Villain escrita por Lubs


Capítulo 1
Qual sua princesa preferida?


Notas iniciais do capítulo

Oin :3
Tudo bain? Eu vou maravilhosa! Nem acredito que consegui escrever duas contribuições para o desafio do mês, e acredito menos ainda que tenha atingido a marca de 1.758 palavras nessa one, que eu achei que fosse ficar menor que meu dedão do pé o.O
Anyways, espero que gostem!



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A primeira vez que lhe fizeram aquela pergunta, ela tinha cinco anos. Os filmes da Disney eram um sucesso total entre as crianças, os contos de fadas que fascinavam diversas garotas e faziam seus olhinhos infantis brilharem. Foi uma tia sua, querendo saber o que lhe dar de presente de aniversário, que lhe fez o questionamento. Com um sorriso gentil no rosto, enquanto olhava a inocente sobrinha de curtos cabelos acobreados. Ela abriu um sorriso radiante, feliz por poder compartilhar o que achava, e foi aí que ela disse pela primeira vez a resposta polêmica.

—A Rainha de Copas, tia!

O sorriso da adulta vacilou, enquanto ela olhava com uma expressão confusa pra a irmã, que tinha as bochechas coradas de vergonha pela resposta da filha.

—C-Como, Clyra? A Rainha de Copas não era do mal?

—Mas ela é mais interessante que a Alice!

—Não, a Alice é a mocinha. A Rainha de Copas é a vilã.

Clyra se emburrou, fazendo bico e cruzando os bracinhos.

—Mas ela não faz nada! Só deu sorte. A Rainha é mais engraçada. Se você ia falar mal da minha preferida, era melhor nem ter perguntado!

Sua mãe trincou os dentes e a puxou pelo braço, pegando a filha no colo. A tia da menina a olhava, surpresa com tamanha audácia.

—Desculpe-me, Layla, de verdade. A Clyra com certeza vai ficar feliz com qualquer coisa que você der, não é filha?

A pequena não se dignou a responder. Apenas fechou mais a cara e enterrou a cabeça do ombro da mãe, que sorriu amarelo e puxou o marido, dizendo que já iam embora. Assim que saíram, os burburinhos começaram;

—Essa filha da Genevieve é mesmo estranha... Onde já se viu preferir a Rainha de Copas à Alice?

 A segunda vez que lhe perguntaram aquilo, ela tinha oito anos e foi na escola. Não era uma pergunta necessariamente dita, mas a professora mandou os meninos desenharem os seus super-heróis prediletos e as meninas, as princesas que mais gostavam. Quando acabou a aula, todos tinham que entregar seus desenhos, e assim Clyra o fez. Mas, diferentemente de como havia reagido quando a menina em sua frente entregou um desenho da Bela Adormecida, dizendo que era um desenho adorável, a senhora franziu o cenho e encarou sua aluna com estranheza.

—O que é isso, Clyra?

—A Malévola.

A adulta suspirou, negando com a cabeça.

—Creio que entendeu errado, querida. Vocês deveriam desenhar sua princesa preferida, não a vilã dela. Façamos assim: você desenha em casa e amanhã entrega, sim?

—Entendi perfeitamente o exercício, sra. Lamartine. Mas a senhora queria o que, que eu desenhasse uma princesa que passa 75% do seu próprio filme dormindo e, quando acorda, é apenas para ser protegida por um príncipe e casar-se com ele depois, que nem Helena fez? Sinto muito professora, mas prefiro a mulher que foi inteligente o suficiente para fazer com que um reino inteiro adormecesse, mesmo que parecesse impossível.

Então, com um risinho intelectual demais para alguém de sua idade, saiu saltitante, balançando suas trancinhas enquanto pulava. Enquanto isso, a professora encarava o desenho de sua aluna com incredulidade, enquanto se perguntava o que aquela menina tinha na cabeça para dar uma resposta ridícula daquelas para uma pergunta tão simples e óbvia.

—Francamente, essa Clyra... Onde já se viu gostar mais da Malévola que da Bela Adormecida?

Na terceira vez, ela tinha 10 anos e tinha acabado de mudar de colégio. As meninas com as quais começou a se enturmar entraram naquele tópico, todas em uma rodinha falando de suas preferencias da infância.

—A minha predileta é a Branca de Neve! O jeito como ela foi salva pelo príncipe foi tão romântica! – Suspirou Peggy, arrumando a faixa cor de rosa que adornava seu cabelo castanho – Eu queria um Encantado só para me salvar!

—Pois eu gostava mais da Cinderela... Além de ser prendada e saber cuidar da casa, ainda tem um príncipe maravilhoso que faz tudo por ela e a tirou daquela casa cheia de pessoas horrendas!

Amandla fez uma careta ao citar a madrasta e as irmãs postiças, enquanto colocava o dedo cheio de anéis dentro da boca, simulando vômito. Clyra levou aquilo um pouco para o pessoal, já que até o ano anterior Anastácia era sua princesa preferida. Mesmo assim, não comentou nada.

—Bem, eu prefiro a Pocahontas, ou talvez a Mulan. Elas não são amebas mortas.

Disparou Gwendolyn, que logo levou um olhar de desprezo das outras duas. Secretamente, Clyra concordou com a outra – aquelas eram duas princesas das quais ela gostava. Checando as unhas pintadas de um rosa forte, Peggy revirou os olhos.

—Você não sabe apreciar uma boa princesa. Pocahontas, que não deixa o príncipe salvar ela? Por favor!

—Né? E a Mulan, que se fantasiou de homem só para ir para o exército? Ridículo! Se for para fazer tudo sozinha, qual a necessidade do príncipe?

Desdenhou Amandla, enrolando uma mecha do cabelo louro no dedo. Gwendolyn se encolheu um pouco em seu lugar. Peggy a cutucou com o cotovelo, um olhar curioso.

—E você, Clyra? Qual a sua favorita?

Ela corou e desviou o olhar, mexendo encabulada na franja de seu cabelo chanel.

—Ah. Bem, eu diria que a Nala... De Rei Leão.

Era mentira. Ela preferia a Rainha Má. A loira e a morena se entreolharam antes de começarem a rir.

—Aquela leoa?

—Você não pode estar falando sério!

—Essa foi realmente muito boa! Você quase me pegou!

Clyra encolheu os ombros. Apesar de tudo, ela realmente gostava da Nala. Respirou fundo, ponderando se havia feito a escolha certa: desde quando ela mentia sobre o assunto?

—Vocês tem razão. Eu menti. – Falou, se levantando. Amandla e Peggy a olharam , sem entender. – A minha preferida é a Rainha Má.

Então saiu. O sorriso das outras duas morreu e elas se entreolharam de cenho franzido, até começar a cochichar. Gwendolyn apenas permanecia calada.

—Eu hein, essa tal de Clyra é esquisita.

—Né? Onde já se viu preferir a Rainha Má à Branca de Neve?

E aconteceu diversas vezes ao longo da vida de Clyra: com 12, ela disse em um seminário da aula de literatura que sua princesa favorita era a Úrsula. Com 15, falou escreveu um ensaio sobre o porquê de a Cruella Cruel ser a melhor princesa de todas e entregou ao seu professor de redação. Deixou o cabelo crescer e adotou um modo de vestimenta mais desleixado; mudou diversas vezes com o passar dos anos e conheceu várias pessoas que inicialmente lhe davam a chance, mas acabavam se distanciando pouco tempo depois ao ver os ideais da menina. Ela não tinha amigos, pelo menos não em casa, não fisicamente, mas nunca deixou de ser si mesma.

“Ei, aquela não é a garota que gosta da Cruella Cruel mais que dos dálmatas?”

Ela não defendia exploração animal. Defendia poder feminino.

Aquela lá é a tal de Clyra, né? A adoradora de vilãs.”

Ela não adorava vilanias e crueldade. Adorava personalidade forte.

“Olha, a esquisitona! Sabia que ela gostava mais das vilãs que das princesas?”

Ela não gostava mais do mal que do bem. Ela gostava de inteligência.

“Não foi ela que fez uma tese defendendo Madrasta da Cinderela? Que bizarra!”

Ela não queria ser estranha. Queria que as garotas tivessem atitude.

Quando completou 17 anos, ouviu a pergunta pela última vez antes de se libertar daquilo de uma vez por todas. Deveriam falar, na formatura, qual sua princesa preferida e como ela lhe influenciava. Ouviu diversas colegas discursarem reforçando, mesmo que não intencionalmente, a submissão feminina perante os seres do sexo masculino, até que chegou sua vez e um burburinho se alastrou pelo salão. Os professores olharam torto para ela, com um pé atrás sobre o que aquela garota iria falar. Deveriam deixar ela se expressar, mesmo? Talvez devessem tê-la barrado. Clyra ajeitou a touca que usava na cabeça antes de pigarrear e pegar o microfone.

—Hm... Meu nome é Clyra. Minha princesa favorita, atualmente, é a Gothel, de Rapunzel. Sim, essa mesma, a bruxa que se aproveitava da magia presente em seus cabelos. E não, o que eu tomo dela para a vida não é que devemos nos aproveitar da ingenuidade dos outros. Não é que devemos ser cruéis ou enganar as pessoas, porque não é só isso que ela ensina. Ela mostra que, para atingir nossos objetivos, nós devemos correr atrás. Que não dependemos de um marido ou um homem aleatório para nos salvar, para cuidar de nós. Como dizer... – parou, por um segundo, coçando a nuca – Não somos mais frágeis que eles. Não precisamos de um príncipe encantado para fazer o que queremos, não temos que esperar um garoto aparecer para fazer tudo por nós. Diferentemente da Rapunzel, ela não precisou de um Flynn Ryder para sair de sua torre. Assim como a Cruella não tinha um marido que fazia as coisas por ela para lhe proteger, mas sim dois capangas que faziam isso por ela porque ela tinha personalidade o suficiente para impor. Do mesmo jeito que a Rainha Má não esperou ser salva pelo rei, ela foi de encontro a ele e executou seu plano, que não dependia de um homem. Igual a Úrsula não tinha um companheiro ou a Malévola foi brilhante o suficiente para bolar um plano impossível. Elas me inspiram a ser uma mulher que pensa por si mesma, ao invés de apenas se encolher em um canto enquanto espera um homem fazer tudo. – Parou para tomar fôlego. Com nervosismo, percebendo o silêncio que fazia e todos os olhares vidrados em si, Clyra começou a mexer em uma mecha do cabelo acobreado. – Sabe, uma vez, em uma antiga escola, uma colega minha falou algo que me lembro até hoje. A Madrasta, a Rainha Má, a Malévola me inspiram é ser uma mulher de personalidade e atitude. Já a Cinderela, a Branca de Neve e a Aurora apenas nos ensinam a sermos amebas mortas, segundo essa menina. Eu não poderia concordar mais. – Ergueu o olhar, que antes se encontrava fixo no chão, enrubescendo com a atenção que levava. Ser taxada de esquisita e ser isolada pelos outros havia tirado a maior parte de seu atrevimento e espontaneidade. – Er... Hm... É isso, eu acho. B-Boa tarde.

Desceu do palco, abandonando o microfone no suporte. Podia estar queimando de vergonha, mas enquanto voltava para seu lugar na plateia não pode evitar deixar que um sorrisinho satisfeito surgisse em seus lábios, ao notar os olhares perplexos que a seguiam.

Naquele mundo de princesas que dependiam de príncipes, Clyra decidira ser uma vilã.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?
Eu, particularmente, não sei o que achar dela. Ao mesmo tempo que Villain é meu amorzinho, achei que ela ficou meio nonsense e confusa, mas acontece né.
Não tive saco para revisar ainda, a verdade é essa, então qualquer erro que eventualmente apareça, ficaria grata de ser avisada!
Críticas construtivas são sempre bem vindas, assim como comentários! Eu juro que não mordo :3
E que, um dia, eu respondo. Às vezes eu não tenho tempo ou só tenho preguiça, mesmo. Mas me pesa na consciência não responder, então em algum momento da vida eu vou lhe dar uma resposta.Tenha fé!
Acho que já falei demais saosklkskj
Até mais!



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