Amor e Revolução escrita por Annie Chase


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oi, espero que gostem.
Leiam lá embaixo



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Percy

Nico corria desajeitado por entre os corredores estreitos do castelo. Ele tinha convencido Thalia a não nos seguir. O que a deixara irritada, o que nos rendeu alguns tapas e chutes. Mas ela percebeu que aquilo era o melhor a se fazer. Nico tinha lhe pedido para ter cuidado e procurar não chamar a atenção, sua recomendação foi, basicamente, “não saia de casa, a menos que esteja acontecendo um incêndio”. Em um primeiro momento considerei exagerado, mas quando notei o semblante de preocupação em seu rosto, percebi que ele sabia um pouco mais do que havia nos contado. Então me despedi de minha prima e, talvez por causa do excesso de hormônios, havia lágrimas em seus olhos quando nos disse “adeus”.

Nico era o tipo de pessoa que sempre parecia saber demais. Era praticamente invisível aos olhos dos desatentos e quase nunca desconfiavam de sua pessoa, o que lhe tornava ainda mais perigoso. Não saberíamos de absolutamente nada se Nico não tivesse arriscado o pescoço para alertar sobre o golpe do príncipe.

—Eu preciso que você seja sincero comigo. – eu pedi enquanto caminhávamos lentamente pelo fim da passagem secreta que nos levaria até a área de serviço do palácio.

—O que quer dizer com isso? – ele não vira em minha direção, segue andando pelos túneis com suas velas quase no final. Ele ficava ainda mais sombrio sob a luz das velas, os dedos estavam queimados da cera derretida, mas ele não hesitou em nenhum momento ou deu qualquer sinal que sentia dores.

—Quero dizer que fui enganado. – eu disse e ele parou bruscamente.

—Em relação ao quê? – questionou irritado.

—À missão. – respondi indignado. – Você nos disse que eu agiria infiltrado no exército, para saber mais sobre a guerra. Eu iria ouvir as ordens do rei e desertar em seguida. – repeti as instruções que Thalia me passara.

—Deste jeito não teremos nenhuma vantagem. – ele responde puxando meu braço, queria que eu me o acompanhasse. – Pense comigo, Jackson... Se você seguisse o plano original, iria obter umas informações mínimas, supondo que se infiltrasse em alguma unidade do exército. Depois que desertasse, você seria um foragido. Todos ao seu redor se tornariam alvos, seriam presas fáceis, inclusive. – ele para por um segundo, massageia a nuca e solta o ar pesadamente. – A nova rainha é o que mantém esse golpe seguro. Se você derrubar a rainha, ela derruba o rei e o resto todo desaba como um castelo de cartas. – eu não consegui dizer mais nada, estava atordoado.

Fazia sentido. O plano fora bem pensado. No entanto, não me fez sentir segurança que funcionaria. Ninguém sabia nada sobre a rainha, pelo menos nada que fosse real. Venderam-nos a história de amor da plebeia e do príncipe e de um amor proibido que valia a pena dar um golpe de estado. Parecia forçado demais. Era conveniente demais... E fora isso que nos chamou atenção quando o golpe aconteceu – Nico confirmou nossas suspeitas. E era tudo tão conveniente: a família Dare governava o país desde que ele fora criado. Instalaram uma monarquia que se manteve intacta por mais de um século porque ninguém nunca teve força e dinheiro suficiente para tornar o poder. Provavelmente ficaríamos assim por mais algum tempo, mas o rei estava envelhecendo e as pessoas começaram a duvidar de sua saúde mental quando ele decidiu travar uma guerra contra um país aliado de anos e se exilou dentro dos próprios aposentos.

A princesa Rachel assumiria o lugar do pai e seria a primeira mulher a governar nosso país, mas a princesa não tinha muito mérito com o povo ou mesmo com o resto dos nobres. Ela saía do castelo nas noites, farreava com aldeões e se envolvia com pessoas as quais nossa sociedade rejeita... Pessoas como eu. Sim, eu sei que não estou nesta missão completamente focado, meus interesses pessoais atravessam os planos dos rebeldes, mas eles eram complementares, não excludentes. Eu poderia achar Rachel e mantê-la em segurança, ao passo que também posso descobrir informações importantes do reino.

—Só me diga o que fazer para chegar até a rainha. – Nico pareceu satisfeito com minha resposta.

—Eu consegui um lugar para você guarda real. Seu trabalho é interno é proteger e vigiar a rainha. É assim que você vai se aproximar dela. – sua explicação fazia parecer fácil.

—Como conseguiu isso? – perguntei desconfiado. Eu não sabia muita cosia sobre Nico, sequer sabia seu sobrenome ou o que ele fazia, mas sabia que ele era confiável. Estranhamente confiável, ao ponte de eu aceitar seus planos mirabolantes, ainda que eles pudessem custar minha vida.

—É o meu trabalho. – ele dá de ombros. – Contrato pessoas para o Palácio.

—E confiam em você para isso? – questionei e ele soltou uma risada estranha e sonora.

—Por que não o fariam? Sou um deles. – ele diz simplesmente e eu não tenho tempo de perguntar mais nada, pois ele empurra uma espécie de porta, puxa meu braço e empurrar para um quarto com vários beliches.

—Onde estamos?

—É aqui que você vai dormir. Os outros guardas ficam aqui também. Seu beliche é o 3B. Seu uniforme está ali e você tem... – ele consulta um relógio de bolso – Tem cinco minutos para se vestir e montar guarda na frente do quarto da rainha até a hora da consumação.

—Parece que você sabe de tudo o que acontece por aqui – comentei e ele apenas soltou o ar lentamente e confirmou com a cabeça. – O que você realmente faz? Ou melhor, quem é você?

—Chega de perguntas, Jackson. Quanto menos soubermos, melhor. – ele avança e pega o uniforme em cima da cama e joga em meu peito. Eu agarro as roupas e ele me manda trocar de roupas imediatamente. Ele vira de costas, com os braços cruzados no corpo e o pé batendo no chão em um ritmo frenético. – Seja rápido! – sibilou como uma cobra.

Seu nervosismo passara a me afetar e acabei me atrapalhando com as vestes pesadas, o que lhe fez ficar ainda mais perturbado. Passado o que me pareceu uma eternidade, eu estava pronto. Nico me encarou e confirmou com a cabeça ao me ver vestido, parecia ter aprovado o resultado.

—E agora? – questionei agitado.

—Saia deste quarto como se nada estivesse acontecendo. Siga direto por este corredor e espere as cornas soarem. Você verá os guardas reunidos para a inspeção do capitão Beckendorf, junte-se a eles e aja como um soldado deve agir. Será designado para a proteção da rainha.

—Certo...

—E tente não falar nenhuma besteira. Tente não fazer nenhuma besteira. Não fale a menos que lhe perguntem algo... – ele coçou a cabeça e suspirou profundamente, parecia exausto. – O mais importante é não ser pego e não matar todos nós. – ele fiz por fim, as mãos na cintura e um olhar distante são as últimas coisas que percebo nele antes de sair pela porta.

Que os deuses me ajudem!
...

Annabeth

Eu não aguentava mais manter o sorriso em meu rosto. Eu cumprimentara todos. Recebi todos os elogios possíveis naquela dia. Apenas algumas horas e eu me sentia esgotada. Observei meu marido com o canto do olho e percebi o quanto ele parecia relaxado e adaptado à situação.

Fiquei impressionada com sua capacidade de agir com naturalidade diante de tantas pessoas. Seria um dom natural ou apenas o reflexo de anos lidando com essa vida pública? Eu invejei a elegância de seus movimentos. Tudo em mim parecia forçado e inadequado. Eu buscava disfarçar meu desjeito diante dos demais. Por enquanto, eu era desculpada sob o pretexto de ter entrado para a nobreza recentemente, mas em pouco tempo os súditos irão requerer uma rainha que saiba agir como tal e não mais a moça desleixada da cozinha.

—Você está indo muito bem. – Luke sussurrou em meu ouvido calmamente. A frase me deixou aliviada no momento. – Estamos quase acabando aqui. Esteja pronta para ser vista pelo povo como rainha– informou e eu concordei com a cabeça. Meu nervosismo voltara.

—Obrigada. – respondo – Estou pronta para a aparição.

—Ótimo. – ele sorriu com o canto da boca. – Será o momento mais importante do dia, conto com sua colaboração, mais uma vez. – sua voz ela rouca e autoritária ao mesmo tempo. Na maior parte das vezes em que interagi com ele, precisei avaliar se ele me causara medo ou interesse. A mistura dos dois o fazia incrivelmente persuasivo.

Cornetas soam. Luke pega minha mão com seu aperto firme mais uma vez e me conduz em direção a maior sacada do palácio. Era tradição que após um casamento entre qualquer membro da realeza, os noivos saudassem o povo da sacada principal e recebam o carinho dos súditos. Quando criança, eu me espremia para ver as princesas casadas com seus príncipes encantados acenando desta mesma sacada. A Annabeth do passado talvez se sentisse orgulhosa por mim, mas atualmente eu sinto como se alguém me acertasse repetidamente o rosto. Isso porque tudo aqui é uma farsa, incluindo eu mesma.

Todo o reino parece nos esperar do lado de fora do castelo. Eu escuto seus gritos, ouço meu nome e o Luke sendo chamado de todos os lados. Quando as portas se abrem e Luke me conduz para fora, sinto vontade de correr. Eles parecem tão felizes por nos verem...

Luke acena para um grupo de crianças vestidas com fantasias de reis e rainhas à esquerda. As meninas mandam beijos e os meninos aplaudem, animados. Eu era uma dessas crianças...

—Acene também – Luke ordena firme, enquanto mantém o sorriso no rosto. Aposto que ninguém percebeu que ele falava comigo.

Ergo a mão, obedecendo a ele. Os gritos se intensificam... Escuto alguém gritar “Vida longa à rainha” e, em seguida, um potente e uníssono “Viva” ecoar da multidão. Eu quero chorar e lhes dizer que sinto muito por estar os enganando. Queria pode dizer-lhes que estava me esforçando para entretê-los e que me importo com o que pensam de mim... Mas não posso fazer isso. Não posso quebrar o protocolo.

Luke me puxa delicadamente para mais perto e sela nossos lábios de um jeito suave e demorado, o que faz com que gritos ecoem da multidão e que fogos de artifício despontem no céu. Nos distanciamos um pouco e recebemos uma demorada salva de palmas.

Meu marido se coloca à minha frente e faz sinal para que se faça silêncio. Ele ergue a cabeça e estufa o peito. Seu uniforme azul escuro, repleto de medalhas coloridas e feito sob medida parece deixa-lo ainda mais imponente diante de todos. Ele pigarra duas vezes antes de se dirigir ao povo.

—Meus súditos, é com muita honra que lhes apresento minha esposa, rainha Annabeth! – ele espera que a manifestação animada das pessoas diminua antes de continuar. – Há pouco tempo atrás me disseram que eu não poderia amar esta mulher simplesmente por ela não ter nascido privilegiada como eu... Por não ter sangue real. – ele baixa a cabeça dramaticamente e leva a mão direita ao coração. – Essa lei injusta que me afastava de meu amor era injusta... Tudo era injusto e pensado para afastar as pessoas que vivem no Palácio, de pessoas como vocês. Mas eu não poderia aceitar essa injustiça. Eu precisava mudar as coisas... E eu mudei. E este é apenas o começo!

Eu o observei fazer sua manipulação teatral perfeita. Eu o via fazer anteriormente com nobres e experimentei ser convencida por ele. Parecia o dom natural de transmitir uma mensagem comum, mas dar a ela a conotação especial escolhida por ele. Senti vontade de aplaudir. Senti meu corpo desligar após discurso. Eu fiquei feliz em poder ficar para trás um pouco e recuperar meu fôlego enquanto ele tomava o centro das atenções.

Eu me permitir desligar e agir apenas seguindo o automatismo que meu corpo fora treinado a seguir: sorrisos, acenos e expressões de carinho e surpresa. Esta estratégia me permitia realizar todas as minhas tarefas ao passo que também me permitia não pensar tanto no que eu estava fazendo. Desta forma eu podia amenizar mi já culpa e garantir minha sobrevivência por mais uma noite no castelo.

Eu, sinceramente, não percebi quando fui levada aos aposentos de Luke. A festa ainda podia ser ouvida atrás das paredes na forma de uma música distante e eventuais aplausos. De todos os afazeres do dia, o que mais me perturbava era a noite de núpcias. Em parte porque se o casamento fora uma farsa, o que aconteceria agora?

Luke era um homem bonito, é claro. Seus cabelos loiros tinham um cor diferente, eram de um tom escuro, mais ou menos como fica a areia quando as ondas a atingem na praia. Seus olhos azuis eram muito bonitos, eram claros e hipnotizadores, faziam você acreditar que cada apalavra dita por ele era verdadeira. A única coisa que o fazia parecer ameaçador era a cicatriz em seu rosto, do olho ao queixo uma linha branca e discreta servia para lembrar que o rei era um homem de verdade e travara batalhas de verdade... Sendo que somos incapazes de prever quando este homem vai atacar novamente.

Adentrei os aposentos reais. Ele me esperava sentado na cama, ainda trajando as vestes reais. Olhou-me demoradamente, o que me deixou desconfortável. Ele caminhou até mim e fez um círculo ao meu redor. Não notei que estava prendendo a respiração.

—De fato, Annabeth Chase, você é uma mulher muito bonita. – ele diz em um tom baixo e sou incapaz de olha-lo. O elogio me faz corar, mas o que vem em seguida acaba atingindo um ponto em que minha autoestima não estava acostumada a ser golpeada. – Mas, infelizmente, não posso deixar de considerar que você não tem os atributos suficientes para me servir nesta cama. – eu solto o ar, incrédula. Levando a cabeça, um tanto em pânico.

—Então... – começo a dizer, mas ele me interrompe.

—Eu não irei tocá-la esta noite e, talvez, em nenhuma outra noite. – mexi a boca, mas as palavras não saíram, eu senti o medo tomar conta de mim. Se eu não serviria de nada para ele, ainda me manteria viva?

—Eu... Consegui dizer, ele levantou a mão para o auto, me impedindo de continuar a frase.

—Não se preocupe. Você ainda é importante para o governo. Lamento informar que não é fundamental para o governante – ele aponta para si. – Fora destas paredes, diante dos criados, diante da corte e de qualquer outra pessoa, você e eu somos um casal apaixonado, longe de todos... Eu e você podemos ser aquilo que sempre formos e sempre seremos: desconhecidos um para o outro. Você está de acordo?

—Concordo com qualquer condição imposta, desde que as promessas feitas sejam mantidas. – eu respondo sem conseguir olhar em seus olhos.

— Ótimo. – diz abrindo um largo sorriso. – Sente-se, sirva-se de vinho. À meia noite você deve deixar os aposentos e dirigir-se aos seus. Um guarda deve escoltá-la. Enquanto isso, permaneça aqui e não ouse sair sob nenhuma circunstância.

Ele se dirigi a uma porta a sua direita, adentra um cômodo escuro e tranca a porta em seguida. Eu demoro a aceitar que ele não irá retornar e que estou sozinha. Algumas lagrimas enchem meus olhos, mas me livro delas logo que se precipitam a cair. Decido me sentar no divã do canto do quarto e me servir de uma generosa taça de vinho.

E este foi meu primeiro dia de farsa.


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Notas finais do capítulo

Oi, gente. Eu não apareço há tanto tempo que nem lembrava mais como era escrever uma história. Mas cá estou agora, tentando recuperar a prática e, com isso, também tentar recuperar um pouco da garota que eu era quando fiz essa conta.
Isso porque a vida vai levando a gente, como uma correnteza e, por ser mais fácil, a gente deixa de tentar nadar contra e apenas deixa te levar. Só que no caminho você vai deixando partes de si serem levadas e lavadas pela água, até ficar quase sem nada... Mas aí, você percebe que está se perdendo. Eu percebi isso. Percebi que sentia falta das partes que eu perdi de mim mesma no caminho. Eu estou nadando contra a correnteza agora e estou aqui agora.
Eu espero que, quem quiser, possa acompanhar essa jornada.



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