A Escolha de Hermione escrita por Angel Black


Capítulo 1
Campo de Concentração




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O trem parou com um solavanco violento e alguns dos trouxas e sangues ruins que viajavam em pé, em condições horríveis, caíram uns sobre os outros. A porta se abriu de repente, invadindo o ambiente escuro com uma luz ofuscante que feria aos olhos. Hermione estava tentando ajudar uma velha senhora quando foi arrancada de dentro do trem e jogada ao chão.

— Pra fila, sangue-ruim!  - disse um bruxo vestido luxuosamente, apontando o lugar para onde Hermione deveria seguir.

Hermione levantou-se, rapidamente, e encaminhou-se para a fila, sem deixar de olhar em volta. Cada detalha importava para tentar achar uma saída, uma forma de sair daquele inferno.

Era um castelo enorme, velho e feio. Era todo rodeado por altas muralhas e pelo que Hermione conseguia ver, havia bruxos desfilando no alto da muralha empunhando varinhas.

Hermione imaginou que seria encaminhada para um dos pavilhões do castelo, mas viu que a fila simplesmente sumia a frente. Quando chegou sua vez, Hermione entendeu que deveria descer por um túnel escuro que levava a uma câmara enorme. O odor do lugar era insuportável: cheirava a morte.

Havia diversos pavilhões com cadeias, celas em que homens e mulheres, separados, eram entulhados, sem um mínimo de conforto. Hermione foi uma das últimas a ser jogada para dentro de sua cela. Havia umas trinta mulheres ali, compartilhando menos de quatro metros quadrado. Se todas quisessem se deitar no chão, não haveria espaço.

— Onde vamos dormir? – Hermione perguntou ao bruxo guardião que deu um sorrisinho.

— Não se preocupe com isso! – respondeu uma das mulheres saindo do meio da pequena multidão.

— Como assim? Você acha que há condições de viver assim? – disse ela, irritada com a mulher.

— Não, amiga... – respondeu ela. – Eles não esperam que vivamos. O que quero dizer é que já é a décima vez desde que cheguei que eles lotam a cela. Horas mais tarde, eles retornam, escolhem metade de nós e encaminham para outro lugar. Essa metade jamais retornará. Então, poderemos dormir com um pouco mais de espaço.

Hermione abriu a boca e emitiu um som estranho. Piscou várias vezes para tentar compreender o que acontecia.

— Eles nos matam? – perguntou ela, embora já soubesse a resposta.  As mulheres ao redor ficaram agitadas quando ela pronunciou aquela pergunta.

— O que você achou que acontecia nos campos de concentração, Granger? – respondeu a mulher, com uma cara triste.

— Você me conhece? – perguntou Hermione, surpresa.

— É a líder dos rebeldes. Todos te conhecem. A gente escuta seu nome de vez em quando. É algo que traz esperança para quem vive nessa merda. Pelo jeito, a esperança acabou.

— Não, não acabou! – respondeu Hermione. – Há outros de nós. Os rebeldes são poucos, mas estamos resistindo.

— Então o que você está fazendo aqui?

— Eles descobriram meu esconderijo. Meus homens morreram e eu fui presa.

— Ah, garota... eles vão te matar. Não sei porque ainda não mataram. Que eu saiba, havia um prêmio por sua cabeça.

— Sei disso. Estou preparada para morrer... – respondeu Hermione sentindo-se nervosa. Ela sabia que iria morrer, mas queria evitar se pudesse.

— Eles vão te torturar até que você conte tudo o que sabe.  Eles fizeram isso com muitos. Se você tem uma forma de se matar, sugiro que tente isso logo. – disse a mulher, de uma forma muito direta, quase agressiva, como se culpasse a Hermione por tudo aquilo que estava acontecendo a eles.

Hermione estava lívida. A mulher não precisava lhe dizer isso. Ela sabia o que poderia acontecer. Ela possuía muitas informações, afinal, desde que Harry desaparecera há dois anos atrás, Hermione se tornou a líder dos rebeldes. Todas as informações chegavam até ela e ela coordenava os pequenos ataques, as ações que minavam os avanços de Lucius e Draco Malfoy. Agora, entretanto, sabia que o único motivo porque fora poupada era porque Draco esperava arrancar dela toda e qualquer informação.

A melhor coisa a se fazer no momento era buscar a própria morte. Se ela morresse, as informações que ela possuía morreriam com ela. Ela era forte, já passara por muita coisa, mas ela já fora torturada e sabia o que significava a pressão da dor sobre um corpo já cansado.

Minutos depois, muitos guardas vieram. Abriram cela a cela, retiraram uma grande quantidade de gente e sumiram noutro aposento.  Era possível escutar os gritos angustiantes de pessoas implorando por suas vidas. Quando tudo silenciava, os homens retornavam novamente e prosseguiam para a próxima cela.

Quando eles se aproximaram da cela onde Hermione estava, as mulheres puxaram Hermione para trás, para deixa-la invisível entre elas, mas os homens estavam destinados a buscá-la. De sua cela, somente Hermione foi retirada. Empurrada como um cachorro escorraçado, Hermione foi encaminhada até o segundo aposento. Era uma câmara ainda maior, mas não havia celas ali. No fim da câmara, os corpos dos trouxas e sangues-ruins se amontoavam numa muralha humana e aquela visão aterradora fez com que Hermione titubeasse. Tentou retornar para o lugar de onde viera, mas dois homens a agarraram pelo braço e a arrastaram até uma cadeira, onde foi amarrada.

Olhou ao redor tentando captar todos os detalhes, embora fosse difícil no estado alterado como estava. Viu um homem vestindo um avental sujo de sangue. Ao lado dele, uma mesa com diversos instrumentos de torturas igualmente sujos de sangue.

— Oh, Deus! – suspirou Hermione, tentando se controlar.

— Por onde vamos começar? – falou o homem de avental.

Hermione acordou horas depois. Enquanto era torturada por aquele bruxo neonazista ficava imaginando quando o fim chegaria. Imaginou que no momento em que perdesse a consciência, ele a mataria, mas parecia que eles não haviam terminado com ela. Ela estava viva!

Hermione tentou entender toda a situação. Estava viva, de fato, podia respirar e sentia as dores pelo corpo, mas mal podia ver. O maldito homem de avental havia batido tanto em seus olhos que as pálpebras estavam inchadas e ela não conseguia enxergar direito.

— Espere um pouco! – Era a voz de Draco Malfoy.

Hermione olhou de relance e viu que ele estava na sala, bem no canto, observando tudo. Malfoy vestia um robe de bruxo negro que lhe caía muito bem e parecia estar se divertindo com toda aquela situação.  Passava a mão pelos cabelos alinhados e torcia os lábios num sorriso maligno.

— Mestre, seu pai deu ordens para... – um outro bruxo de olhos amarelos falou, mas foi interrompido por Malfoy que se aproximou.

— A quem você obedece, Rayburn? A mim ou ao meu pai?

— Ao Senhor...

— Ótimo... ! – disse Malfoy, cruzando os braços. O homem, Rayburn, afastou-se um pouco e se sentou numa cadeira no outro canto da sala.

O homem de avental então se aproximou, fazendo Hermione estremecer em sua cadeira. Automaticamente uma lágrima escorreu pelo olho bom, enquanto ela se preparava para o pior.

— Como devo tortura-la, então, mestre Malfoy? – perguntou o homem de avental.

— Eu conheço Granger desde a minha infância. Ela não irá se quebrar facilmente. Eu conheço um método mais eficaz. Levem-na até meus aposentos.

Tanto o homem de olhos amarelos quanto o homem de avental deram sorrisinhos maliciosos. Hermione sabia o que Malfoy estava sugerindo.

O homem de olhos amarelos abriu a porta e os dois homens que haviam trazido Hermione entraram no aposento, arrancaram-na da cadeira e a arrastaram para fora da câmera, saíram pela escada para o pátio do castelo e entraram num dos pavilhões.

Eles entraram por um corredor, carregando Hermione por ambos os braços. Ela tentava dar alguns passos, mas caía e era arrastada sem piedade.

Ela suplicaria se pudesse, mas tinha tantas dores no corpo e na face que toda a sua força pareceu ter sido arrancada de si. No final do corredor, havia uma centena de portas que pareciam ser os quartos dos bruxos ali instalados. Ela foi levada até a ultima porta que era dupla, diferenciada e sabia que ali era o quarto de Malfoy.

Eles abriram a porta, jogaram Hermione no chão e fecharam a porta em seguida. Ali no chão, Hermione não conseguiu fazer outra coisa, a não ser se encolher e esperar. Não poderia dormir com as dores que ainda sentia. Não poderia gritar, nem falar, mas sentiu que as lágrimas afloravam livremente por seu rosto.

Malfoy entrou no quarto, fazendo Hermione se retesar. Ela esperava um gesto brusco como um chute em seu estomago ou em suas pernas, mas Draco se abaixou e com um pano branco e macio, secou as lágrimas já misturadas com sangue que havia em seu rosto. Em seguida, ele a ergueu no colo, aninhando-a confortavelmente em seus braços e entrou por uma outra porta, onde ficava o banheiro.  Draco depositou-a na banheira e abriu a torneira. A princípio, a água morna doeu em suas escoriações, mas logo, o aconchego da água transmitiu um certo alívio em seu corpo.

— Isso deve ajudar. – disse ele, tirando um frasco de um bolso e jogando-o na água. Imediatamente, a agua ficou com uma coloração azul vibrante e reluzente.  – É uma poção de cura. – explicou ele, aproximando-se do pescoço de Hermione. Ela imediatamente pensou que ele fosse sufoca-la, mas ao invés disso, ele desabotoou as abotoaduras do seu manto em sua nuca – Vou ter que tirar sua roupa, Granger. – explicou ele, puxando suavemente seu manto. Envergonhada, Hermione até tentou cobrir seu corpo com as mãos, mas estas não lhe obedeceram e caíram inertes ao lado do corpo.

— Você está muito fraca, amor... – disse ele, sorrindo. Hermione odiava aquele sorriso. Era maléfico, debochado e diziam silenciosamente: você é minha e eu faço o que eu bem quero com você.

Ele verificou as marcas roxas no estomago de Hermione e balançou a cabeça, preocupado. Depois tirou-lhe o sutiã e a calcinha.

Hermione chorou de raiva e de vergonha, agradecendo pelas bolhas de sabão cobrirem suas partes íntimas.

Era isso o que ele queria dizer com um método mais eficiente?

Ele não se concentrou mais em nenhuma parte de seu corpo tão frágil e exposto naquele momento, mas passou a lavar-lhe os cabelos com generosidade. Massageou-os tanto, que Hermione fechou os olhos, entregando-se momentaneamente aquele gesto aconchegante.

A sessão de banho não demorou muito tempo e no fim, Malfoy a enrolou em um robe, ergueu-a novamente nos braços e levou-a novamente para o quarto, onde a depositou sobre a cama.

— Descanse um pouco, Granger, você precisa recuperar suas forças. E fique calma, amor, ninguém irá te machucar. Eu não vou deixar isso acontecer...

Ele a cobriu com uma colcha quentinha e confortável e afastou-se da cama. Num canto no quarto, havia uma mesinha redonda, com algumas cadeiras. Ali, Malfoy se sentou e passou a ler um pergaminho esquisito. Parecia um mapa. Talvez um mapa com a localização dos rebeldes.

Sem ter força para levantar-se da cama, ou fazer qualquer movimento, Hermione pensou nos homens e mulheres que morreram para protege-la. Durante meses, ela esteve escondida em diferentes localizações. Ela criou alguns tumultos no Ministério da Magia e sabia que Lucius Malfoy estava atrás dela. Ainda que Draco quisesse poupá-la, Lucius mandaria mata-la, assim que soubesse onde ela estava.

Ainda assim, imaginando que havia ganhado algumas horas a mais de vida, Hermione não teve outra alternativa a não ser deixar-se levar pelo sono.


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