Black Annis: A Coisa que Nos Uniu escrita por Van Vet


Capítulo 3
O Limite da Amizade


Notas iniciais do capítulo

E aí, turma? Tudo bem?

Capítulo três chegando sem atraso essa semana, o que foi uma sorte visto que eu não vou ter nenhum tempo nos próximos dias. Na verdade, estou muito empolgada com essa fanfic e não quero faltar com vocês.

Nesse capítulo retornamos ao passado para ver mais um pouco da turma quando criança. Foi um capítulo super gostosinho de escrever, espero que gostem.

Também sinto falta do feedback de todos. Vejo que tem um pessoal seguindo, o que é muito bom, mas seria importante para eu saber o que acharam do capítulo de Gina... E desse também, claro!

Sem delongas, ótima leitura e feriado.
Beijos!



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Rony estava se sentindo muito cansado enquanto assistia a tediosa aula de matemática do primeiro período, porque havia passado a madrugada de domingo vendo televisão escondido na companhia de Gui, seu irmão mais velho. Sua mãe era rígida em alguns aspectos, incrivelmente flexível em outros, mas algo que ela fazia questão de manter como regra primordial era sobre levar a escola a sério. Qualquer filho que estivesse na escola, ainda que Rony já não fosse mais uma criancinha, deveria dormir cedo para enfrentar a aula do dia seguinte de corpo e mente descansados.

Ele bocejou pela segunda vez, desviando o olhar da Srta. Joane Parkins a todo o vapor enchendo o quadro-negro de fórmulas esquisitas envolvendo letras e números no mesmo colchete, sua cabeleira loira e armada chacoalhando ao ritmo da escrita. Olhou então pela janela, procurando distração melhor, no momento exato para ver a outra turma do primeiro ano saindo para a aula educação física, nos jardins. O sono rapidamente o abandonou, a atenção fisgada para as garotas de short azul-marinho curto e camiseta branca apertada, formando uma fila indiana para entrarem no campo para jogar vôlei. Havia muitas garotas bonitas ali, mas elas eram apenas corpos atraentes na malha fina, não tinham o brilho especial que Rony encontrava somente nela… Hermione Granger. Ela era a última do grupo, segurando a bola debaixo do braço, certamente como líder do jogo, conversando amigavelmente com a garota da frente.

Por que aquela garota o irritava tanto e inebriava seus sentidos na mesma intensidade? Se perguntou, após um suspiro. Eles não tinham nada a ver. Hermione não tinha nada a ver com o restante do grupo, aliás. Era estudiosa, aplicada, certinha, de uma família mais rica que o resto deles, e sim… era bonita a beça. Ou havia se tornado bonita ao longo dos anos, Rony não se lembrava exatamente quando olhou para Hermione Granger e percebeu que seus dentes não eram mais tão avantajados e seus cabelos volumosos muito o agradavam. De resto, entretanto, ela era a insuportável de sempre.

A amizade entre eles nasceu no ginásio, a garota ajudando Harry e ele nas matérias em troca de alguma companhia no intervalo. Aquele começo foi difícil para Mione, sofrendo episódios de exclusão pelas outras meninas e demais estudantes até se firmar na escola. Agora ela não parecia mais precisar do apoio dos dois, havia se tornado amigável e importante em outros grupos sociais, e nem da mesma classe eles eram mais… Contudo, ainda assim, continuava escolhendo o “sardento” e o “caolho” como sua trupe principal.

Harry dedicou um fitar aflito para o amigo, sentado uma fileira ao lado, mas não teve tempo de alertá-lo sobre a Srta. Parkins, que estava prestes a perguntar a ele sobre o resultado da questão número cinco.

─ Weasley! ─ exclamou a mulher batendo a régua na mesa dele e assustando o menino ruivo ─ Pare de secar as garotas da outra turma com os olhos e preste atenção à matéria!

A classe inteira riu da observação da professora, Rony enrubescendo loucamente nas bochechas e nas orelhas àquela chamada. Harry lamentou pelo amigo, mas teve de se controlar muito para não rir no embalo dos outros.

─ E então? Qual é a resposta da questão cinco?

─ Ah… A questão cinco? É… Bem, deixa eu ver ─ ele folheou o caderno consultando suas linhas em branco com atenção ─ É… É o número de X?

─ Não me enrole. Fez a questão? ─ a mulher o mirou de cima, o rosto duro como uma parede de granito.

Rony suspirou pesaroso, antevendo a bronca que levaria por ser, novamente, tão desleixado nas atividades em classe. Ele não entendia nada, não se importava com nada, só queria que o sinal batesse para o intervalo ou para a saída da aula. Esses eram os momentos mais benditos do dia.

─ Acho que eu não entendi… ─ resmungou, os lábios crispados.

─ Sem problemas, Sr. Weasley. Você passará o final da aula comigo tendo reforço da matéria ─ a professora sentenciou, alegremente.

Rony sentiu um embrulho ruim no estômago e fechou os olhos. Por dentro, praguejou Hermione Granger.

***

─ Pensa pelo lado positivo… Sua mãe não vai te dar bronca por saber que você ficou estudando mais ─ Harry argumentou para tentar animar o amigo, abrindo o seu armário no corredor e colocando a bolsa lá dentro.

─ Você tá brincando, né?! ─ Rony olhou para ele com uma revolta implacável, depois de massacrar seu material escolar entre as prateleiras de ferro e bater a porta com um estrondo ─ Aí sim que ela vai me encher o saco ─ bufou, frustrado.

─ É, acho que tem razão ─ Harry acabou por concordar, ajeitou os óculos, colocou a chave no bolso e seguiu pelo corredor na companhia do amigo penalizado.

Os dois atravessaram à escola em direção ao pátio externo, seguindo o fluxo de alunos no intervalo. Era uma manhã ensolarada e quente de verão, tão iluminada e alegre que parecia difícil acreditar que na noite de sábado Adam Fuller fora encontrado morto na floresta, perto dali. Entre os grupinhos de estudantes o assunto em comum era sobre este bizarro ocorrido na pacata Twinbrook, sussurrado com ares de mistério e euforia pelas crianças e jovens. Harry, Rony e Hermione, entretanto, se tornariam o alvo das informações detalhadas ao longo da semana inteira.

Os dois meninos se sentaram nos bancos de pedra, debaixo das árvores de pinheiro plantadas ao redor da escola, e aguardaram a chegada de Hermione enquanto abriam seus lanches. Para Harry, a mãe havia lhe preparado um delicioso sanduíche de queijo, requeijão e peito de peru acompanhado de uma garrafinha com suco natural. O lanche de Rony, mais modesto, cheirava a mortadela, o pão ainda enrolado no papel filme, amassado como um cadáver que precisa ser oculto para não feder muito. O garoto fez uma careta de desagrado ao terminar de desembrulhar, mas mordeu o pão mesmo assim.

─ Vai ter que ficar depois da aula, é? ─ Hermione aproximou-se dos garotos, indo se sentar ao lado de Harry.

─ Car-amba… Coô-mo a fofoca corre ness escola ─ Rony comentou de boca cheia, a testa franzida de irritação.

─ Era o que Lilá Brown e as meninas estavam falando pelos corredores ─ Hermione deu de ombros, indiferente. Então abaixou o rosto para sua bolsinha térmica e murmurou numa estranha afirmação ─ Você ficou secando as garotas da minha turma.

─ O QUE?

─ Eu acho o motivo válido, se quer saber. Vocês estavam todas de shorts para a aula de educação física. Uma cena mais agradável do que a Srta. Parkins. ─ Harry anuiu em defesa do amigo, mal sabendo que deixara as coisas ainda piores para Rony, que enrubesceu de novo.

─ NÃO É NADA DISSO! ─ o acusado terminou de engolir o lanche de mortadela para defender-se.

─ Realmente não me importo ─ a garota de cabelos fartos, respondeu. A tez fria, tentando parecer um rochedo de indiferença ─ Só espero que não tenha ficado secando as minhas pernas, afinal eu estava no meio delas.

─ O QUE? ─ Rony exclamou pela segunda vez, o rosto um pimentão fumegante ─ Pa-para de ser convencida, Granger! Eu nunca ia olhar para você desse jeito ─ Hermione o encarou com um quê de desapontamento, que ele fingiu não perceber ao reiterar ─ Não te vejo desse modo. Sai pra lá!

─ Que bom! ─ ela rebateu de queixo erguido e dando uma mordida na maça lustrosa em suas mãos, desviando o olhar para o pátio.

─ Só parem ─ Harry bufou, pedindo pelo fim da tensão entre os amigos.

Era duro estar ao lado de duas pessoas cabeça-dura, turronas e, invariavelmente, orgulhosas. Outras vezes, entretanto, ele se pegava pensando na vantagem daquele atrito. O dia em que Rony e Hermione dessem o braço a torcer ele poderia acabar “sobrando”.

Um trio de colegas da mesma classe dos meninos, encaminhou-se na direção deles debaixo das árvores. Dino, Simas e o deslocado Neville, aproximaram-se, perguntando:

─ É verdade que vocês viram o corpo de Adam Fuller? ─ quis saber Dino, curiosíssimo.

─ Eu disse que a fofoca corre rápido por aqui ─ Rony informou ao ar ─ É sim. Fomos nós.

─ É aí? ─ Dino e Simas perguntaram em uníssono. Neville Longbottom apenas ergueu as sobrancelhas, embora parecesse muitíssimo interessado.

─ E aí que eles tiraram o corpo de dentro da Boca do Diabo. Alguém jogou ele lá depois de ter cortado a barriga dele no meio ─ Harry pautou, unindo a informação disponível do furo de reportagem do jornal a suas próprias deduções.

─ Foi uma coisa bem feia de se ver…

─ Na verdade, a gente não viu muita coisa ─ Hermione ergueu o dedo e atropelou a dramaticidade de Rony com seu ar de ceticismo ─ Os bombeiros desceram para pegar ele na caverna…

─ BOCA DO DIABO!

─ Caverna! ─ ela respondeu encarando o amigo ruivo incisivamente. Harry respirou fundo, entediado ─ Depois amarraram o corpo dele aquelas mantas protetoras e içaram dali, mas nós estávamos longe para ver detalhes.

─ Só que dava para ver que a barriga tava manchada de sangue.

─ Não dava não.

─ Claro que sim.

─ Enfim, nós vimos o corpo do Adam sendo resgatado ─ Harry intrometeu-se entre os dois, dirigindo-se para os outros colegas ─ O que deu pra ver, com certeza, é que ele estava mortinho da Silva. O corpo tava duro, parecia um pedaço de graveto ressecado, igual a esse ─ e ergueu um galho que estava na pedra, ao lado de sua perna, lançando-a ao ar, na direção dos amigos curiosos.

Neville tomou um baita susto, fazendo careta de espanto e tombando de bunda na terra. Simas, Dino e Rony riram da cena, assim como alguns alunos próximos ao grupo. Harry, contudo, se sentiu levemente constrangido, tanto pelo olhar reprovador de Hermione quanto pela condição de chacota a que submeteu Neville. A vida de Longbottom já não era fácil na escola e aquele tipo de situação apenas pioraria as coisas.

─ Foi mal, cara… Era brincadeira ─ Harry pediu, ajeitando os óculos desconcertado enquanto Neville levanta-se corado de humilhação.

 

***

Na saída da escola, Harry despediu-se de Rony, que não poderia acompanhá-lo porque tinha reforço de matemática até mais tarde, e de Hermione, pega de carro pelo pai advogado, e subiu em sua bicicleta, percorrendo a cidade em direção a sua casa.

Ele gostava de cortar caminho, emparelhando junto ao trilho de trem, porque o percurso era mais tranquilo, embora desafiador com mais mato e pedregulhos para desviar. Os carros e pedestres nunca tornavam os passeios na bike tão satisfatórios quanto o da natureza da cidadezinha. Após a segunda intersecção da avenida, virou a esquerda e seguiu na direção das campinas, onde os trilhos corriam.

Em sua mente, Harry ainda remoía a brincadeira infeliz de mais cedo. Neville era um garoto transferido de outra escola e isso, por si só, já tornava difícil sua adaptação na escola. O fato dele ser gordo, dentuço e cabeludo, além de se vestir de um jeito esquisito, somente piorara as coisas para o lado do garoto. No dia seguinte, quando o revisse, pediria desculpas.

Esse era o lado bom de Gina não estudar na mesma escola que eles. Não ter testemunhado o lado imbecil de Harry, porque no fundo ele sabia que aquele galho só surpreenderia Neville. Com Gina, ele ainda conservava pontos de bom moço. Da culpa para seu primeiro amor, a mudança nos pensamentos foi de um pulo. Começou a imaginar os detalhes do rosto sardento daquela linda garota da periferia de Twinbrook e como ansiava por revê-la toda vez que eles se separavam. Naquele fim de semana próximo, infelizmente, Harry teria de acompanhar os pais até outro estado para visitar a avó, e ficaria mais de quinze dias sem encontrar com a ruiva. Triste realidade de um garoto de treze anos.

Enquanto pedalava e sonhava, Harry teve sua atenção pescada por uma movimentação no mato, a direita dele. Reduziu a velocidade, temendo ser algum animal selvagem à espreita, mas viu ninguém mais ninguém menos do que Neville Longbottom sair do matagal. O garoto passou correndo numa disparada alucinada, o máximo que suas pernas roliças permitiam, atravessou o trilho e se emprenhou no mato outra vez. Apenas alguns segundos atrás dele, três outros meninos passaram gritando e rindo maldosamente, atirando pedras na direção de Neville.

Harry apoiou o pé no chão, acompanhando a cena como um mero expectador. Então Draco Malfoy, aquele filho da mãe sádico, cravou os olhos nele por um segundo. Crabbe e Goyle continuaram andando à caça de Neville, sequer notando que estavam sendo observados, dois rinocerontes obcecados por um objetivo cego.

─ E aí, Potter, quer fazer parte da brincadeira? ─ gritou Malfoy.

Harry apenas semicerrou os olhos, petrificado. Odiava Malfoy de todo o coração, desde o primário quando ele emburrou-o da escada e o fez fraturar o braço. Draco acenou cinicamente para Harry e seguiu os amigos gorilas, perdendo o interesse nele.

O menino permaneceu estático decidindo-se pelo que fazer, e muitos minutos se passaram até que ele saísse daquele transe paralisante, e prosseguisse para casa, atordoado.


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