Castigo escrita por Astus Iago


Capítulo 1
Castigo




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A sala de aula estava barulhenta como sempre. O senhor Williams, nosso gordo professor, pouco fazia para acalmar os ânimos da turma. Ao contrário dos meus colegas, eu não estava interessada em conversar ou pegar no telemóvel para enviar mensagens às escondidas. Eu só queria dormir um pouco.

Em casa, ontem há noite, não consegui dormir. Os pesadelos não me largam. Mas é estranho porque nunca me lembro deles. Acho que é como se a realidade se distorcesse, como se tudo adquirisse um novo significado mais maligno e profano. São a causa das minhas insónias. Tenho-as tido ultimamente. Não sei porquê, apareceram de repente. Só queria dormir um bocado...

Quando deixei os meus pensamentos profundos de lado, notei que o professor se havia calado. Na verdade, já não estava na sala.

Professor? Professor?

Os colegas continuam a sua incómoda cacofonia. Não percebo como se aguentam uns aos outros. São todos uns imbecis. Só querem saber do que está mesmo à sua frente. Mentes fechadas. Parece que se esquecem de pensar.

OlÁ, mInHa MeNiNa.

O professor fitava-me de perto, muito perto, talvez para me repreender por estar prestes a adormecer. Mas não era isso. O que ele fez foi introduzir a mão direita dentro da sua própria boca. Enfiou-a o mais fundo possível. Por momentos, fiquei incrédula. Não era anatomicamente possível, pois não? O braço penetrava esófago adentro. Consegui ver os dedos remexendo contra a pele do pescoço, dançando frenéticamente dentro do órgão. Quase consegui sentir as cócegas que aquilo fazia.

As palavras saiam-lhe agora de forma abafada e gutural. Mesmo com o braço impedindo-lhe a laringe, tentava comunicar na sua voz distorcida pelo torpor.

OwA mEnWiWa MiWa, Wa Ha Ba...

Começou com pequenos espasmos até sair o vómito, lubrificando tanto o seu braço como o meu rosto estupefacto. Para meu incómodo, nesse momento estava a tentar bocejar. A minha boca estava aberta quando...

WaDaBuHaHtAuAhA

Espamo, espasmo, espasmo.

UaBhAuWaGa e esta é a chamada fórmula resolvente. Com ela podemos...

Algo não estava certo. Ainda agora estava...

Quando dei por mim, o meu corpo havia mudado de sítio. Já não estava sentada, assistindo à aborrecida aula de matemática do professor Williams. Agora, estava em frente à turma toda. O meu corpo nu perante todos. Literalmente nu. E o gordo do Williams a rir, apertando-me os minúsculos seios, lambendo-me as bochechas. A turma ria-se. Para eles era um espétaculo. Não sabiam o que se estava verdadeiramente a passar. Isto não era só um sonho. Era uma memória. Isto é um daqueles pesadelos de sempre, não é? Adormeci na aula?

A mão do obeso homem desceu o meu corpo, passou levemente da região do peito para a zona entre as pernas. Então, senti-o. Senti os seus dedos em mim, no meu interior.

CaNtA, pAsSaRiNhO, cAnTa! CaNtA pOrQuE hOjE eStÁs dE cAsTiGo!

Não! Outra vez não! O castigo não! O castigo não! Por favor!

Eles riam e riam cada vez mais alto. Levantaram-se todos juntos numa harmonia quase religiosa e aproximaram-se pé ante pé. Riram ainda mais alto no momento em que participaram também. Todos os seus gordos dedos de criança espalhando carícias pela minha pele.

Não posso mais. Não aguento mais...

Abri os olhos. O sonho acabou. A aula continuava. Como sempre, esqueci-me completamente do que se tratara o pesadelo. Não me conseguia lembrar, tentasse o que tentasse.

A aula continuava na mesma. Não era possível aprender matemática naquela sala. Quando desviei o olhar por segundos para me beliscar, certificando-me de que já não estava a dormir, Williams Burford fitou-me. Não sei se foi pressentimento ou imaginação, mas tenho quase a certeza de que o fez. Olhou para mim com os seus olhos redondos e o seu maxilar descaiu. Das profundezas das suas goelas, uma mão emergiu, gesticulando com a intenção de, apesar da distância, me tentar agarrar. Talvez um dia me viesse a lembrar da violação que provocou os pesadelos. Talvez um dia...


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