A Cidade do Sol escrita por Helen


Capítulo 140
Orgulho.




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— Eu fiz as árvores-máquina para testar o sistema que eu ia colocar na Árvore de Espelhos: teleporte, proteção luminosa e arquitetura orgânica.— explicou o velho. – Uma colega minha, Alva, me ajudou a montar todo um mapa dessas árvores pra que eu pudesse testar e ter noção de onde eu iria parar se algo desse errado.

— Alva?! Ela é uma velha com um tapa-olho? – perguntou Bendito.

— Quando eu a conheci, ainda era nova. Mas sempre teve o tapa-olho... Você a viu?

— Ela mora numa cidade perto da árvore dos espelhos.

— Tão perto mas ainda assim tão longe... Queria poder vê-la novamente. – limpou a garganta. – De qualquer forma, elas eram apenas o teste para uma tentativa mais ousada: transportar uma cidade de gente até aqui.

— Aqui?! Acima dos céus?!

— Sim... Você não acreditaria se não estivesse aqui. Mas eu fiz tudo isso porque o orgulho da nossa cidade enlouqueceu a todos a ponto de fazê-los acreditar que éramos muito especiais para viver entre meros leigos. Quando criei o sistema de teletransporte, fechei os céus e...

— Espera. Foi você que trouxe a maldição das nuvens?!

— Fui eu, criança.

— Como pôde?!

— Eu era louco. Um louco orgulhoso e idiota. – um nó se formou em sua garganta. – Eu não somente fiz isso, como também abandonei pessoas que eu amava lá embaixo, por causa de rixas inúteis que só me trouxeram solidão e desespero aqui em cima. Eu sou um louco. – começou a soluçar. – O mais imbecil deles...

Bendito teve pena dele e se aproximou.

— Alva, Lázaro... Todos eles. Deixei todos eles lá embaixo. Como se não significassem nada pra mim...

— E você não consegue voltar?

— O ticket para a “Cidade do Sol” é somente de ida. Não tem como voltar. Nossas cabeças duras não pensavam que iriam voltar... Malditos somos nós. Nós, os moradores da Wittgen dos céus. Malditos somos nós! Que subimos por uma escada de cristal, e agora morremos queimados pelo sol! Malditos somos nós! Todos nós! E eu mais ainda, que sou o único que ainda resta vivo...

O velho começou a chorar. Bendito o abraçou, como se fosse um velho amigo.

— Eu não mereço estar sendo consolado... – o homem chorava. – Ainda mais por um meio monstro que eu ajudei a criar...

E continuaram abraçados, por algum tempo. Até que o velho se recuperou do choro.

— Nós evacuamos a cidade de Wittgen quando os céus se fecharam. Depois de subir, cada um que tinha vindo começou a morrer. Ou de sede, ou de saudade, ou de acidentes graças ao superaquecimento de alguns equipamentos. Os anos que vocês passaram embaixo de chuva nós passamos sob o sol. Com o passar do tempo, todos foram morrendo, desistindo da vida. Esperamos que alguém viesse nos buscar, mas ninguém veio. Não admira, já que fomos um bando de babacas com todo mundo...

— Eu vim... – começou o meio monstro – ...pensando que acharia a solução pra minha maldição aqui.

— Desculpe desapontá-lo. Mas esse lugar em si já é uma maldição. – o velho parecia realmente triste em dizer aquilo. – Poderiam te ajudar em Lagaeto e G’artler. E talvez a árvore dos espelhos também...

— Eu tenho a impressão de já ter visto essa tal de Lagaeto... Mas nunca ouvi falar de G’artler.

— Pergunte a alguém e saberá. – ele sorriu um pouco. E depois deu um pulinho de susto. – Eita! Fiquei falando tanto que esqueci de te servir alguma coisa. Volto já!

E o senhorzinho foi, todo apressado, fazer alguma coisa para Bendito comer.


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