As luzes amareladas das velas dispostas em candelabros e lustres iluminavam o salão principal do castelo. Os vestidos de cores claras das moças tomavam um tom alaranjado enquanto as mesmas se moviam entre os rapazes, tentando chamar a atenção de algum desavisado. No entanto, em um canto, uma das moças - a mais bela de todas - permanecia quieta. Os olhos de todos os rapazes pareciam ser atraídos pela luz natural que o rosto da moça possuía, ela odiava ter toda aquela atenção sobre si.

Entediada, ela estava entediada. Todos os meses, seu pai, um homem influente entre a realeza francesa e com sangue real correndo nas veias, optava por dar um baile na tentativa de fazê-la sorrir, algo difícil desde que sua mãe morrera de Cólera há alguns anos. Ela não podia dizer que não gostava de todas aquelas festas, afinal, seu pai fazia aquilo por ela.

“Katie”, a moça virou o rosto e sorriu, encontrando o pai ao seu lado. “O que está achando da festa, minha querida?”

Ela respirou fundo, pensando na melhor resposta.

“Está maravilhosa, papai.”, ela não o olhou, desviou o olhar para os dedos entrelaçados em seu colo.

O homem mais velho pareceu acreditar em cada palavra proferida pela voz doce. Ele passou os dedos pelo rosto delicado da filha e se levantou da cadeira de madeira dourada, deixando-a sozinha mais uma vez.

Katherine Beckett faria de tudo para estar no jardim, em meio às plantas e à terra molhada pela chuva, fora lá que sua mãe a ensinou a ler e a escrever. Por um momento, seus pensamentos voltaram para uma época não muito distante, no entanto, um murmúrio vindo das moças paradas ao seu lado a trouxe de volta para a primavera da França no século XV.

Um rapaz desconhecido pela maioria havia chegado há pouco e isso significava mais quinze minutos em pé, sendo apresentada para o rapaz e sua família. Bem, ela teria que ser educada. Por seu pai, ela seria. Ao se colocar de pé, o vestido cor-de-vinho voltou ao seu lugar, balançando para encaixar perfeitamente nas curvas de sua cintura e de seu quadril. Naquela tarde, ela precisou jogar a escova de cabelo em uma das criadas para não a obrigar a usar o terceiro espartilho e a crinolina. O vestido vinho com tiras de ouro e mangas fofas cor pérola não era absurdamente rodado como os das outras moças e senhoras presentes no salão, a ausência da crinolina fazia isso a ele, mas também não era totalmente reto, os saiotes de cetim e algodão davam volume à seda vermelha. O amarelo do ouro contrastava com as mangas, destacando a pele um tanto pálida da moça.

Kate se pôs a caminhar na direção do pai, agora acompanhado de um rapaz. Ela não pode vê-lo perfeitamente até que ele se virasse para ela.

“Princesa.”, ele fez uma pequena mesura, inclinando-se para frente com a antebraço direito na frente do estômago e o esquerdo em suas costas. Ela sentiu vontade de revirar os olhos, ela não era princesa, apenas era filha de um homem muito influente na realeza. Aparentemente, Jim Beckett também não se daria ao trabalho de corrigir o rapaz.

“Senhor…”, Beckett dobrou os joelhos e inclinou a cabeça, mantendo as mãos no tecido do vestido.

“Richard Edgar Castle”, ele murmurou em um tom calmo, fazendo um rubor nada comum tomar o rosto da moça.

“Katherine Houghton Beckett”, ela se sentiu na obrigação de respondê-lo à altura.

Por fim, o olhar de ambos se encontrou. O azul dos olhos dele brilhava de tal maneira a deixá-la envergonhada. Os verdes dos dela imploravam para que ele sustentasse seu olhar por mais algum tempo.

“Senhor Beckett, eu poderia ter a honra de dançar a próxima valsa com a sua filha?”, ainda mantendo o olhar na moça, Richard direcionou sua atenção para o homem ao seu lado.

“Não é a mim que o senhor precisa perguntar.”, Jim estendeu a mão para a filha, trazendo-a para mais perto assim que ela a aceitou.

“Gostaria de trocar um par de palavras com a princesa, então…”, ele ergueu a mão até a dela. “Katherine, me concederia a honra desta dança?”

Kate pensou em recusar, assim como fazia com todos os outros rapazes que tentavam se aproximar dela nesses bailes mensais, mas Richard parecia diferente. O sorriso que Jim desejava ver no rosto da filha há algum tempo surgiu e o homem mais velho deu dois passos para trás, deixando que os dois se entendessem. Kate ouviu o barulho de três palmas e, no segundo seguinte, os acordes de um violino. A valsa. Ela ergueu o braço direito para encontrar o braço esquerdo dele e, por um breve momento, seus pulsos se tocaram. Os convidados invadiram o salão e iniciaram a dança lenta e graciosa.

Kate permaneceu calada por um momento, apenas o suficiente para que ele sentisse falta da docilidade de seu tom.

“Então princesa…”, ela o interrompeu com um grunhido fraco. Indignação talvez. “Sinto muito, estou te aborrecendo?”

“Eu não sou uma princesa, senhor Castle. Apenas sou filha de um homem influente.”, ela se deixou cair para trás enquanto sentia os braços dele segurarem seu corpo. “Não precisa se dirigir a mim desta forma.”

“Então, devo chamá-la de Milady?”, Rick a trouxe para perto de si mais uma vez, pousando uma das mãos em seu quadril ao passo que a outra alcançava a mão livre da moça, entrelaçando os dedos. Kate pigarreou, sentindo um arrepio em seu corpo.

“Não, definitivamente não”, ela franziu o cenho, torcendo para que ele não se afastasse dela por causa da careta.

“Como devo chamá-la, senhorita?”, ele tomou impulso e a ergueu do chão, enlaçando a cintura dela para firmá-la junto à lateral de seu corpo com certa delicadeza e rodando por entre os convidados antes de a colocar no chão encerado novamente.

“O senhor pode usar meu nome ou meu apelido”, Kate voltou a colocar a mão no ombro dele, desta vez, procurando por apoio.

“Seria indelicado da minha parte fazer isso na frente de todos”, ele murmurou.

“Chame-me de princesa na frente de todos, enquanto estivermos conversando apenas nós dois use meu apelido: Kate.”, ela sorriu e jogou a cabeça para trás, inclinando-a para o lado, fugindo do olhar do rapaz.

“Como desejar, Kate”, o riso em sua voz chamou a atenção dela. “Chame-me de Rick quando estivermos apenas nós dois.”

“Tudo bem, Rick”, aos acordes finais dos instrumentos, Kate deu um passo para trás e dobrou os joelhos, agradecendo o momento de descontração.

“Querida”, Jim estava ao seu lado, estendendo a mão para ela.

“Papai”, ela sorriu, mais uma vez revelando o que ele não via há anos.

“Foi uma honra dançar com a senhorita”, Rick inclinou-se para frente, mas, desta vez, não deixou que seus olhos se desviassem da moça. “Espero ter a oportunidade de vê-la mais vezes, princesa.”

Ela balançou a cabeça, fazendo uma promessa silenciosa. Jim a levou para a ponta do salão, distanciando a moça do rapaz. Os dois mantiveram o olhar um no outro até ele sumir em meio aos convidados.