Forget About Me escrita por Lia Mayhew


Capítulo 17
Capítulo 16 - Devil Like Me


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo acabou ficando maior do que eu esperava, mas tudo certo.
Eu não resisti e coloquei um Easter Egg do meu livro favorito, quero ver se alguém percebe.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/729663/chapter/17

 

 

Is the devil so bad if he cries in his sleep

 

— Eu não sei se deveria abrir.

— É sua decisão, amor.

— Abra logo. - Elsie bateu no braço de Layla. - É sério. Já abrimos as nossas. É a vez dele.

— E se o pai quiser que eu abra com ele?

— O seu pai falou que vocês podiam abrir quando as cartas chegassem, Brendon.

— Você tem razão. Não tenho medo de um pedaço de papel.

Com uma postura confiante, Brendon abriu o envelope. Ele torceu para que Elsie não visse que suas mãos estavam tremendo. Sua namorada tinha conseguido notas muito boas - Ótimos em Herbologia, Poções e Transfiguração - mais do que suficientes para o programa médico que queria. Até a sua irmã tinha ido melhor que o esperado. Layla tinha feito apenas as cinco matérias exigidas pela St. August e tinha tirado 1 Aceitável, 3 Excede Expectativas e 1 Ótimo, o último em Feitiços.

A questão que o deixava nervoso era que ele tinha decidido fazer nove matérias do currículo básico no N.I.E.Ms. Esperava que a maioria fosse Ótimos e a ideia de tirar um aceitável era angustiante. Ao se deparar com três documentos, olhou primeiro o boletim do colégio. St. August era cara, elitista e gostava de ser melhor que os outros, como a maioria das coisas em Berwick-upon-Tweed. Por isso, além de oferecer uma base sólida das matérias básicas do currículo estudantil, sem rotatividade de professores, a escola de magia disponibilizava vários cursos adicionais. As durações variavam conforme o assunto e havia um mínimo de horas que os alunos deveriam completar. Brendon tinha excedido esse número há bastante tempo e seu boletim colecionava conteúdos: latim, oclumência, empreendedorismo na magia. Também havia um certificado de participação na última temporada de quadribol. Era algo bem generoso, já que a única vez que saiu do banco de reservas foi quando o goleiro ficou gravemente ferido por uma bolada no rosto nos quinze minutos finais de um jogo. Sem mais nada para olhar, voltou a atenção aos resultados dos N.I.E.Ms. Não acreditou no que leu.

— Como foi?

— Conseguiu os 5 Ótimos?

Ele abriu um sorriso caloroso e olhou as garotas.

— 6 Ótimos. 3 Excede Expectativas.

Elsie e Layla gritaram e aplaudiram. Brendon pegou a namorada pela cintura e deu um beijo afetuoso. Apenas se separou quando faltou ar, sendo premiado mais uma vez ao ver aqueles olhos azuis brilhantes.

— Eu nunca duvidei de você. Me enche de orgulho.

Ele ia responder algo igualmente sentimental quando sua irmã reapareceu com uma garrafa de champagne. Layla foi obrigada a pegar uma opção realmente boa, pois tinha acabado com o estoque de bebidas de média qualidade ao longo dos meses. Alguém deveria repor após seus vários saques na adega do pai.

— Ah, não. Por isso, você sugeriu ficarmos aqui fora.

A reclamação foi inútil. Ela tinha uma certa prática com roscas de champagne e abriu a garrafa em segundos. Brendon foi encharcado com a bebida e não teve opção além de aproveitar o momento. Elsie buscou as taças na cristaleira. A sua felicidade era indescritível.

Os três ficaram falando bobagens até terminarem a garrafa, que colocaram na lixeira do vizinho para despistar suspeitas. Havia uma sensação de conforto e familiaridade que eles sabiam que iriam sentir falta em breve. O sucesso nos exames finais era a confirmação que nos próximos anos o grupo estaria em lugares distantes, levando vidas totalmente separadas. Layla não ia conseguir pedir a opinião da melhor amiga sobre o que usar todo dia. E mesmo que ainda fosse ver o seu irmão frequentemente, a transição entre dormirem em quartos vizinhos e morarem em países diferentes seria violenta. Já Elsie e Brendon tentavam fingir que a distância não abalaria o relacionamento deles, mas a negação estava ficando insustentável.

Quando as garotas estavam indo se arrumar, Fred aparatou no quintal da casa. Layla o convidou para o jantar de comemoração da família. Ele ficou tão feliz com as notas que ela tinha tirado que parecia que eram os seus N.I.E.M.S.

— Te ajudar a estudar é o mais perto que eu vou chegar de fazer essa prova. - Respondeu Fred.

— Não teria conseguido sem você. - Ela deu um selinho no namorado.

— Mas vocês estão um grude esses dias, viu? - Comentou Elsie com um jeito típico de Brendon, que ainda estava muito feliz e um pouco tonto para se manifestar.

Fred sorriu como se entendesse como um elogio. Layla sorriu, contudo o comentário fez o seu estômago se retorcer de culpa. Repetiu para si mesma que não fazia diferença e que amava seu namorado, ainda que estivesse tentando compensar algo. Ficou calada sobre a adoção e a família Lestrange. Desde que descobriu aquele papel na casa de Clementine, tinha feito questão de vê-lo todos os dias. Eles não costumavam se ver com tanta frequência por conta da locomoção cansativa e dos compromissos deles com a loja ou com a escola. O final das aulas deu a brecha perfeita para ela passar as suas tardes na loja. Fred ficou contente com o aumento das visitas. Ele não gostou de ter feito Layla presenciar a batalha no departamento de mistérios. Ela estava segura na sua cidade idílica e distante da magia das trevas, que ameaçava todo o universo dos Weasley. Por isso, era um alívio que sua namorada não queria fugir dele.

Peter chegou em casa logo em seguida. Ele leu com cuidado os resultados dos filhos e de Elsie, em ar examinador. Encheu os três de elogios e felicitações que não pareciam se esgotar. O pai brincou que iria enviar os resultados de Brendon para todas as pessoas que conhecia. Layla não duvidava se ele, de fato, fizesse isso amanhã. A reserva deles no restaurante estava perto, limitando as adolescentes a apenas colocar uma roupa arrumada.

Por conta de Peter, eles foram caminhando até um bistrô francês, o único lugar que a tia Candy aceitava comer na cidade. Era exatamente sobre ela que queria alertar Fred:

— Você vai conhecer a minha tia hoje.

— O quão preocupado preciso ficar? - Disse ele, com um meio sorriso confiante.

— Muito. - Retrucou Layla, aumentando o aperto nas mãos entrelaçadas. - O lado positivo é que eu sempre achei sexy ter um namorado que a minha família não aprova. E já que o meu pai te adora, tia Candy é nossa última opção.

— O Brendon não é o meu maior fã.

— Esse é um pré-requisito. Se ele gostasse de você, quem não iria seria eu.

Fred riu e olhou para trás, para dar uma olhada no seu cunhado, que estava andando apoiado em Elsie.

— Bem, se tivermos azar e ela gostar de mim, é só mencionar como fui expulso da escola.

— Ser dono de uma loja de brincadeiras também te dá uma boa vantagem.

Layla segurou a língua para evitar falar que a tia levaria em consideração ele não ser um grande herdeiro. Nada disso importava de verdade. Suspeitava que Candice iria achar que eles formavam um bom casal, ninguém esperava que ela fosse se contentar com um cara entediante. E Fred era educado, corajoso e criativo. Além disso, ela achava um pouco brega que seu coração esquentasse ao vê-lo cruzar as ruas da sua cidade natal. A sua figura alta e esguia emanava uma proteção que fazia seus problemas ficarem pequenos.

Tia Candy e Katie estavam esperando no restaurante. A madrinha demonstrou o mesmo orgulho que Peter, declamando sua felicidade pelos irmãos. Candice não externalizou tantos elogios, se recusando a contribuir com a vaidade deles. A lista de seus admiradores era longa o suficiente. Por isso, se contentou em fazer comentários que julgou pertinentes.

— Você realmente tem que se mudar para a Suíça, Brendon?

— É o melhor programa que tem, tia. E são apenas dois anos.

— Seu pai fez praticamente o mesmo curso na Escócia quando tinha sua idade. Diga para ele, Peter, que seu colega de classe é hoje presidente do banco central europeu.

— Como ele iria esquecer? Você fala tanto desse homem que poderia ser casada com ele, Candy. E eu já disse para o Brendon que acho o programa suíço perfeito para alguém da idade dele, é muito mais moderno.

— O francês dele é tão bom. - Ajudou Katie. - Seria uma pena ele não pratica-lo.

— Humpf. - Tia Candy voltou a atenção à sobrinha. - E a madame decidiu o que quer fazer?

— As aulas mal acabaram. - Interveio Peter. - Layla pode aproveitar as férias e pensar nisso depois. As notas delas foram boas.

— Sei o que ela quer aproveitar. - Falou, fixando o olhar no jovem casal, que se segurava para não rir. - Qual é o nome do rapaz?

— Fred Weasley, senhora.

Fred sorriu, tentando agradar. Candice não retribuiu o sorriso.

— Weasley, é? Faz sentido. Antigamente, não existiam escolas de magia aqui no norte e muito menos colégios particulares refinados como o deles. Estudei em Hogwarts até o sexto ano antes de cuidar de Peter.

— Que incrível. É bom encontrar uma colega. Qual era sua casa? - Fred ficou animado com a menção de algo que ele conhecia que a pergunta saiu de forma automática. Então, ficou preocupado que ela responderia sonserina.

— Corvinal. Mas até lá ouvíamos sobre os Weasley da Grifinória. Uma pena que permaneceram ruivos.

— Tia!

— Tudo bem, amor. - Disse Fred, pegando uma garfada generosa de macarrão com trufas. - Ela poderia ter dito que continuamos pobres.

Toda a mesa riu do comentário, menos Candice. Ela tomou um grande gole de vinho.

— Isso - Levantou o dedo fino no ar. - é outra coisa que você precisa considerar, querida. Então, trate de arranjar um emprego.

 

 

— Tirando o fato que sua família descobriu que eu sou pobre, eu acho que fomos bem hoje?

Fred e Layla estavam no quarto dele, no apartamento da sobreloja. Eles conseguiram despistar Peter e aparatar para o Beco Diagonal sem ninguém perceber. Torcendo por esse cenário, ele já tinha mandado George encontrar um lugar para dormir naquela noite. Os dois estavam abraçados na cama, com poucas roupas.

— Definitivamente um sucesso. Tia Candy acha que vou fazer a próxima geração Harrison ser ruiva e não quis me deserdar.

— Satisfeito com a minha contribuição. - Fred avançou para um beijo mais intenso e foi interrompido.

— Antes de irmos nessa direção, tem uma coisa que meu pai me contou essa semana. - Precisava compartilhar, ao menos, parte da história. - Fiz algumas perguntas e fiquei incomodada que nenhum dos meus avós se parecia comigo. Ele me disse que eu sou adotada.

— Nossa, Layla. - Imediatamente, ele se endireitou, colocando as mãos nas costas dela e assumiu um tom de voz sério. - Ninguém nunca te disse nada até hoje?

— Não. Ele e a minha mãe me adotaram quando eu tinha quatro anos. Acho que ele ficou com medo que eu pensasse que ela não gostava de mim.

— Com certeza, ela te amava. A sua família é inteira obcecada por você. Eu entendo o porquê.

— Você é suspeito para falar, mas é verdade. E eu não consigo nem ficar brava com o meu pai. Eu preferia que ele tivesse me contado antes e que não mentisse tanto sobre o passado, claro. Só que o importante é que todo mundo sempre cuidou de mim e me amou mais do que os meus parentes de sangue.

— Sabem alguma coisa dos seus pais biológicos?

— Meu pai não sabe nada. Me encontraram perdida no meio da neve. Sem nenhum sinal da minha família biológica. Eles provavelmente eram negligentes.

— E você quer tentar encontrar eles? Gostaria de conhecer eles?

Layla não tinha parado para pensar no que ela queria fazer. Algo raro. Sentia responsabilidade por conta da sua suspeita e queria descobrir a maneira mais segura de lidar com Bellatrix. Ela tinha curiosidade sobre certas informações básicas: a data do seu aniversário, o país em que tinha nascido e quem estava cuidando dela no dia em que foi encontrada. Seus sentimentos estavam longe da ideia romântica de que pessoas adotadas sempre querem ter uma relação ou conhecer a história dos pais biológicos. Mesmo que essa hipótese fosse ridícula nesse cenário, ela percebeu que não importava. Com ou sem Lestrange, a resposta seria a mesma.

— Eu não tenho motivo para procurar pessoas que não conheço. A minha família é ótima e mais do que suficiente para mim. Mas eu tenho um mau pressentimento sobre isso, Fred. Talvez a escolha não seja minha.

— Claro que a escolha é sua. Eu entendo que você esteja pessimista no momento. - Ele beijou a testa da namorada. - A sua família deveria parar de mentir para você. Sei que você vai fazer o que precisar fazer.

Era exatamente o que ela queria escutar. Uma benção desinformada para se sentir melhor com seus planos clandestinos.

— Você tem uma alma gentil, Fred Weasley. Obrigada por isso.

 

 

Layla tinha dito que iria embora durante a madrugada. Ela acordou no meio da noite e perdeu toda a determinação quando viu o rosto adormecido do seu namorado no calor de um abraço. Podia quebrar mais algumas regras, elas eram meras sugestões nessa altura. Eles só levantaram ao ouvirem o barulho da porta de entrada. Encontram George e Angelina na cozinha.

— Bom dia!

— Bom dia para quem, minha querida cunhadinha?

Os olhos de George estavam arregalados e ele balançava a chaleira que colocava no fogão. Angelina o abraçou por trás.

— Ele passou uma noite ruim na Toca.

— A mãe deu os nossos antigos colchões para o Ron e para a Ginny. Um absurdo. E eles se recusaram a me devolver. Parece que eu passei a noite em cima de uma pedra.

Fred abriu um pacote da Doce de Mel que seu irmão trouxe, distribuindo as guloseimas para Layla e Angie. Eles ignoraram coletivamente as reclamações.

— Você falou dormindo ontem. Ficou chamando um tal de Gregory.

O comentário fez George parecer revigorado.

— Saudoso Gregory!

Fred quis enfiar a cabeça nas mãos.

— Quem é? Devo ficar com ciúmes?

— Gregory era o amigo imaginário de Fred. Ele falava tanto com ele que mamãe achou que fosse um fantasma.

— Isso é muito fofo. - Layla deu um beijo na bochecha do namorado. - Gregory não é formal demais para um amigo imaginário?

— Era de um livro infantil. Gregory no meio das estrelas. Era meu preferido.

— Eu sempre gostei mais de Contos de Beedle, o Bardo.

— É um clássico. - Concordou Angie. - Para mim, a melhor parte era O Coração Peludo do Mago. E o seu Layla?

— Eu não lia muito quando era criança. Meu irmão gostava, eu era mais hiperativa. O livro que mais gostei se chamava Princesa Mignonette vai para a escola. Talvez seja trouxa. Os desenhos eram lindos, a história era meio lixo.

— Ainda bem que você não tinha um amigo imaginário. - Declarou George, servindo chá de mau-humor. - Mignonette é um nome horrível.

 

 

Layla gostaria de ter um intervalo maior de tempo. Não que houvesse tempo o suficiente no mundo para se preparar. Sentia que precisava fazer isso. Hoje era a oportunidade que tinha, pois sabia onde ele iria estar.

O lago tinha um formato irregular, cheio de pontas e curvas. Era quase grande demais para estar em uma propriedade privada. A água parecia escura, por conta do céu nublado e da folhagem das árvores altas que cercavam a área. A pele pálida e os cabelos loiros faziam Draco ser facilmente identificado. Uma presa fácil. Ela andou com calma até a borda do lago. Em algum momento, ele a avistou e desistiu do banho. Usou uma toalha grossa igualmente branca para se enrolar. Draco parecia infeliz e tremia. Poderia ser a água fria do lago, mas algo na expressão fazia ela pensar que ele estava nervoso. Ela parou na frente dele, que não olhou na sua direção.

— Como me achou?

Layla tirou um pedaço de papel do bolso. Leu as linhas conhecidas:

Deve ser muito confortável morar no interior. Tem um pequeno ritual que gosto de fazer quando volto para casa no começo das férias. No dia de São Swithin, se não amanhece chovendo, vou direto nadar no lago perto da minha casa. Vou sozinho e nunca fico solitário no meio da natureza. Você tem a oportunidade de fazer isso todos os dias.

— Quem diria que Draco Malfoy seria um poeta? Feliz dia de São Swithin, aliás.

A última conversa que tiveram foi por meio das cartas. Eles trocaram seis cartas, todas logo após ele ter ido ajudar ela em Berwick-upon-Tweed. Foi ele quem parou de responder, de repente. Layla não insistiu. Tinha voltado a namorar Fred, que odiava Draco. Ficaria brava se descobrisse que Fred se correspondia com uma garota com quem já tinha ficado. Nesse momento, ela suspeitou que os motivos de Draco poderiam ser estratégicos e não sentimentais.

— Vai embora, Layla. Não temos nada para conversar.

Layla ficou irritada. Era muita coragem dizer isso quando toda a linguagem corporal gritava que ele estava escondendo algo.

— Você sabia?

— O quê?

— Você sabia que éramos primos quando a gente se conheceu? - Ele olhou para ela pela primeira vez naquele dia. Parecia tão cheio de culpa que ela aumentou a voz. - Foi por isso que você quis ficar comigo? Você estava me vigiando?

— Para com essa bobagem. Isso é horrível, Layla.

Ela usava um vestido verde longo. Os cachos balançavam no ritmo da raiva. Draco achou que ela estava dolorosamente bonita de próposito. Ele não queria ter essa conversa agora.

— Um menino faz de tudo para ficar comigo. Mais de um ano depois, ele aceita um convite ridículo para me humilhar com a desculpa que estava tentando me ajudar. E agora, eu descubro que nós somos parentes. Parece armação.

— Você realmente pensa dessa maneira? Acha que eu iria querer essa situação?

Havia uma certa derrota nele. Layla não conseguia esquecer que Draco tinha dezesseis anos e que seu pai tinha sido preso há pouco tempo. Se ela pegasse muito pesado, ele poderia não aguentar.

— É isso que parece do meu ponto de vista. Não acha que eu mereço saber?

— Eu não sei do que você está falando.

Ele procurou a sua varinha junto do sapato, mesmo lembrando que não tinha trazido ao lago. Foi uma escolha estúpida, já que vivia cercado de bruxos das trevas e inimigos raivosos. Também não teria previsto que a ameaça seria um antigo affaire. Notou pelo canto do olho que Layla alisou a sua varinha colada na cintura.

— Você sabe. - Ela tinha certeza que ele não sabia quando eles se conheceram, significando que não sabia há muito tempo. - Eu consigo ver no seu rosto. Você sabe quem eu sou, quem nós somos. Aposto que está te devorando por dentro. O único jeito de se salvar é me dizendo a verdade. Me dando aquilo que é meu por direito. Quem sou eu, Draco?

— Lyra. Lyra Lestrange.

Ele se sentou na grama, ainda com a toalha enrolada nos ombros. Ela se juntou a ele.

— Filha de Bellatrix Lestrange. - Disse ela, resignada.

— Se eu te contar o que eu sei, você tem que prometer que vai proteger a minha mãe. Independente de você gostar ou não, ela fica fora disso. Ela é a pessoa mais importante no mundo para mim. As coisas já estão bem difícies. Ela é forte, bondosa e não tem culpa das circunstâncias da nossa família. Eu não digo nada sem essa garantia.

Em julgamento preliminar, a mãe de Draco parecia ser uma pessoa decente. Apenas um acontecimento muito ruim - algo possível nesse cenário - poderia a fazer mudar de ideia. Ainda assim, suspeitava que não teria coragem de atacar a única pessoa que cuidava de Draco. Ela sentia uma espécie de gratidão por ele e muita dó.

— Tudo bem. Eu prometo.

— Estou falando sério, Layla. Se você fizer qualquer coisa contra ela, eu vou atrás de você.

— Para de me enrolar. Conta o que você sabe, Draco.

— Eu descobri há pouco tempo. Quando ainda estavamos conversando, tentei encontrar fotos do dia em que nos conhecemos. Minha mãe viu as fotos e ficou muito nervosa. Ela seria a melhor pessoa para contar a história. Sei que gostaria de te ver.

— Sem chance. E você não pode comentar com ninguém que eu te procurei. A segurança da minha família está em jogo também.

— Eu entendo. É mais seguro assim. - Ele limpou a garganta e olhou nos olhos dela. - Minha tia Bellatrix engravidou antes da guerra. Ela escondeu de todo mundo, exceto do marido dela e da minha mãe, porque achava que ia prejudicar a posição dela. No dia que o bebê completou uma semana, ela o mandou para Marchmont House, na Escócia. É uma propriedade histórica construida pela família Black e estava sendo administrada por Neil Rosier, um parente distante. Esse acordo fazia sentido, já que a sua esposa ainda não tinha lhe dado filhos, e funcionou por quatro anos até que Bellatrix e Rodolfo foram presos e condenados a prisão perpétua. O futuro da criança ficou incerto, pois o arranjo deveria ser temporário. Minha mãe decidiu ir até Marchmont para conversar e, como eu era muito pequeno, me levou junto. Não sabia que algo terrível ia acontecer. Moradores da região incendiaram a casa como retaliação aos atos que Neil praticou durante a guerra. Minha mãe me salvou e conseguiu resgatar a criança, fugindo para o bosque da propriedade. O tempo estava horrível, nevava muito. Ela procurava uma rota de fuga e a varinha para aparatar, quando a menina desapareceu. Sumiu no meio da neve sem deixar vestígios. Minha mãe tentou procurar, só que as pessoas estavam entrando no bosque e ela me tirou de lá. Toda a família acha que a criança morreu no incêndio. Mas, de alguma forma, é você, Layla. Uma Black-Lestrange criada por um aborto e uma trouxa em uma cidadezinha no interior, como você mesma me disse uma vez.

Layla foi atingida com um grande golpe e milhares de pequenas dores localizadas. Uma avalanche de picadas de agulha. Uma filha indesejada sem motivo aparente, rejeitada com uma semana de vida. Dada para pessoas tão ruins que foram queimadas vivas. Esquecida no frio congelante com quatro anos de idade. A ferida aumentava pela relação de Draco com essa família, a família dele. O jeito como ele pausava na metade ao falar Bellatrix, acostumado a usar uma abreviação ao invés do nome completo, quase a fez passar mal. Bella.

— Você falou Lyra antes. - Comentou ela com uma suavidade impressionante. - Lyra Lestrange, não Layla.

— Esse era o nome que deram ao bebê. É uma tradição da linhagem Black receber o nome de uma constelação. Andrômeda, Órion, Draco.

— Lyra. - Ela repetiu, testando a palavra na boca. A sonoridade era diferente.

— Você sabe o que aconteceu no meio no caminho? Como você sobreviveu?

Draco estava curioso, ela não tinha esboçado uma resposta. Ouvir aquela história, sendo a trama principal, deveria ser muito difícil. Foi pesado para ele quando escutou na primeira vez. As únicas explicações eram Layla ser uma boa atriz ou estar dissociando.

— Não foi graças a sua mãe, com certeza.

— Isso não é justo.

— Nada disso é justo. - Layla não queria dar nenhuma informação sobre a sua família e seus pais. - Qual foi a reação de Bellatrix?

Draco conseguiu ficar mais branco, o desespero claro em seu rosto.

— Ela não sabe. Está planejando contar para ela? Pensei que ia querer manter distância.

— Então, você não falou com ela desde o dia no Departamento de Mistérios. Ela sabe, Draco. Bellatrix me viu lá.

— O quê? - O tom superior típico apareceu na conversa. - Você estava lá?

— Sem querer. Escondida no canto até ver minha mãe biológica matando o primo dela.

— Merda. Óbvio que não a vi depois desse dia. Meu pai foi preso, Layla. Ela é uma foragida. Tem patrulhamento em todo canto.

— Sinto muito que os seus parentes supremacistas de sangue estão sendo finalmente presos.

Ela não deveria, mas se arrependeu de ter dito isso após ver a cara de Draco. O garoto tocou na parte interior do braço direito por instinto.

— Eu sei que você já decidiu que eu sou um babaca e o seu patético caso com o Weasley deve ter te contaminado, só que não é preto no branco. Pessoas boas podem fazer coisas ruins. Às vezes, você não tem escolha.

— Essa escolha é sua. - Ela lembrou as palavras de Fred, enquanto registrou que Draco parecia não saber que eles tinham voltado. - Você não tem que continuar com essa palhaçada.

— Estamos fugindo do assunto. - Esse tópico deixava Draco desconfortável. Ele não queria lembrar o que precisava fazer. - Posso te levar até a Marchmont House, se quiser. Ajuda a entender.

— Não preciso de guia. Prefiro que você me passe o endereço.

— Eu não confio em você. Posso te levar amanhã, nos encontramos aqui.

— Tudo bem. - Apontou para o peito dele ainda descoberto. - Mas venha de camisa.

 

 

Layla não conseguiu fazer nada até o dia seguinte. Visualizou as cenas que Draco contou, como um filme em sua cabeça. Imaginava um bebê em uma cesta de vime branca sendo carregado por uma coruja até a Escócia. Via Narcisa Malfoy pulando da janela em chamas com duas crianças no colo. Tentou lembrar de andar na neve por um bosque com cheiro de fumaça. Só conseguiu deixar as coisas mais dramáticas do que elas deveriam ter sido.

 

 

Draco foi pontual e fez a cortesia de permanecer calado. Ao pisar na grama de Marchmont House, ela sentiu arrepios. A imagem era poderosa. O fogo tinha devorado o topo das duas torres laterais e parte do último andar, dando a impressão que a mansão tinha sido abandonada no final da construção. Fazia sentido que esse era o lugar de onde tinha saído. Era o lar das vozes e risadas que já ouviu na sua cabeça. Uma sensação perversa de pertencimento a imundou. Foi atraída pelas ruínas e andou até a porta principal. Pulou o muro baixo e girou a maçaneta com naturalidade.

— Layla, você não pode entrar aí.

Ignorando o aviso, ela forçou a entrada. Circulou pelo primeiro andar e admirou as paredes condenadas. Não conseguia identificar objetos ou mobília. As colunas expostas deixam claro que o imóvel poderia desabar a qualquer momento, dando razão a Draco. Ela saiu e se juntou ao garoto apoiado no muro. Levou vários minutos para ela conseguir falar.

— Estou tentando adivinhar qual janela a sua mãe pulou.

— Até onde eu sei, ela saiu pela porta dos fundos.

Claro, bem menos dramático. Ainda era loucura pensar que ela e Draco estiveram tão perto e nunca souberam.

— Podemos conversar sem se atacar por alguns instantes? Ninguém sabe sobre isso e preciso dividir com alguém.

Draco ergueu as sobrancelhas, se segurando para rebater o comentário sobre quem estava fazendo ataques.

— Eu também não tenho com quem falar sobre essas coisas.

— Você é próximo de Bellatrix?

— Ela esteve em Azkaban durante quase toda a minha vida. Eu a conheço pelo que a minha mãe conta da infância. É a única irmã com quem pode falar. Sua irmã Andrômedra foi deserdada da família por se casar com um nascido trouxa, Ted Tonks. - A imagem de uma garota de cabelo rosa surgiu nos pensamentos de Layla. - Admito que a vi algumas vezes desde que fugiu. Não acho ela parecida com você. Olhos malucos, pouco cabelo, pele pálida.

— Sim, eu não estive incarcerada por quinze anos. Soube que ela era a minha mãe biológica no instante que a vi. O que é esquisito, já que não sabia que era adotada.

— Deve ser difícil saber que ninguém te contou.

Ela deu de ombros e apontou para a casa.

— Como foi crescer com uma família com esqueletos queimados no armário?

— Eu diria que foi normal. É tudo que eu conheço. Você sabe como é crescer com dinheiro. Ser parte de uma dinastia é apenas mais uma camada. Seus heróis são seus ancestrais, que tem suas histórias contadas como personagens de fantasia. Desde cedo, já é claro que existe você e os outros. Se você é parte dos melhores, os outros só podem ser os piores. As regras são mais fáceis de aprender do que xadrez. Na primeira oportunidade, a vontade de testar essa hierarquia é incontrolável. Você assume a sua posição e o tempo é areia movediça te predendo no lugar.

Layla esperava uma confissão. Uma prova da maldade intrínsica de uma família de psicopatas. A linha clara que ela esperava dos Black-Malfoy-Lestrange não existia. Entendia tudo o que Draco tinha falado por experiência própria. Sua cidadezinha era igual.

— E qual é a sua posição? - Ela perguntou, querendo aproveitar a abertura inédita que via nele.

— O herdeiro Malfoy. A prisão do meu pai me torna o representante da minha família.

— Isso não pode ser possível. Você é muito novo.

— A minha servidão é esperada. É a única opção que eu tenho para garantir a segurança da minha mãe.

— O que significa servidão?

Ele olhou para o chão e falou em voz baixa.

— Significa que eu vou ganhar a marca da morte esse verão.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até o próximo!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Forget About Me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.