Agridoce Melancolia escrita por Leonardo Kruz
Não é que eu goste da tristeza. Muito menos que eu a romantize! Mas as lentes da melancolia me fazem ver as coisas de forma diferente.
As luzes que brilham pra fora delas mesma não são apenas luzes, nem o vidro embaçado de um ônibus em movimento, que ofusca o vermelho do semáfaro, é apenas um vidro embaçado de um ônibus em movimento. É praticamente um espetáculo visual acontecendo em tempo real e irreal.
As pessoas são quase personagens protagonistas de seus próprios filmes independentes. Perdidas em suas historias tão importantes, com todos aqueles vilões e amores não correspondidos e sorrisos bobos, passos apressados e olhos já cansados.
A chuva ganha um significado ainda maior que a água que cai do céu. As gotas, gordas e molhadas, apostam uma corrida acirrada na janela do transporte público. Descompromissadas e sedentas pelo seu divertido fim, elas correm risonhas de encontro a borracha preta mais próxima. Que vida curta elas tiveram… mas sem duvidas divertida.
La fora a água faz alguns se esconderem em baixo dos seus guarda-chuvas de aros enferrujados. Mulheres descem dos ônibus; mulheres carregam sacolas pesadas em suas mãos escorregadias; um homem atravessa a rua apressado; uma criança corre em frente se equilibrando no meio fio, prestes a perder a vida em um mar de lava; um garoto chora em baixo do guarda-chuva amarelo e outro da ás costas mordendo os lábios para não olhar para trás; uma amiga abraça a outra, uma amiga beija a outra, elas se beijam; e eles também; peles escuras e claras se engalfinham, delicadas e afiadas, ásperas e ásperas.
O ônibus para e a vida continua. Desço no ponto mais próximo e agora posso observar mais de perto. A chuva cai em meus olhos e dos meus olhos nasce um rio.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Escrita em uma dessas viagens de ônibus.