Into You escrita por Shiroyuki


Capítulo 4
4. and Trust me


Notas iniciais do capítulo

Um atraso.
A primeira aula.

E uma lição para casa.



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Capítulo 4.

and trust me

 



Quando Levi saiu do seu escritório, já era noite. Havia acabado de chover, e o asfalto na rua ainda estava úmido, refletindo as luzes dos postes e dos faróis dos carros enquanto ele dirigia – infelizmente, por um caminho que não levava à sua casa. Demorou mais do que o planejado na reunião daquele dia, quebrando sua cabeça para resolver a vida de uma mulher que afirmava desesperadamente não ter matado seu marido rico e velho, mesmo quando ela era 20 anos mais jovem do que ele, descobriu-se que tinha um amante, e ela não possuía absolutamente nenhum álibi ou testemunha que pudesse agir em seu favor.

Nada muito diferente do normal, mas ela ainda pertencia a uma família tradicional, e todo o cuidado com esse tipo de caso era pouco. Muitas noites em claro com a companhia de café e possivelmente energéticos passariam antes que ele e seus colegas pudessem enfim conseguir pelo menos uma forma de reduzir a pena dela o máximo possível. Levi não queria mais pensar sobre isso, mas enquanto dirigia pelo trajeto pouco familiar, sua mente dava indícios de voltar a vagar pelo mar de palavras, dossiês, depoimentos, brechas que ele poderia utilizar…

Ele fechou os olhos por um segundo, e voltou a abri-los. Seria melhor focar seu pensamento em outra coisa. Por exemplo, no fato absurdo de que, mesmo após um dia extenuante que prometia estar longe de acabar, ele estava realmente se locomovendo em direção à um estúdio de dança para desperdiçar seu pouco tempo disponível para descanso com uma atividade absolutamente infrutífera.

O mais racional seria apenas fazer o retorno e partir em direção ao seu apartamento. Enviar um pedido de desculpas à Eren explicando sua situação. Ele certamente entenderia. Eles poderiam marcar outro dia. Por mais que esse pensamento fizesse perfeito sentido em sua mente, Levi passou reto na entrada que daria acesso ao retorno, onde poderia seguir em paz para a região onde morava.

Ele cogitava sim a possibilidade de que o professor de dança, com aquele seu sorriso estupidamente constante, pudesse ter desistido de esperá-lo até tão tarde, e isso seria apenas compreensível. Mas aquela mínima chance de que Eren pudesse eventualmente ter acreditado que Levi apareceria cedo ou tarde ainda o incomodava, e a ideia de deixá-lo esperando tampouco era aprazível.

Levi seguiu o trajeto até chegar à rua do estúdio de dança, e quando percebeu que ainda havia uma luz acesa no segundo andar, não conseguiu decidir se isso era algo bom ou não.

Estacionou facilmente – a quantidade de locais disponíveis àquela hora era sem sombra de dúvidas uma vantagem – e desceu sem se importar em carregar nenhum dos seus pertences consigo. Já havia abandonado o terno e a gravata há algum tempo dentro do carro.

Ao se aproximar da entrada, apenas a luz do hall estava acesa, pelo que ele conseguia enxergar pela porta de vidro. Levi pensou em bater na porta antes de testar para ver se estava aberta, mas não foi necessário. O garoto loiro da recepção cujo nome Levi não sabia ou já havia esquecido, surgiu da escuridão da sala lateral para abrir a porta para ele.

—  Você veio! – a surpresa no tom de voz dele era inegável e pouco disfarçada. Levi soube instantaneamente que estava diante de uma pessoa que não sabia mentir. – Q-quero dizer, não que eu esperasse que você fosse dar um bolo no Eren, digo, podia até ser, mas eu sei o quanto ele pode ser teimoso às vezes e que ele podia muito bem ter forçado essa história toda de aula particular e…

— Ele está aí? – Levi cortou o que podia muito bem ter sido um longo monólogo de explicações, e o garoto deu espaço para que ele enfim entrasse no local.

— Ele está esperando por você no andar de cima. Na mesma sala de sempre. – Ele sorriu, um tanto sem jeito. Ajeitou a mochila que trazia nos ombros, olhando para todos os lados menos para a direção de Levi. Parecia ter mais algo a dizer, e então, mudado de ideia no mesmo instante. – Eren tem a chave daqui, então eu vou trancar tudo antes de sair. Eu… é… hm, tenha uma boa aula, Senhor.

— Obrigado. – Levi respondeu antes que o garoto passasse por ele rapidamente, fechando a porta atrás de si. Ele havia mesmo esperado ali até Levi aparecer, mesmo passando – e muito – do seu horário. Provavelmente fez isso para não deixar Eren sozinho, o que já era admirável por si só. Levi sentiu uma pontinha de culpa por não ter avisado sobre seu atraso, então, mas essa passou muito rapidamente, assim que ele cogitou todas as torturas que Eren teve tempo extra para planejar para ele naquele período.

O garoto da recepção trancou a porta quando saiu, então não era como se ele tivesse tantas opções restantes. Seguiu na direção da escadaria e ao chegar ao andar de cima, percebeu a única luz acesa, na mesma sala que frequentara nas últimas duas vezes. Ao se aproximar da porta, já aberta à sua espera, Eren estava lá, como ele imaginara. No centro da sala, que parecia muito maior agora que ele a via completamente vazia, o garoto parecia estar fazendo algum tipo de alongamento, com as pernas abertas em um espacate quase completo, e os braços esticados para o lado, tocando com certa facilidade a ponta dos dedos do pé esquerdo. Levi tentou não se impressionar muito com a flexibilidade do garoto.

Levi não bateu na porta nem deu qualquer sinal da sua presença ali, mas Eren o notou mesmo assim, virando o rosto para trás e abrindo um sorriso impossível ao finalmente encontrá-lo ali. Com um movimento ágil e preciso, ele se colocou novamente em pé, virando-se na direção da porta enquanto terminava de alongar os braços.

— Você veio. – Levi havia ouvido exatamente a mesma frase minutos antes, mas ao ser pronunciada por Eren, não parecia carregar a mesma carga de incredulidade anterior.

— Pensei que você já teria desistido à esta altura. Eu não confirmei que viria. – Levi comentou, apenas para informar. Eren ainda sorria.

— Eu tive essa sensação de que você ia aparecer de qualquer jeito. – Ele trazia uma expressão que Levi, mesmo depois de anos exercitando a arte de analisar a linguagem corporal das pessoas para usar isso a seu favor, ainda não sabia como interpretar. Fez um gesto mais amplo para convidar Levi a se aproximar, e ele, relutante, assim o fez. Ainda não tinha ideia do que Eren planejava fazer com ele nessas aulas particulares, mas duvidava muito de que seria algo com o qual ele fosse concordar de boa vontade.

— Então, como vai ser? – Ainda que ele tivesse o hábito de não deixar transparecer suas emoções facilmente, mais um costume adquirido com o tempo do que algo feito de propósito realmente, sua impaciência era evidente, e fazia claramente Eren divertir-se com a situação.

— Calma, Levi. Nós vamos chegar lá. Primeiro, eu tenho que observar que você está muito tenso. Tente relaxar, para começar, ok? Dançar não é uma atividade que você pode realizar facilmente todo estressado desse jeito, então tente não pensar muito.

Levi se limitou a erguer uma sobrancelha, deixando muito claro que aquilo que Eren dizia, pare ele, era um absurdo. Levi não sabia o que era ficar relaxado, não sabia nem mesmo da existência de um estado mental que não fosse constantemente atribulado por uma preocupação ou outra.

— E essas roupas que você está usando, eu apreciaria se você usasse algo mais leve, e que facilitasse seus movimentos. – Eren continuou, não notando (ou fingindo que não notara) o óbvio desdenho de Levi pela sua opinião de profissional. – Temos um vestiário aqui, caso você prefira se trocar quando chegar. Pode usar as roupas que você costuma usar quando vai à academia. Você malha, não é mesmo? – A insinuação na frase era notória e Eren não fez esforço algum para disfarçar, enquanto passava os olhos muito atentos por todo o corpo de Levi como um scanner. A camisa que ele usava era justa, não o suficiente para deixar perceptível a forma física de Levi, mas Eren parecia estar fazendo suas próprias conjecturas com o que conseguia notar.

— Quando tenho tempo. O que acontece raramente.

— Parece o suficiente. – Eren deu uma piscada rápida com um dos olhos, antes de segurar o braço de Levi levemente para trazê-lo mais para o centro da sala. Levi notou a forma como ele apertou de leve o tecido da manga da sua camisa, como se quisesse sentir melhor o que havia por baixo. Parados um em frente ao outro no centro da sala iluminada, Levi quase se sentia estúpido, mas agora já não havia volta. –  Está pronto para descobrir as maravilhas da dança de salão?

Levi não sabia se a energia do garoto era real ou apenas um artifício para implicar com ele. Continuou a encará-lo sem esboçar qualquer reação, e ele sorriu de canto.

—  Aprecio o seu entusiasmo. – Ele não pareceu ligar para a forma como Levi reagia, e prosseguiu: —  Como você parece inexperiente, eu vou começar do básico com você, está bem?

—  Me parece justo. – Levi olhou ao redor, notando que o pequeno rádio que Eren utilizava durante as aulas estava desligado e fora da tomada. O seu olhar questionador naquela direção não passou despercebido.

— Hoje não vamos usar nenhuma música. Apenas entender os fundamentos básicos pra você não ficar tão perdido, e nos conhecermos melhor, o que acha? – Como Eren continuava sorrindo, Levi tinha dificuldades em saber se ele estava falando sério ou apenas brincando de novo.

— Faça o que achar melhor. – Ele pronunciou, e logo se arrependeu, ao ver como o sorriso do garoto se alargou ainda mais só de ouvir essas palavras, e novamente percebeu as chamas que se acendiam naqueles olhos tão peculiares com a perspectiva de um desafio.

Eren segurou Levi pelos ombros, posicionando-o da forma que achava melhor. Levi sentiu seus músculos tencionarem-se por inteiro com aquele toque, e parecia muito fácil perceber que seu corpo não iria cooperar facilmente em se movimentar da forma como ele esperava. Ele estava completamente rígido.

—  O que você vai querer que eu faça? – Dizer que Levi estava com todas as suas guardas erguidas e totalmente na defensiva era um belo eufemismo. Eren quase conseguia sentir a recusa que o corpo dele transmitia sem esforço.

—  Por enquanto, nada. Apenas siga os meus movimentos, e repita o que eu fizer. Não precisa pensar muito. – Eren deu um passo para o lado, esperando que Levi fizesse o mesmo. Ele o acompanhou, e Eren sorriu. – Ótimo, assim mesmo. Eu vou começar com algumas explicações. Se você entender o que nós estamos fazendo aqui, talvez seja mais fácil assimilar a informação.

— À vontade. – Se Levi tinha alguma dúvida sobre o profissionalismo de Eren, naquele momento ela começava a se esvair. Por mais que ele parecesse despreocupado ou descontraído demais, quando começava a falar sobre sua área de conhecimento, ele parecia exatamente como um especialista.

— Bem, a dança de salão, como o que nós vamos aprender aqui, possui várias divisões, e categorias competitivas, mas nós não precisamos nos aprofundar sobre isso. Basta saber que ela abrange uma série de ritmos diferentes, como valsa, tango, foxtrot, samba, paso-doble, cha-cha-cha… enfim, você deve ter ouvido falar pelo menos de alguma dessas, certo?

— Provavelmente, mas isso significa que eu preciso aprender tudo isso? – ele indagou seriamente, esperando com sinceridade que a resposta para essa pergunta fosse “não”. – Eu tenho que lembrar à você que isso tudo é só pra fazer uma coreografia idiota em um casamento, então…

—  Calma, Levi. Um passo de cada vez. – Dizendo isso, Eren deu um passo para a direita, e lembrando da primeira instrução da noite, Levi fez o mesmo. – Eu estou dizendo apenas que vou te ensinar o básico de cada coisa, para você começar a se habituar com os movimentos, e também para poder dançar no dia da festa. Só para ter uma noção de cada ritmo. Depois cuidamos da coreografia, quando você estiver mais acostumado com a ideia de se mover mais livremente. – Outro passo para a esquerda. Levi repetiu.

—  Ok, entendi.

— Não olhe para os seus pés, continue olhando para mim. – Eren pediu, gentilmente, e continuou. Deu um passo para trás, e Levi não estava esperando por isso, então levou um segundo a mais para acompanhá-lo. – Então, acho que podemos dizer, de uma forma bem simplificada, a dança de salão se divide entre as que seguem um compasso de três tempos, e as que seguem um compasso de quatro tempos. Se você conhecer a base de cada um desses grupos, aprender coreografias mais elaboradas fica mais fácil.

Dizendo isso, Eren deu um passo para a frente, esbarrando em Levi no processo. Ele se obrigou a recuar, encarando Eren com animosidade (a qual ele, naturalmente, começava a se acostumar e considerar apenas um traço da personalidade do seu aluno, e não uma ameaça real).

— O que eu falei antes, era sério.

—  Você falou coisas demais.

Eren sorriu —  Sobre nos conhecermos melhor. – Passo para a direita. Levi o seguiu. – Dançar não é só uma questão de se mover no ritmo da música, tem a ver com confiança e intimidade. – Passo para a esquerda. – Se você não confiar em mim, não vai conseguir se soltar, e então meu trabalho aqui vai ser inútil. – Passo para trás. – Você pode fazer perguntas, se quiser. Eu vou fazer o mesmo. – Passo para a frente. Dessa vez, Levi já estava preparado, e não foi pego de surpresa. Eren sorriu, e continuou com a mesma sequência. Levi não se perdeu mais, e o acompanhou com mais facilidade dessa vez.

Passo pro lado, pro outro, pra frente, pra trás. E então, tudo de novo. Fazer isso não era complicado. Se continuasse assim pelo resto das aulas, Levi até pensava que poderia conseguir.

—  O que quer saber? – Levi indagou apenas por curiosidade. Não era como se pretendesse responder a qualquer questão levantada pelo garoto de qualquer forma.

—  No que você trabalha?

Ok, essa era uma pergunta fácil. Não iria doer responder.

—  Eu sou advogado.

Isso não significava que ele pretendesse dar muitos detalhes, porém.

— Uuh, parece monótono. A não ser que seja como nas séries. Você faz aqueles discursos emocionantes, apresenta as provas que vão mudar as diretrizes do caso e choca o júri com os detalhes que ninguém mais percebeu e todos ficam abismados com a forma como você conduziu o caso?

— Não.

— Você fala “protesto!”?

—  Às vezes.

— Você já viu assassinatos? Já trabalhou com psicopatas? Já foi ameaçado de morte por defender um cliente polêmico? Você sabe detectar mentiras? Aah… Você já seduziu uma testemunha para ganhar um caso, quem sabe?

— Que porra de séries você assiste? – Levi franziu os olhos, julgando intensamente o gosto de Eren por ficção. Além disso, eram perguntas demais.

— Assisto as que são boas. – Eren sorriu, orgulhoso do seu próprio conhecimento adquirido arduamente. Ele se aproximou um pouco mais de Levi enquanto falava, quase invadindo seu espaço pessoal, e acelerou brevemente o ritmo dos passos que estava fazendo o homem repetir. Ele estava conseguindo acompanhar a sua velocidade sem muitos problemas. – Então, não tem nada sobre mim que você queira saber?

— Nada.

— Ah! Você está contribuindo para o estereótipo popular de que advogados são chatos, não faça isso! – Eren resmungou, contrariado, sem perder o controle sobre seus pés. Levi fez um esforço extra para segui-lo. Ele estava indo mais rápido agora? – Se você não perguntar nada eu vou continuar perguntando coisas sobre você, prefere assim?

Levi franziu mais ainda os olhos, pensando em formas de calar a boca de Eren, sem nada concreto vindo à mente. Soltou o ar, percebendo que Eren era o tipo de pessoa que mais o importunavam: pessoas como Hanji, incansáveis, sem senso de preservação e ridiculamente irritantes sem qualquer esforço.

— Você parece novo demais para ser professor.

Não foi exatamente uma pergunta, mas Eren se contentou com isso.

— Eu tenho 24 anos, se é isso o que quer saber. Não fiz faculdade, mas tenho diplomas de cursos de dança que fiz, posso dar aulas. Comecei a dançar aqui mesmo, quando era criança.

Eren se aproximou mais alguns centímetros de Levi, mais perto do que jamais esteve, e sem qualquer cerimônia, segurou a mão dele, repousando-a em seu ombro. Enlaçou com desembaraço a sua cintura, muito de leve, o toque mal sendo sentido. Levi naquele momento tentava imaginar Eren como uma criança, dançando naquele lugar, mas a imagem simplesmente não se encaixava. Com a mão livre, Eren tocou a outra mão de Levi, erguendo-a no ar.

— Por quê dança? – A pergunta simples pareceu pegar Eren de surpresa, mas ele não perdeu o compasso, e não deixou de conduzir Levi, que ainda acompanhava irrefletidamente os seus passos.

— Você precisa fazer pelo menos mais umas três aulas para desbloquear o meu passado trágico, desculpe. – O sorriso mecânico das outras vezes voltou a aparecer, e Levi decidiu que não voltaria a tocar no assunto. Eren provavelmente pensou algo nos mesmos moldes, pois rapidamente mudou de rumo. – Minha vez. Você já dançou alguma vez antes, Levi?

— Não, nunca dancei. – ele respondeu, naquele mesmo tom de voz cansado, como se essa informação já não fosse clara o suficiente.

— Bem, então, surpresa! Você está dançando. – Eren anunciou com uma animação desmedida para a ocasião.

Como?” Levi olhou para os próprios pés, completamente chocado mas sem demonstrar realmente.  Como é que Eren conseguiu fazer isso? Ele nem mesmo percebeu o momento exato em que foi colocado naquela posição! E antes que pudesse de fato processar essa informação, sentiu seu corpo ser puxado. Eren saiu do pequeno espaço quadrado onde eles estavam praticando a sequência de passos, e começou a girar pela sala enquanto continuava a fazer a mesma coisa.

O ritmo e a velocidade que ele impunha não eram difíceis de seguir, e embora Levi tivesse tropeçado de início, não foi difícil retomar o compasso de antes. Ele não estava indo rápido, e Levi quase conseguia entender a dinâmica daquilo. Se era uma valsa, então, ao menos, ele tinha alguma ideia de como deveria parecer. Ele não foi obrigado a assistir filmes da Disney com Hanji durante as madrugadas de procrastinação da faculdade, com ela cantando junto em cada maldita música que tocava, para nada, afinal.

— Consegue perceber a contagem dos passos? – Eren indagou, voltando ao ar sério de professor que ele só conseguiu manter durante o início da aula. – Um. Dois. Três. Um, dois, três.

Levi não queria dar o braço a torcer, mas ele realmente conseguiu entender a ideia, por cima. Tinha consciência de que tudo isso se devia puramente ao fato de que era Eren quem estava conduzindo todo o movimento, e ele estava apenas seguindo os passos dele, mas não deixava de ser um evento inédito.

Querendo ou não, Levi estava dançando.

Eren o girou mais algumas vezes, aproveitando o fato de que Levi estava facilmente se deixando levar e acompanhando cada movimento seu, embora sem muita elegância, mas ainda se movendo razoavelmente bem. Levi sentia-se meio tolo por estar fazendo tudo isso sem qualquer música de fundo, mas como precisava ficar atento aos seus pés para não acabar se atrapalhando na contagem que Eren continuou a repetir em voz mais baixa, não teve muito espaço para pensar no quão tolo exatamente pareceria.

Finalmente decidindo que era hora de parar, Eren os conduziu de volta ao centro da sala, soltando a mão e a cintura do parceiro, com um sorriso iluminando o rosto.

— Acho que foi ótimo pra um primeiro dia!

— Só isso? – o tom dele estava mais para desacreditado do que ávido por mais exatamente mas isso não impediu Eren de abrir o sorriso de canto usado especialmente para espezinhar Levi.

— Quer continuar?

— Não, estou bem assim.

Levi tinha consciência de que com seu atraso, o tempo disponível havia sido reduzido drasticamente, mas parecia que ele havia acabado de chegar ali. Olhou para o seu relógio de pulso apenas para perceber que quase 40 minutos haviam passado, sem que ele se desse conta. Entre a conversa descabida de Eren, tantas perguntas e os vários giros, ele havia perdido a noção do tempo completamente. Ainda assim, 40 minutos não era tempo suficiente para uma aula, nem fazia valer o tempo que Eren passou esperando por ele.

—  Por hoje vai ser só isso. – Eren tornou a afirmar, afastando-se de Levi e indo em direção ao banco na lateral da sala, onde havia uma mochila e um casaco preto, provavelmente seus. Começou a mexer no bolso externo da mochila, enquanto ainda falava. – Eu notei que você parece cansado, e o motivo do atraso deve ser porque ficou até agora preso no trabalho, certo?

Levi respondeu com um resmungo que jamais poderia ser considerado uma afirmativa se a pessoa soltando tal ruído não fosse ele, e Eren, mesmo que tivesse acabado de conhecê-lo, já parecia ter compreendido sua forma peculiar de comunicação informal.

— Não quero que você pense nessas aulas como um fardo ou uma obrigação. – Eren ergueu-se, com algo pequeno entre os dedos, e voltou a se aproximar de Levi. Havia novamente um sorriso difícil de interpretar adornando seu rosto. – Então, não vamos te forçar além do necessário. E você não é um total incapaz, pelo que eu pude ver nesse primeiro exercício… acho que vai pegar o jeito bem rápido.

— Se você diz.

— Isso não significa que eu não vou querer ver um pouco de esforço da sua parte ok? Por exemplo, vamos ter alguns deveres de casa… – Eren ergueu o que havia na sua mão para que Levi pudesse enxergar também, e ele pode perceber que se tratava de um pen drive.

—  O que é isso?

—  Como eu disse, dever de casa. – ele colocou o pequeno objeto na palma da mão de Levi. – Quero que você ouça essas músicas sempre que tiver tempo livre. Para já ir se habituando ao ritmo.

—  Certo. – Levi não tinha mais energia para recusar ou elucidar o professor sobre o fato de que ele tinha uma vida atribulada e absolutamente nenhum tempo ocioso para sentar e ouvir o que quer que ele tivesse colocado naquele pen drive. Apenas aceitou o objeto e colocou no bolso da calça.

— Você é um aluno surpreendentemente obediente. – De novo, o sorriso de provocação. Levi não se dignou a responder, mas franziu os olhos um pouco mais em resposta. – Vou esperar por você amanhã de novo.

— Eu vou, hm… chegar no horário marcado. Da próxima vez. – Levi parecia relutante em admitir, mas Eren podia apostar que ele era o tipo de pessoa que detestava não cumprir com compromissos. Ele não tinha evidências, mas julgando pela maneira como o homem se portava e a sua profissão, ele parecia ser aquele tipo de pessoa metódica, que tem cada passo da sua vida friamente calculado antes de qualquer coisa. Só conseguia imaginar o quanto imprevistos e situações fora do planejado deveriam estressá-lo, se estivesse certo.

Eren era exatamente o contrário. Adorava sair da sua rotina, sua vida era uma completa bagunça sem qualquer sinal de organização ou padrão a ser seguido. Ele gostava de constantes mudanças, gostava da sua liberdade e de não se preocupar com nada. Talvez, se conseguisse fazer alguém como Levi enxergar esse tipo de ponto de vista, e causar ao menos um pouquinho de confusão naquela vida regrada e sem graça, isso poderia ser benéfico para ele, até. Ou, pelo menos, era assim que Eren justificaria suas ações, quando tudo o que ele sabia era que era muito divertido provocar Levi, e seu objetivo final certamente era tirá-lo do sério.

Os dois saíram juntos do prédio. A noite estava ligeiramente mais fria, com uma brisa leve fazendo os braços expostos de Eren, que usava somente uma fina camiseta, arrepiarem-se. Ele estava com seu casaco amarrado na cintura, mas não se incomodou em vesti-lo. Ia ter que caminhar até sua casa mesmo, colocar o casaco apenas para ter que tirar ele 10 minutos depois por causa do calor era inútil.

Com surpresa, Eren notou que Levi esperou até que ele terminasse de trancar a porta do estúdio antes de começar a dirigir-se para o seu próprio carro, estacionado próximo a calçada logo a frente. Eren não era um grande conhecedor de marcas e modelos de carro – Mikasa era muito mais entusiasta deste tipo de assunto do que ele – mas ele sabia o suficiente para perceber que aquele modelo esportivo, todo preto, podia ser qualquer coisa menos comum.

Pensou em algumas coisas, naqueles breves segundos entre terminar de chavear a porta e ver Levi se afastar, despedindo-se apenas com um aceno de cabeça, na direção do seu carro. Ele morava perto, mas não tão perto assim. Não havia mais ônibus por essa rota àquela hora, e ele teria que caminhar pelo menos meia hora até lá. Nada mais justo do que fazer a pessoa que o fizera ficar até mais tarde trabalhando o levar para casa.

Mas Eren era honesto consigo mesmo, pelo menos. Pedir por uma carona não seria esforço algum, e Levi poderia ficar incomodado, mas provavelmente não recusaria. Só que a verdade era que isso não passava de um dos vários sistemas que Eren trazia consigo para utilizar quando se interessava por alguém. Era muito simples na verdade. Se a pessoa ficasse até muito tarde com ele, em qualquer lugar onde estivesse, ele só precisava comentar sobre ter que ir a pé e uma carona instantaneamente era oferecida. Em raros casos, ele mesmo propunha, explicando a sua situação com relação à falta de transporte público nas horas mais avançadas. Quando chegassem em frente ao seu apartamento, Eren só precisaria sorrir da maneira certa, e perguntar se o seu alvo de interesse não gostaria de subir por algum tempo. Com uma mínima margem de erro, o plano era infalível, e Eren conseguia exatamente o que queria.

E havia algo de muito errado na ideia de seguir esses passos com uma pessoa comprometida e prestes a casar. Mesmo que as intenções de Eren fossem puras, dessa vez, apenas o pensamento de cair na tentação e oferecer algo além no final da viagem, apesar de causar arrepios que nada tinham a ver com o clima mais frio da noite, era absolutamente condenável, e Eren não desejava ser esse tipo de pessoa.

Então, ele se conformou em ver Levi entrar no seu carro esporte de aparência ridiculamente cara, e acenou para ele, assistindo enquanto ele manobrava e saía pela rua com uma habilidade de direção invejável. Com um suspiro longo e ligeiramente cansado, Eren ajeitou sua mochila nas costas, e seguiu seu caminho para o seu apartamento pequeno, simples e frio, sem qualquer companhia para passar aquela noite além dos próprios pensamentos inadequados, que ele se esforçaria em dobro para manter somente para si, sobre o seu mais novo estudante de dança mau-humorado.


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Notas finais do capítulo

... oi gente... hehe

não vou nem tentar me justificar, porque sei que ouvir as mesmas coisas (trabalho, sem tempo, problema de cabeça, problema de saúde, tá tudo uma merda) cansa, então vamos apenas pular essa parte pra parte em que eu to TENTANDO, juro que tô, colocar a vida em dia, e isso inclui as fanfics que eu não terminei, inclusive essa, que eu amo demais e quero continuar até o fim.

Conto com o apoio de todo mundo que ainda lembra da história... se ainda tiver alguém, e à todos que tenham por acaso encontrado essa fic agora - eu demorei eras pra atualizar, mas tô de volta, pretendo prosseguir, fé no pai que agora vai o/



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