Mentirosos escrita por Blair Herondale


Capítulo 15
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Pessoas! Faz tanto tempo que eu escrevi esse capítulo! Entretanto, só hoje que eu tive tempo para parar e ajeitar ele direitinho (as provas me consumiram completamente, mas estou viva!).
Eu AMEI escrever esse capítulo. Amei DEMAIS DEMAIS DEMAIS!
É o primeiro escrito COMPLETAMENTE no ponto de vista de Christian.
Espero que gostem e vou ter os meus ataques nas notas finais do capítulo! Beijos!



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[Parte 1: Cinema]

 

Assim que Christian parou na frente da bilheteria do antiquado cinema em que costumava ir nos seus dias de cansaço, o rapaz direcionou um rápido olhar para June. Eles permaneceram calados durante toda a caminhada até ali, o que não havia sido algo de todo ruim, porque o garoto gostava de aproveitar a calmaria do inverno sem ser obrigado a lidar com conversas fiadas.

Usando o uniforme da academia, tinham cruzado diversas ruas que Christian supôs serem novas para June. Eram ruelas de sebos, com casas esquecidas e apartamentos antigos. Uma realidade bem diferente da arquitetura moderna e elegante que se fazia capa dos anúncios locais de turismo. O rapaz gostava muito de se esconder junto a tudo aquilo que parecia ser esquecido e marginalizado pelo resto da sociedade.

O apelo do singelo e irrelevante lhe atraia, como se, entre eles, estivesse com seus iguais.

Uma parte de si sabia que aquela visão lhe conferia um ar dramático, que sua condição de pequeno burguês lhe dava privilégios e escapatórias que as pessoas fadadas a viverem nesses locais não possuíam. Mas, imerso dentro dos próprios problemas, o jovem não conseguia evitar.

Tudo bem, dizia para si mesmo. Porque os grandes poemas, filmes, peças e músicas saíram do ar rebelde e inconformado que parecia tomar conta dos adolescentes no período em que lutavam para descobrir a si mesmo, o mundo e o seu papel dentro de tantos outros indivíduos.

Christian sentia-se perturbado por não entender como o universo havia sido feito, por não saber efetivamente se havia vida em outros planetas. Se tinha vida, porque nunca fizeram contato com a singela Terra? Se não tinha, qual o ponto de ter um universo tão grande, com tantas galáxias, planetas e estrelas para apenas uma espécie racional viver? Quem ele era dentro de tudo isso? O que faria com a única vida que tinha?

Sentia, então, um peso muito forte sobre os seus ombros acerca do seu papel como indivíduo.

Na maior parte do tempo, tentava esconder todas as suas angústias e medos na região de seu cérebro que não acessava com muita frequência. Ia para festas, divertia-se com bebidas e mulheres, conversava com seus colegas sobre muitos assuntos sem tanta importância. Mas manter suas dúvidas escondidas lhe cansava, tirava sua força de vontade e paciência.

Nos dias em que tudo aquilo pesava mais sobre si, Christian fugia para o pequeno cinema que ainda mantinha a fachada da década de 60. Só possuía duas salas, a bilheteria, assim como os posters dos filmes em cartaz, ficavam do lado de fora. O letreito, preto e branco, anunciava os títulos, como antigamente.

Perto dali, também tinha uma livraria que costumava frequentar. O dono, um velho senhor que vivera a realidade da segunda guerra mundial, gostava de conversar com Christian e contar suas antigas histórias. Sempre lembrava de uma poesia ou conto que sentia a necessidade de compartilhar com o outro. Acolhia o mais novo e levava-o para uma outra realidade.

Tinha também uma loja de músicas, com cantores de Jazz que haviam feito sucesso na década de 90, mas que agora eram esquecidos, incapazes de acompanhar os novos ritmos da indústria musical. Uma sorveteria, do “seu Pimenta”, que todos os dias inventava um novo sabor para experimentar a diversidade. Christian gostava da maneira espaçosa com que ele se expressava. Um pouco mais distante, um restaurante que o encantava pelos seus fregueses, adultos e idosos abertos à contar os próprios problemas e angústias.

Era um mundo que ele se forçava a não visitar com frequência. Uma parte quebrada e fraca de si que não resistia ao apelo daquilo considerado moribundo.

Por isso, sempre frequentava aquelas ruas sozinho. Nem mesmo Dimitri sabia da existência desses lugares, embora fosse consciente de que Christian lhe negava um pouco daquele lado e lhe escondia algumas verdades.

Não era pessoal, pensava todas as vezes em que dizia “vou tomar ar” e recebia um aceno afirmativo e resignado do loiro. Ele não conseguia se abrir com facilidade para as pessoas, mesmo aquelas que eram mais próximas dele. Sabia que Dimitri tinha consciência de um porto seguro próprio de Christian, mas não tinha a real ideia do que era.

Felizmente, ele sempre lhe dera toda a liberdade para escolher entre contar ou manter segredos, nunca pressionando para descobrir algo que não queria ser desvendado. E, por mais que os dois tivessem uma amizade próxima e confortável, Christian nunca sentira necessidade em contar sobre os locais que ia quando o cansaço lhe batia com uma força maior do que ele estava acostumado.

Aquilo era uma parte sua que simplesmente não via necessidade de mostrar para ninguém.

Entretanto, ver June encolhida sobre os frios degraus da escada acabou lhe surpreendendo e causando um indefinido impacto nele. Perceber os cacos de uma pessoa que se mostra sempre tão forte e inatingível não é algo fácil de lidar com ou de esquecer. Por isso, apesar de racionalmente desejar levá-la para um ordinário cinema de shopping, seus pés os encaminhou para a direção aposta, em uma rota que normalmente era traçada de forma solo.

Devido à excentricidade do acontecimento, Christian preocupou-se em estudar as feições da garota a fim de entender como ela percebia as ruas desgastadas pelos anos e falta de cuidado. Porém, aquilo sempre se mostrara um desafio inquietante para ele, porque June não era fácil de ler e, todas as vezes que acreditava ter entendido a garota, percebia que chegara a conclusões erradas. Ela nunca se encaixava naquilo que ele pensava dela. Sempre aparecia com algum comentário astuto ou um revirar de olhos nos momentos mais inesperados, fazendo-o se sentir completamente ridículo e insignificante.

O ar de superioridade de June, dentro da lista mental de características que Christian mantinha da garota, também lhe irritava. Porque, em muitos momentos, ela criava um cenário em que parecia ser a detentora de todo o conhecimento do mundo, como se sentisse pena por aqueles que não sabiam o que ela sabiam e não viam o que ela viam. Como se todos tivessem que ser fortes e resistentes como ela, que erguia a voz e se impunha em uma briga, pelo mero fato de ser o necessário.

June parecia não entender que ações incisivas era um feito difícil para as outras pessoas, que rever as próprias atitudes e lutar, mesmo por aquilo que é certo, requer muita coragem.

São poucas aquelas que nascem com o espírito certo para revolucionar o mundo.

Christian era muito mais o tipo de pessoa que escondia-se nos próprios desejos e temores.

E o ar condescendente que vinha a face de June todas as vezes que chegava aquela conclusão, fazia uma raiva incontrolável borbulhar dentro de Christian. Ele queria gritar, tirar a expressão presunçosa do rosto desenhado da garota, lhe arrancar o sorrisinho sagaz e irônico, queria lhe colar contra a parede e lhe beijar até que não fosse capaz de formular qualquer xingamento.

E até naquilo ela lhe irritava.

Porque June lhe desprezava com tal leveza, indiferença e frequência, que o ego de Christian não sabia como reagir, resultando em um misto de frustração, raiva e desejo.

Enquanto todas as garotas caiam aos seus pés e sonhavam com ele, June reforçava a cada dia o quando ele lhe repugnava. Christian a havia lhe beijado não apenas uma, mas duas vezes e ela fizera questão de deixar sua irritação bastante evidente.

Ele não suportava mais June. Definitivamente não.

Entretanto, em alguns irritantes momentos de distração acabava se surpeendendo com um desejo incontrolável de ter outras oportunidades em que pudesse calá-la com um beijo. Normalmente isso se seguia a uma ida sua para o bar ou uma ligação para qualquer garota que se mostrasse disponível no momento.

Porque ele tinha uma fila de pretendentes ansiosas por satisfazer todos os seus possíveis desejos.

Mas June? Ela irritantemente mantinha o seu ar de inatingível, com todos os seus sorrisos, risadas e segredos destinados apenas à Dimitri, que não era capaz de compreender o quão sortudo era por tudo aquilo. June mudava completamente ao lado do loiro, sempre parecendo mais confortável, seus olhos azuis acalmavam, a boca permanecia sempre curvada levemente para cima, em um esboço de sorrisos que apareciam com frequência.

E para ele, os mais duros olhares de desprezo.

Christian não ligava. Ou ao menos dizia não ligar.

—Porque você está tão calada?- perguntou com desconfiança, após comprar os dois ingressos para o filme francês que iriam assistir. June havia se mantido calada durante todo o percurso do colégio para o cinema e não tinha soltado nenhuma reclamação referente ao filme escolhido, o que costumava acontecer quando faziam sessões de cinema na sala do apartamento.

—Eu vou te pagar depois, se é isso que pergunta. -sua voz ao mesmo tempo que soava defensiva, tinha um tom de agressividade.

Christian reprimiu um suspiro cansado, porque esses ataques corriqueiros estavam começando a lhe aborrecer.

—Eu não estava lhe cobrando, June. E não precisa se preocupar com isso, não é problema para mim pagar um ingresso de cinema.

—Mesmo assim, não gosto de dever nada a ninguém.

Dessa vez, ele não conteve um revirar de olhos, divertindo-se com toda a teimosia alheia. Como Dimitri conseguia lidar com aquilo?

—Então vamos deixar combinado que dá próxima vez você paga os nossos ingressos.

June ergueu uma sobrancelha com aquele comentários, os olhos brilharam de forma zombeteira e ela levou uma mão ao peito, dramaticamente.

—Haverá uma próxima vez? -sua voz soava muito apelativa para Christian, apesar do tom jocoso- Não acredito que terei uma outra oportunidade para sair com o magnificente Christian Connor! Meu coração vai explodir em tanta alegria.

—Cala a boca. -pediu, envergonhado com os olhares que recebia das poucas pessoas que entravam na sessão de cinema. Apesar disso, um sorriso brincava no canto de seus lábios- Bom saber que você já está toda esperta agora, se soubesse que seria assim, teria te levado para o shopping mesmo.

Ela abriu a boca, como se fosse soltar mais alguma piada sobre a situação, entretanto, disse sincera.

—Estou feliz que você não me levou para um shopping, que ao invés disso me trouxe para esse cinema.

Christian não soube como reagir aquilo. Uma parte de si sentiu-se surpresa por escutar uma declaração tão franca e outra um pouco presunçosa por ter acertado na escolha de levá-la para lá. Por falta de opção, limitou-se a assentir com a cabeça e guiá-la para dentro da sala.

Durante o início do filme, June inclinava-se a cada cinco ou dez minutos para tirar uma dúvida referente aos personagens ou à interpretação das cenas, da mesma forma que fazia quando estavam em casa. Ela sempre perdia o ponto principal da discussão que o diretor queria levantar e ele não tinha nenhum problema em parar o filme e lhe explicar o que quer que fosse necessário. Entretanto, naquele momento, Christian estava começando a se incomodar com as perguntas. Todas as vezes que ela inclinava-se para sussurrar seus questionamentos, além da distância entre eles se tornar perigosamente mínima, obrigando-o a manter os olhos na tela -da primeira vez, sem consciência da proximidade entre eles, seus narizes se tocaram, levando ambos a se afastarem pelo susto-, os pelos de sua nuca ficavam arrepiados e ele só conseguia pensar no quanto queria que o contexto daquela proximidade fosse completamente diferente, de preferência um em que ela passasse a depositar beijos pelo seu maxilar e pescoço.

Ele sentia-se nervoso e irritado, porque já não conseguia mais prestar atenção no filme e suas respostas tornavam-se cada vez mais superficiais. Christian via-se incapaz de balbuciar algo coerente quando a respiração quente em seu pescoço contrastava com o frio da sala de cinema e sua mente fantasiava diversas maneiras de beijá-la. Porém, por mais que estivesse completamente afetado pela presença de June, ele não queria que ela parasse. Como um viciado em drogas, esperava ávido por mais uma pergunta, chegando a responder algumas de forma incompleta por saber que aquilo a faria se aproximar novamente, ainda confusa.

Uma parte de si o repreendia por ansiar pelos rápidos e, o que deveriam ser, insignificantes momentos de aproximação. Não chegava a ser nem mesmo um toque, pontuava seu lado racional. Porém, em sua mente deturpada, ele achava que aquilo era uma das experiências mais tentadoras de sua vida. Talvez fosse o fato de saber que ela não queria nada com ele, talvez o proibido tivesse um apelo grande demais para que ele pudesse resistir. E talvez fosse mais do que o mero fato dela ser inalcançável.

Não saberia responder.

No entanto, quando a trama do filme foi tornando-se cada vez mais parada, as perguntas pararam de vir. Preocupado que June tivesse percebido tudo o que se passava em sua mente maliciosa, Christian estava prestes a formular algum pedido de desculpas indireto, quando a sentiu apoiar-se sobre seu ombro. A respiração dela estava lenta, ritmada e baixa. Dormia.

Após ajeitar-se para que o pescoço de June não ficasse muito torto e ela não sentisse dores futuras, o garoto percebeu que, sobre as luzes e sombras inconstantes causadas pela tela do cinema, June não lhe parecia tão irritante como costumava ser.


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Notas finais do capítulo

Então, pessoas! O que vocês acharam? EU AMEI ESCREVER DO PONTO DE VISTA DO CHRISTIAN! E foi muito legal porque já tirei todo ar de mistério que poderia ter em relação à ele (ao menos uma boa parte). As coisas ficam mais claras para todo mundo e creio que vai ser um pouco fácil entender o que pretendo para a continuação da fanfic.
Bem, agora vou conversar com vocês, eu acho que depois desse capítulo eu mereço comentário de todos os meus leitores, não acham não? Eu me esforcei tanto POR VOCÊS! Quero saber o que acharam! (E, certo, talvez isso seja uma chantagem emocional, mas eu realmente queria saber o que vocês acharam, meus bebês)
Além disso, também aceito recomendações e tals! Favoritem a fanfic, conversem comigo, só cheguem aqui, sério!
Tô muito feliz!
E é isso!
Beijooos!



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