Black Annis: A Coisa que Nos Uniu escrita por Van Vet


Capítulo 18
O Desaparecido e Bunker


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas!!!

Vamos lá para a atualização da semana? Essa demorou um pouquinho para entrar mas deve compensar, afinal foi muito gostoso de escrever esse capítulo!

Beijos e agradecimentos mais do que sinceros a essa gente maravilhosa que comenta e me incentiva a continuar postando. Para todos uma ótima leitura!

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Alice Longbottom não sabia ao certo como reagir na presença de tantos adolescentes encantadores. Ela sabia, entretanto, que seu coração estava exultante por ver o filho trazer amigos para a casa. Neville entrou pela porta da sala apresentando-os, um a um: Harry Potter, o menino de cabelos arrepiados, óculos de grau e ar de liderança encabeçava a trupe; Ronald Weasley, da grande e ruiva família Weasley, vinha logo atrás; Hermione Granger, uma mocinha de madeixas volumosas e modos educados era a terceira a cumprimentá-la; Ginevra Wood, de corpo longilíneo e aspecto sagaz, que saudou a Sra. Longbottom por último.

Alice ficou encarando o filho, surpresa, querendo entender de onde vinham aqueles novos amigos. Com uma piscadela rápida, Neville parecia envergonhado, disse a ela que eles eram amigos de escola e partiu para o principal motivo da visita vespertina:

─ Nós vamos até a garagem do papai atrás daquela placa de ferro que ele não usa para nada.

─ A que ele achou na estrada e pretendia fazer um carrinho de rolimã para você há dois verões?

─ Essa mesma ─ Neville confirmou.

─ Eu tenho um carrinho de rolimã. Quer dizer, originalmente era do meu irmão mais velho, o Gui. Tirei uma tampa do dedão com ele e tenho a cicatriz até hoje, mas ainda deve estar perdido lá no porão de casa ─ Rony comentou avulsamente.

─ Ninguém te perguntou nada ─ Hermione o provocou com uma expressão desdém. Por algum motivo irrelevante, no curto intervalo da floresta até a casa dos Longbottom, eles estavam soltando farpas a esmo um para o outro.

─ Muito bonita sua casa, Sra. Longbottom ─ Harry disse por cima dos amigos, dando o seu máximo para evitar que Rony destruísse a impressão deles aos gentis olhos da mãe de Neville com alguma resposta atravessada para Hermione ─ A senhora tem um sofá bem grande!

─ Obrigada, Harry ─ Alice sorriu, lisonjeada ─ Vocês moram aqui por perto?

─ Eu, Rony e Mione moramos em bairros perto do centro. Gina mora próximo a saída oeste da cidade.

Rony, Mione e Gina. Então era assim que Ronald, Hermione e Ginevra eram chamados, pensou Alice querendo captar todos os movimentos daqueles jovens para poder agradá-los ao máximo. Ela sabia que aquele tipo de amizade era o que Neville precisava. E espere só até eu contar as boas novas para Frank!

─ Hum… Não conheço os bairros da saída oeste. É um lugar bom de se morar? ─ Alice perguntou para Gina.

─ É normal ─ disse a menina, um pouco de reticência.

─ E vocês querem tomar um refresco? ─ Alice buscou satisfazê-los ─ Suco ou refrigerante?

─ Nós estamos ocupados, mãe ─ Neville interveio com impaciência.

─ Não, tudo bem ─ Harry aceitou de bom grado. Aquilo era uma coisa de que as mães gostavam, ele sabia. Afinal, Lily Potter adorava afogar Rony em litros de sucos de laranja quando o via em casa ─ O que a senhora tiver está ótimo.

Alice sorriu radiante e encaminhou-se para a cozinha, os adolescentes a seguindo de perto. No caminho, Harry voltou a frisar para o novo amigo como a casa deles era ótima.

─ Vocês mora aqui desde pequeno?

─ Ah sim ─ Neville concordou ─ Tá vendo aquele corrimão ali? Foi lá que ganhei essa cicatriz quando tinha quatro anos ─ e apontou para um risco pálido no joelho esquerdo.

─ E dá pra ver todo o quintal da cozinha ─ Gina observou ao adentrarem no cômodo ─ É bonito e deixa tudo claro. Nunca tinha visto uma casa com tantas paredes de vidro antes.

─ É… é diferente ─ o menino respondeu com simplicidade.

─ E dá um trabalhão de limpar ─ Alice emendou depositando refrigerante de limão e suco de uva na bancada principal ─ Sentem-se.

─ Mas a senhora faz tudo sozinha? Me parece muita coisa ─ Hermione comentou, servindo-se de suco.

─ A minha faz ─ Rony rebateu para provocá-la ao mesmo tempo que atacava o refrigerante.

─ Por que você é um imprestável que poderia muito bem ajudá-la, Weasley! Ela é sua mãe, não a sua empregada.

Os demais ao redor da bancada, inclusive a Sra. Longbottom, riram com gosto das picuinhas da dupla.

─ Sendo completamente justa, Neville e meu marido sempre me ajudam ─ ela respondeu ─ Neville arruma seu próprio quarto desde os onze anos e quando o assunto é água e sabão, ele está sempre disposto a colaborar.

─ Já que não tem clube por aqui com uma boa piscina é divertido tomar banho de mangueira no verão enquanto limpo o quintal ─ ele justificou-se para os demais, que voltaram a rir.

─ Bem, tenho algumas coisas para fazer, portanto vou deixá-los agora ─ Alice comunicou para dar mais privacidade ao filho e seus amigos ─ Não esqueça de fechar a garagem quando sair, querido. E quanto a vocês todos, estão mais do que convidados a nos visitarem sempre que quiserem.

─ Obrigada, Sra. Longbottom ─ disseram os quatro em uníssono.

***

  Depois dos minutos agradáveis na casa dos Longbottom, onde a turma pôde se refrescar um pouco e pegar os aparatos necessários para continuar a construção que executavam na floresta, Harry e Rony, com a ajuda de cordas e do nó náutico que Gina aprendera a fazer na televisão, atrelaram a pesada placa de ferro as suas bicicletas e puseram-se a pedalar.

O calor era escaldante já as nove e meia da manhã e os jovens suavam um bocado pelos acostamentos de Twinbrook, sempre a procura de uma generosa sombra para aliviá-los.

Para a sorte do grupo, a casa de Neville não ficava tão longe do local onde o Clube dos Perdedores – Hermione torceu o nariz para aquele nome ofensivo, mas no fim Harry a convenceu de sua irônica originalidade – seria arquitetado.

Estavam há poucos metros de entrarem na trilha marcada na floresta, quando uma viatura da polícia aproximou-se do quinteto em suas bikes, estacionou junto ao meio-fio e os fez pararem mais atrás.

Por um instante, Neville sentiu-se tenso achando que eles estavam fazendo algo muito errado ao arrastar a placa pelo asfalto e produzirem um barulhão por onde passavam, mas a pose descontraída dos demais lhe deu algum sossego.

Dois homens saíram da viatura de polícia. No banco do carona estava o imenso e peludo, oficial Rúbeo Hagrid, o primeiro a deixar seu assento e a acenar simpático para os adolescentes ao mesmo tempo que o carro erguia uns bons centímetros do chão. O motorista era um homem mais velho, mas que transparecia o mesmo ar despreocupado que seu subordinado.

─ Boa tarde, meus jovens ─ cumprimentou o Delegado Dumbledore.

Toda vez que Harry colocava seus olhos naquele senhor era inevitável seus pensamentos não voarem longe sobre a idade do delegado e sua vitalidade atípica. James Potter contava histórias do passado, quando ele era bem novo e Dumbledore já era um veterano de barba toda branca e olhinhos azuis minuciosos. Eu daria uns noventa anos para o delegado, com certeza, filho, afirmava.

Ele tinha aparência excêntrica também. Cabelos grisalho compridos e frouxamente amarrados para trás, óculos de meia-lua apoiados no nariz fino e levemente torto e uma tez tranquilizadora. Lily Potter dizia que ele apenas não havia superado a era hippie, mas para Harry o senhor parecia uma espécie de Merlim dos contos arturianos transportado para Twinbrook com a ajuda de vórtex maluco.

─ Boa tarde, policiais ─ Harry os cumprimentou de volta.

─ O que estão fazendo aí de interessante? ─ o homem perguntou espiando a placa de ferro presa a bicicleta dos meninos.

─ Só vamos construir uma coisa.

─ Entendo, interessante. Espero que fique bom.

─ Alguém nos denunciou pelo barulho? ─ Neville perguntou num tom tenso.

─ Talvez ─ Dumbledore fitou o menino atentamente ─ O senhor já tem passagem criminal, Sr. Longbottom? Isto poderia encrencá-lo de verdade, sabia?

─ Ah… eu… ─ o rosto de Neville ficou muito corado.

─ Ele tá só zoando ─ Gina deu uma cotovelada gentil no amigo e riu.

Harry, Hermione e Rony também riram, mas suas risadas estavam um pouco engessadas. Por mais que o delegado Dumbledore fosse conhecido por ser amigo e dado a um pouco de descontração com a juventude, não era comum o homem sair da estação policial. Muito menos parar a viatura exclusivamente para perguntar a eles sobre o que quer que fosse.

─ Vocês estão indo na direção da floresta? ─ perguntou o senhor.

─ Sim ─ Harry admitiu.

─ Harry, eu disse para você que é perigoso! ─ Hagrid o alertou por detrás dos seus vinte quilos de pelos faciais.

─ Mas nós estamos perto e não entramos na mata pra valer ─ Hermione argumentou cautelosa.

─ Mesmo assim v-

─ Tudo bem, Hagrid. Tudo bem ─ Dumbledore tranquilizou seu oficial num tom de voz pacifista, porém que encerrava a questão ─ O que há para se fazer de bom nesta cidade quando se é uma criança? Deixe que eles inventem suas brincadeiras e explorem um pouco a redondeza.

─ Obrigado, senhor ─ Harry agradeceu.

Dumbledore o encarou por um tempo, seu olhar azul quase hipnotizando o garoto, então ele focou a floresta atrás deles e disse soturnamente:

─ Acredito quando a senhorita Granger diz que vocês estão por perto e isto é o que importa. Hagrid está certo sobre a floresta. Ela é profunda e pode ocultar alguns, digamos, perigos. É importante também que vocês não fiquem andando por aí sozinhos. Em grupo, como estão fazendo agora, é o ideal.

─ Certo ─ Harry confirmou, achando aquele papo todo rígido demais ─ Pode confiar em nós.

─ Eu sei que posso ─ Dumbledore sorriu para eles.

Os meninos acenaram positivamente e se preparam para entrar na trilha, mas foram impedidos pelo chamado do velho delegado outra vez:

─ Mais uma coisa, meus jovens ─ ele retirou um papel de dentro do bolso da camisa e somente quando Harry voltou a aproximar-se notou ser uma fotografia ─ Vocês viram este garoto recentemente?

O rosto que os encarava da foto era de Gregory Goyle.

─ Na escola ─ Rony, uma cabeça mais alto que o amigo respondeu por cima do ombro de Harry ─ Há uma semana quando as aulas acabaram, acho.

─ É, por aí ─ Harry concordou lembrando do episódio com Malfoy e Crabbe, dias atrás. Naquela vez a ausência de Goyle já havia sido sentida pelos garotos.

Neville crispou os lábios forte e apenas mirou a imagem de Goyle em silêncio. Ele já era um garoto muito branco, portanto ninguém reparou como sua cor se tornou mais pálida.

─ O que aconteceu? ─ Hermione quis saber.

─ Não sabemos ao certo ─ Dumbledore suspirou, guardando a fotografia no bolso ─ Pode ser que ele tenha ido dar um passeio com amigos e esqueceu de avisar aos pais. De qualquer forma ─ começou a caminhar para a viatura ─ obrigado pelo tempo dos senhores e das senhoritas e… boa construção!

─ E se hidratem porque este sol está de matar qualquer um ─ acrescentou Hagrid em voz alta para os meninos e entrou no carro também.

 

***

─ Meu Deus! Acabou! ─ Rony jogou a pá para cima e exclamou exausto se jogando no chão para tomar um fôlego. Hermione e Gina aproximaram-se da borda do buraco e encararam os três meninos embaixo, seus rostos não menos suados.

O projeto era cavar um buraco na terra que fosse retangular e grande o suficiente para caber os cinco sentados com conforto. Uma vez cavado, então eles tapariam o buraco com a chapa de ferro do pai de Neville, criariam uma cama de folhas com um mecanismo que pudesse ocultar a chapa assim que eles se fechassem ali e voilà: o bunker do Clube dos Perdedores estaria pronto.

Na prática do processo três pás não valiam muito quando o trabalho braçal era composto por adolescente magricelas e desajeitados, uma escada que precisou ser improvisada com cordas para entrar e sair do buraco (e isto dispendeu mais duas saídas para a sua procura), o bunker ter ficado totalmente as escuras e abafado— nada foi mais trabalhoso do que criar furos com a chave de fenda do Sr. Weasley na placa de ferro para consertar este erro—, e o calor realmente de matar, mesmo na sombra reconfortante das copas das árvores, como Hagrid havia dito.

No total foram necessários sete horas para a construção do abrigo secreto deles e faltavam poucas horas para anoitecer quando enfim terminaram.

─ Venham logo ─ Rony exigiu que as duas entrassem depois de recuperar-se um pouco do cansaço ─ Vamos ver se essa joça deu certo mesmo ou está muito engraçado ficarem olhando para nossa cara daí?

─ Está engraçado ─ Gina riu, olhando-os de cima com um quê de superioridade.

Harry não diria nada quando ela descesse, mas a ruiva estava com uma manchinha de terra graciosa no pescoço nu que só servia para deixá-la mais bonita.

─ Essa corda é segura? ─ Hermione perguntou, se prontificando a descer pelo lado demarcado.

─ Não sei, pergunta pra ela ─ Rony deu de ombros. Hermione lhe lançou um olhar congelante ─ Ora, pule de uma vez! A altura não é tão grande assim.

─ Ah, não enche, garoto ─ ela bufou, tateando a corda com o pé.

─ Eu te ajudo, Mione ─ Neville se levantou de onde estava e solícito tratou de mostrar para a amiga onde ela deveria apoiar os pés para descer. Rony olhou para aquela cena meio atravessado.

Do outro lado, Gina simplesmente acatou a ideia do garoto de cabelo da mesma cor e pulou para dentro.

─ É, é uma queda pequena ─ ela concordou prática e foi se sentar ao lado de Harry ─ É fresquinho aqui dentro… gostei.

─ Talvez tenhamos que colocar umas tábuas depois pra não sujarmos a roupa na terra ─ Harry comentou percebendo como os joelhos dele estavam quase encostando nos de Gina no espaço estreito. Joelhos alvos e delicados.

─ E se eu estico a mão ainda tem um metro para chegar ao topo ─ o perfume do cabelo dela, amarrado em um rabo de cavalo firme, se desprendeu de sua cabeça direto para as narinas do garoto quando fez o gesto de erguer o braço ─ Parabéns, senhor Potter.

─ Igualmente, senhorita Wood ─ ele fez uma pequena e engraçada reverência.

De volta ao outro extremo, Hermione já havia descido e tentava puxar a corda que derrubaria a tampa sobre o buraco os encerrando ali. Ela e Neville estavam nas pontas dos pés, quase alcançando o objeto quando Rony se levantou, esticou a mão para a corda e deitou a chapa sem esforço algum. Metade da luz foi embora para eles dentro do esconderijo, mas como haviam feito os buracos menores na superfície, conseguiam enxergar alguma coisa lá dentro.

─ É simples ─ Rony sorriu com satisfação.

─ É melhor dar um jeito nisso depois, porque não podemos sempre depender da sua majestosa altura para fechar o bunker ─ ela resmungou e foi sentar-se ao lado de Neville.

Os integrantes do Clube dos Perdedores ficaram algum tempo calados, absorvendo o ambiente secreto que haviam criado naquela tarde de verão. Cansados sim, mas também jubilosos de terem montado aquilo juntos. Gina olhou para as paredes de terra e imaginou que Harry tinha tido mesmo uma grande ideia ao mencionar as tábuas de madeiras internas, tudo seria bem mais aconchegante com elas. Neville pensou que poderia trazer alguns pôsteres seus de filmes icônicos para dar um ar descolado ao local. Rony imaginou que poderia pedir a velha lamparina do pai para dar um pouco mais de luz ali dentro, principalmente para os dias nublados. Hermione pediria, fez uma nota mental, para que Ame lhe costurasse algumas almofadas aconchegantes de presente de aniversário para que todos ficassem confortáveis e se sentissem bem ali.

O que importava, entretanto, é que aquele era um canto deles, criado por eles, e uma poderosa forma de consolidar a amizade daquele grupo de adolescentes.

─ Como o delegado sabia quem eu era? ─ Neville perguntou a ninguém em especial, quebrando o silêncio.

─ Eu também gostaria de saber. Ele claramente me chamou de “senhorita Granger”.

─ Pode ser que Hagrid tenha dito algo, mas eu acho que ele já sabia. Meu pai disse que o Delegado Dumbledore é assim mesmo ─ Harry argumentou ─ Conhece a tudo e a todos… Aliás, vocês não acham…

─ Que ele parece com um mago druida? ─ Gina completou rindo.

─ Isso mesmo! ─ Harry exclamou exultante.

─ É, eu achei mesmo que em algum momento ele tiraria uma mágica de dentro do bolso ─ Neville incrementou a fantasia ─ Eu sempre imagino o Merlim mais ou menos daquele jeito quando leio sobre o Rei Artur.

─ Você lê sobre o Rei Artur? ─ Rony perguntou.

─ Qual o problema? As pessoas leem, Rony ─ alfinetou Hermione.

─ Eu sei, Sabe-Tudo. Não estou debochando, tá legal? Eu quero começar a ler algo e pensei que… não sei… histórias sobre o Rei Artur podem ser legais. Quer dizer, ele foi importante e tudo mais.

─ Rony, você sabe que o Rei Artur é uma lenda, não sabe? ─ Harry se esforçou para segurar o riso.

─ Ah, eu sei mas… ─ o garoto ficou corado.

─ Caramba, Rony, quando a Mione diz que você precisa estudar mais ela não está sendo exagerada ─ Gina espantou-se e depois gargalhou.

─ Tá bom, tá bom. Parem de ser infantis!

─ Cara, eu te empresto alguns dos meus livros sobre ele sem nenhum problema ─ Neville ofereceu gentilmente.

─ Muito obrigado, Nev ─ o outro aceitou ─ Pelo menos alguém aqui não está preocupado em só ficar zombando da minha cara.

─ Coitadinho ─ Harry revirou os olhos ─ Como se estivéssemos caçoando de um santinho.

─ Aproveite para zombar de mim agora que não precisa mais, meu caro. Há duas horas quem cavou metade desse buraco sozinho fui eu.

─ Quê?

─ A Gina e o Neville cavaram um bocado também ─ Hermione opinou cheia de propriedade.

─ Harry, você precisa comer mais arroz, amiguinho. Eu vi como parecia que estava carregando o mundo quando levantava aquele punhadinho de terra pra cima ─ Rony debateu.

─ Você quer mesmo medir forças? ─ Harry arregaçou a manga da camiseta e ergueu o punho ─ Vem! Queda de braço. Agora.

─ É sério isso? ─ disse Hermione. Neville, ao lado dela, ria alto do alvoroço todo.

De um jeito muito desajeitado, os dois se engalfinharam numa queda de braço no ar, o que obviamente era uma grande perda de tempo uma vez que tudo o que conseguiam fazer era ficarem puxando um ou outro pela mão.

─ Eu vou mostrar como se faz ─ Gina se intrometeu entre os meninos e tomou a mão de Rony ─ Apoie o cotovelo no chão e eu acabo de uma vez por todas com essa dúvida sobre quem é o mais forte.

Desconfiado, Rony aceitou o desafio enquanto Harry recuava com uma expressão curiosa no rosto. O duelo pareceu acirrado nos quatro primeiros segundos, mas então Gina, de alguma forma, levou a melhor e ganhou.

─ Não valeu, você assoprou a minha cara ─ o menino lamentou.

─ Valeu sim. Valeu muito ─ Hermione comemorou, mais do que realizada pela vitória da amiga e bateu os tênis na terra.

─ Quer vai ser agora? ─ Gina estralou os dedos com ar de vencedora ─ Harry?

─ Não, se você derrotou o cara mais incrivelmente forte daqui, imagina o que fará comigo.

─ Covarde ─ ela o provocou e ficou encarando-o por algum tempo. Tempo suficiente para o coração de Harry sair pela boca com tanta beleza e doçura o fitando.

─ Eu acho que sou.

─ Hum, sei.

─ Gente, mudando o foco aqui um pouco… ─ Rony interrompeu o curioso desenrolar de palavras e olhares entre os dois amigos.

─ Tá querendo mudar de assunto pra ver se a gente esquece, é? ─ Hermione quis saber.

─ Senhorita Granger, vá ver eu estou na esquina. Grato.

─ Uuh… essa foi forte ─ Neville assoviou, entrando no clima. Todos riram novamente, inclusive Mione e Rony.

Harry complementou o amigo assim que a nova rodada de risos terminou.

─ Eu sei sobre o que você vai falar. Onde o Goyle se meteu?

─ Mais uma das coisas estranhas que andam acontecendo nessa cidade…

─ Que nunca foi normal para início de conversa ─ emendou Gina ─ Quem era aquele garoto?

─ Um imbecil da nossa escola ─ Harry informou-a ─ Um imbecil, mas, mesmo assim, alguém da nossa idade e que anda nos mesmos lugares que nós.

─ Será que eles perguntaram para a Doninha, por acaso?

─ Certamente. Deve ter sido um dos primeiros. Ele e Crabbe ─ Hermione respondeu ─ Mas Goyle não parecia ter outros amigos para fugir da cidade com eles como sugerido pelo delegado. Ele sempre foi unha em carne com Malfoy e Crabbe…

─ Eu o vi ─ disse Neville baixinho.

─ O que? ─ Harry franziu o cenho para o menino.

─ Eu disse que o vi. Foi naquele dia que estava fugindo do Malfoy e dos outros. Goyle era um dos garotos que estava me perseguindo.

Os quatro olharam para Neville, cheios de expectativa. Para Neville relembrar aquele dia era doloroso, mas algo lhe assegurava que estava com pessoas de confiança para tal confissão. Pessoas que o ajudariam a entender a coisa sinistra que andava rondando-o. Pessoas que não o chamariam de maluco. E, para falar de Goyle, era preciso falar Daquilo.

─ Eu ando vendo umas coisas estranhas… Não sei se é minha cabeça ou não, mas parece que tem um cara fantasiado de palhaço circulando pela cidade e acenando para mim de um jeito muito, muito bizarro, quando o vejo. Ele tem balões….

─ Balões vermelhos? ─ Harry perguntou quase sussurrando. Neville confirmou com a cabeça.

─ Como assim? Um desconhecido vestido de palhaço por aí? ─ Hermione parecia arrepiada.

─ Será o cara que matou o Adam Fuller? ─ Rony perguntou baixinho.

─ Ele não parece um… um cara ─ Neville externou.

─ Era o que então? Uma mulher?

─ A segunda vez que eu o vi foi quando Malfoy e os outros me atacaram e, por algum motivo, eles não o viram naquele dia. Eles poderiam, mas não o viram.

─ Eu não estou entendendo nada ─ Rony se encolheu, desconfiado.

─ Eu sim ─ Harry molhou os lábios, que de repente haviam ficado muito secos ─ Eu não vi nenhum palhaço, mas no dia da minha festa de aniversário algo estranho aconteceu comigo também e, entre outras coisas, eu vi um balão vermelho flutuando na lata de lixo. Era um balão, mas ele não parecia ser um balão…

─ E onde Goyle entra nisso tudo?

─ Eu estava na estrada aquele dia ─ Neville recordou ─ E então esse palhaço apareceu do outro lado do acostamento como que do nada. Ele ficou lá acenando para mim com os balões na mão quando Malfoy chegou e outro garoto que estava com ele começou a me cortar ─ a garganta se tornava seca e as mãos úmidas ao reviver o fatídico dia ─ Aquilo… Aquilo não fez nada para me ajudar, mas ficou aplaudindo, se divertindo, enquanto eles me sangravam.

─ Meu Deus ─ Hermione encolheu-se toda e Rony, voluntariamente, sentou-se do outro lado dela e roçou em sua mão que estava apoiada no chão.

─ Aí eu me joguei para trás do cercado e escapei pela floresta…

─ Sim, você nos contou isso ─ Harry anuiu.

─ Pois é… Só que eu omiti uma parte ─ se preparou para dizer ─ Goyle quase me pegou naquele dia. Eu estava muito cansado e entrei em um cano de esgoto, esses grandes que tem espalhados pela floresta, para me esconder e me recuperar da perseguição. De algum modo, não sei como, Goyle estava do outro lado da grade. Ele estava dentro do esgoto. Ele havia entrado naquele lugar sujo e escuro.

─ O que aconteceu depois?

─ Ele agarrou meu pulso com força e ficou gritando para alertar os outros virem me pegar. Foi nesse momento que a coisa mais assustadora aconteceu. Havia alguém lá dentro com ele e essa pessoa dizia para ele que queria brincar. Goyle então perguntou quem era e ele disse que era “alguém muito solitário ali dentro”.

─ E você chegou a ver o que era isso?

─ Definitivamente não uma criança. Tinha a silhueta de um adulto. Uma coisa. Algo que me causou muito mal e me fez correr sem nem olhar para trás. Depois, talvez um minuto ou menos, eu tive a impressão que alguém gritou na mata.

─ Foi isso! ─ Rony exclamou assustando a todos por falar em um tom mais alto que os sussurros de Neville ─ Aquele grito que eu ouvi naquele dia, deve ter sido ele!

─ Você não tem certeza, Rony ─ Harry desconversou, embora parecesse pálido.

O grupo ficou muito quieto e absorto, processando aquele fato terrível. Na mata, os passarinhos faziam uma algazarra a poucas horas de escurecer.

─ Acho que devíamos informar a polícia ─ Hermione disse por fim.

─ Não ─ disse Gina ─ Eu acredito no Neville. Seja o que for, não deve ter sido humano.

─ Gina, por favor, vamos ser sensata. É um homem adulto, um maluco fantasiado de palhaço!

─ Gente, preciso contar algo também ─ Gina retorquiu com seriedade. Todos a olharam apreensivos ─ Aquele dia na festa do Harry eu estava disposta a mexer a ponteira da tábua ouija. Eu ia pregar uma peça em vocês, entendem?

─ Que bom humor o seu ─ Rony comentou sério.

─ Só que enquanto estávamos lá o objeto… Ele se mexeu sozinho. Eu não o estava controlando quando ele disse que era…

─ O Palhaço ─ arfou Harry.


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