Por Enquanto escrita por chris daae


Capítulo 1
Por Enquanto




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Christine se sentiu aliviada quando o viu na cama. Erik finalmente desistiu e foi dormir.
A mente dele parecia nunca parar. Christine percebeu nestes poucos meses morando com ele que ele estava sempre fazendo algo- compondo ou tocando ou desenhando ou mesmo escrevendo. E quando Erik estava realmente focado em sua criação, ele não gastava seu precioso tempo satisfazendo simples necessidades mundanas. Ele pulava refeições (com a desculpa de que comeria depois), passava noites em claro, e Christine às vezes sentia que ele nem sequer a percebia por perto. Doía, não ter a atenção de seu próprio marido, mas esses hábitos a faziam sentir mais preocupação do que qualquer outra coisa. Embora ele dissesse que não se sentia cansado ou com fome, ela sabia que o corpo dele não conseguiria acompanhar tal ritmo. Ela agora tinha certeza de que o motivo dele ser tão magro era que ele não se dava ao trabalho de comer o suficiente.
Christine brigava com ele por isso. O tempo todo. Ela às vezes se sentia como se estivesse criando uma criança. E não seria ruim se ele não fosse tão teimoso. Ela não se importaria de ser quem tinha que lembrar Erik do que fazer para continuar vivo se ele ao menos a ouvisse de vez em quando.
Era bom vê-lo na cama, para variar. Na última semana, Christine apenas viu Erik tirando algumas sonecas rápidas em posições desconfortáveis. Ele devia estar exausto. Seu rosto estava exposto, Christine conseguiu convencê-lo a tirar aquela maldita máscara ao menos para dormir. Ela a odiava, odiava como ela a impossibilitava de ver sua expressão. E ela sabia que Erik a usava para se sentir uma “pessoa normal”, mas às vezes parecia que isso tinha o efeito contrário. Ela planejava se livrar daquilo para sempre um dia, mas conhecendo a teimosia dele, ela sabia que precisava ir aos poucos. Talvez um dia.
Talvez um dia ela conseguiria atravessar as barreiras que ele colocou em volta de si.

Erik não estava dormindo. Dormir sempre fora difícil para ele, e era ainda mais agora que ele não morava mais sozinho.
Ele sabia que Christine estava no quarto, e fez o seu melhor para ficar parado e manter sua respiração constante. Ele era bom em fingir.
As coisas deveriam estar boas agora. Eles deveriam estar felizes, vivendo uma vida de sonhos. Erik tinha dinheiro, e eles tinham um ao outro, e estavam casados. Eles tinham uma boa casa, Christine continuou com seu emprego de cantora e nem mesmo os rumores maldosos sobre seu misterioso marido pareciam atrapalhar sua carreira.
Tudo estava perfeito, Era isso o que ele sempre sonhou, certo?
O casal dividia um quarto e uma cama, mas esse era o máximo de intimidade que eles tinham. Erik jamais pediria por mais. Christine segurava as mãos dele com frequência, e ele não tinha por que reclamar. E era isso.
Erik gostava de cuidar da casa enquanto Christine estava fora. Ele já vinha fazendo isso por anos quando vivia sozinho, e era muito melhor agora que tinha alguém para reparar. Um novo lençol, uma mudança na posição dos sofás ou um enfeite novo. Christine nem sempre os percebia, mas quando o fazia, ele ficava feliz pelo resto do dia. Eles também tinham um belo jardim, e Erik achava cuidar das plantas uma atividade relaxante.
Mas não era uma vida de sonhos. Havia algo errado, flutuando no ar entre eles, uma tensão que eles nunca mencionavam mas que Erik sentia em cada momento do dia, e ele tinha certeza de que Christine sentia também.
Erik não conseguia encará-la. Estar com ela era tudo o que ele queria mas também o sufocava. Com culpa, com vergonha. Não importava o que ele fizesse ou o quanto desse para ela, ele sabia que nunca seria o suficiente para compensar por tudo o que ela sacrificou para estar lá com ele.
Não era de propósito, mas ele começou a evitá-la. Ele fingia não notar quando Christine estava por perto, fingia estar focado em seu trabalho. Que trabalho, ela ria em silêncio para si mesmo. Desde que os dois começaram a viver juntos, ele não conseguia mais criar nada que satisfizesse seus insanos padrões. Ele evitava seu quarto, e mais do que tudo ele evitava sua cama.
Mas Erik não contaria a ela.
Não. Se dependesse dele, ela jamais saberia que ele estava sendo consumido pelo fato de ela estar presa a ele para sempre. Porque se ela algum dia confirmasse, se ele ouvisse dos lábios dela o quanto doía estar com ele, isso o mataria.
Às vezes ele achava que esse seria o único jeito de dar um final feliz a essa história.
Ele não conhecia a mulher com quem se casou? Não sabia que, embora Christine temesse o lado ruim que ele às vezes mostrava, ela nunca o deixaria conseguir o que queria tão facilmente se não fosse o que ela queria também? Ele não sabia.
Erik não sabia que Christine o teria escolhido de qualquer forma, que o amor dela era real e que não tinha nascido do medo. Ele não conseguia ver porque estava muito ocupado odiando a si mesmo. Isso era tudo que já haviam lhe ensinado: a odiar a si mesmo.
Nunca lhe ensinaram como ser um marido.
Mas talvez um dia ele aprendesse. Talvez um dia essa vida de sonhos não fosse apenas um sonho. Mas por enquanto, Erik fingia estar dormindo até ouvir a porta se fechando, Christine deixou o quarto, satisfeita. Por enquanto.


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