Como se Lavado de Meu Peito escrita por Anita


Capítulo 1
Ganhar e Perder




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Como Se Lavado de Meu Peito § 1- Ganhar e Perder

Notas Iniciais:

Antes de mais nada, olá! Estou fazendo esta fic com o maior carinho e espero que a comentem bastante, por mais chata que a Serena acabe sendo. Desculpa... Segunda coisa, Sailor Moon não é minha, mas os personagens originais como o Shouta e a Aika são. Por fim, esta é uma realidade alternativa, sem vilões, nem sailors, nem nada. Muitas outras modificações vão ocorrer, talvez fiquem confusos, então tratem como se fosse sua primeira vez lendo Sailor Moon ^^ A história ainda se passa no Japão, na cidade de Tóquio. Usei o máximo que sei da cultura japonesa, como a inversão de nome e sobrenome e os honoríficos. Ainda deve ter erro, desculpa, de novo. Agora, à história:

Olho Azul Apresenta:
Como Se Lavado
de Meu Peito

Capítulo 1 - Ganhar e Perder

  As pessoas continuavam passando apressadas por aquele caminho em direção cada uma a seu prédio respectivo. Todos tinham chegado mais cedo para a cerimônia de abertura de suas faculdades; um novo ano letivo começava e para a jovem parada em frente àquele antigo prédio, era um ano muito especial. Serena Tsukino havia retornado a Tóquio. Conferiu suas roupas e olhou de novo o portão de entrada, e a onda de alunos passando animados. Inspirou fundo e entrou no meio, seguindo pelo caminho de que muito bem se lembrava de ter percorrido meses antes quando viera à Universidade de Tóquio pela primeira vez.

  Mais alguns minutos e já estava no salão principal, todo arrumado para dar as boas vindas aos calouros. Escolheu o assento mais neutro que lhe pareceu e sentou-se calmamente sem querer olhar mais. Aquelas seriam as pessoas que a acompanhariam por mais quatro anos. Alguém começou a discursar sobre uma nova fase da vida, mas Serena não queria ouvir aquilo. Mudara-se de Tóquio para a região de Hiroshima fazia pouco mais de três anos; essa sim fora sua nova vida, nada mais poderia se comparar ao choque de enfrentar uma nova escola sozinha. Desde então fixara em sua cabeça que voltaria à capital, era um alívio estar naquela cerimônia para confirmar que realmente voltou, no mais, não passava de um tédio.

  Observou, enfim, a aluna que tirara a maior nota no exame enquanto duas meninas, provavelmente amigas do mesmo colegial, diziam invejá-la. Por que sentir algo assim? Destacar-se nunca poderia ser positivo, porque as responsabilidades vêm potencializadas sobre suas costas. Ser inteligente demais apenas aumenta o dissabor do fracasso; ser alegre demais faz com que ninguém acredite quando está triste; ser extrovertida demais atrai atenção mesmo quando você não quer que ninguém te veja. Era bom saber tanto aos dezessete anos e tinha certeza de que aquela Rei Hino também aprenderia o peso de ser a melhor aluna.

  Ainda assim, havia uma pessoa que merecia saber como a menina realmente se sentia. Tirou da carteira uma foto três por quatro e sorriu apenas para ela: "aqui estou papai, sou uma aluna da Toudai, não precisa se preocupar comigo daí do Céu". Voltou a olhar o discurso sem querer ver nada mais além do caminho de volta para a casa. Seria um chato dia de comemorações.

  Ao sair do salão em uma espécie de excursão que o Centro Acadêmico estava promovendo aos calouros, percebeu que algumas meninas já começaram a escolher as paqueras que teriam dali para frente. Ela também costumava ser assim ainda em Tóquio. Lembrou-se que Andrew, seu mais usual alvo, também estudara em Toudai, mas não naquela faculdade. Olhou para um quadro de formandos que ficava virando o próximo corredor. Mas "ele", sim, estivera ali, talvez fazendo a mesma excursão que ela anos antes.

-Não consegue combinar o ato de andar com o de olhar para frente!? - Darien Chiba gritou-lhe, olhando para o paletó melado.

-Posso perguntar o mesmo que você, estragador de sorvetes de creme! - Serena, com catorze anos então, olhou para a casquinha com apenas vestígios do que fora o sorvete mais gostoso daquele Verão.

-Acho que você já torrou sua semana para pagar minha lavanderia...

-O quê!? Como ousa? Pode você ir comprando outro sorvete para mim.

-Peça ao Andrew. - Darien retirou o paletó, ainda com o rosto fechado.

-Não sei como ele pode ser seu amigo! - No fundo, a jovem estava a imaginar ela e o moreno de olhos azuis voltando ao sorveteiro e comendo juntos ali. Quem sabe alguém os confundiria com um casal?

-Ei, até o vento te fugiu da cabeça? Onde você está? - Pegou a pasta que carregava e fez com que lhe batesse levemente na cabeça.

  Serena sentiu o sangue lhe subindo à face, misturado à frustração e ao calor que fazia e saiu correndo atrás do rapaz que entrou no salão de jogos próximo dali.

-Andrew! Ela vai me matar!! - gritou ao rapaz que trabalhava meio-período, ambos estudavam na mesma faculdade.

-Serena, você não devia estar fazendo o dever de verão? - perguntou-lhe o loiro.

-Ah, depois eu dou um jeito.

-Encontrei com seu pai noutro dia perto da faculdade. Ele estava falando de como teve um sonho em que você estudava lá...

-A Cabecinha de Vento? - Darien começou a gargalhar, fazendo Serena lhe dar um soco no ombro para que parasse.

-Pois é, mas não se preocupe. Mais do que ninguém, ele sabe que é impossível com todos os seus trintas, vinte e setes... - Foi a vez de Andrew começar a rir.

-Não vai bater nele? - perguntou o outro.

  Deu-lhe um tapa desta vez em seu ombro só para sentir o calor dai, não era sempre que o via sem aquele paletó. Era tão largo e quente... Tantos anos depois daquela cena, Serena ainda podia sentir aquele raro contato que tivera com o moreno e notar que suas bochechas ficavam rubras, enquanto andava pela tão falada Universidade. Meses antes, os dois haviam seguido um caminho igual, ela e Darien Chiba, a última coisa de que abrira mão para compor sua nova vida. Só que não três anos antes como com todas as outras coisas, e sim no dia em que viera conhecer a Universidade para que tinha prometido ao pai passar em seu túmulo. Mesmo agora, ainda não conseguira se acostumar com a idéia de que desistira dele. Sua bochecha queimando só por conta daquela lembrança era prova disso.

  Olhou para sua foto no quadro de formandos. Estava sério e bem mais magro. Seria só com ela que Darien era capaz de se descontrair? Serena sabia que apenas ele a abalava tanto naquela vida calma que escolhera ao se mudar para Kaita, em Hiroshima, logo após a trágica morte de seu pai.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Serena andou incerta por aqueles corredores tão antigos, cheios de quadros e anúncios e uma língua que nem parecia a sua própria. Mal chegara de trem de Hiroshima, mas ainda não sentia o cansaço de tão longa viagem, queria ver tudo da sua futura Faculdade de Direito, assim que se formasse do colegial em poucos meses. Soltou os cabelos, cujo prendedor já estava quase caindo. Até o vento tinha um cheiro diferente.

  Sentou-se na lanchonete e pediu um chocolate quente. O tempo já começara a esfriar, já até parecia inverno, apesar de ainda ser outono. Os alunos conversavam sobre as provas que faziam ou os trabalhos que deveriam apresentar, absortos em seus próprios mundos. Era uma sensação melhor que a do colegial, mais descontraída. Não importava, não iria para a Toudai festejar.

-Tsukino Serena? - uma voz grave a despertou. Virando a cabeça mal podia acreditar que estava vendo o mesmo rapaz de cabelos negros em que tanto pensava desde que comprara a passagem para Tóquio. - É você mesma? - Darien chegara perto. Estava com uma blusa social e uma gravata, carregando uma pasta pesada. - Não se lembra de mim, pelo jeito. Sou Darien Chiba, amigo do Andrew. Costumávamos nos ver sempre pela rua.

-Sim, eu lembro, - respondeu, antes que a conversa se prolongasse.

-Está esperando alguém daqui?

-Não.

-De mau humor, então. - Sentou-se na cadeira à sua frente e lhe sorriu, enquanto punha a pasta na outra.

-Só estou tomando isto, já vou embora.

-Ué? O que veio fazer na faculdade? Pensei que nem morasse mais em Tóquio... - Pediu que o garçom lhe trouxesse um café expresso, sem a mínima intenção de sair tão cedo como Serena gostaria.

-Não moro.

-Ainda está brava comigo?

-Quê?

-Eu não fui ao enterro do seu pai. Andrew me contou que você ficou chateada.

-Isso já foi há três anos.

-Não vai matar minha curiosidade quanto ao que faz aqui? Parece uma visão, sabia? Eu ando pela Faculdade e dô de cara contigo tomando chocolate quente!

-Nunca fomos amigos, não poderia ter esperado diferente naquele dia do enterro. Apenas achei que você iria. Não é algo que guardaria por três anos. Quanto a hoje, já constatou que não sou uma visão, não pode agir como alguém normal e seguir pra aula?

-Hm, não tem mais nada a dizer? Nem tacar nada em mim? Bem, eu digo: você mudou bastante. Achava você mais única antes.

-Única.

-Agora, me deixa adivinhar: você veio se encontrar com seu namorado.

-Não. Só conhecer a faculdade, vou ser sua caloura ano que vem. - Tinha que admitir que era um pouco excitante notar que poderia vê-lo sempre por ali assim que passasse no Vestibular. Só Darien mesmo para lhe trazer tanto nervosismo por conversar com alguém, simplesmente.

-Ué? Comprou a vaga, é? Ainda uma Cabecinha de Vento.

-Confio na minha capacidade.

-Quem diria... Então, boa sorte! Aliás, não sou seu veterano, já me formei. Quer vir ver o meu quadro? Colocaram faz pouco tempo.

  Antes que percebesse, ele já pagara a conta, incluindo a dela e a guiava por aqueles corredores. Parou em frente ao quadro e começou a falar dos professores homenageados, citando um ou outro de quem ela também poderia acabar sendo aluna.

  Dali, seguiram de novo por onde Serena percorrera sozinha, vendo as salas agora com detalhes e até ouvindo de fora trechos das aulas. Com o tempo, ela deixou que pela última vez sua personalidade original aflorasse e os dois riam de suas antigas richas que pareciam ainda mais bobas depois de tanto.

-Não devemos mais nos ver, né? Foi só coincidência nos encontrarmos, - comentou a menina, enquanto iam em direção à sala dos calouros.

-Bem, ano que vem vou terminar meu mestrado aqui, por isso ainda apareço. Depois, quem sabe? Ainda pretendo fazer o doutorado também. Deve ser nosso destino nos cruzarmos. Um dia com você em Tóquio e já nos achamos, né?

-É verdade... - Serena olhou para a própria mão, enquanto ambos diminuíram seus passos. Haviam percebido que ainda assim, havia a probabilidade de não mais se verem.

-Bem, esta vai ser a sala que mais verá semestre que vem. - Abriu a porta do auditório mais afastado do corredor. Devia estar ele próprio lembrando-se de seus tempos de calouro.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  A moça entrou em sua classe, ainda conseguia ver o sorriso nostálgico de Darien ali dentro. Era já a segunda semana de aula e tinha alguns professores restando a conhecer, incluindo o que daria a primeira aula do dia, Fujiyoshi Seiichi, o mais famoso entre a lista de professores do primeiro período. Conferiu se seus cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo para trás. Cortara-os bem curto logo que chegara a Kaita e apenas deixara-os voltar a crescer no início de seu terceiro ano colegial. Agora passavam de seu ombro e, por não mais estar acostumada com aquilo, atrapalhavam muito sua concentração.

  Passou por Rei Hino e suas novas amigas, que conversavam sobre as qualificações de Fujiyoshi-sensei. Ela parecia conhecê-lo por haver sido o orientador da monografia de seu ex-namorado ou algo assim. Era uma jovem muito bonita de longos cabelos negros e lisos que deixava normalmente soltos, atraindo elogios tanto de rapazes quanto de garotas, por isso a pergunta de uma das que a rodeavam fora bem esperada: "Alguém seria doido de te perder, Hino-chan?" Serena viu o olhar de a outra perder o brilho por um segundo antes de dar um tímido sorriso enquanto respondia que "às vezes, temos de deixar as coisas irem" e atrair mais elogios pela frase.

  A loira, enfim, alcançou seu lugar no meio do auditório, pensando no que ouvira. Pelo menos, isso a garota perfeita aprendera. Logo no segundo dia, já havia sido eleita a representante e provado sua competência para o cargo. Quase o extremo de Serena, não tinha como não atrair olhares de quem fosse, mas mesmo ela tinha sua tristeza.

  Seus pensamentos foram quebrados quando um senhor alto de cabelos grisalhos usando terno e gravata entrou, seguido de outro mais jovem igualmente vestido. O senhor fez sinal que outro limpasse o quadro enquanto observava sua nova turma. Pediu silêncio e começou a falar, dando tempo para que o jovem terminasse a tarefa incumbida.

-Sou Fujiyoshi Seiichi e espero que vocês amem o Direito tanto quanto eu. Afinal, esse é o curso que vocês pretendem fazer, certo? - Esperou que a turma concordasse e sorriu, apontando o rapaz alto de cabelos negros atrás de si. - Este será meu assistente, um mestrando que já esteve sentado no mesmo lugar que vocês há muito menos tempo que eu. Dividimos a ementa e aposto que gostarão muito dele. Pode se apresentar?

  O outro assentiu. Mas Serena nem precisava esperar pelo nome, seu coração já estava de novo agindo sozinho, em descompasso com seus planos de uma nova vida. Era o poder que talvez aqueles olhos azuis sempre teriam sobre si.

-Meu nome é Darien Chiba, mestrando em Direito Constitucional, formado por esta Universadade e os ensinarei durante estes seis meses. Yoroshiku onegaishimasu. - Curvou levemente o corpo para a turma, observando cada um até o pousar o olhar sobre Serena. Desviou-o rápido, com certeza lembrara-se do reencontro de meses antes. Não demorou muito para que percebesse a garota perfeita da sala e para ela sim ficou a olhar por um longo período de tempo.

  A aula prosseguiu sem grandes problemas. Serena fizera questão de desligar-se daquela presença e se preocupar mais com o que se faria para a janta no apartamento que os pais lhe alugaram junto com uma antiga amiga, Mina Aino, que cursava Fotografia na Universidade Nihon. Por enquanto, excetuando Darien, Mina era seu único contato com a época em que morara em Tóquio antes do falecimento de seu pai. No entanto, evitava perguntar a ela sobre os outros, mesmo sobre Andrew por quem mesmo naquele momento ainda possuía um carinho especial, algo parecido com o por um irmão.

-Como foi hoje? O cara que você falou é fera mesmo? - perguntou-lhe assim que Serena pisou no apartamento.

-Ele é inteligente.

-Quantos segundos até ele perceber a tal da Hino? - Mina percebera a existência da representante logo no início da descrição de Serena de seu primeiro dia e desde então perguntava sobre ela. Ainda não sabia se era inveja ou apenas vontade de conhecê-la, por isso só respondia às perguntas.

-Poucos, foi a primeira a quem ele perguntou o que era o Direito.

-Essa pergunta de novo? Ai, na Nichidai é o mesmo! Digo, sobre fotografia e arte, não Direito.

  E continuou a tagarelar sobre seus novos amigos enquanto a outra pegava o livro mais grosso da estante. Tinha que estudar bastante para se garantir naquela turma. Ainda estava consciente de que não passava de uma burra disfarçada de estudante da elite, por isso, não poderia relaxar com os livros, ainda que Mina não parasse de falar. Olhando a matéria, pegou-se imaginando quanto tempo até a primeira aula ministrada por Darien.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

  Não demorou muito. Na quarta aula, o professor a aparecer fora o rapaz que mais suspiro arrancara das garotas da sala. Elas até o convidaram para um goukon no fim da aula anterior, a única a que viera depois da primeira, mas recebera uma leve gargalhada como resposta; para sua frustração, ele pensara ser uma brincadeira.

  Colocou a pasta sobre a cadeira e o terno, logo olhou para a turma, novamente desviando do olhar de Serena. Por quanto tempo mais ele pensaria naquilo? Era passado, ainda mais distante que as discussões deles. Acabou, agora seriam apenas professor e aluna.

  Ao terminar a aula, tudo o que queria era sair dali como faria com qualquer outro professor. Foi em direção à lanchonete, mas ao chegar lá percebeu que deixara suas anotações na sala. Indo contra a corrente de universitários famintos naquele recesso, enfim chegara ao auditório onde os calouros tinham a maioria de suas aulas. Estava certa de que a encontraria vazia, por isso surpreendeu-se ao abrir a porta que Darien ainda lá estivesse, de costas para a porta.

  Falava num tom um pouco mais alto que de costume, quase como se estivesse brigando com a pessoa à sua frente, que Serena não conseguia ver. Sim, estavam discutindo.

-Você sabia muito bem que eu seria aluna! - A loira espantou-se ao reconhecer aquela voz brava, era Rei Hino.

-Como acha que eu recusaria a proposta do Fujiyoshi-sensei?

-Ah, claro. Continua um patinho seguindo a mãe pata.

-E você simplesmente não consegue ficar quieta, né? Tentar não existir pelo menos quando estou por perto.

-É minha vida acadêmica também. Sou profissional o bastante para te ver apenas como professor.

-Então, não venha me pedir para não dar mais aulas, Hino.

-Chiba-san!

  Serena não sabia se devia anunciar sua presença ou ir buscar as notas fingindo que não estava ali e sair de fininho. Os dois estavam totalmente fora do normal e nem perceberam que a porta se abrira, muito menos que alguém ainda ouvia a conversa. Deu um passo a frente, escolhendo a segunda opção. O que houvesse entre o casal, não tinha a ver com Serena, apesar de que pelo que ouvira era tudo bem óbvio. Quando estava pronta para marchar até o lugar onde se sentara, pela primeira vez xingando-se por não ficar na frente, mais próxima à porta, sentiu alguém atrás de si.

-Com licença... - Era uma mulher, quase a versão de Hino em uns anos. Usava roupa social e sorria envergonhada por interromper a conversa.

-Ah, Inoue-chan, eu perdi a hora. Desculpa, - respondeu Darien, virando-se para a porta.

  A loira ainda estava parada entre os dois, agora percebendo que também fora notada por Hino, cujos olhos pareciam prontos a lançar lasers para Inoue, uma mulher magra de cabelos castanhos bem curtos e arrumados.

-Hino-chan! - Inoue disse, esboçando uma expressão estranha de surpresa, - O que faz em Toudai?

-Estudo. E você?

-Oh, faz tanto tempo que não a vejo. Que coincidência, ela é sua aluna, Chiba-kun?

-Sim. Eu... Tenho que ir. - Agora, Darien estava olhando fixamente para Serena, paralisada ao lado de Inoue, incerta de para onde correr. -Serena? Queria perguntar alguma coisa?

-Hã, esqueci meu caderno.

  Ele assentiu e despediu-se das duas, indo junto com Inoue, com quem provavelmente trabalhava. As duas meninas ficaram na sala se olhando por algum tempo depois que a porta da sala se fechou. Então, Hino sorriu-lhe:

-Somos ex-namorados. Não pense nada estranho, fazia um tempo que eu não o via, por isso fiquei chocada quando vi que teríamos aula com Chiba-sa - Digo, Chiba-sensei.

-Ah. Vou pegar meu caderno. - Foi até seu lugar e guardou o caderno na bolsa. Quando voltou, percebeu que Hino lhe esperava ainda no mesmo lugar.

-Acho que não consigo me mexer. Preciso ir ao banheiro, pode vir comigo? - Era o pedido de uma garota perfeita. Assustadoramente, Serena não teve como recusar.

  No caminho, percebeu que, ainda que sorrindo como sempre, Hino estava a ponto de chorar, com as lágrimas todas penduradas em seus olhos.

-Nem posso enxugar. - Apontou para as mesmas. - Ou a maquiagem mancha. Não é justo. Homens podem fazer o que querem e nem choram.

-Não precisa passar maquiagem. É perda de tempo.

  Chegaram ao banheiro, onde Rei não agüentou mais e começou a tirar as lágrimas do rosto com a água da torneira, enquanto Serena a ajudava com sua bolsa. Tirou o estojo de maquiagem e após limpar o rosto com lenços, procedeu a usar o conteúdo do estojo.

-Se eu não usar meu tempo com isso, acabo gastando-o com pensamentos assim. Não é tão fácil superar um homem perfeito como Chiba-san; sou só uma garota. - Sorria, enquanto seguia o que devia ser uma rotina mais que diária.

-Aquela era a atual? - Serena não agüentou mais a curiosidade.

-Espero que não.

-Você a conhece, não?

-Aika Inoue. Claro, é a melhor amiga do Chiba-san. Os dois trabalham no escritório do Fujiyoshi-sensei. Eu também queria ir pra lá, mas acho que agora vai ser um pouco difícil, mesmo que queira, é capaz de eu nunca ser aceita. Aliás, como ele sabia seu nome, Tsukino-chan? Chiba-san te chamou por ele.

  Serena estava mais surpresa por Hino o saber, mas apenas suspirou. Não fazia mal contar logo tudo.

-Nós nos conhecemos de há muito tempo.

-Você também foi namorada dele, então?

-Não. Apenas nos víamos por aí e discutíamos às vezes. Tínhamos um amigo em comum, Andrew.

-Chiba-san nunca me chamou pelo nome, por isso achei que - Nunca houve nada?

-Nós... Pensando bem, ele sempre me chamou assim.

-Talvez eu também deva chamá-lo pelo primeiro nome, o que acha? Sempre me incomodei com isso e ele não teria coragem de brigar comigo. Se bem que é capaz não termos mais oportunidade pra isso, pedi hoje que nos evitássemos ao máximo.

  O silêncio se seguiu, até que ela terminou o que fazia e sorriu para a outra. Agradeceu pela companhia e se despediu; era hora de as duas voltarem a ser o que sempre foram. Ou assim Serena pensou que aquilo quisesse dizer.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

-Serena, entre! - Darien chamou-lhe com a mão, já dentro da enorme sala.

  A jovem entrou incerta, aquele era o fim do tour pela faculdade. Era hora de se despedirem e voltarem às suas vidas normais depois daquela fenda no tempo que se abrira quando se reencontraram na lanchonete. Sentiu o chão e olhou ao redor, desejando mostrar tudo aquilo que conseguiria em alguns meses para seu pai, mas nem o trouxera consigo. Não era a hora ainda. Quando realmente merecesse entrar ali como aluna, tiraria a foto que normalmente carregava consigo e mostraria Toudai para ele.

-É bem grande, apesar de um fenômeno estranho acontecer aqui. As turmas aumentam com o passar dos períodos, - disse ele, sentando se na mesa do professor.

-Por que isso?

-Ninguém desiste e o pessoal vai sendo reprovado e acaba pedindo quebra de pré-requisito. Aí cursa dois períodos em um. O padrão desta Faculdade tem caído, mas ainda é boa demais para haver muitas transferências ou saídas.

  Serena aproximou-se observando como era estranho ver um homem de gravata sentado em cima da mesa como um colegial.

-Daqui a pouco tenho que voltar a Kaita.

-É onde mora agora?

-Por pouco tempo. Vou alugar um apartamento com uma amiga daqui.

-Alguém que eu conheça?

-Não creio. Se bem que ela conhece o Andrew.

-Sério? Nome.

-Mina Aino.

-Não conheço. - Riu-se.

-Sorte sua.

-Que maldade.

  Os dois se olharam sabendo que o silêncio seguinte indicava que era a hora de se separarem de novo, ainda que tentassem achar qualquer assunto bobo para adiar mais um pouco. Não haviam se despedido da outra vez, era a primeira que o fariam e ainda sem poder se prometerem que se veriam de novo.

-Foi ótimo te reencontrar, uma bela surpresa. - Darien ainda estava na mesa, quase que relutando descer dali e fazer algo mais formal e definitivo.

  Serena aproximou-se mais, até sentir as pernas dele em sua cintura, então, pondo suas mãos naquele longo rosto, beijou-o como tanto quisera fazer durante aqueles três anos sozinha em Hiroshima e arrependera-se de não tê-lo. Não sabia que se a maior surpresa foi ele ter cruzado as pernas em seu corpo, puxando-a mais para si, ou ter retribuindo ainda mais intensamente aquele beijo.

  Juntos, naquela sala vazia, tudo não parecia passar de um sonho. Estavam se abraçando enquanto parecia que todo o corpo de Darien a envolvia, quando o celular de Serena despertou, gritando que era hora de se despedir da última coisa de seu passado de menina boba e entrar de volta no trem para Hiroshima.

  Afastaram-se surpresos e mal se olharam enquanto diziam rápidas palavras de despedida e promessas vazias de se verem por aqueles corredores. Mesmo que se vissem, a moça seria mais fria e firme com ele. Darien Chiba não era alguém que a nova Serena conhecesse, muito menos que gostasse tanto quanto a cabecinha de vento que fora antes.

-Adeus, Darien... - falou, fechando a porta antes que ele reclamasse de sua escolha de palavras.

  Só que o destino não pareceu gostar daquela decisão unilateral.

Continuará...

Anita, 03/01/2008

Notas da Autora:

De onde veio a idéia desta fic? Posso dizer que não foi da minha faculdade. Tudo o que aconteceu foi uma forma de evitar semelhanças com minha outra Realidade Alternativa, Um Coração que Ressurge Por Você. Já os personagens foram preenchendo os papéis naturalmente. Alguns quase foram para outros, mas preferi pôr alguns novos em vez de forçar com os originais do anime.

Minhas inspirações... Não eram pra ser minha faculdade, mas tudo lembra ela então é inegável dar crédito àquela coisa, apesar de meu ano de caloura estar um pouco apagado agora. Também o drama Hotaru no Hikari! A Rei desta fic e a Aika saíram todas de lá. O Shouta eu não sei de onde o tirei, sabe, ele é bem indefinido ainda. A idéia é fazer um personagem retardado xDD Algo como o Hanato de Tenshi no Tatakai, só que fracassado mode on! Além de fracassado, o cara ainda é sortudo. Elaiá, pessoas assim existem e são irritantes. Acho que por isso eu o escolhi pra encosto da Serena, hihihi

Por fim, o título saiu de uma música do L\'Arc~en~Ciel, Umibe. Na verdade de um trecho que poderia ser lido assim caso fora de contexto, mas bem forçosamente ^^; "maru de mune kara nagareru you ni afuredasu". E, sim, a letra é do hyde xDD mas originalmente o título sairia de uma música da Izumi Sakai, Yureru Omoi, "subete wo miseru no ga kowai kara yasashisa kara nigeteta no", "por medo de que te mostrasse tudo, eu estava fugindo de sua gentileza", linda, né?! Mas antes de conseguir transformar isso em título, Umibe aconteceu em minha vida e ninguém vence o hyde :p
 

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