Squib escrita por themuggleriddle


Capítulo 1
Squib




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Ter um broche de monitor de Hogwarts sempre fora o maior sonho de Molly.

Ela cresceu ouvindo seu pai contar sobre os anos em Hogwarts, sobre o castelo e as aulas e os cargos de monitores e monitores-chefes. Ele havia sido monitor e monitor-chefe, ainda guardava o broche vermelho e amarelo com um ‘M’ gravado e outro com ‘Monitor-Chefe’, ambos dentro do armário de vidro da sala de estar, onde sua mãe também guardava os seus prêmios de concursos de suculentas mágicas.

Com três anos, a menina pegava gravetos no jardim e brincava de enfeitiçar as flores como sua mãe fazia para que elas crescessem. Com cinco, ela levava seu caldeirão de brinquedo para fora de casa e ia até o riacho que corria atrás do quintal, enchia-o com a água cristalina e jogava pedaços de musgo e grama, fazendo poções de mentirinha. Com seis, ela e Lucy, três anos mais nova, brincavam com suas bonecas que sempre eram grandes feiticeiras. Com oito, ela viu Lucy fazer seu caldeirão de brinquedo borbulhar e a água dentro deste ficar azul. Com nove, Molly ainda não havia conseguido fazer nem mesmo uma pena flutuar. Com onze, a coruja de Hogwarts não chegou.

Seu pai mandou uma coruja para a Diretora McGonagall, enquanto sua mãe se sentou em sua cama e lhe explicou que, muito provavelmente, ela iria para outra escola. Uma tão legal quanto Hogwarts, ela dizia, onde ela faria muitas amigas. Percy voltou para casa com os olhos vermelhos e Audrey trancou-os no quarto do casal onde ficaram conversando aos sussurros até de madrugada.

Dois dias depois, Molly Weasley estava matriculada em um colégio interno St. George, nos arredores de Oxford. Em Setembro, ela não foi pegar o trem na Estação King’s Cross, mas aparatou com seus pais até o tal colégio, se deparando com uma grande construção antiga, quase um castelo. Audrey sorriu e a abraçou. Percy a abraçou e ficou em silêncio.

Havia uniformes compostos por saias de pregas ou calças, suéteres e terninhos. Havia monitores e casas. Havia corredores antigos de pedras e quadros de alunos e diretores e professores que já haviam passado por ali. Era Hogwarts... Mas sem a paisagem escocesa e sem magia. E Molly sabia que seus pais haviam se esforçado para achar o colégio trouxa mais parecido possível com aquilo que eles haviam lhe contado sobre a escola de magia durante toda a infância.

***

Molly tinha diversas advertências guardadas em sua gaveta: por falar fora de aula, por tentar argumentar que Morgana e Merlin realmente existiram, por instigar os outros alunos a práticas bobas como leitura de cartas, por deixar corujas entrar em seu quarto, por inventar histórias sobre um esporte jogado sobre vassouras voadoras... Além disso, a Srta. Weasley quase reprovara no primeiro ano em St. George’s. Ela sabia ler e escrever, sabia o básico de matemática, mas era terrível no resto. Era como se a menina nunca tivesse ido a escola alguma.

Envergonhada após escutar seus colegas falando sobre como seus pais não a haviam mandado para uma escola antes, Molly fez da biblioteca a sua segunda casa. Quando não estava na aula, estava na biblioteca, lendo sobre história antiga e história moderna, sobre geografia e biologia, sobre matemática e inglês... Havia tanta coisa que seus pais não haviam lhe ensinado, mas era claro: bruxos não usavam aquilo. Seu pai sabia muito sobre política bruxa, mas ela duvidava que ele soubesse sobre a Revolução Russa pelo ponto de vista trouxa. Sua mãe era uma ótima herbologista, mas ela acharia bruxaria ler sobre células e tecidos de plantas.

Ela começou a erguer a mão na sala e responder perguntas. Um sorriso satisfeito e orgulhoso surgia em seu rosto sardento sempre que um professor a elogiava e ela olhava de soslaio para os alunos que haviam feito piada com ela. As notas dela aumentaram e ela convencera seu pai a comprar um celular para ela e um para ele, assim não haveria mais os problemas das corujas.

Molly deixou de ser a piada e passou a ser procurada. Pediam-lhe emprestado os seus cadernos de anotações e perguntavam se ela havia respondida questões difíceis nas tarefas de casa. Ela emprestava e ajudava. Seus colegas sorriam e agradeciam. Molly, aos poucos, ganhou amigos.

***

Com dezesseis anos, Molly Weasley ganhou um broche de monitora. Não era um belo broche de metal com o título gravado em alto relevo, mas sim um broche de plástico, redondo e azul com a palavra ‘Monitor’ escrita em vermelho. Ela prendeu em seu suéter e estufou o peito.

Quando chegou em casa, naquele final de ano, mostrou sua nova conquista aos pais. Ela viu Lucy dar um sorriso amarelo e Percy franzir o cenho, antes de dizer que aquilo era muito legal. Naquela noite, Molly guardou seu broche dentro da mala e não o tirou de lá até voltar para o colégio.

***

Com dezoito anos, ela foi aceita em Oxford. Tio Harry lhe deu um laptop de presente, dizendo que seu primo tinha uma filha que havia começado a faculdade fazia pouco tempo e achava aquele aparelho muito útil. Vovó Molly fez uma torta em sua homenagem quando foram jantar na sua casa e Vovô Arthur não parava de perguntar sobre como era aquela universidade trouxa. Lucy estava muito ocupada com os NOMs e seu pai, muito preocupado com um contrabando de varinhas.

Molly sabia que Oxford, com seus inúmeros colégios e cursos, tinha prédios bruxos escondidos por entre as dezenas de edifícios estudantis. Alguns cursos de educação superior bruxa se localizavam ali e trabalhavam mandando seus alunos para aulas com os cursos trouxas. Ela achava aquilo incrível, um passo na direção de uma maior união entre as duas comunidades.

Foi em Oxford que ela conheceu Jacob Goldstein. Não demorou para que descobrissem que ambos eram filhos de bruxos, ambos abortos. Ela decidiu estudar História para entender como e onde a sociedade bruxa havia se enfiado nos acontecimentos do mundo e como eles, crianças sem magia, ficavam nisso. Ele, um aluno de Ciências Biológicas, escolheu tal curso para tentar entender de onde vinha a magia e como ela havia pulado gente como eles. A amizade surgiu a partir da falta de sorte em comum e, em um ano, todos sabiam da menina de humanas que estava sempre com o menino de biológicas.

Com cuidado e muito trabalho, outros abortos surgiram. Uma aluna de Direito, um garoto de Clássicos e outro de Psicologia. Uma moça de Cambridge, do curso de Medicina, entrou em contato, junto com um rapaz de Veterinária. Mais e-mails e mensagens de celular foram chegando e não tardou até eles formarem um grupo o qual intitularam de Abortos por Abortos. Diferente da Sociedade de Apoio aos Abortos, que tentava colocar jovens sem magia para trabalhar em cargos simples do mundo bruxo ou que davam uma mesada para que essas pessoas parassem de incomodar a sociedade mágica, eles se reunião para discutir a situação de pessoas naquela situação, o que os levou ali, como eles podiam ser úteis tanto no mundo bruxo quanto no trouxa e não apenas servindo de zeladores ou meninos de recados. Eles queriam ser ouvidos, queriam suas pesquisas sobre História e Biologia e Veterinária sendo reconhecidas por bruxos. Queriam que seus pais se orgulhassem de seus diplomas e seus empregos trouxas, que Hogwarts contratasse gente como eles para lecionar matérias como Estudos dos Trouxas... Eles queriam ser mais do que a mutação falha.

O primeiro protesto ocorreu em Hogsmead. Vários abortos de todo o Reino Unido se encontraram lá, com a ajuda de familiares e amigos, e ergueram seus cartazes, distribuíram seus panfletos e conversaram com os alunos de Hogwarts que estavam passando o final de semana no vilarejo. Alguns jovens bruxos e bruxas franziram o nariz, mas outros pareceram interessados. Molly, segurando um cartaz com ‘Direitos dos abortos são direitos dos bruxos’ escrito em tinta vermelha, sorriu ao ver a Diretora McGonagall observando tudo com um sorriso pequenino e satisfeito em seu rosto.

Em dois meses, a Professora Minerva entrou em contato com ela e Jacob. A pobre bruxa ainda não havia dominado tecnologias de mensagens instantâneas, então o que chegou para eles foi uma coruja marrom com uma carta em pergaminho com o timbre de Hogwarts. Ela os estava convidando para apresentar uma aula sobre genética da magia e história da magia no mundo trouxa para uma turma de primeiro e segundo ano.

***

O segundo protesto foi dentro do Ministério da Magia. Foi mais complicado, já que eles tinham que entrar em grupos de cinco em cinco, todos apertados dentro da entrada de visitantes, mas logo eles estavam chamando a atenção de todos.

Jacob ficou emocionado quando viu um primo distante, Lysander Scamander e a mãe, Luna, ajudando-os a distribuir os seus panfletos. Molly, por outro lado, sentiu-se gelar quando viu, ao longe, os cabelos ruivos flamejantes e bem arrumados de seu pai.

Percy Weasley estava impecavelmente arrumado, como sempre, em suas vestes cor de tijolo e com os óculos de tartaruga de fundo de garrafa. Ele estava parado ao lado de um homem negro vestindo uma túnica azul noite e ela sabia que aquele era o Ministro Shacklebolt.  Seu pai estava com as orelhas vermelhas e o Ministro parecia interessado. Molly, também sentindo suas orelhas esquentares, andou a passos largos até os dois homens e sorriu para Shacklebolt, oferecendo-lhe um panfleto.

Mas o que a surpreendeu não foi a simpatia do bruxo, mas sim o fato de que Percy Weasley sacudiu a cabeça, limpou a garganta e disse em alto e bom som:

“Ministro, eu já lhe apresentei a minha filha, Molly? Ela estudou História em Oxford e já publicou dois artigos, em jornais trouxas, sobre a magia na sociedade trouxa, e um em uma revista bruxa menor, sobre o papel dos abortos e trouxas no mundo bruxo, desde a época da fundação de Hogwarts até hoje. Sabia que ela descobriu que um dos filhos de Salazar Slytherin era um aborto? E fez uma pesquisa muito interessante sobre James Steward, um dos fundadores da escola Ilvermorny, e sobre o marido de Rowena Ravenclaw, ambos trouxas?”

Molly não chegou a ouvir a resposta do Ministro. Percy nunca havia comentado de ter lido seus trabalhos, mas ali estava ele, conversando sobre suas pesquisas com minúcias e estufando o peito para falar dela, como se estivesse expondo o seu tão amado broche de Monitor-Chefe.

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Notas finais do capítulo

1) Eu vi essa fanart e fiquei pensando nisso e bAM! Fic.

2) Eu tenho esse headcanon de que esse Anthony Goldstein, que a JK falou no twitter que era judeu, é o neto do Jacob e da Queenie, de AFEOH. Logo, o Jacob dessa fic é... bisneto deles;

3) Eu amei o fato da história de Ilvermorny ter um fundador trouxa, okay?

4) O marido de Rowena Ravenclaw ser trouxa é parte de outra fic minha chamada 'A Águia e a Raposa'.


Como sempre, espero que tenham gostado e, por favor, deixem reviews dizendo o que acharam :)



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