A Última Herdeira escrita por Maya


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem... Boa leitura :)



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1

 

"...Foste tu? Tu sabias desde o começo o final de toda a história? Deverias ter dito o que aconteceria. Nada será como antes. Nada. Como hei de amar novamente se me sinto presa àquelas palavras de despedida?..."

Carta escrita por Elena Blanc, um ano depois da Guerra da Rosa Negra.

 

Há muito tempo, existiu um reino.

Esse reino era governado pela mais poderosa, temida e amada Casa Real que o mundo já tinha visto.

Os Blanc tinham o controle de quase toda a extensão que ia do Rochedo Sangrento ao norte do Rio das Lamúrias, até as Antigas Colunas ao sul da Floresta Negra.

Ao todo, eram quatro enormes ilhas ligadas por pontes que foram construídas pelo primeiro Blanc que reinou sobre aquela terra.

Phillip, O Honrado, era filho do rei Meryl com uma camponesa que vivia na pequena cidade de Adderia, e como a rainha Kyara não conseguiu gerar uma criança antes de sua morte, o Rei decidiu assumir o bastardo como um filho, dando a ele um novo nome que daria origem a mais longa linhagem de todos os tempos: os Blanc.

Os séculos foram passando e um rapaz de dezessete anos assumiu Helenium. Seu nome era Edward.

Depois de se casar com a jovem Alicia, Edward teve dois filhos: o mais velho, Edward, que um dia seria Edward II, e Elena, que nascera um ano depois. A pequena recebera esse nome porque assim que o seu choro ecoou pelo grande castelo onde a Família Blanc habitava na Ilha de Lúmia, a tempestade que caíra sobre o reino durante duas semanas cessou. Elena, a que traz a luz, a resplandescente.

Por dois anos, o rei Edward viveu feliz com a esposa e os dois filhos. Até que surgiu no castelo uma formosa mulher com cabelos loiros que chegavam a cintura, completamente lisos e brilhantes. Os olhos azuis eram os mais claros que qualquer um nas Quatro Grandes Ilhas já havia visto e a sua pele era branca como a neve. A mulher era belíssima, mas chegou ao palácio vestida em roupas simples e maltrapilhas.

—Poderia nos dizer o seu nome?- perguntou o rei assim que foi apresentado a ela.

—Sou Noemia, meu rei. Peço apenas um lugar para passar a noite. A tempestade está muito forte e não encontrei lugar algum nas proximidades- ela ergueu o olhar para o Rei, cujos olhos brilhavam, completamente encantados com aquela mulher misteriosa que surgira de lugar algum.

—Será muito bom acolhê-la- ele disse e olhou para a Rainha que, sentada ao seu lado, não dissera uma palavra. Ela sentiu que havia alguma coisa muito estranha naquela mulher... No modo como seus movimentos pareciam perfeitamente calculados. Alicia não tinha dúvidas de que aquela mulher era de berço. Talvez uma Gruminnus tentando espionar o palácio. No entanto, a Rainha apenas sorriu, o que para o Rei era um sinal de aprovação ao que ele acabara de dizer- Deem comida a ela!- ele ordenou aos criados que se escondiam nas sombras do Grande Salão- Quero que seja muito bem tratada.

Com um sorriso de dentes branquíssimos e extremamente retos, Noemia agradeceu às Suas Majestades e deixou o salão na companhia de dois criados.

—O que achou dela?- o Rei perguntou à Rainha, visivelmente encantado- É uma mulher belíssima.

—Tenha cuidado, meu Rei- foi tudo o que ela lhe respondera.

—O que quer dizer?

—Tenho certeza de que esta mulher não é uma criada que veio parar debaixo de nosso teto por acaso. Ela tem berço, meu senhor. Acredite quando digo. Ela tem berço.

Meses depois, Noemia ainda vivia no castelo e era tratada como alguém da realeza. O que não era surpresa, visto que se tornara a amante oficial do Rei. A Rainha apenas observava enquanto via o marido tolo cair nas garras daquela mulher que, ela tinha certeza, estava ali por algum motivo específico e não era o de se engraçar debaixo dos lençóis na companhia de Edward.

Numa noite fria, quando foi ver se o filho já dormia, Alicia encontrou Noemia sentada na cadeira de balanço ao lado da cama do pequeno. Ela o observava com atenção. O olhar melancólico e sem vida.

—Posso ajudá-la?- perguntou Alicia assim que se cansou de analisar aquela mulher insolente que insistia em permanecer na casa dela.

—Eu só estava vendo-o dormir- Noemia disse, simplesmente- Nunca tive um filho.

—Tenho certeza de que em breve você terá.

—Mas nunca um que será rei- Noemia olhou mais uma vez para o menino... Aparentemente era um olhar cheio de carinho, mas Alicia nunca via as coisas superficialmente. Ela viu a fagulha de ódio que se escondia atrás daquele sorriso falso e daqueles olhos de gelo.

—Creio que não- concordou Alicia- Pode deixar-nos a sós?

Noemia sorriu e levantou-se rapidamente, deixando Alicia sozinha com o filho.

Meses depois, o menino desapareceu.

Todas as bandeiras ficaram abaixadas em meio mastro.

Durante um mês, todos do palácio usaram preto.

Durante um mês, o Rei e a Rainha choraram.

Durante um mês, Noemia trancou-se em seus aposentos.

E passado o mês, a Rainha, cansada da presença daquela mulher, exigiu a Edward que a expulsasse dali. Ora! Ela dera um sumiço no filho deles!

Mas o Rei estava enfeitiçado.

O que foi a desgraça dele, pois semanas depois, foi encontrado na banheira. Morto. Afogado em seu próprio sangue.

Noemia negou. Afinal, ela era a pessoa que mais amava o Rei e tinha a sua proteção por escrito. Era intocável, e não havia nada que Alicia poderia fazer para se livrar daquela peste que entrara em seu lar. Tudo que lhe restou foi cuidar da filha, educá-la para ser uma rainha. A última da linhagem dos Blanc. A única que, assim como a mãe, era diferente de todos naquele lugar... Que via em Noemia uma pessoa perigosa e que precisava ser detida.

Alicia faleceu quando Elena tinha catorze anos. E como não tinha idade para assumir o trono, o conselho do pai aprovou   Noemia como regente. A amada do Rei, querida pela Rainha e adorada pelo povo.

Elena sabia que estava segura enquanto não se aproximava da idade de governar. E tinha certeza que Noemia não abriria mão do trono por nada. Ela amava ser rainha, principalmente depois de se casar com um nobre de Dinaris, uma rica cidade comerciante próxima às Antigas Colunas, na Ilha de Tessária. O homem era completamente apaixonado por Noemia, como todos os homens sempre pareciam ser, mas pela primeira vez a bela rainha dos olhos de gelo não foi o suficiente.

Elena crescia bela, com os mesmos longos cabelos pretos e ondulados que a mãe possuía. Os olhos de um verde tão vivo quanto o do Mar Vítrio contrastavam com a pele clara que herdara do pai. Ela passava a ser desejada pelos homens e Noemia não gostou nem um pouco disso. Ela decidira ignorar a garota por completo, mantendo-a na corte apenas para não gerar murmúrios e fofocas a seu respeito. Afinal, ela era uma Blanc. E o povo amava aquele nome. Amava sua glória e seu poder.

E foi quando seu marido, Tirius, desviou sua atenção para a enteada esquecida da Rainha que a mesma resolveu que já era hora de tomar uma providência a respeito dela. A garota já tinha quase dezoito anos e não era seguro para a sua posição que a última herdeira permanecesse ali no castelo, onde todos poderiam exigir que a verdadeira rainha assumisse seu lugar de direito.

Noemia então, decidiu colocar um fim naquela história. Já se livrara do patriarca e do principezinho.

Aquilo não era nada comparado a tudo que já fizera para sobreviver naquele mundo que era tão cruel para mulheres como ela.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem lido ^^



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