Her Smile escrita por Isamu H Ikeda


Capítulo 3
O sorriso dela - Parte 03


Notas iniciais do capítulo

* soltem os fogos de artifício pois eu finalizei uma fanfic depois de muito muito tempo! Mesmo que ninguém ligue para este ship e não vá ler. UHASAHUSAHUSHA

* Sinto que agora posso continuar escrevendo tudo o que anda pela minha cabeça. Apenas preciso me concentrar.



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Sentia uma forte angustia ao se deparar com Mila naquele estado. Era certo que Yuri muitas vezes agia como se não se importasse nenhum pouco com ela, ou com ninguém, e a chamasse por vários apelidos quase maldosos... Mas ele não era de todo ingrato.

Quantas vezes a viu chorando escondido? Ou… Quantas vezes ela lhe pedia companhia para, apenas, ouvi-la? Quantas situações, boas e ruins, ela lhe havia confessado e desabafado? Foram tantas que o rapaz não poderia contar, porém tinha conhecimento de que foram esses os momentos responsáveis por construírem uma relação, uma amizade que seria considerada até íntima, mas ainda assim, discreta. Tão discreta que ele demorou a perceber que podiam ser considerados amigos.

Houve ainda uma única ocasião em que fora a vez da ruiva oferecer seu ombro para as lágrimas tímidas de Yuri. O rapaz que dizia não precisar de ninguém, estava de cabeça baixa e apoiado no colo da amiga sem dizer nada. Ela, por sua vez, também não perguntava. Apenas ofereceu um pouco de atenção e carinho que poderia dar naquele momento. O mais novo tinha voltado do Japão, abatido e se sentindo humilhado. Mila e Yakov foram recebê-lo no aeroporto, e esperavam que Viktor pudesse estar junto. Contudo somente Plisetsky desembarcara. E não foi preciso lhes dizer nada para entenderem que Viktor Nikiforov não pretendia retornar à Rússia tão cedo e mandara de volta um Yuri anormal, que não elevava o tom de voz ou berrava. Era só pura angustia contida em um menino de 15 anos que se esforçava ao máximo para manter uma pose de “durão”. Yuri Plisetsky estava enraivecido, e acima de tudo, triste e decepcionado.

Tanto com Viktor, quanto com ele próprio.

E era muito fácil detestar Plisetsky devido ao seu temperamento e algumas atitudes infantis. Ele afastava as pessoas. Mas com ela foi o contrário disso. Mila não quis se afastar. Dizia que ele era apenas bastante sincero e verdadeiro consigo mesmo e com seus sentimentos, e apesar dos pesares, isso era uma qualidade. Ele só precisava crescer um pouco. E era assim que as coisas funcionavam entre os dois adolescentes. Discutiam, mas discutiam rindo. Era tudo uma grande piada, recheada de sinceridade.

— Eu estava pensando em desistir da patinação. - A ruiva quebrou o silêncio com uma revelação inquietante, retomando a conversa.

— ... Desistir? – Surpreso, Yuri retrucou. - Você vai… Ir embora? – Primeiro Viktor e agora ela? Que merda era essa?

O loiro cerrou os punhos enquanto mil coisas se passavam em sua cabeça. Aquela sensação ruim estava começando a se formar de novo. Aquela que poderia muito bem ser a do abandono. Ele não gostava muito dos abraços surpresa que o apertavam e estalavam-lhe os ossos, porém não saberia como reagir se não tivesse mais que reclamar deles. Mas no final das contas ela estava lá desabafando, e mais uma vez era com ele.

— Talvez, só talvez... Eu apenas precise descansar. Sabe como é, não é? Por um tempo... – Ela sorria desengonçada sem desviar o olhar do chão. Pensou que se o encarasse, acabaria mudando de ideia sobre conversar, e consequentemente, continuaria reprimindo esse sentimento de dúvida. O que não era muito saudável para ela. – Meus treinos estão cada vez mais puxados, dietas mais rígidas e especificas... E faz um bom tempo que estou empacada no terceiro lugar. Parece que não importa o quanto eu me esforce, não consigo... – Patinadores não tem uma carreira muito longa. Podia ser prejudicial para eles. Formidáveis eram aqueles que conseguiam se estender, como o famosíssimo Evgeni Plushenko. – E isso me faz pensar se vale a pena continuar no esporte. Às vezes... Eu só não estou aguentando como antes, Yura. Acho que preciso de férias... – A voz da garota soava melancólica. Mas sempre era automático recorrer ao loiro, as palavras saíam um pouco mais firmes e concisas. Entretanto... Com um assunto tão “infame” quanto esse, Mila sabia que poderia estar sendo egoísta ao falar esse tipo de coisa para Yuri.

Só que se fosse com Viktor, ou qualquer outra pessoa, Yuri já estaria gritando e chutando as canelas de quem quer que fosse como ato de protesto. Com Mila era diferente. Ele a deixava falar, a deixava chorar, até fazia o que podia para cuidar dela quando aparecia bêbada em seu apartamento após ter sido chutada por mais um namorado, ou namorada. Assim como ela sabia lidar com ele, ainda que lhe enchesse o saco vez ou outra, ele tinha uma paciência, tirada sabe-se lá de onde, para ouví-la contando o seu dia como se fosse uma epopeia. Mesmo que ele vivesse dizendo que era incômodo, ele continuava sentado do lado dela e não fazia menção de levantar.

— Pretende dar uma pausa depois do Grand Prix? – Ele perguntou, com certo receio da resposta dela ser “sim”. Sabia que Mila estava finalizando os estudos no colegial, e que estava sendo pressionada a decidir uma especialização pelo pai. Era possível que quando o Grand Prix daquele ano acabasse, ela daria uma pausa e se dedicaria a isso por um tempo. Descansando das competições também.

— Eu estava só pensando… Mas não é nada certo. Além disso... O que seria de você sem mim, Yuri? – Foi o que ela disse, enfim o encarando e tomando o bendito refrigerante cor-de-rosa.

— Ah, pare de mentir. Você não ficaria aqui só por mim, ficaria? – Disse recompondo-se à sua costumeira postura de garoto rebelde.

— É aí que você se engana. Eu sentiria muito a sua falta.

— ... E por que?

Ao invés de responder, a garota resolveu tomar toda a soda na latinha em um gole só, fugindo de dar uma resposta à um Yuri que estava claramente envergonhado com a declaração. Não era algo que ele estivesse acostumado a ouvir.

Eles não tinham a mesma idade, mesmo sendo algo próximo. A ruiva tinha um ciclo social maior do que o mais novo, vivia saindo com amigos e já podia entrar em locais proibidos para menores. Inclusive já podia beber também, apesar de que adolescentes seduzidos por uma rebeldia irresistível sempre dessem um jeito de experimentar algumas coisas mais cedo. Em um resumo certo, a vida de Mila andava bem diferente da de Yuri. Portanto ele imediatamente se perdeu em pensamentos atrás de um motivo plausível para ela admitir que sentiria sua falta... Que sentiria falta dele, do garoto que vivia berrando e agia como egoísta sem se importar muito com o que os outros sentiriam ou pensariam, que recusava os convites animados dela para sair em turma, que pedia e às vezes até exigia sem ter muita noção de como poderia retribuir.

Se Viktor não sentia a sua falta e nem a sua própria mãe demonstrava do mesmo modo sentir, por que então ela ficaria com saudade?  O que teria nele que pudesse fazê-la se apegar?

— Ora, Yuratchka… - Ela riu, o que o fez voltar sua atenção ao momento presente. – Não é obvio?

Haa?...Não. O que é?

— Hmm... Não vou contar, assim vai perder a graça! – Ela se levantou, jogando a lata de refrigerante numa lixeira ali próximo e foi em direção ao rinque novamente. – Vamos patinar um pouco?

Yuri relutou um pouco ao convite. Ainda queria uma resposta e odiava ficar ansioso pensando nisso. Mas não tinha escolha. Ela iria ficar fazendo mistério até se cansar ou se esquecer. Acabou se levantando e a seguindo, prontamente repondo os patins que estavam esse tempo todo largados ao lado da mochila com estampas de leopardo que ele havia deixado encostada do outro lado do banco.

Uma coisa ele tinha que admitir. Ter o rinque inteiro a sua disposição era gratificante e não resistiu em percorrer boa parte do gelo, logo executando alguns saltos que ele tinha interesse em aprimorar.

Mila o olhava sorrindo. Era impressionante como o garoto se superava a cada vez que punha os pés no gelo. Era prodigioso, mas antes de tudo: dedicado.

— É mesmo... Você era aquele menininho de cara amarrada do Rotelescom!

       — Quê? Do que cê tá falando? – Yuri indagou voltando e parando ao lado dela.

— Em uma das competições de um Grand Prix que o Viktor participou, eu vi um garotinho loirinho que parecia muito um gatinho assustado olhando sem jeito para ele. Pensando agora só podia ser você!

— Ah... De fato, uma vez fui vê-lo... – Respondeu acabrunhado. Particularmente, ele tinha vergonha do corte de cabelo que usava quando mais novinho.

— Olha só! Isso não é incrível? – Ela dizia enquanto fluía seus passos pela pista. – Nos encontramos pela primeira vez há muito tempo e agora estamos aqui, treinando juntos.

— Estávamos só no mesmo lugar... Não nos encontramos de fato.

— Ora, ora Yuri... Deixa de ser chato! – Riu e então subitamente pegou o garoto pelas mãos forçando-os à patinarem juntos.

He-hey! O que está fazendo?! Me solta!

— Não! – Ela rodopiava o levando junto, rindo descontraída, até que faziam uma espécie de dança super desajeitada.

Yuri estava visivelmente nervoso, não sabia como reagir, estava a mercê da mais velha que o guiava sem menores dificuldades. Pôde sentir suas bochechas esquentarem com a aproximação de frente e manteve-se ocupado desviando o olhar.  Não estava tão acostumado assim a falar com garotas, e por vezes até esquecia que Mila era uma. Ela era só... A Mila. Uma companheira barulhenta, risonha... Mesmo que não fosse apenas isso. Era mais fácil tirarem sarro dos outros juntos, fazerem caretas, treinarem, comerem besteiras... Etc. Alguns diriam que pareciam irmãos, embora Yuri não soubesse exatamente como era ser irmão de alguém.

Quem sabe fosse assim... Alguém que te tira do sério, mas com quem você se importa mesmo que esteja com raiva.

Recordou-se de uma ocasião em que simplesmente havia decidido que o ex-namorado de Mila era um babaca mesmo antes deste a traí-la. Quando ele disse isso pela primeira vez, ouviu um “Yuri está com ciúmes por acaso?” e uma gargalhada da garota.

E será que estava? Seria possível?

— Já sei! – Mila anunciou e parou repentinamente os rodopios, para alívio do loiro que estava ficando um pouco tonto.

— O que é agora...?

— Vou te mostrar uma coisa. – Respondeu indo pegar o celular e colocar uma música para rodar no volume máximo. – É parte de um dos meus programas, acho que você não chegou a assistir ainda, né?

O ritmo era calmo, com uma melodia fantasiosa. Mila começava os movimentos de forma suave que mudavam conforme a história da canção prosseguia, cuja letra falava sobre juras de um amor eterno, porém findando tragicamente. Era uma música triste, que atraía por ser bonita. Essas coisas eram a cara dela, Yuri pensava. Os saltos agora iam com mais fluidez do que antes, os ombros mais soltos ajudavam com a expressão corporal e facial, o grande trunfo dela.

Enquanto observava a ruiva, algo correu em sua cabeça: O sorriso que ela ostentava no rosto ao patinar, o sorriso terno dela era verdadeiramente uma das coisas mais bonitas que ele já tinha visto. Como o de uma fada primaveril dançando num jardim de inverno em um conto infantil que você encontraria em uma estante.

Sentiu também um misto de orgulho e... Alguma outra coisa nova. Mas como de costume, ele não iria contar. Só continuaria ali, parado. Assistindo a garota patinar...

Por que o medo dela parar e ir embora ainda não tinha se dissipado.


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