Eyes Green escrita por Creeper, Lya


Capítulo 14
Foi-se o tempo que eu tava fácil


Notas iniciais do capítulo

É, já faz 84 anos, né? Maaaas...Como toda Fênix, ressurgimos das sombras! Hiatus faz parte das melhores fics. Não sei se há um bom motivo para termos desaparecido...Whatever!
Eae, tudo bom??!
Esperamos que gostem ♡! Tenham uma boa leitura!
(Cap grande, cap bem feito, cap BUNITO)



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No dia seguinte, eu fui para o colégio com Gray e Leo (obviamente, já que eu havia dormido com eles).

Luciano foi nos levar de carro, admito que me senti um tantinho poderoso chegando naquele luxo sob o olhar de todos aqueles invejosos.

Depois de adentrar o colégio, fomos para o refeitório e nos sentamos em uma mesa afastada, onde ninguém nos escutaria.

Os dois ficaram repassando o plano umas dez vezes. Eu não podia reclamar, até porque eu dependia daquilo para que as coisas seguissem o percurso correto.

—O que você não pode fazer de jeito nenhum? -Gray perguntou com o olhar fixado em mim.

—Dar bola pro Arthur. -respondi com tédio.

—E isso incluí... -Leo arqueou uma sobrancelha.

—Acenar, olhar, conversar ou cumprimentar. -bufei.

—Perfeito! -Gray e Leo bateram as mãos. -E se ele pedir algo emprestado, se faça de surdo. -os dois falaram ao mesmo tempo, me fazendo rir.

Estava cansado! Eles me fizeram repetir as regrinhas várias vezes consecutivas. Eu não era burro. Se bem que...

Apesar de Lya ter dado sua certeza de que o plano seria de sucesso, eu ainda mantinha-me receoso e com certa hesitação.

Ele podia muito bem não dar a mínima se eu o ignorasse, aí sim eu me fudia de vez.

E afinal de contas, não é fácil ignorar alguém que você gosta, é o mesmo de me pedirem para esquecer o crush que tenho pelo ruivo. Impossível.

Já estávamos no corredor, em frente a porta do 3A.

—Até mais, loirinho! -Leo deu um selinho em Gray. -Tchau, Romeu. -acenou para mim e riu.

Leo foi para a sua turma assim que o primeiro sinal tocou.

Gray entrou em nossa sala enquanto eu permaneci do lado de fora, tentando me acalmar.

Respirei fundo e coloquei a mão no peito.

—Acalma, coração. -sussurrei. -Calma que só estamos começando.

Ouvi algumas vozes no corredor, entre elas, uma conhecida.

Olhei na direção do som e avistei Arthur e Jane junto da professora Keyla, os dois estavam a ajudando a carregar alguns livros.

Senti um arrepio percorrer meu corpo ao ver a imagem do ruivo.
Se fosse só o arrepio estava bom, né, mas eu tive um mini ataque cardíaco quando meu olhar cruzou com o de Arthur.

O que será que passava pela mente dele? Como ele estava depois da nossa "briga"?

Porém, me mantive neutro enquanto ele me encarava. Desviei o olhar, dando de ombros, como se falasse: "oh, era só você, grande coisa!".

Jane deu um sorriso contido e murmurou um "olá" ao passar por mim, dei um aceno com a cabeça.

—Ei, inútil, entra logo. -Keyla deu um sorriso cínico. -Quero que você comece lendo o texto da página 56. -me entregou um livro.

—Você não pode me chamar assim. -fiz bico e franzi a testa. -Te meto o processinho! -sorri irônico.

—Quanta sensibilidade. -Keyla riu e entrou.

Arthur parou em frente a porta, como se esperasse por algo.

Eu não o olhei por longos segundos para analisar sua expressão ou o que pretendia fazer, porque simplesmente entrei na sala, o deixando sozinho do lado de fora.

#MulekeNeutro
Vida que segue.

Sentei na minha carteira de sempre e suspirei.

Consegui.

Não foi tão ruim...

Que mentira! Meu coração estava escalando pela minha garganta tentando fugir! Por dentro eu tava "NOOOOOSSA" e por fora...Bem, vocês já sabem.

Eu sentia o olhar de um certo ruivo sobre mim, mas eu me negava a encará-lo.

Sorri de lado olhando para o meu caderno.

É bom ser ignorado, né não, Arthurzinho?

Ahhh, não foi tão ruim assim...

Droga! O que estou fazendo?!

Bati com a cabeça na mesa e encolhi os ombros.

Foi ruim sim! Sou um ser humano horrível!

—Ei, você tá indo bem. Mas tente ser mais sangue frio! -Gray me cutucou.

O olhei como uma fera selvagem e ele arregalou os olhos. Pigarreei e fechei a cara.

—Tem razão.

☆☆☆

O intervalo não demorou para chegar, após o almoço eu e Gray estávamos na quadra para ver o jogo de queimada do 3A contra 3C.

Então novamente Arthur iria jogar.

Leo não ia jogar naquele dia, então era realmente necessário estar ali?

O jogo começou e como o esperado logo de cara Arthur queimou um adversário.

Não pude evitar minha felicidade, entretanto tive que conter a emoção.

#MulekeNeutro

—Não demonstre que está orgulhoso! -Gray advertiu. -Ele só queimou um carinha e você já está batendo palmas? Ele tem que fazer muito mais para te impressionar!

—Você sempre pira nas idéias depois de falar com a Lya? -murmurei o encarando de soslaio.

—Nem... -Gray sorriu convencido.

—Você tá mais malvado. -cruzei os braços.

—Que foi? Todos os casais que a A.U.F. pretende juntar devem passar pelo tratamento de choque. -Gray riu maléfico. -Além de...Estamos moldando o Arthur para que ele seja ideal para ti.

—Moldando? -arqueei uma sobrancelha. -Isso não é errado?

—Não leve ao pé da letra. Estamos somente o encorajando a ser melhor, mas sem ultrapassar seus limites, ou seja, sem passar por mudanças drásticas. -Gray explicou com toda a certeza do mundo, se achando o intelectual. -Não contrarie os profissionais aqui, falou?

—Claro, claro. -revirei os olhos. -Espero que vocês saibam o que estão fazendo. -voltei a prestar atenção no jogo, Arthur havia queimado mais três pessoas, ele parecia ainda mais ágil que da última vez.

—GRAY LARSEN? GRAY? -um inspetor começou a gritar.

—Ué... -Gray parecia surpreso. -O que eu fiz dessa vez?! -arregalou os olhos.

—Boa sorte. -pisquei um olho.

Gray bufou e me mostrou a língua, ele desceu pela escada da arquibancada, pulando de dois em dois degraus.

O inspetor trocou algumas palavras com ele, me surpreendi quando o loirinho saiu correndo rapidamente.

Peguei meu celular e lhe enviei uma mensagem instantaneamente: "o que houve??!"

Pensei até mesmo em segui-lo, porém me mantive ali atento ao jogo.

A torcida de Arthur era considerável, ele havia ficado bem popular desde que revelou sua aptidão em esportes.

Mas naquele dia eu não fazia parte da torcida.
Encarava o jogo de maneira apática, fazendo pouco caso. Para falar a verdade, havia escolhido um ponto para focar enquanto ficava pensando.

Assim que o jogo terminou, todos foram comemorar com o ruivo.
Me senti enciumado com aquelas mãozinhas nojentas tocando a pele macia e sardenta do meu crush.

Minha vontade era de correr até lá e gritar bem alto para expressar minha animação e orgulho.

Mas eu devia me manter firme ao plano.

Pode não parecer, entretanto sou bem observador.

Notei que aqueles olhinhos verdes estavam fixados em minha direção, as íris brilhando na expectativa.

Agora você quer minha atenção, né? Pois bem, devia ter pensando nisso antes de ter sido um otário comigo! Agora sofra, cão.

Mordi meu lábio inferior e levantei-me.

Desci as escadas lentamente com as mãos no bolso da calça, carregando uma expressão de quem estava nem aí.

Saí do ginásio sem nem olhar para trás.
Decidi tomar um ar, então fui para o pátio externo.

—Cara...Como eu fiz isso?! -comentei surpreso.

Nem acreditava que Arthur estava na esperança de que eu fosse cumprimentá-lo pelo ótimo jogo.

Será que ele havia deixado nossa briga em OFF e sequer fazia ideia do por quê eu estar obviamente o ignorando?

Ele era muito desligado ou burro, 'néra' possível. Enfim, pau no cu dele (de preferência, o meu...MEU DEUS, NATHANIEL, CADÊ A CLASSE?! Acho que perdi junto a minha dignidade...).

Por quanto tempo eu deveria continuar com aquilo?
Podia até ouvir as vozes do Gray e do Leo na minha cabeça dizendo: "o tempo que for necessário!".

Levei um pequeno susto quando meu celular apitou, havia recebido a resposta de Gray:
"Giullia teve um ataque de asma e está no hospital...Acho que não vou aparecer no colégio pelo resto do dia."

Arregalei os olhos e senti a preocupação percorrer meu corpo.
Giullia era a irmã do meio de Gray, tá certo que ela era o capiroto, mas não merecia ficar hospitalizada!

"Melhoras para ela, espero que não seja nada grave. E não enrole para voltar, você precisa assistir às aulas ou vai se dar mal na prova para ingressar na faculdade!", respondi.

Gray, Leo, Vick e os outros repetentes teriam a chance de realizarem uma prova antes do ano acabar, dependendo do resultado, eles podiam sair do colégio e ingressar em uma faculdade.

Por isso era necessário que eles não faltassem e comparecessem as aulas de reforço dadas por mim e Arthur.

Gray me enviou uma mensagem:
"Pode deixar, eu dou conta. Cuida do Leo para mim, não deixe o Vick encostar as garras nele! P.S.: Siga o plano!".

Ri com aquele ciuminho bobo.
Era melhor eu procurar o Leo antes que o sinal tocasse.

Não demorei pra encontrá-lo. Ele estava na quadra...Com o Arthur. Suspirei profundamente e fui até eles sem nem sequer olhar para o ruivo.

—Aí, Leo, chega aqui. Tenho que te mandar um papo. -falei indiferente, brincando com as mangas do moletom amarrado em minha cintura.

—Claro, claro. -Leo sorriu e me fitou, a malícia carregada em sua expressão.-Ah, o Arthur foi muito melhor que antes, né não, Nath? -sorriu zombeteiro, olhando para o ruivinho.

Olhei dele para o Arthur. O dono dos olhos verdes me encarava atentamente com curiosidade.

—É. Grande coisa. -falei simplesmente e ele arregalou os olhos.

Meu Deus. Eu falei isso mesmo?!

Arthur deu um passo a frente em minha direção, porém eu desviei dele e puxei o Leo comigo, o levando para fora da quadra.

—Você esta indo melhor que a Elsa, garotão! -Leu deu uma risada nasal e bagunçou meus cabelos.

—Pode apostar que tá difícil! -reclamei.

☆☆☆

O final de semana finalmente chegou! Adoraria ir ao shopping com os garotos igual a outra vez.
Só que...Kenzie tinha outros planos para nosso final de semana.

—Dia da faxina com pijama! -ela gritou animada enquanto dançava com uma vassoura.

—Pare de dar nomes ridículos as coisas! -revirei os olhos e coloquei pasta em minha escova de dentes.

Em um domingo do mês, eu era obrigado a limpar a casa junto de Kenzie...Vestindo meu pijama.

Que idiota!

A minha impressão era de que Kenzie gostava de me assediar, porque sempre que passava por mim me dava um tapa na bunda e se eu ousava reclamar, ela rebatia:

—Ué, com esse tamanho de short é inevitável controlar a minha mão boba.

Outra coisa que eu odiava mais que usar pijama era...Limpar a casa!

Como eu disse, apenas fazíamos faxina um dia por mês e só morávamos eu e Kenzie, então nosso jeito de viver era bem livre.

Nenhum de nós dois se importava com a bagunça um do outro.

Não havia problema em encontrar sutiãs debaixo das almofadas do sofá, camisetas como peso de porta ou tigelas de cereal dentro da máquina de lavar.

O único problema era a hora em que tínhamos que limpar tudo aquilo.

—Se papai visse isso... -Kenzie comentou rindo nervosamente enquanto jogava embalagens de fast food dentro de um saco de lixo.

—Com certeza nos ajudaria a bagunçar ainda mais, ô bicho porco aquele, viu. -completei enquanto esfregava os azulejos do banheiro.

Eu sou um ótimo partido, sei até fazer serviço de casa!

—Acho que devíamos visitá-lo. -Kenzie sugeriu.

—Pra ele perguntar: "e os namoradinhos?". -sorri cínico.

Ouvi Kenzie bufar, ela devia estar ruborizada.

—Ele vai me perguntar sobre os namorados e vai te perguntar sobre a escola como sempre. -Kenzie disse.

—E vamos dar a mesma resposta de sempre... -revirei os olhos.

—Os namoradinhos? Tão por aí, ainda não encontrei. -Kenzie disse com desdém.

—A escola? Ótima, tá firme e forte onde sempre esteve. -debochei.

Rimos com nossas respostas toscas e continuamos a limpeza.

Ao final, a casa estava brilhando!

Estava cheirosinha e arrumadinha, parecia até mesmo bem maior do que na verdade era.

Meu quarto sem o lixo espalhado era resumido em uma cama, um guarda-roupa e uma mesinha de computador.

Sério, fiquei me perguntando da onde havia surgido tanto lixo! Eu sempre fui de manter meu quartinho arrumadinho...

No cair da noite, fomos para a casa do papai.

Vovó havia ido para o bingo e depois daria uma passada no baile da terceira idade. A véia tinha mais disposição que a Kenzie para encontrar um boy.

—Kenzie, o que você fez no cabelo, céus? -papai estava intrigado com o novo corte de sua filha.

—Só cortei de uma maneira que me deixou mais livre! -Kenzie revirou os olhos enquanto colocava algumas tuperwares sobre o balcão da cozinha, ela havia treinado novas receitas de doces e papai seria sua cobaia.

Kenzie havia se livrado de seu cabelo castanho escuro mediano, o deixou na altura do queixo, somente a franja era maior que as outras mechas.
Particularmente...Adorei!

—Achei ousado, mas se você gostou... -papai deu de ombros. -E você, Nath, não mudou nada!

—Valeu...? -arqueei uma sobrancelha.

—Ele ganhou peso. -Kenzie debochou.

—Quer dizer que Kenzie é uma boa cozinheira? -papai perguntou orgulhoso.

—Não. Ela é péssima. -provoquei.

—Ele anda se enchendo de besteiras industrializadas, não está se alimentando corretamente. -Kenzie falou com um ar de mãe.

—Okay, chega de falar do meu peso. Ainda sou uma delícia. -penteei minha franja para trás com os dedos.

—Kenzie, e a faculdade? -papai perguntou sentando-se no sofá e ligando a TV no canal de Reality Show.

Kenzie e eu nos entreolhamos com uma mesclagem de desconfiança e confusão.

—Oh...Bem. -Kenzie sorriu de canto. -Não querendo me gabar, mas sou a melhor da turma...

—Fico feliz e orgulhoso, essa é a minha filhona! -papai comemorou. -Nath...E as namoradinhas? -ele me olhou insinuoso.

—Ah... -arqueei uma sobrancelha. -Meu único interesse é estudar. -fiz uma expressão angelical.

—Mentira, o interesse dele é um ruivo de olhos verdes! -Kenzie comentou maliciosa.

Senti meu rosto esquentar e cerrei os dentes levemente.

—Gosto tanto da Dressa, por que não leva o relacionamento a diante? Enfim...Mas se está interessado nesse garoto...Quando irei conhecê-lo? -papai perguntou calmamente.

Eu disse que ele não tinha problemas com minha sexualidade.

—Vai demorar. Eu e ele... -comentei envergonhado enquanto massageava a nuca. -Não estamos nos falando.

—Que? Por que não me contou isso? -Kenzie pareceu ofendida.

—Por que não contou a sua irmã? -papai franziu a testa.

—Porque tem assuntos que ela não precisa ficar sabendo! -corei e virei a cara.

—Preciso sim! Eu gosto de acompanhar sua vida! -Kenzie veio até mim e puxou minha orelha.

—Por que não estão se falando? Ele é metido ou algo assim? -papai se alterou.

—Porque se for metido, vai se ver comigo! -Kenzie ameaçou. -Aonde já se viu esnobar uma beleza dessas? -ela me abraçou.

—Ei, tá me sufocando! -a empurrei de leve. -Ele não é metido, nem nada...É só que... -engoli em seco. -Esqueçam! Vamos comer os doces mutantes da Kenzie...

—E aí? Dou uma semana. -papai falou diretamente com Kenzie.

—Não...Dois meses. -Kenzie fez bico.

—Da última vez eu venci. -papai riu maleficamente.

—Okay, o dobro ou nada. Aposto que fica mais tempo. -Kenzie sorriu desafiadora.

—Apostam o que? -perguntei confuso.

—Quanto tempo sua queda dura! -Kenzie sorriu na maior cara de pau.

—Mas que audácia é essa?! -me senti ofendido. -Estão colocando meus sentimentos em jogo?

—Isso é errado? -papai perguntou para Kenzie.

—Vocês são todos errados! -revirei os olhos e fui até a cozinha.

—Papai, falando em namoros e quedas...E aquela moça com quem você estava flertando? -Kenzie sentou no braço do sofá.

—Ah, estou velho para namorar. -papai tossiu.

—Mas ela era uma gracinha!-Kenzie sorriu animada. -Você não está velho, está com tudo! -piscou um olho.

—Não, filhota. Namorar não é para mim. -papai riu sem graça. -Até tentei, porém não me desce.

Respirei fundo e franzi a testa.

—Não te desce porque seu coração ainda pertence a uma única mulher: Vanessa Miller. -falei com dureza. -Você ainda não se libertou mesmo após o divórcio? Mesmo após tudo pelo que ela te fez passar?

—Nathaniel! -Kenzie me repreendeu, chocada.

Papai me encarou, um olhar sem brilho ou esperança.

—Após tudo que Vanessa me fez passar? -ele fechou os olhos. -Tudo bem que ela me trouxe muita dor de cabeça. Entretanto, me deu dois filhos maravilhosos que são a única razão do meu viver.

—Sabe que ela nem liga para a sua existência, né? -falei cerrando os punhos.

Sim, eu estava irritado! Como ele ainda podia nutrir sentimentos por uma mulher que trocou sua família por sua carreira? Eu e Kenzie nos esforçamos para esquecê-la, por que ele não fazia o mesmo?

—Nathaniel! -Kenzie cerrou os dentes, já furiosa comigo.

—Eu sei. Mas você só ama uma vez na vida. E quando você ama, você perdoa. Quando você ama, você não consegue esquecer. Você e Kenzie são a prova de que um dia existiu amor entre mim e a mãe de vocês. -papai estava com os ombros caídos e um olhar sério. -Eu não irei abrir mão das memórias felizes que tenho dela só porque ela escolheu tomar um caminho diferente.

Fiquei sem palavras. Eu estava estático.

Era isso que o amor fazia com as pessoas.
Mas...Ele não atingia a todas da mesma forma. Era completamente diferente com todo mundo.

Eu ainda não sabia o que era amor, só que com toda certeza ao mesmo tempo em que o ansiava, eu o temia.

—Tsc. -dei as costas.

Não permitimos que essa conversa deixasse o resto da noite tensa, sempre éramos otimistas.

Ficamos assistindo a um Reality Shows e comendo doces caseiros, nós três apertadinhos no sofá, papai no meio e eu e Kenzie com as cabeças deitadas em seus ombros.

Era aconchegante, era seguro.
Era o nosso pai.

☆☆☆

Uma hora ou outra tivemos que ir para casa, o que foi uma pena, porque o clima estava realmente bom.
Porém foi melhor ainda chegar em casa e vê-la arrumada e limpa, deu até orgulho.

—Já te pedi para não falar sobre a mamãe... -Kenzie resmungou enquanto lavava o rosto com esfoliante.

—Foi mal, tá? -murmurei retirando meus tênis. -Escapou.

—Escapou nada! Você queria desafiá-lo. Quantas vezes terei que te lembrar que ele não possuí a personalidade forte de mamãe? -Kenzie massageou as têmporas.

—Olha, você está errada. Tem que ser bem forte para continuar amando alguém que ferrou com a sua vida! -cuspi as palavras.

—Tem que ser bem forte para te aguentar como filho! -Kenzie começou a escovar seus dentes. -Por favor, seja mais delicado. -falou com a boca cheia de espuma.

—Desculpa. -revirei os olhos. -Boa noite, mana... -suspirei entrando em meu quarto e trancando a porta.

Mandei uma última mensagem para o Gray:
"Tudo bem aí?"

E ele respondeu:
"Madrugar de novo no hospital...Yeah! Leo está aqui para me fazer compainha, ao menos."

A situação de Giullia havia piorado, além da asma, os médicos localizaram um problema em suas amidolas, então ela seria submetida a uma cirurgia para retirá-las.

Enfim, não demorei para dormir, essa era uma das vantagens de ser eu: Pegar no sono sem problemas.
Havia sido um dia cheio.

☆☆☆

Devia ser 3 da matina quando meu celular começou a tocar de maneira estridente.
Assustado, atendi o aparelho na velocidade da luz.

—Alô...? -falei de maneira lezada.

Oi, Nathzinho. Te acordei?—era Dressa do outro lado da linha.

—Dressa?! -esfreguei um de meus olhos com a costa da mão. -O que você quer a essa hora?!

Seguinte, vem me buscar.

—Pirou, foi? Eu não vou sair de debaixo das minhas cobertas quentinhas para ir até aí no fim do mundo. -franzi a testa e acendi a luz do quarto, a claridade irritou meus olhos.

É importante. Você pode pegar a moto da Kenzie.

—Não é assim: "você pode pegar". Ela me mata se eu tocar naquela moto! E eu nem tenho carteira. -respondi indignado.

Se você levar alguma multa, eu pago. E se a Kenzie descobrir, eu assumo a culpa. Mas por favor, venha me buscar.

—Você quer fugir...Comigo? -dei um sorriso malicioso.

Não, apesar de ser uma proposta tentadora. Enfim, traga tinta spray e vista algo que cubra seu rosto.

—Vamos assaltar um banco ou algo assim? -dei uma bagunçadinha em meus cabelos, estava curioso.

Você verá, gatinho. -Dressa riu.

—Chego aí em meia hora... -bocejei.

Ótimo. Ah, mais uma coisa...Estacione a uma quadra da minha casa, me ligue assim que chegar.

—Tenho a impressão de que sua madrinha não sabe de nada e que você vai se dar mal caso ela descubra. -falei de maneira cínica.

Ela não vai descobrir.

E desligou.

Respirei fundo. Fui até o banheiro silenciosamente e lavei o rosto para mandar o sono embora.

Fiz como Dressa mandou: Peguei três latas de tinta spray que ficavam guardadas na lavanderia e coloquei na mochila junto de meu celular e por precaução uma lanterna.

Vesti uma calça, meus tênis de cano alto e um moletom preto com capuz. Acreditava estar discreto.

Cuidei para que Kenzie não desconfiasse de minha fuga noturna.

Coloquei alguns travesseiros debaixo da coberta para fingir que era eu dormindo, apaguei a luz e fechei a porta.

A chave da moto ficava no chaveiro pendurado na cozinha, então foi molezinha.

Apesar de não ter carta, eu sabia dirigir, entretanto seria melhor pegar um caminho que evitasse pontos de ronda policial.

—Dressa...O que você tá tramando? -franzi a testa enquanto colocava o capacete. -Não podia me pedir para ir te buscar de bike? -meu coração estava acelerado.

Kenzie iria me matar de diversas formas caso soubesse que peguei sua moto, eu não queria nem pensar nisso.

Enfim, como o previsto cheguei lá em meia hora, as ruas eram calmas naquele horário e apesar de tudo adorava dirigir...O vento batendo contra meu corpo fazia eu me sentir livre.

Lá estava eu, com a moto parada em frente a uma loja que consertava televisões, a uma quadra da casa de Dressa.

Estava frio pra caramba e o silêncio era mortal, ao menos a rua era bem iluminada.

Me sentia inseguro e ansioso, olhava para os lados a cada segundo na esperança de avistar a garota.

Comecei a assoviar, o sangue já percorria minhas veias de maneira intensa só de pensar na encrenca que estava prestes a me meter.

No meio do silêncio, comecei a ouvir passos apressados, como se alguém estivesse correndo.

Olhei na direção do som e vi uma figura feminina vindo até mim.
Era a Dressa.

Ela estava vestida completamente de preto e usava uma máscara (a qual assemelhava-se com aquelas de gás, porém tinha um estilo mais fashion) para esconder seu rosto.

—Preparado para se tornar um vândalo?! -Dressa também carregava uma mochila.

—Nossa, super. -fingi estar animado. -Para onde vamos? -lhe entreguei um capacete.

—Ce-Ce-Cemi-Cemitério! -Dressa tentou remixar, ela estava visivelmente empolgada.

—Deus livrai-me de todos os maus. -comecei a me sentir receoso.

Dirigi até o cemitério, Dressa não perdeu a chance de se agarrar a minha cintura, além de não calar a boca durante o trajeto todo.

—Estaciona atrás da moita! -Dressa finalmente disse algo útil, obedeci sem protestos.

E lá estávamos nós, em frente ao muro do enorme cemitério. Dava até para sentir a energia maligna saindo daquele lugar...
Aposto que Gray surtaria nessas circunstâncias!

—Ok...O que viemos fazer? -perguntei retirando meu capacete e estalando a língua.

—Seguinte...Vamos pichar frases irônicas nesse lindo muro. -Dressa fez o sinal de "top" com as duas mãos.

—Você tá brincando, né?! -meu queixo caiu.

Ela tava doida?!

—Nada demais! -Dressa bufou. -To falando super sério! -colocou as mãos em meus ombros.

—Me explica por quê a gente vai fazer isso! -me desvincilhei.

—Olha...-Dressa suspirou pesadamente e encolheu os ombros. -Vou fazer 17 anos daqui uma semana e sinto como se tivesse jogado toda minha vida fora. Eu simplesmente não faço nada de interessante ou emocionante. Só estudo e sigo as regras de minha madrinha. Assim irei me tornar só uma garota comum e apática...E eu não quero isso! Eu quero ser uma adolescente aventureira! -ela discursou.

Era verdade que sua madrinha era rígida com ela...Até demais.

Dressa morava com ela desde que seus pais haviam morrido em um incêndio, a garota devia ter somente 10 anos quando esse desastre aconteceu, então sua vida mudou drasticamente sob as condições de sua madrinha.

—Bem...Uma rapariga que é amiga da minha best me desafiou a fazer algo insano, falou que se eu fosse realmente capaz faria algo descolado e que se não fizesse ela espalharia por aí que sou covarde. -Dressa bufou.

—Você é muito idiota mesmo por se deixar levar por alguém assim! -bati com a mão na testa.

—Minha best me aconselhou a pichar um muro ou algo assim, já que ela fez isso com o namorado. -Dressa revirou os olhos.

—Namorado? -arqueei uma sobrancelha.

—Na falta, só tive você como opção. -Dressa fez pouco caso de minha pessoa. -Enfim. Vamos pichar frases irônicas nesse muro e filmar! -deu pulinhos de animação.

—Você só me mete em fria. -resmunguei abrindo minha mochila.

—Ei, gatinho...Coloca isso. -Dressa me entregou uma máscara de médico preta feita de pano, tinha a estampa de um focinho de urso.

De mau gosto, coloquei aquilo.

—Ficou super fofo! -Dressa tirou uma foto.

—Idiota, não tire fotos minhas! -falei constrangido virando o rosto.

—Bem, vamos começar?! -Dressa disse empolgada pegando uma lata de tinta spray.

—Quanto mais cedo acabar, melhor. -murmurei pegando uma latinha também.

—Vandalismo! Yeah! -Dressa correu em direção ao muro.

—Isso é politicamente errado. Se formos presos, nenhuma faculdade vai nos aceitar...Sabe? -mordi o lábio inferior por debaixo da máscara.

—Tá com medo? Você subiu em uma montanha-russa caindo aos pedaços e sobreviveu. Pichar um muro é fichinha! -Dressa agitou a latinha.

—O que não faço por você, né?! -falei de mau gosto. -Mas...Não acha um desrespeito? Por que logo um cemitério?

—É hoje. -Dressa ficou séria.

—O que é hoje? -franzi a testa.

—Hoje fazem 6 anos desde eles faleceram. -Dressa disse em um sussurro. Ela se referia aos seus pais.

Arregalei os olhos e fiquei em silêncio durante um minuto.

—Sinto muito... -sussurrei fazendo menção de segurar seu ombro, porém ela se afastou.

—Eu briguei com a Diana. -Dressa citou sua madrinha. -Eu fiquei irritada porque ela aparentou nem se lembrar...Porque ela aparentou não se importar. Ela sabe o quanto eu fico instável nesse dia, mas pouco se lixou e me deu broncas como sempre faz. Foi quando eu gritei que hoje era o aniversário de morte deles que ela automaticamente vestiu a máscara da falsa tristeza. Ela tem que ser tão fingida?! -se abraçou e deu as costas para mim.

Eu não sabia o que falar. Eu não sabia o que ela estava sentindo.

—E você quer pichar frases irônicas que façam jus a ignorância dela? -perguntei hesitante.

—Sim...Ela tem que passar por aqui todos os dias a caminho do trabalho. Eu quero que ela se sinta culpada. Eu quero que ela sinta remorso. -Dressa se esforçava para manter a voz firme. -Ela precisa ver o monstro que é!

Respirei fundo, a segurei pelos ombros e a virei para que ficasse frente a frente comigo.

—Você não precisa fazer isso só para provar algo para a rapariga, sua best ou sua madrinha...Assim você só ficará mais amarga, vingativa e fria... -falei olhando fundo em seus olhos que brilhavam com as lágrimas.

—Eu sou a Andressa...Um unicórnio ambulante. -eu não conseguia ver através da máscara, mas tinha certeza que ela estava forçando um sorriso.

—Ainda quer continuar? -apertei seus ombros com delicadeza.

—Quero... -Dressa sussurrou.

—Acha que seus pais sentiriam orgulho dessa atitude? -arqueei uma sobrancelha. -Eles estão enterrados aqui, não?

—Não. Não tem nenhum corpo ou osso enterrado. Acha que restou algum vestígio depois daquele incêndio?! -Dressa franziu a testa. -Eles só existem na minha memória. Já fiz muitas coisas das quais eles não se orgulhariam, mais uma não fará diferença. Existem muitas pessoas iguais a minha madrinha e todas elas irão se identificar.

Bufei.

—Você é uma teimosa! -reclamei a envolvendo em um abraço. -Tá...Estamos aqui, então vamos até o final. Você venceu. Só que...Eu não vou ser preso, falou?!

—Obrigada... -Dressa suspirou, sua voz estava embargada. Ela retribuiu o abraço.

Ficamos abraçados durante alguns minutos, um ouvindo a respiração do outro. Eu tinha certeza de que ela estava chorando.

Eu gostaria de confortá-la...

Dressa me soltou e afastou-se delicadamente.

—Você é o cara mais legal que eu já conheci...Valeu por existir. -Dressa comentou abaixando a cabeça e enxugando as lágrimas discretamente. -Só não é o mais bonito, corajoso ou descolado...Mas dá pro gasto. -brincou.

—Bobona! -mostrei a língua.

Então, colocamos as mãos na cintura e ficamos encarando o muro. Respiramos fundo e começamos.

Engoli em seco e franzi a testa.
Dei um passo a frente, agitei minha latinha e a estava prestes a apertar o bico, quando...

—Não! -Dressa deu um tapa em minha mão.

—Tá doida?! -arregalei os olhos.

—Não...Não...Não... -Dressa pegou minha mochila e jogou as latinhas dentro dela. -Você tem razão, merda! Não podemos fazer isso...O que meus pais iriam pensar?! O que as pessoas iriam pensar? -ela parecia completamente instável.

—Graças a Deus. -inclinei a cabeça para trás e coloquei a mão no peito, meu coração batia intensamente.

—Por que não me impediu antes?! -Dressa me deu um soco no ombro.

—Porque você quem tinha que perceber que estava errada! -falei indignado.

—Quer saber?! Foda-se aquela piriga! -Dressa bufou. -Não sou obrigada a provar nada! Grrr! -jogou os braços para o alto, aparentemente estava irritada.

—Você é bem bipolar. -comentei abaixando seu capuz e bagunçando seus cabelos, eles estavam tingidos de preto azulado.

—Bem...O que quer fazer agora? -Dressa suspirou decepcionada.

—Não sei. Você quem manda. -falei com um ar divertido.

—Ah...Cara...Vamos passar em um posto de gasolina e comprar alguma porcaria comestível. -Dressa colocou seu capuz e andou em direção a moto.

☆☆☆

Às 5 da manhã, eu e Dressa nos encontrávamos sentados na calçada de um posto de gasolina, devorando um pacote (do tamanho de um bebê) de salgadinho com gosto de isopor e dividindo uma Coca-Cola de 600ML.

—Isso é que é vida. -falamos juntos e demos um suspiro de satisfação.

—Cara...Vou estar quebrado na aula... -comentei sofrido.

—Boa sorte... -Dressa riu. -Eu não vou estar diferente! -se espreguiçou.

Ficamos conversando durante um longo tempo, até o sol nascer para falar a verdade.

—Temos que ir para casa, sério. -disse desesperado enquanto procurava meu celular dentro da mochila. Foi quando tive um mini infarto. -20 ligações perdidas da Kenzie! -arregalei os olhos.

—Ai não... -Dressa arregalou os olhos.

—Fudeu, fudeu... -falei apreensivo.
Meu celular começou a vibrar, quase derrubei o aparelho com o susto. -A-Alô? -meu corpo se abalou, eu estava tremendo, meu estômago embrulhou.

NATHANIEL MILLER!—Kenzie gritou. -Você está morto, morto, MORTO! Aonde você está pelo amor de Deus?! Por que não me avisou? Com quem está? Por que não me atendeu antes?! Cadê a minha moto?

—C-Calma, eu posso explicar. Estou com a Dressa em frente a um posto de gasolina, o celular estava no modo vibra dentro da mochila. -falei mordendo o lábio inferior com força.

Eu te esgano! Te esgano! Te esgano! Estou te ligando desde às 4 da manhã!—Kenzie estava visivelmente irritada. -Mas...Estou ligando por outro motivo. Um motivo seríssimo!

—Q-Que motivo?! -engoli em seco

É que...Um...—Kenzie começou a falar com cautela, porém a ligação foi cortada.

—O que?! -encarei a tela desligada de meu aparelho. -A bateria acabou! -me desesperei.

—O que houve?! -Dressa arregalou os olhos.

—Eu não sei...Só sei que tenho que estar no colégio daqui 40 minutos. -minha respiração ficou irregular. -Bora!

Levei Dressa até sua casa, ou melhor, até um quarteirão de distância da sua casa.
Assim que ela desceu da moto, me agradeceu.

—Obrigada pela noite incrível, só você para levantar meu astral. -Dressa retirou sua máscara e deu um sorriso doce.

—Não tem de que...Você é minha best, afinal. -dei de ombros e sorri por debaixo da máscara.

Ela estava prestes a tomar seu caminho, porém deu meia volta e voltou a ficar frente a frente comigo.

Dressa parecia determinada, se inclinou de modo que seu rosto se aproximasse do meu e me deu um selinho, somente a máscara servindo de barreira, impedindo que nossos lábios se tocassem.

Fiquei estático e pisquei os olhos várias vezes. Minhas bochechas esquentaram levemente.
Ela deu um risinho de vergonha, acenou e saiu correndo.

—Ela esqueceu a máscara. -sussurrei retirando a mesma.

Dei um sorriso de desaprovação e balancei a cabeça.

☆☆☆

Cheguei em casa faltando 10 minutos para dar 7 horas, era o tempo que tinha para me arrumar e voar para o colégio.
Estacionei a moto e entrei em casa temendo a bronca que levaria.

—Nathaniel, preciso conversar com você! Urgente! -Kenzie me abordou assim que pisei o pé na sala.

Falando em sala, apesar de termos limpado a casa, reparei que algo estava diferente...

—Kenzie. -respirei fundo. -Sei que está brava e quer me matar, okay, eu entendo. Mas por favor, pode deixar o sermão para mais tarde?! Eu realmente não posso perder aula. -andei em direção ao meu quarto.

—Nath, me escuta, é rápido! -Kenzie parecia aflita.

Entrei em meu quarto, retirei o moletom e a camiseta.
Tomei um banho de perfume e desodorante, vesti outra camiseta e uma jaqueta de flanela, não havia problema em continuar com a mesma calça e tênis.

—Nathaniel, não me ignore! -Kenzie reclamou.

Fui até o banheiro e enfiei a cabeça debaixo do chuveiro, deixando a água fria lavar meu rosto e cabelo.

Apertei a pasta de dente dentro de minha boca e a enchi com água em seguida, misturei tudo e cuspi.

—CARALHO, PRESTA ATENÇÃO! -Kenzie me puxou pelo braço.

—Fala, porra! -gritei pegando minha mochila e enfiando todos os livros e cadernos que vi pela frente.

Então me dei conta de que o que havia de diferente na sala eram diversas malas amontoadas ao lado do sofá.

—Vamos receber visita? Ah, já sei, aquela sua amiga do interior vai vir passar uma semana aqui. Tudo bem, não tem problemas. -concluí calmamente.

—Não! Não é isso! -Kenzie mordeu o lábio inferior. -É algo realmente importante...Não é uma mulher... -cerrou os dentes, ela parecia engasgada.

—Falou, tá? To atrasado! -a olhei com tédio e abri a porta, Kenzie me deu um tapa na cabeça assim que botei o pé para fora.

—Então vá logo para o colégio e descubra por conta própria, imbecil! -Kenzie gritou e bateu a porta com raiva.

Estranhei sua ação, porém dei de ombros e corri o mais rápido que pude até o colégio.

☆☆☆

Ao chegar, não havia ninguém do lado de fora, somente um certo loirinho encostado na porta do hall de entrada, aparentemente ansioso.

—Finalmente você chegou! -Gray arregalou os olhos. -Pensei que não viria! -me empurrou para dentro.

—O que houve? -notei que ele roia as unhas.

—Chegou um aluno novo na nossa turma! -Gray disse eufórico.

—E daí? -bocejei.

—Ele é um gatinho! Além de ser super fofo! -Gray sorriu.

—Tá...E? -fiz pouco caso. Quem liga para um novato qualquer?

—Ele não sabe falar português! -Gray comentou.

—Pensei que o colégio tinha parado de aceitar alunos estrangeiros... -revirei os olhos.

—O histórico escolar dele é ótimo, por isso o aceitaram! -Gray bateu palmas.

—Ok...Que mais? -perguntei desinteressado.

—Ele é canadense e todo mundo está em cima dele! -Gray falou animado.

—Eu vim do Canadá e ninguém ficou assim empolgado com a minha chegada. -revirei os olhos novamente.

—Ele usa aliança. -Gray sorriu malicioso.

—Olha...Aonde você quer chegar? Se não percebeu, não estou nem um pouco interessado nesse guri! -falei com sono.

—Ai, credo! Pensei que você iria gostar da novidade! -Gray franziu a testa.

—Eu não ligo! -dei de ombros. -Além do mais...Quer apostar quanto que a Aline vai me pedir para ensiná-lo nossa língua? -bufei.

—Ok...Ok...Há algo que tenho certeza de que será de seu interesse! -ele riu maleficamente.

Fiz um sinal com a mão para que ele prosseguisse.

—Ele está sentado na s-u-a carteira! -Gray contou com deboche.

—Ah, filho da égua! -franzi a testa e apressei o passo. -Sei que ele não está familiarizado com a nossa língua, mas será que não sabe ler um nome?! Deve ser um jegue mesmo, ele vai levar na cara!

Eu e Gray entramos voando na sala de aula, quase não reparei que Arthur estava parado na porta e se assutou quando passamos por ele.

Era verdade que a turma inteira estava aglomerada no fundão. Até Leo e Vick estavam no meio da "multidão", sendo que eles nem eram da nossa turma!

Ambos pareciam estar conversando com o novato.

—Abram espaço, bando de urubus! -gritei empurrando algumas pessoas.

Consegui finalmente avistar a minha preciosa carteira, bati com as mãos nela, fazendo um barulho ardido ecoar por toda a sala e silenciar o burburinho.

Todos me encararam confusos, o aluno novo é quem eu diga.

Olá.—eu disse cínico, foi quando olhei fundo em seus olhos azuis cristalinos.

Arregalei meus olhos e ele fez o mesmo.

Meu coração falhou uma batida e senti meu corpo congelar.

Eu não conseguia me mover, não conseguia desviar o olhar e não conseguia pronunciar mais uma palavra que fosse.

Meu coração batia tão descompassado que fazia meu corpo tremer por inteiro.

A platéia não colaborava com aqueles olhares curiosos e o silêncio mortal.

Nath...—ele sussurrou impressionado, apesar de só ter dito meu nome, pude detectar seu sotaque carregado. -Nath!—se levantou bruscamente.

N-Nick...—mantinha-me estático.

Eu só sabia que nenhum de nós dois conseguia tomar uma atitude. Não era de menos...Afinal, fazia um ano, não?


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Notas finais do capítulo

Gostaram? Eu acho que nós merecemos alguns comentários, né? Nem que seja aquele bom e velho "amei, continua" :3, já é o suficiente para nos deixar motivadas!
E aposto que esse cap deu o que falar!
Quem é esse novato estrangeiro? Qual a sua relação com o Nathaniel?! Tenho a impressão de que no próximo capítulo mergulharemos em alguns flashbacks!

ATENÇÃO: A partir de agora, frases e palavras ditas em inglês estarão em negrito para serem diferenciadas!

Até o próximo capítulo!
Bjs.
—☆Creeper.



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