Enigma escrita por eveelima


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá para vocês!

Estou aqui de volta com uma one-shot que veio na minha cabeça e eu escrevi pra ajudar a exercitar a inspiração. Quando a inspiração aparece, você não bate a porta na cara dela, não é mesmo?

Para quem já me acompanha, não se preocupem, minha longfic ainda está de pé e também estou trabalhando nela. :)



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Ainda se fascinava com o mistério que era Rin. Após todos os anos, parecia que ele a compreendia cada vez menos, que ela o deslumbrava cada vez mais de maneiras que Sesshomaru jamais parecia poder prever. Justo quando achava que havia juntado as peças do enigma que ela era para ele, ela sempre parecia montar um novo, mais excitante e mais complexo, para que ele se visse preso novamente na tarefa de desvendá-la totalmente, sua curiosidade e interesse na menina pareciam nunca ver um fim.

E aquilo o confundia de maneiras imensuráveis. O que ele tanto queria descobrir era ainda a mais inalcançável das respostas: O que ela tinha que o atraía daquela forma? O que havia naqueles profundos olhos castanhos, naquela pureza quase ingênua, naquele sorriso iluminado, que o faziam sempre querer retornar à presença dela, por mais que tentasse manter alguma distância, apenas para provar a si mesmo que não estava ainda completamente obcecado e dependente da companhia da humana.

Nunca conseguia.

Cada vez que retornava para ela, fiel como um cãozinho bem treinado, Rin tinha um novo mistério para prender sua atenção.

Na primeira vez, ela o recebeu com seu sorriso usual, exceto que lhe faltava um dos dentes, bem na frente, impossível de ignorar. Sesshomaru sentiu uma fúria sem precedentes tomar conta dele naquele momento, pois lembrava-se bem da primeira vez em que a viu vestindo aquela mesma característica, pouco depois de se conhecerem. Lembrava-se bem do estado ferido e quebrado que ela apresentara na ocasião.

Ele se colocou de joelhos à frente dela, a olhando com seriedade e determinação, sua voz grave e preocupada, quando comandou por fim:

— Rin, diga-me quem te machucou dessa vez.

Ele prometeu mentalmente que, quem quer que tivesse sido, pagaria muito caro por aquela agressão. E, se os responsáveis por protegê-la não apresentassem uma boa explicação para sua negligência, pagariam também.

Rin apenas franziu a testa, confusão em seu pequeno rosto.

— Ninguém me machucou, senhor Sesshomaru...

O youkai ergueu uma sobrancelha, duvidoso. Cuidadosamente, ele levou uma mão até o queixo da criança, compelindo-a gentilmente a abrir a boca mais uma vez, como se quisesse lembrar à ela da prova do infortúnio estampada bem ali, no meio daquele sorriso. Desafiou-a a tentar abafar mais uma vez o assunto, a não lhe apontar imediatamente o culpado por aquele dano.

Compreensão apareceu no rosto infantil, a língua instintivamente tocando o espaço vazio na gengiva. Então, Rin riu, o som pegando o youkai totalmente de surpresa.

— Senhor Sesshomaru! - Ela exclamou, descrente com aquele mal entendido. Prosseguia rindo, sem conseguir se conter. - Eu apenas perdi um dente de leite! A senhora Kaede diz que estou crescendo. Vê?

Ela se esticou, como se quisesse mostrar a ele a evidência física de seu aumento de tamanho, embora para ele, nada de notável fosse visível. A sua fúria se dissipou com a explicação, seu humor rapidamente não apenas voltando ao normal, mas sim se suavizando, majoritariamente devido ao som daquela risada. No passado, qualquer um que ousasse rir do grande daiyoukai daquela maneira encontraria o seu fim muito depressa, mas naquele momento ele quase podia até rir junto à ela da própria tolice.

Rin estava feliz. E ele, aliviado.

Outra vez e mais outra, situações similares voltaram a se repetir, como se, mesmo com seus séculos de existência, aquela menina humana ainda tivesse sempre algo novo para lhe ensinar toda vez que se reencontravam.

Ao longo do tempo, Sesshomaru se via ansioso para aquelas simples lições, questionando-se com antecedência o que Rin teria para mostrar da próxima vez.

Até que, certa vez, o que ela apresentava o deixou paralisado, o olhar impossível de ser desviado. Quando a olhava, já não precisava inclinar tanto a cabeça. Quando ela lhe sorria, era como se o fôlego lhe faltasse. Horas e horas de batalhas intensas não eram capazes de deixá-lo tão desnorteado, mas ela... Rin era outra história.

Uma história que ele não podia esperar para virar a próxima página e ver o que aconteceria em seguida.

A humana, em toda a glória de seus dezessete anos de idade, acenava para ele de longe ao avistá-lo. Agora bem mais alta, seus cabelos escuros caíam livremente, cascateando até bem além da cintura, muito menos rebelde do que havia sido apenas uns anos atrás. As feições em seu rosto eram maduras e belas da maneira mais inusitada, como se todos os ângulos e formas tivessem, de algum jeito, sido capazes de se rearranjarem nas proporções mais perfeitas possíveis e impossíveis.

Aquela era Rin? Sua Rin? O cheiro não mentia, disso ele tinha certeza. Mas, mais do que a mudança quase brusca de sua aparência, o que mais o chocava era a própria reação, como quase nem podia se mover ou ao menos piscar, como mal percebera o tempo transcorrer ou os movimentos nas redondezas até que ela estivesse bem à sua frente com aquele bendito sorriso.

Houvesse algum inimigo ali, ele teria sido empalado com uma espada e nem teria notado.

— Senhor Sesshomaru, seja bem-vindo de volta! - Ela o saudou, ainda sorrindo. - Senti muito a sua falta, que bom que retornou para me ver.

— Rin... - Ele disse, como um completo imbecil, pela primeira vez sem conseguir encontrar as palavras corretas para se expressar.

— O senhor chegou bem na hora, eu estava saindo agora mesmo para um passeio. - Informou ela, completamente alheia ao estado confuso do youkai. - Venha comigo!

Perfeitamente à vontade, ela segurou a mão dele, guiando-o na direção que pretendia trilhar. Sem questionar, ele a seguiu. Nunca em sua vida havia andado atrás de ninguém, mas naquele momento simplesmente não se incomodava nem um pouco que seus pés acompanhassem o ritmo dos dela, tudo que ocupava a sua mente era o calor da mão dela na dele. Se perguntava de repente quão quente seria ter outras partes dela o tocando, e aquele pensamento repentino o pegou de surpresa mais do que qualquer outra coisa.

O sol brilhava alto e radiante naquela tarde de verão, os raios refletindo nos cabelos compridos e sedosos da humana que andava à sua frente, vez ou outra virando-se brevemente para olhá-lo com aquele mesmo sorriso, como se quisesse conferir que ele ainda estava ali, mesmo que as mãos dos dois permanecessem entrelaçadas.

— Eu conheço um novo lugar. É muito bonito. - Ela dizia, enquanto o youkai se distraía com o movimento dos cabelos dela na brisa suave, junto aos tecidos fluidos do quimono que ele lhe havia trazido na última visita, que achou que ficaria grande demais na época, mas que agora se amarrava ao corpo dela impecavelmente. - O senhor gostaria de ir até lá comigo?

Não respondeu, ainda em transe enquanto a observava, todo o seu interesse preso à forma dela como um urso pego em uma armadilha. Era letal e dolorosa, mas inevitável e impossível de escapar.

— Senhor Sesshomaru?

— Sim? - Ele disse, por fim, ao ouvir seu nome ser chamado por aquela doce voz. O chamado era irresistível, e ele se viu apressando o passo só um pouco, para ficar um pouco mais perto da fonte do som.

— O senhor parece muito distraído hoje. - Comentou. - Aconteceu alguma coisa? Eu estou te entediando?

Não, ela o estava enfeitiçando.

Sesshomaru apenas balançou a cabeça levemente em negativa, ocultando o resto da resposta em sua mente. Rin voltou a sorrir, assentindo e seguindo em frente, não se deixando abalar pela falta de comunicação.

De fato, ela não se deixava abalar por quase nada, seu humor radiante quase impossível de ser reprimido por infortúnios do dia-a-dia, como se ela tivesse a própria infindável fonte de alegria. Mais um de seus mistérios, mais uma das coisas sobre ela que Sesshomaru não conseguia desvendar.

Sem que tivesse prestado a menor atenção no percurso, logo Rin e ele estavam em seu destino. Ela parou, virando-se totalmente de frente para ele, em busca de aprovação. O youkai, com muito esforço, desviou os olhos dos dela para analisar a paisagem ao redor. Não ficou surpreso ao ver a pequena campina florida à sua frente, o típico lugar que Rin consideraria “lindo”. De fato o era, ele se viu obrigado a concordar. Mas era realmente uma pena que o cenário parecesse desaparecer, pálido em comparação à verdadeira beleza parada de pé ali.

Sesshomaru notou que a mão dela ainda segurava a dele quando ela voltou a puxá-lo mais para o centro, fazendo sua cabeça esbarrar nos cachos floridos que pendiam das árvores baixas, derramando pétalas amarelas no cabelo alvo do youkai.

— Venha ver, senhor Sesshomaru! - Ela chamava, e lá ele ia, perfeitamente hipnotizado.

Por fim, ela o soltou, animada demais com as flores para se prender ao ritmo hesitante dele. Rin correu à frente, livre como uma borboleta, pousando de flor em flor, absorvendo seu cheiro doce. Cuidadosamente, a humana colheu uma flor rosada de pétalas grandes e vistosas, habilidosamente prendendo-a por baixo de uma mecha de seu cabelo e se voltando para o observador.

— Fiquei bonita, senhor Sesshomaru?

Não era ela quem ficava bonita com a flor no cabelo, não. Era, na verdade, a flor que se embelezava na presença da humana. Mas Sesshomaru não podia responder àquela pergunta tão honestamente assim, de forma que apenas assentiu em aprovação, o que não falhou em acentuar o sorriso no rosto dela e naquele instante ele quase suspirou pateticamente.

Aquele sorriso ainda ia acabar com ele, ele sabia.

Tão imerso estava ele nos pensamentos que aquele gesto fazia brotarem em sua mente, que nem teve tempo de se mover antes que Rin tropeçasse em um movimento desajeitado, caindo sentada no chão. Ele foi até ela assim que registrou o pequeno grito de surpresa, tarde demais para resgatá-la do acidente. A humana apenas gargalhou do próprio descuido, olhando-o como se esperasse que ele fosse rir dela também.

Obviamente, rir foi a última coisa que ele fez. Não tão obviamente assim, ele escolheu sentar-se ao lado dela em vez disso, mais do que satisfeito em estar finalmente tão perto, embora não fosse ainda o suficiente.

Rin o olhou de lado, recuperando-se do acesso de risos, distraidamente colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, o que acabou desarrumando a flor que lá estava alojada. Sem uma palavra, o youkai ergueu uma mão para ajeitá-la, fascinado com a maciez daqueles fios mas, sobretudo, o cheiro doce e inebriante que ela exalava.

Podia ver o rubor no rosto dela quando a tocava assim tão inocentemente, o que de alguma forma impossível apenas a deixava ainda mais bonita. E apenas aumentava seu desejo de tocá-la mais e mais, embora ele ainda fosse capaz de se conter e recolher sua mão de volta, como era apropriado.

A humana desviou o olhar, envergonhada com o episódio, que foi rapidamente esquecido quando algo no arbusto ao seu lado lhe chamou a atenção. Ali, firmemente preso entre os galhos, parcialmente oculto por trás de folhas escuras, encontrava-se um delicado ninho de passarinhos. Ela o observou, fascinada.

— Olhe só isso, senhor Sesshomaru. - Sussurrou, como se fosse algum segredo que quisesse lhe contar. - Venha ver, com cuidado, para não assustá-los.

Ele obedeceu, aproximando-se lentamente por trás dela para ver mais de perto. Tal arranjo apenas o fez ter o rosto quase colado à lateral do rosto dela, enquanto os dois curiosamente observavam a pequena família de aves se acomodar em seu ninho.

— Não é adorável como eles constroem um lar e uma família juntos assim?

Sesshomaru permaneceu em silêncio por algum tempo, apenas o baixo piar dos animais se pronunciando, a ponto de Rin começar a pensar que ele não ia dizer nada afinal.

— Sim, é muito interessante. - Concordou ele finalmente, para a alegria dela. - A natureza sempre tem um plano para unir as criaturas.

— É verdade... - Ela respondeu, pensativa, antes de se virar de volta para ele. A proximidade a pegou de surpresa, de modo que eles agora estavam face à face, quase podiam sentir a respiração um do outro sobre os rostos.

E então era simplesmente demais para Sesshomaru. Não sabia o que acontecia com ele, mas não parecia conseguir mais controlar suas próprias ações, seus próprios sentimentos e pensamentos. Ela estava ali, tão perto que parecia implorar para ser tocada, o cheiro tão intenso que quase podia sentir o gosto dela na língua se abrisse a boca. Os olhos pareciam afundar dentro dos dela, e o chamavam para mais perto, em direção àquela luz fascinante que lá dentro morava.

Sem nenhuma hesitação, ele fechou a pouca distância existente entre eles, sua língua finalmente se esticando e acariciando a lateral da pele macia do rosto dela, deliciando-se com o gosto ainda melhor do que ele jamais teria esperado. Durou apenas um instante, antes de ela se afastar instintivamente, os olhos abertos em surpresa o olhando de volta, uma mão sobre o coração.

— O-o que foi isso? - Perguntou ela, confusa e completamente corada.

Agora que já havia ido até ali, Sesshomaru não via mais motivos para se reter à meias-respostas. Com confiança e uma quase indiferença, ele respondeu simplesmente, como se não fosse nada fora do normal:

— Um beijo.

Os olhos de Rin ficaram ainda maiores, o rosto mais vermelho e, se apenas aquilo fosse trazer sempre uma cor tão apetitosa à face dela, ele tinha que se certificar de fazê-lo mais vezes. Mas então, ela ergueu uma sobrancelha, a boca se torcendo em dúvida.

— Um beijo?

— Sim.

A resposta dele havia sido perfeitamente calma e natural. Não era culpa dele que ela tivesse que ser tão...

Tão irresistível ao ponto de forçá-lo a um ato tão impensado como aquele. Não havia motivos para que ele se sentisse responsável por tê-lo feito, era ela quem o tinha obrigado, com aquele sorriso, aquela pele, aquele cheiro. Honestamente, o que ela esperava que ele tivesse feito? Estava muito mais surpreso por não tê-lo feito antes.

A humana o olhou seriamente por um momento, antes de deixar escapar uma risada que saiu abafada entre seus lábios fechados que tentavam contê-la. O youkai pendeu a cabeça para o lado, intrigado com a reação, questionando-a com os olhos.

— Senhor Sesshomaru! – Ela disse, entre risos. – Aquilo não foi um beijo!

— Não?

— Não! – Respondeu, como se fosse perfeitamente óbvio. – É claro que não!

Sesshomaru ergueu o queixo, agora realmente interessado na discussão, entretido com a forma como ela parecia querer bancar a sabe-tudo. Ora, uma humana da idade dela querendo lhe dar uma lição a respeito de tal assunto.

Aquilo seria deveras interessante.

— Então mostre-me, Rin, com toda a sua sabedoria. – Ele pediu, em um tom desafiante. – O que seria um?

A garota congelou no lugar, a boca se abrindo automaticamente, o riso cessando por completo. Ela engoliu em seco, parecendo assustada de repente. O youkai riu internamente, vitorioso com aquela intimidação. Ela não parecia tão superior agora.

— Estou esperando. – Ele a lembrou, chamando sua atenção de volta ao desafio. – E então?

Sesshomaru a viu atingir o tom mais intenso de vermelho daquela tarde, presumindo que ela apenas recuaria em sua timidez e se daria por vencida. Em vez disso, Rin tomou um longo fôlego, recuperando-se do choque, determinação aparecendo em seu rosto jovial.

Sem dizer mais nada, ela se inclinou sobre ele, esticando sua coluna a fim de ajustar suas alturas. Gentilmente, o youkai a sentiu se aproximar em uma lentidão insuportável, aquele cheiro doce o deixando inebriado de uma maneira que ele não imaginava ser possível. Podia ouvir o coração dela bater depressa, mas era o sangue que circulava pelas veias dele que parecia queimar em seu trajeto. Por fim, aqueles lábios rosados e delicados se postaram sobre a bochecha fria e pálida do youkai, o calor se espalhando pela pele firme.

Durou apenas um instante, um instante dentro da eternidade onde aquela bela criatura o agraciou com aquele gesto que transbordava ternura, a umidade de seus lábios cobrindo as marcas em seu rosto, provocando um suave som estalado quando ela rompeu o contato, recolhendo-se novamente à posição anterior.

Rin o olhou convencida, como quem diz “viu?”. Sim, ele havia visto. E agora que havia experimentado a sensação, não haveria nada capaz de impedi-lo de obter mais daquele toque delirante.

Ah, Rin não fazia ideia do limite que ela havia ultrapassado, aquele mesmo que já vinha a algum tempo pendendo por um fio, que estiveram a tarde toda a perigo de desmoronar sem deixar para trás nenhum resquício do muro de gelo que ele mantivera erguido entre os dois. Muro aquele que a humana fora derretendo aos poucos com o calor de sua personalidade ao longo dos anos e no qual aplicava agora o golpe final com aquele toque escaldante como lava.

Sem aviso, sem um único pensamento racional em sua mente que não fossem todos os seus instintos mais profundos e indomáveis clamando por mais, ele a empurrou sem delicadeza sobre a relva florida. Seu corpo postou-se sobre o dela, cercando-a por todos os lados, sem lhe dar uma chance de fuga.

Rin apenas teve tempo de o olhar com surpresa, antes que ele pressionasse os lábios contra os dela sem hesitação. Afinal, não era esse o tipo de beijo que ela queria?

A humana respirou em sua boca, um suspiro suave e satisfeito de entrega que quase o levou à insanidade por um breve instante. Ele a beijou ainda mais exigente, mais urgente, deixando sua consciência se perder ainda mais quando ela o envolveu em um abraço, como se também quisesse mais daquele calor.

Abruptamente, entretanto, ela mudou sua postura, as mãos deslizando até o peito da armadura dele, empurrando-o para trás com o esforço necessário para que ele se afastasse.

— Espere... - Ela tentou dizer entre os lábios dele, o rosto virando-se para o lado, rompendo o contato. - Senhor Sesshomaru... Eu não posso...

O youkai se distanciou por fim, respeitando a recusa ao mesmo tempo em que se confundia com ela. A escolha de palavras dela o confundia mais do que o resto. Se ela tivesse dito que eles não podiam, ou que ele não podia, seria perfeitamente compreensível. Mas ela... Ela era um espírito livre, livre para fazer o que bem entendesse, sem obrigações, sem expectativas. Sim, ela podia, nada a impedia.

— Não compreendo. - Admitiu.

Rin desviou o olhar, e ele finalmente se retirou de cima dela, deixando que ambos retornassem à posição anterior, sentados um ao lado do outro. Ele sabia que não havia muitas coisas capazes de escurecerem o humor radiante dela, por isso mesmo o franzir de sua testa e a tristeza em seu olhar o preocuparam imensamente.

Ela permaneceu em silêncio por um longo tempo, o som do casal de passarinhos e seus filhotes ainda sendo audíveis enquanto ela os observava com um olhar quase desejoso, quase nostálgico. Nostalgia por algo que perdera muito cedo, por algo que não havia tido a chance de ter outra vez.

— Senhor Sesshomaru... - Falou por fim, a voz baixa e sem firmeza, quase sendo levada pelo vento suave. - Eu fui pedida em casamento há um mês.

O youkai paralisou, a expressão de choque tomando conta de seu rosto sem pedir licença, arruinando a sua indiferença usual. Puxando-a pela manga do quimono, ele a obrigou a encará-lo, para que de alguma forma pudesse identificar qualquer coisa no rosto da humana que denunciasse sua brincadeira, que deixasse claro que ela mentia. Não encontrou nada além de honesto pesar.

— Rin, como pôde- - A voz dele por pouco não saiu, mas sua descrença e indignação deram força ao tom, que apenas se perdeu de novo em meio às palavras, tantas eram as perguntas que ele queria incluir ali. Como ela pôde se comprometer dessa forma?  Como ela pôde esconder isso dele até ali? Como ela pôde simplesmente seduzi-lo com sorrisos para depois dizer a ele que está noiva? E com a permissão de quem?

— Eu não aceitei! - Ela se apressou em esclarecer, percebendo a raiva no tom dele. Mas, em seguida, sua voz estava baixa de novo, hesitante. - Também não recusei...

Sesshomaru apenas a encarou com olhos duros, frios e assassinos, o veneno corria por seu sangue, e sangue era exatamente o que ele queria ver naquele momento. Sangue do miserável que havia ousado fazer aquela proposta à ela, que havia ousado ameaçar arrancá-la de sua posse tão descaradamente. E Rin... se ela não havia recusado, então estava considerando. Estava mesmo considerando deixá-lo para ser de outro!

— Eu disse que ia pensar... - Continuou ela, tentando ignorar o olhar mortal que ele lhe lançava. - Senhor Sesshomaru, eu pensei. Muito.

— Você tem a coragem de me dizer isso. - Ele falou seriamente, a frieza e descaso em seu tom apenas deixando-o muito mais afiado, apenas evidenciando sua raiva. Rin percebeu aquele detalhe imediatamente.

— Senhor Sesshomaru, há quanto tempo o senhor não vinha me ver?

— Dois anos. - Respondeu prontamente.

— Dois anos e meio! - Ela corrigiu, certa do que dizia. Meio ano eram decimais insignificantes para o youkai, de forma que a diferença pouco lhe atingia. - Eu preciso tomar minha decisão logo. Eu não tenho a eternidade para brincar por aí, como o senhor.

Os olhos dela estavam marejados enquanto ela falava, e a visão daquelas lágrimas contidas quase o fez retroceder em sua fúria. Mas foram as palavras dela que o atingiram com mais força, o impacto o forçando a se afastar instintivamente.

Não estava brincando com ela, estava-

Estava apenas tentando entender o que ela era, o que ela tinha, e porque a queria tanto por perto. Porque só o pensamento de perdê-la para um camponês qualquer o deixava nauseado, porque só queria beijá-la mais uma vez e dizer que ela não precisava mais esperar por ele. Porque ele já era dela.

Nunca havia ficado muito claro para nenhum dos dois a natureza que definia aquele peculiar relacionamento. Sesshomaru nunca achou que precisava ficar, embora sua curiosidade continuasse compelindo-o a tentar entender os limites que ela desenhava livremente pouco a pouco. Como a primeira vez em que ela o abraçou quando o viu chegando, a primeira vez em que acariciara o cabelo dele casualmente no meio de uma conversa.

Parando para pensar, era apenas um avanço natural que ele fosse chegar ao ponto de beijá-la naquele dia, não havia outra direção que eles pudessem ir senão a que vinham inconscientemente trilhando. Era o único caminho que conheciam, era onde se sentiam seguros. E, apenas pensar que se tivesse resolvido adiar a visita mais alguns meses, a humana poderia ter decidido por um outro curso, ao lado de outra pessoa, seu sangue gelava, tanto em desespero como alívio.

Seu maior erro havia sido medir o tempo dos dois com a mesma régua, como se Rin pudesse apenas aguardar que ele obtivesse sua elucidação a respeito do enigma que ela representava, enquanto tudo que ela queria era expor completamente a resposta para ele, de uma só vez. Tudo o que precisava ter feito era ter cedido, ter ignorado os impulsos que seu orgulho traiçoeiro sempre jogava em seu caminho.

Felizmente, ainda não era tarde demais. Havia sido por um triz, mas ela ainda não havia aceitado. Ainda estava em seu alcance.

Como se precisasse confirmar aquele fato, ele a puxou para si abruptamente, colando o corpo dela ao seu, os braços a envolvendo.

— Faça sua escolha, Rin. - Ele disse, a voz serena de quem sabia bem a resposta que ouviria. - O que você quer, será seu.

Ela suspirou contra o pescoço dele, onde seu rosto estava pressionado. O coração ainda batia forte, mas não tão forte quanto a convicção daquela única palavra.

— Você.

Sesshomaru não precisava de mais nada, exceto uma última coisa. Aquela nova lição que aprendeu naquele dia e que levaria ainda um bom tempo até que se cansasse de repeti-la.

— Mostre-me mais uma vez. - Ele pediu, simplesmente.

Rin o olhou em desentendimento por um momento, até que um sorriso se formasse em meio ao rosto choroso, quando ela finalmente compreendeu o que ele queria. A humana pousou ambas as mãos nas laterais de seu rosto, as pontas delicadas dos dedos acariciando sua pele por um instante, antes de gentilmente guiá-lo para mais perto. E, quando ela selou os lábios nos dele, tão doce que nublava tudo ao seu redor que não fosse ela, Sesshomaru percebeu mais uma descoberta se desabrochar bem na sua frente.

A revelação final que estivera aquele tempo todo ansiando por descobrir, a explicação por trás de toda a necessidade incessante que sentia por aquela humana. Era tudo parte daquele sentimento que ele se recusava a reconhecer, era a lição que ela estivera tentando lhe mostrar o tempo inteiro e ele se recusava a enxergar. Era aquele, então, o enigma final. Mais do que mero afeto, mais do que mero desejo, do que mera amizade.

Aquilo era o amor.


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Notas finais do capítulo

Awn, olha eu sendo frufru de novo!
Todo o enredo dessa fic surgiu em torno do diálogo deles sobre o que é um beijo de verdade, porque achei uma graça a ideia de a Rin mostrar isso pra ele, toda manjando dos paranauê HISAHEIHAIEA

E parece que um certo pretendente vai levar bolo... Not even sorry rs


Bem, é isso. Espero que tenham gostado dessa descontração.
Para quem não me conhece, eu escrevo unicamente para esse shipp então tem mais coisa no meu perfil para os interessados. Para os não interessados, obrigada por terem lido essa :3

A todos, muito obrigada pela atenção, espero continuar vendo-os por aí!
Beijos e até uma outra! ♥



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