim? - Apontou para o bichinho que segurava, e eu assenti me sentindo super mal, por ser tão mal-educada em chegar sem nem a cumprimentar.

— Sim, é para você. Foi de coração, espero que goste!

— Eu amo animais, obrigada. - Ela me deu um abraço.

— Como você está se sentindo hoje?

— Melhor que ontem, mamãe e Peeta conversaram comigo hoje cedo. Você é minha irmã?

— Sim querida, eu sou. - Não resisti as lágrimas e chorei no colo de uma garotinha de nove anos que parecia ser bem mais forte emocionalmente do que eu. - Eu sinto tanto de nos conhecermos assim, de você estar passando por isso tudo.

— Eu não sinto Katniss, sempre quis ter uma irmã e agora eu tenho, uma irmã e um pai. Eu estou feliz! Prim era tão inteligente, passamos o resto da tarde conversando sobre tudo e sobre nada. Ela me contou tudo o que sabia. Me disse que queria ser médica quando crescesse, me perguntou sobre diversas coisas. Contei para ela porquê nosso pai me chamava de docinho e ela me contou que ganhou um apelido dele. Depois penteou meu cabelo, me fez cocegas, cantamos músicas que gostávamos até ela não aguentar e dormir um pouco. E, eu fiquei ali ao seu lado, velando seus sonhos e orando para Deus salvar a sua vida.

— Uma menina tão brilhante, não poderia sofrer assim! Meu pai estava devastado ao atravessar a porta do quarto.

— Ela é um anjo - afirmei sem encara-lo.

— Hoje conversei com ela, e disse que me perdoava, e que estava feliz por eu ter aparecido agora. Ela é um anjo, não merece esse, filha da puta inútil, que eu sou.

— Pai? - Ali vi a sombra do homem que ele era.

— Sou alcoólatra, Katniss. É o preço de tantos anos bebendo, perdi o nascimento e o crescimento da florzinha mais linda do jardim e agora não posso lhe doar a medula!

— Você tem vontade de ter feito tudo diferente? –perguntei.

— Eu amei Effie, de um jeito torto, mas amei. E, essa pequena é tão adorável, se eu não esse otário talvez tudo teria sido diferente... Eu sou um idiota, também falhei com você. Você amava Effie e o garoto, e eu os arranquei da sua vida. Falhei com Effie e com o moleque e pior de tudo, estou falhando com Prim.

— O que adianta ficar remoendo o passado, não dá para voltarmos atrás. - Não ia dizer que havia ficado magoada com a decisão dele, isso tudo era águas passadas. Meu pai me abraçou e me pediu perdão. Ficamos um tempo assim, abraçados e olhando Prim dormir.

— Você já pode ir embora, Haymitch, já que não tem nada o que fazer aqui. - Peeta pediu para ele se retirar do quarto. – Aliás, quero deixar bem claro, que todas as despesas da minha irmã eu e minha mãe pagamos. Não precisamos de nada que venha de você!

— Abaixe um pouco sua bola moleque, ela é minha filha, saiu do meu saco eu tenho direito de estar aqui! Me faça um favor, vá jantar e leve Katniss com você, que eu não vou tirar os pés daqui. - Meu pai sempre foi muito autoritário e explosivo, puxei um pouco disso dele.

— Pai, você precisa de um banho. Vá você primeiro, depois vou com o Peeta. - Meu pai se retirou e Peeta ficou me encarando por um tempo sem dizer nada.

— Vamos dar um jeito, não temos tanto dinheiro à toa. Vou entrar em contato com todos os bancos de doação do país. Temos que ter fé! - Eu procurava manter nossas esperanças vivas, agora não era o momento de perdermos a nossa fé, eu estava decidida. - Talvez meu sangue seja compatível, talvez eu possa doar. Vou falar com o médico, onde ele está? - Me surpreendi ao ser abraçada por ele, que buscou consolo em meus braços e eu retribui dando tudo de mim. - Nós vamos conseguir!

O Dr. Aurelius, que cuidava de Prim não estava mais no hospital, quando fomos o procurar, mas diante de algumas ameaças consegui fazer alguns exames e na manhã seguinte íamos ver se eu poderia doar a medula à Prim. Estávamos ficando sem tempo e os minutos eram valiosos.

Assim que Haymitch chegou, arrastei Peeta para jantar comigo no meu apartamento, nas últimas horas estava grudada a ele, e o mesmo não parecia achar ruim. Aproveitamos todos os momentos para um, estar em contato com o outro. Queria aproveitar cada segundo de sua companhia.

— Você ficou tão forte e valente, até um pouco autoritária - comentou enquanto comíamos uns sushis.

— Depois que vocês foram embora, eu fiquei um pouco fria, tive que ser forte. Haymitch se afundava a cada dia mais. Então minha única opção, era ser autoritária para ele, e nossos funcionários  respeitarem minha opinião, depois que começamos a trabalhar juntos, queria ser notada por meus próprios méritos, e não por ser filha do chefe - relatei um pouco da minha vida a ele.

— Você teve muitos problemas com namorados, pelo fato de ter ficado assim autoritária? - perguntou com o cenho franzido, me surpreendendo com a sua pergunta.

— Eu... eu não, é que... - As palavras me travaram e eu fiquei um pouco envergonhada, diante da pergunta e da situação.

— Você não precisa falar sobre isso, Katniss. - Ele voltou a sua atenção aos temakis que haviam na mesa. Eu respirei fundo tomando coragem.

— Eu não tive sequer um namorado, Peeta. Eu até tentei, mas... só tive alguns casos de poucas semanas, mas nada muito sério. - Ele tinha os olhos fixos em mim.

— Por quê? –questionou.

— Nunca me esqueci de você. Nunca me esqueci dos teus olhos, e da maneira como você me olhava e cuidava de mim. Eu quis esquecer, mas não consegui. Evitei falar seu nome durante esse dez anos, para não abrir a ferida que você deixou quando foi embora. - Não conseguia controlar minhas lágrimas. Respirei fundo e soltei a única amargura que se mantinha em meus pensamentos. - Você não fez questão de saber como eu estava, nunca desejou me procurar. Até parece que esqueceu todo aquele sentimento que sentíamos. Eu não signifique nada pra você, não é? Foram só os hormônios da puberdade! - Eu que sempre fui tão controlada com meus sentimentos e emoções estava já em pé aos gritos, completamente desequilibrada. Me virei de costas para ele e fui embora desejando me refugiar em minha cama, quando senti seus dedos gelados segurarem firmemente meu braço. Peeta me virou rudemente e me fez encará-lo, ele parecia estar tão desequilibrado quanto eu.

— Eu pesquisei sobre você, acompanhei muitas notícias que saíam sobre você no jornal, te segui nas redes sociais. Pensei em você todos os dias nesses dez anos. Vi como você se formou com honras. Vi todas as fotos publicadas no Facebook das tuas amigas. Li a matéria que publicaram no jornal de como você assumiu com responsabilidade e determinação a presidência da empresa de seu pai.- ele puxou o ar com força e fechou os olhos -mas também vi as matérias que mostravam os escândalos de Haymitch, ele caindo de bêbado e trocando de mulheres como troca de roupa. Entenda, eu não podia voltar, o que ele ia nos dizer? Que minha mãe era uma puta, que só queria arrancar dinheiro dele? E você? Parecia tão segura de si, tão independente. Você também não fez questão de nos procurar! Eu sonhei e sonho com seus olhos todas as noites Katniss. Eu também não te esqueci e não queria esquecer. - ele deixou uma lagrima escorrer por seu rosto - Mas eu precisava afastar as lembranças ruins, tanto para a minha mãe, como pra mim e ainda proteger Prim. Não podia arriscar. Tive medo da reação de vocês à existência dela. Seu pai sabia que existia a possibilidade de minha mãe estar grávida e nunca foi atrás.

Eu não esperava a sinceridade das palavras dele, realmente eu também não fui procura-los. Não havia culpa para se atribuir ao que aconteceu com a gente, nós simplesmente seguimos a vida sem olhar para trás, deixamos as coisas fluírem.

— Me desculpe! - pedi envergonhada encarando seu rosto tão perto do meu. Eu segurava firmemente o tecido de sua camisa e ele ainda estava segurando meus braços. Como da primeira vez, não sei falar quem se aproximou primeiro, só sei que meu coração parecia que ia saltar do meu peito quando senti novamente seus lábios no meu. Diferente do nosso primeiro beijo. Esse foi afobado, cheio de saudades e ousado. Minhas mãos ganharam vida tentando tocar cada parte do seu corpo, rapidamente já havia arrancado sua camisa e tentava absorver todo o calor do seu corpo. Ele beijava meu pescoço, me derretendo toda com suas carícias, o empurrei para o meu quarto, o guiando até a minha cama. O desejava assim como precisava de ar para respirar... 

 

Pov. Peeta

 

Era engraçado como ainda nos dávamos bem. Como era divertido estar com ela. Katniss me fazia sentir como aquele adolescente de dez anos atrás. Ela me fazia esquecer um pouco dos problemas. Meu mundo estava desabando, minha irmãzinha - que era filha do homem que mais odiava no mundo e pai da única garota que amei - estava num leito hospitalar morrendo. E, eu me encontrava ali deitado na cama com Katniss em cima de mim, me dando tudo de si. E, eu a recebendo de bom grado, afinal sempre sonhei em vivenciar esse momento com ela. Mas ao me lembrar de Primrose, me trouxe um gosto amargo no estômago, e um sentimento ruim. Era justo estar aproveitando os prazeres da vida, enquanto minha irmãzinha estava perdendo a sua vida? Segurei as mãos de Katniss, quando ela já abria minha calça, ela estava vermelha com os lábios inchados devido a força de nossos beijos e sem a sua blusa, e ficou um pouco confusa com minha atitude.

— Eu sonhei tantas vezes em viver esse momento com você... - sussurrei me erguendo e segurei o seu rosto lindo. - Mas não assim, desse jeito, nessas condições...

— Fui rápida demais e te assustei? - neguei com a cabeça.

— Gosto de como você ficou determinada e que me deseja tanto quanto desejo você. Mas, eu tenho que voltar para o hospital, não quero deixar Prim sozinha. - Ela me olhou um pouco envergonhada, abaixou a cabeça e logo foi se levantando e recolhendo as nossas roupas que estavam espalhadas pelo quarto.

— Eu sou uma idiota egoísta –disse ela bem baixinho, como falasse para si mesma.

— Não fale assim - falei me levantando e a puxando para mim. - Eu sempre quis estar com você assim, não é egoísmo viver esse momento, mas vamos deixar a poeira baixar e Prim melhorar e assim que  isso acabar vamos resolver tudo. - Ela mantinha a cabeça abaixada, parecia até aquela garota envergonhada do passado, levantei seu rosto e lhe dei um beijo casto nos lábios. Ela segurou as minhas mãos, como se aproveita-se do meu toque.

— Me prometa que nunca mais vai me deixar, ou se for, vai se despedir? - ela parecia tão assustada e temerosa.

— Nós temos uma ligação Kat, mesmo longe eu nunca lhe deixei. Sempre te guardei no meu coração. Depois que minha mãe ligou e me pediu pra não ir ao hospital, pois Haymitch estava com Prim lhe contando histórias para dormir e Prim estava radiante diante das atenções do pai. Eu e Katniss dormimos agarrados, um sentindo a presença do outro, não precisávamos de palavras para entender, estava claro. Ela sempre foi minha e eu sempre fui dela. E não desejávamos que fosse diferente, era assim que eu queria viver, com ela em meus braços, meu coração parecia que iria explodir de tanto amor por "ela".

Na manhã seguinte, fomos juntos ao hospital, Prim estava com febre e limitaram as suas visitas. Nós quatro fomos conversar com o médico, Kat estava confiante sobre doar a medula para Prim.

— Srta. Everdeen, infelizmente seu sangue não é compatível com o de Primrose. - Dr. Aurelius nos deu a notícia em lamento.

— Não, não pode ser. Eu e ela temos o mesmo tipo de sangue, tem que dar certo! - Katniss estava inconformada.

— O sangue de Prim é raro, embora seja o mesmo tipo sanguíneo o fator é diferente. O seu é positivo e o de Prim é negativo. Eu sinto muito. - Katniss caiu em prantos. - Não sei em que vocês acreditam, mas Prim está sem tempo, precisa de um milagre. Meus ombros caíram no mesmo instante que ouvi o doutor falar, agarrei em minha mãe tentando ser forte por nós. Katniss saiu correndo da sala do médico gritando com quem passasse em sua frente.

Assim ficamos o dia todo, abraçados orando por Prim, eu com minha mãe nos braços, Katniss em todo o momento falando eu seu celular e Haymitch com a pior cara que já havia visto em seu rosto. Quando era 20hrs, uma ruiva afoita acompanhada de um loiro que parecia ter saído de um catalogo de moda, apareceram na sala de espera.

— Katniss? - Ela se dirigiu a Katniss e lhe deu um abraço - Esse é Finnick Odair, meu namorado. Ele tem um sangue raro. O mesmo sangue de Prim, O- ele não está no banco de dados. Hoje conversando com ele sobre seu caso acabei descobrindo que ele é compatível com o de sua irmã.

Nesse momento nós quatro nos levantamos, minha mãe e Katniss agarraram o moço aos prantos. Haymitch já havia sumido atrás dos médicos e eu fiz uma prece para agradecer e pedir pela recuperação de Prim. As horas daqui pela frente correram, Finnick foi submetido a vários exames, ele era uma pessoa que prezava a boa saúde e mantinha bons hábitos, pois era profissional traine. Segundo Annie, que descobri ser secretária de Katniss, Finnick era seu professor na academia. Eles estavam saindo há alguns meses, ela não parava de falar o que era bom, pois nos distraía um pouco daquele momento angustiante.

Na tarde do dia seguinte, Prim fez o transplante. Nossa agonia e angústia era grande. Mas não havíamos perdido a fé, em todo momento minha mãe dizia. "Tudo vai dar certo" e apertava minhas mãos. Katniss estava sentada junto com seu pai e sua amiga, as vezes trocávamos olhares consoladores e esperançosos.

Resolvemos esperar essa tempestade passar pra tentarmos dar seguimento a nossa história. Estava decidido a ficar com ela, e pelo que parecia, ela também tinha essa mesma decisão. Após algumas horas de tortura o Dr. Aurelius veio com um sorriso no rosto nos falar que a cirurgia tinha sido um sucesso e agora tudo dependia de Prim.

— Bem, a Primrose está curada. - ele suspira segurando sua prancheta com uma mão e com a outra folheia os papéis, enquanto nossos olhares expectativos estão sobre o oncologista - Contudo, como todos já devem saber, será necessário exames de controle, mesmo com o tratamento já finalizado.  - Um suspiro de sua parte - A doença pode voltar, quando se passa três a quatro anos da cura, é mais difícil o retorno. Se Prim passar dessa fase, provavelmente está completa sua cura, já que em crianças é mais fácil de acontecer

Graças aos Deuses a pior fase havia passado, e não foi difícil Prim se recuperar, diante de tantos cuidados. Minha irmã amava ser mimada pelo seu pai, e pela sua irmã. Depois de três semanas Prim teve alta, fomos comemorar juntamente com o seu salvador Finnick.

— Eu não sei como lhe agradecer, Finn. - Minha irmã lhe disse com seu sorriso mais bonito.

— Eu sei bonitão. Você é professor, tem vontade de abrir uma escola só para você? - Haymitch dizia ao tirar a carteira de seu bolso.

— Senhor, é meu sonho, mas não ajudei Prim só para ganhar alguma coisa em troca. Fiz porque me compadeci e quis ajudar de coração. - Finn já entendeu o que Haymitch estava fazendo, quando este começou a assinar um cheque em branco, eu rolei os olhos, Haymitch as vezes era tão metido.

— Por isso mesmo bonitão, aceite. Você salvou a florzinha mais linda do meu jardim - disse ao destacar o cheque e lhe estender.

— Não, meu senhor, me desculpe, mas não posso. - Ele negou rasgando a folha.

— Nós vamos conversar sobre isso com mais calma Finn, se você quiser abrir já tem um patrocinador. Mas, pense com carinho e depois conversamos sobre isso com calma. - Katniss ponderou, ultimamente ela estava mais tranquila, com um certo brilho nos olhos e uma leveza que me fazia recordar de beijos escondidos que dávamos há anos atrás e atualmente. Eu e ela mantínhamos uma relação às escondidas, não queríamos tirar o foco da recuperação de Prim, então durante o dia ficávamos afastados e na calada da noite fugíamos um para o quarto do outro e nos amávamos loucamente. Estávamos viciados um na pele do outro e a cada dia ficava mais difícil de esconder nosso sentimento, era um sonho sendo realizando quando a tinha nua em meus braços.

— Florzinha, tape os ouvidos por favor! - Haymitch pediu a Prim, e ela prontamente o obedeceu - Docinho, depois que você começou a abrir as pernas pro moleque, até que ficou mais inteligente e realmente dócil!

— Haymitch! - Tanto Katniss, como minha mãe expressaram seu desagrado diante àquelas palavras. Annie e Finn riram da situação, e eu estava vermelho de raiva e vergonha.

— Pai, eu acho que já passou da hora da Kat e do Pee assumirem para todo mundo que se gostam e começar a namorar! - Prim que parecia alheia, estava mais ligada aos fatos que nós. - Todo mundo sabe que vocês se gostam e já está ficando chato eu ter que fingir que estou dormindo quando vocês ficam se beijando no meu quarto. - Prim e sua mania de surpreender a todos.

— Vocês ficam se pegando na frente da minha flor de inocência? - Haymitch dizia enquanto todos nos encaravam me deixando um pouco sem graça.

— Vocês já são adultos sabem o que fazem, só tomem cuidado com o que fazem na frente da minha filha e irmã de vocês. - essa era a forma sútil da minha mãe me dar um puxão de orelha.

Daquele dia em diante meu namoro com Katniss se tornou público e começamos a ajeitar a nossa vida. Minha mãe e Prim se mudaram para a Capital afim de ficar mais perto do hospital, Prim tinha um rigoroso acompanhamento médico e queria ficar perto da irmã e do seu pai. Prim e Katniss agora permaneciam grudadas, quando não estavam juntas, trocavam mensagens. Katniss se sentia realizada, diminuiu sua carga horária no trabalho afim de passar mais tempo com a família. Ela e minha mãe voltaram a ter aquela amizade incrível. Eu e Haymitch nos respeitávamos, mas nenhum morria de amor um pelo outro. Eu permaneci um tempo no interior, até que consegui abrir uma nova padaria e também fui embora para a Capital. Eu e Katniss nos mudamos para uma casa num condomínio afastado do centro da cidade, lá havia uma piscina onde em quase todo o final de semana nos reuníamos e víamos Prim e Finn nadarem que nem peixinhos. Katniss e eu, tínhamos uma sintonia incrível, nosso amor só aumentava e agora ambos queríamos tranquilidade e ter um a companhia do outro e poder aproveitar cada sorriso de alegria dela, do nosso anjinho mais doce. Da menina mais bonita. Da pequena que conseguiu nos unir no momento mais difícil de nossas vidas: "nossa irmã" Primrose.

 

 

╔─━━━━━━⊹⊱ ⊰⊹━━━━━━─╗

Nossa Irmã

Parte 3

Epílogo

╚─━━━━━━⊹⊱ ⊰⊹━━━━━━─╝

 

Primrose nos deixou logo após completar 15 anos de idade. Ela lutou bravamente contra sua doença, nos dando uma lição de coragem, determinação e "perdão".

Prim perdoou Haymitch e a nós por lhe deixar ignorante sobre seu pai e sua irmã. Ela sempre estava com um sorriso meigo no rosto e espalhava carinho e amor por onde passava, foi um caos quando ela se foi após completar dois anos do nosso casamento. Prim teve uma hemorragia assim que o câncer voltou e não se pôde fazer nada, em poucas horas a perdemos.

Assim que a enterramos, nós quatro nos reunimos. Minha mãe possuía um envelope em mãos escrito "Testamento" com a letra bonita e arredondada de Prim. Assim que peguei meu papel com o que iria herdar me deparei com o seguinte:

"Ao Peeta, lhe deixo todo o meu perdão. Eu sei que é difícil esquecer as marcas do passado, mas é necessário para se seguir em frente. O que vivemos hoje, nos deixa mais forte para enfrentarmos o amanhã. Seu amanhã vai ser incrível pelo que você já é, pelo que você tem, e pelo que você irá fazer.

Eu sei que inicialmente vai ser difícil passar por tudo isso. Sei que seu coração está sangrando, mas tenho certeza que você vai logo se curar. Me sinto orgulhosa por ver você e a garota dos seus sonhos, a musa dos seus desenhos estarem agora lado a lado e carregarem o mesmo sobrenome.

Sei que vocês serão muito felizes e espero que tenham pelo menos três filhos. Há males que vêm para o bem, a minha doença nos uniu e vivemos momentos lindos e incríveis, me sinto orgulhosa por ter ajuntado vocês.

Vejo nos olhos de nossa mãe que ela ainda ama o meu pai, e meu pai se arrepende por tudo o que fez e deseja reparar seu erro, não deixe que esse amor morra Pee. Perdoe Haymitch, ele já carrega uma culpa muito pesada sobre os seus ombros, dê esse alívio emocional a ele. O perdoando você também estará curando o seu coração.

Seja feliz meu querido irmão, te amo muito. Onde estiver estarei com vocês. Os amo hoje, amanhã e sempre.

Primrose Mellark Everdeen”.

 

Chorei por perder a minha irmãzinha e por ela ter razão, precisava perdoar Haymitch para seguir em frente, agora estava casado com Katniss a nossa convivência era necessária.

Cada um lia sua parte da "herança" de Prim com lágrimas e soluços. Assim que Haymitch terminou de ler, ele veio até mim e me deu um abraço apertado murmurando palavras inteligíveis, minha mãe se juntou a nós e puxamos Katniss. Não importava o que acontecesse, éramos uma família unida na dor, da perda de uma filha e irmã, e um consolaria o outro.

Minha mãe sumiu por um tempo, foi embora do país procurar a paz interior, Haymitch foi procurar um tratamento médico e psiquiátrico para lidar com os problemas causados pelo álcool, e pela partida de Prim. Eu continue administrando a padaria do meu pai, agora na capital. E Katniss caiu em uma depressão por não ter conseguido salvar a nossa irmã. Só voltou a sorrir quando descobriu sua gravidez dois meses depois. Faltando algumas semanas para o nascimento de minha pequena, minha mãe voltou, mais linda do que nunca e se mudou para o novo apartamento de Haymitch. Eles se acertaram  e ele a tratava como uma boneca, que partiria ao menor toque, a mimava igual fazia com Prim, Haymitch nunca mais pôs uma gota de álcool na boca.  E eu pude notar que os olhos de minha mãe voltaram a brilhar.

Willow foi um dádiva, tinha a meiguice de Prim, os meus cabelos escuros e a mesma fisionomia de Katniss. As vezes era tão espalhafatosa e gostava de muitas cores, como a minha mãe e possuía o humor de Haymitch, o que as vezes me deixava louco. Katniss dizia que ela tinha puxado esse lado do avô por pura culpa minha, pois era o que mais me irritava nele. Willow conseguia agradar a todos e nos tinha em suas mãos. Era quase impossível conseguir brigar com ela.

Quando ela fez três anos, Katniss deu à luz ao nosso garotinho. Minha cópia xerox, para o desespero de Haymitch. Seguimos em frente, aprendendo a conviver com nossa dor e uns com os outros, e nos lembrando a cada dia dos ensinamentos deixados por nossa irmã.

Mesmo ela ausente, se fazia presente, pois sempre a viamos no sorriso da minha mãe, no olhar de Haymitch, nas carrancas de Katniss, na meiguice de Willow e no amor altruísta de Ryan. E hoje, dez anos depois, de sua morte sei que onde quer que ela esteja, estará em paz e feliz por nós. 

 

FIM


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E ai meus amores, choraram? Eu confesso que chorei litros.
Eu ia parar a fic no reencontro, ai pensei
"pra que deixar nossas leitoras curiosas?!
Eu também quero ler o final dessa estória."

Ai terminei de escreve-la.
Espero que não queiram me matar com esse epílogo. Acredito no que vejo, e a realidade é cruel, é difícil encarar os fatos e aceitar a perda em casos assim, como descrevi na situação da Prim.
Quando estava escrevendo a One li que apenas 37 de 100 casos de leucemia conseguem se recuperar totalmente.
Mas devemos olhar o que ela fez por todos os que estavam em sua volta, ela os ajudou a amadurecer, Prim em 15 anos de vida ensinou mais do que muitas pessoas durante a sua vida toda.
E foi essa a idéia que eu quis passar a vocês, espero de coração que vocês tenham gostado. E que a minha desafiadora esteja contente com o resultado final.
Não sei ao certo se terá outra rodada de Ones, mas entrem no meu perfil que estarei por lá postando a minha Fic. " O tempo, a distância e a SOGRA"
A próxima One é da nossa querida Sany, tenho certeza que vêm pauleira ai para nossa alegria!
Beijos queridas, muito obrigado por ler, COMENTAREM e participar dessa nossa coletânea.
Beijos
SelRegina



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Encontros, Acasos e Amores" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.