Poderes das Profundezas escrita por M Schinder


Capítulo 3
Capítulo dois: A pedra azul da má sorte (Suyen)


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos pesquisadores! (nome que dei à vocês, leitores rsrs).

Espero que estejam gostando dessa pequena introdução à vida de Suyen! Muito em breve vocês serão colocados, assim como ela e outros personagens, em meio a um grande mistério! Esperam que estejam animados como eu rsrs.

Enfim, sem mais delongas, tenham uma boa leitura! :3



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As palavras trocadas com meu pai, naquela noite, aconteceram pelo simples fato de eu ter tido a coragem de fuçar as anotações que ele sempre fazia durante as pesquisas e ter, por sorte, encontrado alguns desenhos e escritos muito suspeitos. Caudas com quase um metro de comprimento e cores atípicas para qualquer tipo de peixe; além de descrições confusas sobre barbatanas e guelras localizadas em corpos humanos.

Era óbvio que meu pai não procurava por peixes pré-históricos e senti que tudo que nos contara, até o momento, era pura mentira. Como não o confrontar? Entretanto, se eu soubesse o que viria a seguir, nunca teria tomado aquela atitude.

 

Tudo ocorreu, na manhã seguinte, como se nada houvesse acontecido durante o jantar da noite anterior, com a exceção de um fato completamente isolado, mas que deixou a todos ansiosos. Um pouco antes do almoço, perto do horário das aulas de dança, meu pai recebeu um telefonema em seu celular particular – número esse que ele só dava para familiares e contatos importantes – e correu apressado para seu quarto, quando voltou, estava com as malas prontas e os olhos brilhando com agitação.

As despedidas foram rápidas: deu um beijo em minha testa e um abraço em Shinju, ao mesmo tempo em que avisava que precisaria passar dois dias embarcado ao norte da baía para comprovar algumas informações de moradores, e pediu que nos comportássemos e obedecêssemos a Naomi. O mesmo discurso que sempre fazia quando necessitava se ausentar.

Outra característica muito marcante do meu pai é que sempre se mostrou uma pessoa energética, pronta para qualquer desafio que aparecesse a sua frente. E desapegado. Nada o prendia em lugar algum, mesmo quando minha mãe estava viva. A facilidade que tinha em deixar seus familiares era tanta que sempre me assustou – não gostaria de perder a única outra pessoa que se importava comigo.

E, depois disso, os dias se passaram. Não poderiam estar mais claros e ensolarados. Nossa rotina se manteve a mesma, contudo, as datas que nosso pai nos dera para seu retorno também passaram, sem que houvesse nenhuma notícia dele ou da tripulação que acompanhava.

Foi no quarto dia de sua partida que um pacote, pequeno e quadrado, foi entregue pelos correios. Não havia remetente, mas o local em que deveria estar escrito o nome do destinatário trazia o meu: Nakayama Suyen. Naomi recebeu-o com muitas suspeitas e pediu que eu tomasse cuidado com o conteúdo. Ansiosa por acreditar que pudesse ser algo de meu pai, faltei na aula de dança aquele dia, para abrir o pacote ao lado de Shinju.

O interior estava forrado com um pano de veludo vermelho e havia uma linda pedra azulada, pendurada em um cordão de náilon grosso, com riscos amarelos por toda sua extensão. Uma carta caiu de dentro do pacote e eu a abri enquanto Shinju admirava o colar que eu ganhara.

Lembro-me das palavras exatas que estavam pintadas no papel até hoje e eram as seguintes:

"Os segredos que as profundezas escondem devem ser mantidos longe dos olhos humanos a qualquer custo e, para que isso aconteça, um humano deve estar disposto a dar sua forma.

Espero, criança, que esteja ciente de que tudo irá mudar; por culpa de sua ascendência está recebendo esse presente e por culpa dela será obrigada a suportar esse fardo.".

Quando se tem quatorze anos, as coisas tomam proporções inimagináveis ou são ignoradas pela mente infantil. Na época, em minha mente, eu tinha certeza de ter problemas piores para resolver do que me preocupar com uma carta misteriosa que não fazia nenhum sentido. Recordo-me de ter jogado o papel na lixeira mais próxima e correr atrás da minha irmã, para recuperar meu colar. Em meu íntimo, ainda queria acreditar que fora um presente de meu pai.

Nesta mesma noite, uma tempestade começou a cair sobre a cidade. O noticiário avisou que ela vinha do mar, exatamente da direção em que meu pai partira. Shinju e eu dormimos na sala, acompanhadas por Naomi, tamanho nosso desespero por notícias do patriarca da família. Quando amanheceu, entretanto, as coisas não poderiam ficar piores do que já estavam.

Ainda chovia quando um homem com o uniforme da guarda-costeira apareceu a nossa porta – o café da manhã não estava pronto também, o que me informou que ainda era muito cedo para receber visitas. Permiti que entrasse, mas ele disse que não era necessário, que foi até ali apenas para informar que a embarcação dos pesquisadores japoneses fora encontrar destruída perto da baía, sem corpos. Shinju caiu em lágrimas, mas eu ainda mantive as esperanças de que alguma coisa boa pudesse ter acontecido e nosso pai se salvado.

Assim que a tempestade parou, dois dias depois, equipes de bombeiros e nadadores saírem em busca dos tripulantes desaparecidos. Foram dias em que eu e minha irmã fomos obrigadas a manter uma rotina e as aparências – nossa família mandara mensagens do Japão, com instruções claras de que não podíamos comentar sobre o desaparecimento de nosso pai com ninguém. Tudo estava bem. Tudo ficaria bem. Esse era o nosso mantra.

Enquanto tudo isso acontecia, eu nunca me separei da pequena pedra azul que recebi. Todas as noites segurava-a entre minhas mãos e pedia por respostas – fossem elas boas ou ruins, sempre acreditei ser melhor saber a verdade do que ficar na escuridão, definhando por respostas.

Foi durante o quinto dia de buscas que tudo em minha vida se transformou em um perfeito caos.

Eu caminhava de volta para casa, depois da minha aula de dança, e, de repente, comecei a sentir muitas dores – desde minha garganta até as pontas de meus dedos dos pés. Contudo, a leve queimação na pele do meu pescoço era o mais incomodo. Minha visão embaçou e fui obrigada a sentar em um dos bancos, perto da marina onde estava – ia até lá todos os dias esperando que, de alguma forma, notícias sobre Akihito surgissem para mim. Demorou cinco minutos para que eu me sentisse melhor e, quando estava pronta para voltar a caminhar, ouvi gritos que pediam por ajuda vindos do meio das lanchas atracadas.

Era um jovem. Tinha cabelos negros e se debatia desesperadamente ainda com a cabeça fora da água. Um grupo de meninos ria e apontava para ele, soltando ofensas e chamando-o de "Ellie". O garoto submergiu e desapareceu. Um. Dois. Três minutos. Os outros saíram correndo, assustados, e eu, mesmo morrendo de medo do que a água poderia fazer, atirei-me dentro da imensa "piscina" azul.

No segundo em que meu corpo foi envolvido pelo líquido gelado, a pedra pendurada em meu pescoço brilhou e eu percebi que a queimação vinha dela desde o princípio. Tentei me debater para arrancá-la de minha pele, mas minhas pernas pareciam estar se colando e minhas mãos estavam tão escorregadias que não conseguiam agarrar o colar. Senti o ar faltar e a sensação de estar me afogando era tão opressora que acreditei que seria meu fim.

Sabe quando você está errado? Bem, este foi sim o momento em que minha vida acabou, mas não literalmente.

Toda a sensação de morte se afastou de meu corpo e eu notei que podia respirar. Respirar embaixo da água! Entretanto, não tive tempo de me preocupar com aquilo. Lembrei-me do garoto que se afogava e nadei na direção em que estava. Ele desmaiara e não pude perder tempo analisando suas feições pálidas e delicadas. Quando o trouxe até a superfície, empurrei-o para a areia escondida sob um dos píeres. O garoto não respirava e fui obrigada a aplicar o pouco que sabia sobre primeiros-socorros.

Coloquei uma mão sobre a outra em seu peito e pressionei três vezes antes de colocar meus lábios sobre os dele e assoprar com força. Repeti a ação três vezes antes de vê-lo se virar, tossir com força e olhar para mim como se estivesse vendo uma assombração. Eu ia perguntar se estava bem, mas quando olhei na mesma direção que ele, tive a mesma reação.

Meus olhos se arregalaram. Uma cauda de peixe longa, com escamas azuis e amarelas que brilhavam refletindo o Sol. Os olhos castanhos do garoto continuavam me observando com surpresa e a única coisa que pude fazer foi arrastar-me de volta para a água.

— Espere! — consegui ouvi-lo gritar, mas não ousei parar em meu caminho.

***

Minhas pernas voltaram depois de eu sentir novamente a mesma dor aguda do começo. Meu corpo parecia estar mudando de dentro para fora e, desesperada por ajuda, corri para o telefone, assim que cheguei em casa, e liguei para Naomi, que saíra para fazer compras com Shinju.

Ela me aconselhou a sentar e respirar, além de pedir que eu esperasse por sua volta sem conversar com ninguém. Naomi chegou depois da notícia de que meu pai morrera. Shinju correu para o telefone, em prantos, para ligar para nosso tio Suho – irmão gêmeo de meu pai – enquanto Naomi sentou-se ao meu lado, envolvendo-me em seus braços e fazendo um carinho delicado em meus cabelos.

— Tudo vai ficar bem, Suyen. Ninguém vai fazer nada com você, vamos cuidar disso.

 

Depois disso, Shinju foi levada de volta para o Japão e eu? Decidir ficar com Naomi e aceitar a proposta que meu tio fez de morar com a empregada – dissera que ficaria feliz em me aceitar em sua casa, mas que não poderia fazê-lo pela antiga rixa que eu e meu primo tínhamos.

No dia da partida, despedi-me de Shinju no aeroporto e embarquei para o Havaí junto a empregada de minha família. Torcendo para que tudo que passei não passasse de um pesadelo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Deixem seus reviews e participem! Prometo que não mordo ;p kk



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